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"De Mochila e Capacete até onde o Vento faz a Curva": Torres del Paine


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O relato abaixo faz parte de uma coletânea de relatos sobre o recém terminado projeto "De Mochila e Capacete até onde o Vento faz a Curva" e narra o trekking do circuito completo em Torres del Paine, na Patagônia Chilena.

 

 

De Mochila e Capacete até onde o vento faz a curva foi uma jornada que teve início em 26/12/2012 em Santo André/SP, na qual percorri a bordo de um motocicleta as estradas da América do Sul com destino extremo Ushuaia -ARG, passando por 4 estados brasileiros (SP, PR, SC, RS) e mais 3 países do cone sul (Uruguai, Argentina e Chile), totalizando mais de 15 mil quilômetros de estradas ao longo de 55 dias de viagem, chegando de volta a São Paulo/SP em 18/03/2013. Para maiores detalhes acessem o meu blog Mochila & Capacete

 

 

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O relato foi previamente publicado no blog Mochila & Capacete, para lê-lo no site clique aqui.

 

Dias 24 a 31: Torres del Paine/CHI (18 a 25/01/2013)

 

TORRES DEL PAINE! Finalmente completei essa árdua tarefa iniciada em 2009.

 

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O trekking em Torres del Paine, na Patagônia chilena foi até agora o ponto alto do projeto “De Mochila & Capacete até onde o vento faz a curva”. Foram 8 dias de caminhada, 7 noites acampando, 131 km de trilhas percorridos, 28 kg na mochila e muita, mas muita emoção.

 

Nossa incursão no Parque Nacional Torres del Paine começou cedo no dia 18/01/2013, eu e Shane deixamos os capacetes e as motos no hotel e de mochila em um ônibus partimos para aquele paraíso patagônico.

 

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O ônibus nos deixou na Portaria Laguna Amarga, ponto onde começa o circuito de Trekking conhecido como “O”, por dar a volta complete no maciço Paine, pagamos a entrada do parquet (CHLP 18.000) e inicíamos nosso caminho. A emoção era grande por finalmente retornar e cumprir o grande objetivo da viagem. O sol castigava, a temperatura era alta (algo em torno de 27ºC) e junto com peso da mochila dificultava ainda mais a caminhada de cerca de 12 km, mas a vista recompensava qualquer esforço. Após pouco menos de 6 horas de trilha chegamos ao Campamento Serón (CHLP 4.000), um local de pouco infra-estrutura, mas que conta com uma ducha quente e um banheiro. Após o jantar fomos dormir ainda sob a luz do sol, que ali se despedia somente após às 22 horas.

 

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O segundo dia de trekking (19.01.2013) foi especial, nao pela trilha que chega a ser chata nesse trecho, pois além de longa – 19km – atravessa uma região de charco com muita lama e a paisagem chega a ficar monótona, mas por termos conhecido Collin e Michelle, um simpático casal de americanos que vieram com suas bicicletas de Santiago até aqui, dois jovens aventureiros que carregam o mesmo espírito que trago comigo. Começamos ali uma boa amizade e parceria, poise les nos acompanharam por todo o restante do trajeto. Torres del Paine parece ser um lugar mágico, onde sempre que vou faço amigos americanos, fois assim com Shane e agora com Michelle e Collin. Assim passamos a caminhar os quatro juntos, nesse segundo dia de trekking com muito sol e calor, chegando ao belíssimo Refugio Dickson (CHLP 4.000), que é circundado pelo lago e glaciar de mesmo nome e por montanhas.

 

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Já no terceiro dia (20/01/2013) a temperatura começou a baixar, saímos os quatro cedo do Dickson em direção ao Campamento Los Perros (CHLP 4.000). Esse trecho mexeu comido, foi um dia tenso para mim, pois foi justamente no Campamento Los Perros que fiquei preso por conta da neve no Paso John Gardner em 2009 e tive que voltar. A sensação de que poderia dar errado de novo me perseguia e estava um pouco apreensivo. Fora essa sensação a paisagem começa a mudar, se o primeiro e segundo dia são tomados por planícies e colinas com vegetação rasteira, coberta por flores silvestres, o trecho até o Campamento é formado por um imenso bosque, cortado pelo rio Los Perros, sendo que no trecho final da trilha visualizamos de perto o Glaciar de mesmo nome. Mais uma vez montamos acampamento, a temperatura era mais amena e eu estava um pouco apreensivo, pois o dia seguinte diria se eu iria superar o Paso John Gardner e afastar de uma vez por todas a sensação de derrota que me acompanhava desde 2009.

 

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O quarto dia (21/01/2013) amanheceu com um tempo ótimo, sem o calor excessivo dos dias anteriores, logo cedo rumamos para enfrentar o Paso John Gardner, ponto mais alto da travessia, que é conhecido por ter os ventos mais fortes, as piores e mais frequentes nevascas, o ponto mais crítico da travessia. A elevação é grande, o que demanda um grande esforço, porém estávamos com sorte, as condições climáticas não poderiam ser melhores, o sol brindava nossos passos, o vento quase inexistia e a cada metro que subíamos a exuberante paisagem me emocionava. Um lindo dia para se cruzar o Paso. Um dia para entrar na história da minha vida. Subi, passo a passo cada trecho, cruzando bosques, caminhos de pedras e de gelo, mas o Paso estava intacto, sem um milímetro de neve, o sol me acompanhava como se fosse um holofote iluminando um artista ao entrar no palco, pode parecer pretensão, mas me sentia assim. Meus amigos, mais rápidos do que eu, já estavam lá em cima, eu podia vê-los ao longe. Quanto mais perto chegava do alto do Paso John Gardner mais emocionado eu ficava, ao atravessar o último campo de gelo e subir as últimas pedras, vi o que meus olhos não puderam ver na primeira vez em Torres del Paine, a vista do Glaciar Grey do outro lado do Paso me emocionou e encheu meus olhos de lágrimas. Pela segunda vez na viagem eu chorava, um choro de felicidade por superar muitas coisas e por ter acreditado que este momento jamais chegaria, mas naquele momento era realidade. Abracei meus amigos e comemoramos juntos essa minha pequena conquista.

 

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Seguimos em frente, uma longa descida, muitas vezes acompanhada pela vista do imponente Glaciar Grey e após percorrer 20km em 11 horas chegamos ao Refugio Grey (CHLP 4.000), onde exaustos acampamos.

 

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Cansados pelo exigente dia anterior optamos no quinto dia (22/01/2013) por seguirmos até o próximo refúgio, o tempo já estava mais frio, com pequenos intervalos de garoa e vento, mas muito vento mesmo, adentrávamos a partir do Grey no circuito “W”, o mais curto, e o número de pessoas na trilha aumentou consideravelmente. Chegamos no Refugio Pehoé (CHLP 4.800) após a mais curta e rápida caminhada de todo o circuito: 5,5 km em 3,5 horas. No Refugio, agora com grande infraestrutura, relaxamos no bar tomando algumas cervejas e jogando conversa fora com outros trekkers. Ali foi o único lugar que encontrei outro brasileiro – Vinicius de São Bernardo/SP, que estava no último dia do “W”. Após o jantar dormimos na mais baixa temperatura até então e com os mais fortes ventos.

 

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O sexto dia (23/01/2013) demandou um grande esforço, com o Campamento Italiano fechado pela administração do parque estendemos nossa caminhada, o objetivo do dia era conhecer o Valle del Francés. Deixamos nossas mochilas no Italiano e subimos o vale. A cansativa caminhada é recompensada pela paisagem, de um lado um belo Glaciar e um rio, do outro as montanhas do maciço Paine. O frio estava forte e ao chegar no final do vale estava chovendo, o que impediu melhores fotos. Voltamos pelo mesmo caminho, comemos algo no Italiano e seguimos para acampar no Refugio Los Cuernos, a trilha nesse trecho é linda, margeamos o, caminhando por praias em alguns trecho e víamos os Cuernos del Paine do outro lado. Após 25km andados em 10 horas, chegamos ao Refugio Los Cuernos (CHLP 8.000), o pior de toda a trekking, caro e com péssima estrutura, dormi em um barranco em cima das rochas.

 

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No outro dia (24/01/2013) subimos para a maior atração do parque: as Torres del Paine. Entramos na última perna do “W”, subindo pelo Valle Ascencio e o tempo voltava a ficar bom, uma caminhada tranquila e muito bonita, porém por vezes tínhamos que compartilhar o caminho com excursões de cavalos e de pessoas que trazem turistas somente para ver as Torres. Acampamos no Campamento Torres (gratuito) e fomos dormir cedo, pois o no outro dia acordaríamos cedo para ver o sol nascer nas Torres.

 

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Acordamos as 4 da manhã do oitavo e último dia no Parque (25/01/2013), subimos ainda no escuro o curto trecho até o mirador das Torres del Paine, o frio era forte e exausto pelos dias anteriores demorei mais que o esperado. Ao chegar lá já era possível ver as Torres, arrumamos um lugar para sentar nas pedras e ali esperamos o mais incrível espetáculo da natureza que já vi: o nascer do sol nas Torres del Paine. Quando o sol as ilumina um show de cores toma conta do espaço, impossível explicar as imagens mostram apenas um pouco do que é o nascer do sol ali. Acabado este maravilhoso espetáculo voltamos para a camping, desmontamos a barraca e seguimos o caminho de volta até a Hosteria Las Torres, onde acabamos o trekking, ali almoçamos e pegamos o ônibus de volta até Puerto Natales.

 

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Foram 8 dias incríveis, com muita emoção, belas paisagens, superação. O melhor e mais bonito trekking que já fiz em toda minha vida, tudo ocorreu perfeitamente. Fecho mais esse ciclo da minha vida que estava aberto desde 2009, terminar o circuito foi muito especial, esse lugar é especial por me trazer boa recordações e por ali ter feito grandes amizades, as duas vezes que ali estive foram únicas e se complementam. Deixo o parque com a sensação de ter cumprido mais essa missão.

 

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O nascer do sol em Torres del Paine é um espetáculo único na terra. Compartilho aqui o que presenciei lá.

 

 

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Marcos, parabéns pelo relato.

 

Estou planejando uma viagem de bike para TDP em out/13, saindo de Calafate pedalando até as torres e terminando em Puerto Natales. Pretendo realizar o circuíto W no parque.

Por acaso sabes informar se é possível andar de bicicleta na trilha entre os acampamento das torres até peohe?

 

Abraço.

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Marcos, parabéns pelo relato.

 

Estou planejando uma viagem de bike para TDP em out/13, saindo de Calafate pedalando até as torres e terminando em Puerto Natales. Pretendo realizar o circuíto W no parque.

Por acaso sabes informar se é possível andar de bicicleta na trilha entre os acampamento das torres até peohe?

 

Abraço.

 

Obigado Rafael!

 

Cara eu acho inviável andar de bike na trilha, tem mtas pedras, pontes estreitas, matas fechadas, lugares onde mesmo a pé é ruim subir. O casal de americanos que conheci lá veio de Santiago até Torres del Paine de Bike, eles deixaram as bikes num camping em Puerto Natales e foram fazer o "O" em TDP.

 

Aliás pq ao invés do W não Faz o "O" são 3 dias a mais. e vale mto a pena.

 

Abrass

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  • Membros

Pois é Marcos, minha ideia inicial era não fazer as trilhas de bike, mas deixa-las no primeiro refúgio, fazer as trilhas e retornar para busca-las. Mas se fosse possível andar de bike nas trilhas me pouparia tempo de retorno.

Mas acho que vai ter que ser assim mesmo.

 

Quanto a realizar o circuito O, não vou ter tempo para isso, vai ficar muuuito apertado e não vamos curtir o passeio.

Valeu pela dica.

Abraço.

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