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Do Vigia ao Morro do Canal... a pé!


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http://jorgebeer.multiply.com/photos/album/134/Travessia_Torre_Amarela_-_Vigia_-_Canal

 

TRAVESSIA VIGIA – CANAL

Qdo se fala em Marumbi imediatamente vêem a mente um conjunto de varios picos, dos quais destacam-se o Gigante, Pta do Tigre e o Olimpo, em Morretes (PR). Entretanto, o maciço do Marumbi avança planalto adentro revelando vários outras montanhas selvagens nada visitadas em virtude das proibições do Parna homônimo. Contudo, o extremo oeste desta majestuosa serra finda em três respeitáveis maciços isentos de qq restrição de acesso. São eles, o Vigia, a Torre Amarela e o Canal, onde é possível realizar uma travessia radical de crista ideal prum domingo de tempo bom. Uma pernada q exige mta escalaminhada, senso de direção, suor e bastante adrenalina, porém recompensada com visus privilegiados tanto de td conjunto do Marumbi como da região q a acolhe.

 

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Enqto rodávamos pela BR-277 rumo Botiatuva ouvia o mp3 do radio tocar pela enésima vez a voz fanha da Joan Baez cantando “Blowin in the Wind”, do tb bem anasalado Bob Dylan, mas quiçá pelo contexto e expectativa da pernada q teríamos naquele dia a musica não soava nem um pouco enjoativa. Pelo contrario, já nos colocava no clima do q viria:

 

“...How many years can a mountain exist,

Before it's washed to the sea .....

The answer, my friend, is blowin' in the wind

The answer is blowin' in the wind...”

 

E não era pra menos, já do próprio asfalto sentido litoral, bem próximo ao pedagio, podíamos já avistar o Morro do Canal, a Torre Amarela e o largo domo rochoso do Canal elevando-se elegantemente da Serra do Marumbi, porem no extremo oposto do conjunto tradicionalmente conhecido. Estamos em Piraquara, a pouco mais de 30km da regiao metropolitana de Curitiba. E quem dirigia o veiculo era meu velho amigo paranaense de pernadas locais, o Julio Fiori, q sugerira sabiamente o bate-volta praquele dia. Tem pouca coisa q o veterano montanhista já não tenha feito pelas serras do sul e a travessia Vigia – Canal era um destes programas sempre adiados por este ou outro motivo. Isso dava à empreitada o gostinho de verdadeira exploração dado nosso desconhecimento total do q encontraríamos pela frente.

 

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Pois bem, após abandonar o asfalto e circular um tanto por tortuosas estradas de terra, passar por vários sítios e haras, alem do simpático vilarejo-presépio de Nova Trento - do qual se destaca a bela Igreja Nossa Sra da Assunção – e bordejar boa parte da Represa do Cayuguava (ou Sanepar), eis q finalmente damos na Chácara do Zezinho, as 9:50hrs. Uma placa indica estarmos na cota dos 950m de altitude e limita-se a duas casas sendo uma delas uma lanchonete improvisada com alguma infra de apoio a montanhistas. Estava td fechado e não vimos sinal do tal Zezinho, espécie de “Dilson” local.

O sol timidamente abria espaço entre as nuvens e dava aparente sinal de mais um lindo dia, q ficou so na aparência mesmo. Mochilas de ataque nas costas, imediatamente tomamos direção da placa apontando a batida e manjada trilha do Morro do Canal. No entanto, um pouco antes dela adentramos em meio ao arvoredo à esquerda onde se encontra a discreta picada pro Vigia, precariamente sinalizada. Depois soube q o próprio Zezinho preferia q ninguém soubesse do acesso à montanha dado o gde numero de pessoas q nela se perde, dando preferência à facilidade óbvia do Canal. Contudo, como nossa intenção era justamente começar pelo Vigia e terminar no Canal fomos assim mesmo, nos valendo de nossa experiência serrana.

 

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Uma vez no rumo certo não tem mais erro, basta acompanhar essa agradável trilha natural em meio à espessa mata, subindo e descendo suavemente, chapinhando algum brejo ou cruzando algum pequeno riacho. Mas não demora pra subida apertar de vez, nos obrigando a galgar na base da escalaminhada a íngreme encosta montanhosa através de pirambas verticais, emaranhados de raízes q servem de escada ou enormes blocos desmoronados de pedras! Diferente de muitas montanhas no Paraná, o caminho passa por entre diversas grotas formadas pelo encaixe destas pedras gigantes, uma delas chamada carinhosamente de “Refrigerador”. Em alguns pontos é possível ouvir o barulho da água em meio ao breu lá no fundo. No caminho a densa e espessa vegetação diminui de tamanho, dando lugar a voçorocas de taquarais e bambuzinhos ladeando um chão forrado de enormes bromélias.

O ritmo pesado auto-imposto faz com q ganhemos altitude num piscar de olhos, e as 10:40 emergimos no aberto já com visu das três montanhas a serem conquistadas! Visivelmente andando numa pré-crista contornamos em espiral a pedra final q dá acesso à Torre Amarela pra esbarrar com a bifurcação q leva ao Vigia, pra esquerda. Tomamos então à direita ladeando uma enorme muralha pra depois, com auxilio de uma corda providencial, ganhar mais um patamar. Neste trecho é recomendável nem olhar pra baixo pois é bem exposto! O ultimo trecho é feito na escalada pura e simples e as 11:20hrs nos vemos no privilegiado cume rochoso da Torre Amarela, q mais lembra um dedo de pedra apontando pro céu! Pausa prolongada básica pra descanso e contemplação sem pressa da bela paisagem q se descortina á nossa volta, com destaque pro enorme espelho da´gua da Barragem de Piraquara refletindo um céu alvo encoberto de nuvens. Pois é, o tempo q comecara tão promissor não tava correspondendo agora, ameaçando inclusive fechar com direito a fina garoa fustigando nosso rosto.

 

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Retomamos então nossa jornada as 12:30 voltando pra bifurcação pro Vigia, enqto as nuvens encobriam td quadrante leste da Serra do Marumbi. A picada envereda então através de uma crista coberta de bambuzinhos e aqui não é tão obvia como antes, pois há necessidade de farejá-la em mais de uma ocasião. Após um tempo bordejando a crista pela sua encosta direita emergimos no aberto em meio a pequenos cocorutos rochosos. Com visibilidade do nosso destino evidente bastou azimutar e tocar fundo sem maior dificuldade rumo os vários rochedos q assinalam o alto dos 1.319m do Vigia, as 14hrs, dos quais destaca-se uma pedra pontuda q o Fiori fez questão de escalar. O tempo agora parecia mais generoso, abrindo razoavelmente revelando o porque da razão deste nome, Vigia. A montanha tem uma vista privilegiada da Torre Amarela e do Canal, erguendo-se altivamente sobre estas tal qual um sentinela. Do alto a paisagem tb descortinava estendendo-se à leste td a verdejante cadeia do Marumbi com destaque pro Ferradura, Carvalho, Sem Nome, Mesa, Alvoradas, Espinhento, Chapéu, Chapeuzinho, Pelado, Bandeirante, Angelo, Leão, e finalmente os ilustres e agora minusculos Boa Vista, Facãozinho, Olimpo, Gigante, Torre dos Sinos e Abrolhos, seguidos de outros cumes menos significativos.

Após um breve lanche seguido de um descanso básico, retomamos nossa pernada agora pra oeste, isto é, rumo o Morro do Canal, de onde perfeitamente avistávamos vários pontinhos indo e vindo em seu cume, num frenesi de formigas coléricas. Pois bem, era aqui q a porca torcia o rabo pois havia varias picadas entre os rochedos e lajes q marcam o cume do Vigia. Tentavamos uma e outra, mas q fatalmente ou não levavam a lugar nenhum, perdiam-se na mata ou simplesmente dava a volta através de fundas grotas. Pensando bem, a preocupação do Zezinho tinha mesmo fundamento. Após andar em círculos, entre um farejo e outro terminamos descobrindo uma picada q ia no sentido desejado, discretamente pisada entre duas enormes rochas. Ufaaa! Estavamos finalmente na crista do Vigia rumo o Canal.

 

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Pois bem, a picada deu uma espécie de volta enorme no alto pra somente depois mergulhar outra vez na mata fechada, perdendo altitude suavemente ao ir de encontro ao fundo vale q nos separava do Canal. Uma vez no selado e chapinhar através de um extenso brejo q alternava raízes de tds os tamanhos, tropeçamos com uma enorme e larga muralha de pedra de quase uns 15m verticais!!! Pois bem, é este trecho q separa o jóio do trigo, ou seja, quem conclui a travessia ou não. Enqto o Fiori subia o paredão com a desenvoltura natural de um calango profissional por uma corda ali disposta pra essa finalidade, eu busquei inutilmente alguma outra opção de subida por ambos flancos, dadas minhas experiências desastrosas com escalada semi-profissa e a bela recordação no meu combalido “derrière”. Não tinha jeito mesmo, ia ter q subir no braço aqueles 15m verticais de 90 graus! Respirei fundo, segurei a corda firme e lá fui eu. A medida q ganhava altura aos poucos, parei em mais de uma ocasião ancorando o corpo nas fissuras/agarras da rocha de modo a descansar os braços, q aqui se empenhavam herculeamente em carregar os 70kg deste q vos aqui escreve. E sem olhar pra baixo em nenhum momento, diga-se de passagem.

Uma vez transposto este obstáculo bem significativo, prosseguimos a travessia sem nenhuma intercedencia. Após ziguezaguear arbustos em suave aclive e contornar a base do morro pela esquerda, as 15:30 damos no alto dos 1.280m do largo e abaulado cume do Morro do Canal, onde haviam alguns turistas e montanhistas. Forrado de capim e com varias clareiras a disposição, a vista daqui tb não deve nada aos demais morros, de onde pudemos observar td o trajeto feito desde o inicio do dia sob outra perspectiva! Como tb imagens belíssimas das represas Cayuguava, Curitiba, Piraquara, da Baia de Antonina e de outras montanhas distantes da Serra do Mar.

 

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Mas aqui o tempo de visita foi abreviado em virtude de um negrume ameaçador q tomou conta subitamente do céu, trazendo tanto um forte vento frio como uma fina e úmida garoa. Dessa forma, tanto nos qto os turistas de ocasião resolvemos descer em fila índia através de uma trilha facil pra lá de obvia e evidente! O primeiro trecho de aderências íngremes tem auxilio de correntes e escadas fixas na rocha, mas uma vez q o terreno suaviza segue-se um ziguezague interminável q mergulha na mata sem dificuldade nenhuma, tanto q no caminho encontramos famílias inteiras com as crianças.

As 16:20 estávamos de volta ao veiculo, mas claro q antes de pegar estrada fizemos um breve pit-stop no “Bar do Canal”, onde mandamos ver uma cerveja gelada acompanhado de uma suculenta coxinha pra comemorar a breve, porem árdua e maravilhosa pernada. O tempo novamente abria apenas pra nos pregar nova peça, mas e daí? A travessia afinal havia sido concluída, neste rincão privilegiado e pouco conhecido da notória e majestuosa Serra do Marumbi. Contudo, é de se esperar q um dia seja liberado o acesso responsável e consciente do restante do maciço, detentor de outros picos selvagens q não devem em nada em beleza e imponência ao Vigia e o Canal. Bem, a resposta à essa indagação fica no oportuno refrão da musica do Bob Dylan:

 

“The answer, my friend, is blowin' in the wind

The answer is blowin' in the wind..”

 

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  • Membros de Honra

Bela pernada Jorge!!! O morro do Canal é um dos lugares que mais frequento, pela facilidade de acesso e subida.

Na chácara do Seu Zézinho também fica a nascente do Rio Iguaçu, o mesmo das cataratas na tríplice fronteira. É só preguntar que ele indica o caminho.

Pode-se acampar no local, que tem pequena infra (banheiros, lanchonete e churrasqueiras). Pode-se almoçar na lanchonete, desde de que o pedido seja feito com antecedência.

É um local com bastante turistas, montanhistas e escaladores (existem algumas vias no Canal). Eu costumo ir com minha esposa, filho e familiares, pois a subida é rápida e fácil.

Fiz um tópico sobre o local: topic38676.html

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  • 4 meses depois...
  • Membros de Honra

Grande Jorge!

 

Bela pernada, mais curta que suas costumeiras travessias mas tão movimentada quanto!

 

Essa região da Serra do Marumbi sempre me intrigou. Conhecendo o teu espírito "transgressor" e com aquele fecho do teu relato na música do Bob Dylan (“The answer, my friend, is blowin' in the wind/The answer is blowin' in the wind..”) me veio à mente a travessia do Alfa-Ômega, um corte longitudinal pelas cristas da Serra do Marumbi, realizada anteriormente poucas vezes antes pela dificuldade e atualmente por conta da inacessibilidade imposta à área pela criação do Parque Estadual homônimo. Você já deve ter ouvido falar e o Júlio com certeza conhece bem essas histórias.

 

Abraço,

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  • Membros de Honra

Olá Jorge!

 

Fizemos esta travessia no último sábado. A pernada é curta mas é bem froids... Aquele paredão no último trecho antes do Morro do Canal então! PQP! Agora compreendo o que você pensou e expôs no seu relato. Só consegui subir aquilo com a ajuda dos companheiros de trilha e depois que improvisei uma cadeirinha com um cordelete e 2 mosquetões que, por sorte, tinha levado na mochila.

 

A trilha é bacana e o visual dos cumes é muito bacana. Quem está com a forma física em dia (o que não é o meu caso) não deve ter maiores dificuldades com esta travessia. Eu sofri bastante, principalmente nas subidas, por estar bem acima do meu peso ideal. No final da travessia, já no Bar do Canal (chácara do Sr. Zezinho), o pastel e a cerveja foram providenciais...

 

Deixo um agradecimento especial para os meus companheiros de trilha nesta empreitada, que com certeza terão histórias para contar, em especial a de terem erguido uma "baleia" por aquele paredão (vide foto).

 

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Grande abraço a todos!

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  • Membros de Honra

Caraca, quando fiz esta travessia (a muuuuuito tempo atrás) não tinha esta corrente p/ ajudar. Aliás, não tinha nenhuma corrente nem escadinha, tanto no Vigia como no Canal.

Me lembro de um trecho mais difícil, na saida do Vigia p/ o Canal, e não era tão difícil assim... mas eu era beeeeem mais jovem também... :mrgreen:

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  • 1 mês depois...
  • Membros de Honra

Essa é boa pernada mesmo, tenho algumas histórias bem loca da primeira vez que fiz essa travessia com um grupo de amigos. Quando chegamos nessa parede onde existia uma corda na época, metade do grupo não quis subir, imagina o perregue que deu depois disso hahaha...

 

Bela história

 

abraços

 

Eder

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