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Os Bons Montanhistas (Travessia Petrópolis x Teresópolis) - julho 2012


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  • Membros de Honra

Relato previamente publicado no meu blog Mochila & Capacete (http://www.mochilaecapacete.tumblr.com).

 

 

Em 2011 atingimos a marca de 7 bilhões de pessoas no mundo, um número muito expressivo, porém mesmo com esse alto patamar de pessoas há quem prefira estar sozinho. Confesso que por vezes gosto de me isolar dos outros 6.999.999.999 habitantes da terra e encontro tal refúgio junto a natureza.

 

Sou adepto do trekking solo, já o fiz em diversas oportunidades (Torres del Paine, Pico Paraná, Ilha Grande, etc.), comparo a experiência a andar de moto, pois é somente você e o vento, sem interferência de mais ninguém, uma boa oportunidade para conversar comigo mesmo e curtir somente o trekking.

 

Já me chamaram de louco, egoísta, sociopata e até me acusaram de não ter amigos, porém longe disso eu gosto de pessoas, tenho ótimos amigos e grandes companheiros. Aliás a história que passo a narrar é sobre isso: Amizade e Companheirismo.

 

Desde 2009 planejava conhecer a bela Travessia Petrópolis x Teresópolis, junto com grandes amigos que já haviam me acompanhado em outros trekkings, mas por motivos alheios a minha vontade não foi possível iniciar tal empreitada. Agora após três anos finalmente atingi esse objetivo.

 

O planejamento para a trilha começou cedo, há necessidade de agendar a visita ao parque, comprando os ingressos e reservando camping ou abrigo (http://www.parnaso.tur.br). Com um grupo de bons amigos, uns velhos conhecidos, outros que ali conheceria, ficou decidido que uns iriam fazer a travessia em 2 dias e outros, aí me incluindo, em 3 dias.

 

Saímos de São Paulo na noite de sexta-feira (27.07.2012) e já na rodoviária do Tietê éramos 4 companheiros iniciando a viagem. Após quase 7 horas de viagem chegamos a bela Petrópolis-RJ e juntando ali com mais dois amigos vindo do Rio de Janeiro éramos 6.

 

Dos 6 ali presentes 1 iria ficar na cidade e não nos acompanharia no trekking, então em 5 amigos dividimos 2 táxis até a sede do Parque que dista aproximadamente 25 km da rodoviária.

 

Chegamos, os 5 trekkers, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Sede Petrópolis por volta das 8 horas da manhã do dia 28.07.2012 e ali esperamos mais 3 amigos montanhistas vindo de Minas Gerais, e às 9 horas em 8 companheiros iniciaríamos nossa caminhada de quase 7 horas até os Abrigo do Açu.

 

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A trilha de Petrópolis até o Açu demanda grande esforço e cada um dos 8 amigos montanhistas caminhava em seu próprio ritmo, aqueles com ritmo semelhante caminhavam juntos e de tempos em tempos os mais rápidos faziam pausas para esperar os mais lentos.

 

A primeira grande pausa foi feita na bifurcação da trilha principal para a cachoeira Véu da Noiva, ali os 8 companheiros recuperaram o fôlego e seguiram para a segunda parada no mirante do “Queijo”, onde os amigos vindo das Minas Gerais se sentiram em casa. Do “Queijo” a trilha passa a ser descoberta e o sol passa a castigar, diminuindo o ritmo dos montanhistas, deixando esse que vos escreve num ritmo deplorável e se sentindo culpado por todas as cervejas e churrascos ingeridos com outros amigos ao longo do ano, após muito custo chegamos ao Ajax, onde os 7 amigos (1 deles saiu em disparada na frente domado pelo espírito livre que as vezes nos toma no meio da natureza) abasteceram a água e recarregaram a energia para encarar a íngreme e cansativa subida da “Isabeloca”.

 

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Após 6 horas e 40 minutos, depois de uma subida muito exigente fisicamente, chegamos ao nosso destino abençoados pela imponente vista dos Castelos do Açu. Dos 8 montanhistas 6 ficaram no camping e 2 dormiram no Abrigo. Após sermos brindados pelo belíssimo pôr do sol a temperatura começou a cair e sentados ao redor do acampamento todos jantaram e ali compartilharam histórias e experiências e cansados fomos dormir, pois o dia seguinte seria longo.

 

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Na manhã de domingo (29.07.2012), cansado pelo exigente dia anterior, perdi o nascer do sol, que foi apreciado pelos outros amigos, mas logo a eles me juntei. Levantamos acampamento ainda na primeira hora do dia, abandonamos a área de camping e fizemos o nosso desjejum em frente ao abrigo do Açu, apreciando a bela vista de seus Castelos.

 

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Já que falo aqui de companheirismo e amizade, permito-me fugir um pouco da história dos 8 amigos montanhistas para citar um casal que conheci no primeiro dia de subida e que nesta manhã de domingo, enquanto tomávamos o café da manhã, se preparavam para descer os Castelos de rapel, ele com 70 anos, com muita virilidade, lucidez e disposição, ela mais moça, não ousei perguntar a sua idade, mas com igual disposição, os dois deviam ser casados e nessa idade, com espírito jovem demais, caminhavam juntos e se aventuravam juntos, um exemplo de companheirismo e cumplicidade.

 

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Bem, após terminarmos o desjejum saímos os 8 trekkers em direção ao Abrigo 4 no sopé da Pedra do Sino, logo no começo da trilha temos uma boa subidinha onde tivemos um pequeno problema, 1 dos que ia fazer a travessia em 3 dias e estava mais pesado sentiu sua perna e caminhava com grande dificuldade, 1 dos amigos em um ato de companheirismo se propôs a trocar sua mochila bem mais leve pela outra mais pesada (uns 10kg de diferença), permitindo assim a continuidade da travessia por todos. A trilha seguia, com um visual fantástico da Serra dos Órgãos, um dia lindo e com o céu aberto iluminava a bela formação rochosa, a visibilidade era muito boa, e pouco a pouco os imponentes Castelos do Açu eram apenas pedregulhos ao longe.

 

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O segundo dia da travessia é muito bonito, mas a trilha é traiçoeira e necessita de atenção para segui-la, eu caminhava mais lentamente como sempre e por vezes me “perdia” dos outros 7 amigos montanhistas, seja pelas inúmeras subidas e descidas ou pelo capim alto. Aliás, nesse caminho pelos altos capins mais um bom gesto de companheirismo, um tornozelo torcido e todos preocupados, caminhamos mais um pouco até um riacho coberto pelas árvores, onde um dos amigos arrumou uma bandagem para proteger o tornozelo torcido de outrem, enquanto todos aguardavam antes de continuar. E os 8 continuaram a travessia.

 

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Nos pontos mais altos da trilha tínhamos a clara visão do Dedo de Deus, do Escalavrado, das outras belas montanhas e da cidade de Teresópolis.

 

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Caminhamos até chegar nas imediações do “Elevador”, a primeira parte técnica do trekking, um longo paredão com grampos de metal, confesso que ali me assustei um pouco, fui o último a subir. A subida do elevador é longa e me cansei um pouco, mas a vista é fantástica e o incentivo dos 7 amigos foi fundamental para transpô-lo.

 

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Nós 8 continuávamos a caminhar, paramos no Vale das Antas para um breve descanso e um rápido almoço, aproveitamos para reabastecer nossa água, esticar o corpo na grama e jogar conversa fora.

 

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Seguimos adiante e nos aproximávamos cada vez mais da Pedra do Sino, que crescia imponente diante de nossos olhos, porém mais dois desafios técnicos nos aguardava antes de atingirmos o nosso objetivo do dia.

 

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Antes do trecho final da trilha adentramos num vale, para em seguida subirmos até a parte mais alta da Serra dos Órgãos, na descida do vale um terraço de pedra nos exigiu muita cautela e trabalho em equipe, dentre os 8 montanhistas havia escaladores, que vieram preparados para ajudar os demais amigos, com uma fita e um mosquetão providenciaram a descida segura de todos, mochilas iam passando de mãos em mãos até o fundo do vale e um a um os 8 estavam lá embaixo.

 

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Mochilas nas costas novamente e em poucos minutos chegamos ao último ponto técnico de toda a travessia, o famigerado “Cavalinho” e seus desdobramentos, mais um vez mochilas viajavam de mão em mão, mosquetão nos pontos de fixação na rocha, os mais experiente ajudando os outros e cada um dos 8 montanhistas “montou” o Cavalinho superando, com muito companheirismo, mais esse trecho. Continuamos nosso caminho.

 

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Passado pouco menos de 7 horas que deixamos os Castelos do Açu chegamos na bifurcação da trilha de quem vai para o Abrigo 4 e para o cume da Pedra do Sino, 5 resolveram subir ao cume – principalmente os que iriam terminar a travessia nessa data – eu e mais 2 amigos ficamos ali na bifurcação tomando conta das mochilas, após todos voltarem seguimos os 8 em direção ao Abrigo 4, que atingimos após 7 horas e 30 minutos de uma incrível caminhada.

 

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No Abrigo 4 os 8 amigos se dividiriam, 3 iriam descer até a sede Teresópolis do Parque e 5, ai me incluindo, ficariam para mais um dia na montanha. Nos despedimos com a “foto oficial” da Travessia e vimos os companheiros seguirem seu rumo. Os que ficaram montaram suas barracas e, em ato contínuo, atacamos o cume da Pedra do Sino para ver o inesquecível pôr do sol. Descemos já no escuro e após um banho quente e jantar fomos dormir.

 

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Acordamos por volta das 5 da manhã de segunda-feira (30.07.2012) e os 5 remanescentes mais uma vez atacaram o cume, agora para ver o sol nascer. Um espetáculo a parte, ver o sol nascendo lá longe por de trás dos Três Picos de Salinas, as imagens falam por si só.

 

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Voltamos ao abrigo, desmontamos acampamento e nós 5 descemos o tranquilo caminho até a sede de Teresópolis, o qual terminamos em 3 horas e 40 minutos. Para comemorar a bela travessia almoçamos juntos em Teresópolis e ali nos despedimos. Dos 5 amigos que sobraram 3 voltaram para Minas Gerais e os outros 2 voltaram para São Paulo, encerrando assim mais um excelente Trekking entre amigos.

 

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Concluído o trekking, afirmo com propriedade que a Travessia Petrópolis x Teresópolis, ao longo de seus 25,5 km, é a mais bonita que já fiz no Brasil e, por ter tido a companhia destas outras 7 pessoas, essa travessia foi muito especial. A cada dia percebo que o bom montanhista não é aquele que melhor escala, que tem os melhores equipamentos ou que percorre longas distâncias em menos tempo, mas sim aquele que compartilha suas experiências com outros amigos, divide o prazer de cada passo com seus companheiros e que enfrenta as dificuldades da montanha em equipe com o mesmo prazer de quem sorri ao ver o sol nascer por de cima dos altos cumes. E nesse contexto afirmo que caminhei por 3 dias com 7 bons montanhistas.

 

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Como disse no começo deste relato eu por vezes gosto de me isolar, porém é na comunhão de sinceras amizades que vemos a beleza de viver. Tal qual escreveu Christopher J. McCandless, “astro” do livro e filme “Na Natureza Selvagem”, no interior do ônibus onde foi achado morto no Alasca “A Felicidade só é Real quando Compartilhada”. Mas ao contrário do “ídolo-pop”, esse sim um verdadeiro sociopata, eu não precisei morrer sozinho para descobrir isso.

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  • Membros de Honra

Legal Marcos, parabéns pela travessia e relato. Em especial por esta parte, pois compartilhamos o mesmo pensamento:

 

.................................... A cada dia percebo que o bom montanhista não é aquele que melhor escala, que tem os melhores equipamentos ou que percorre longas distâncias em menos tempo, mas sim aquele que compartilha suas experiências com outros amigos, divide o prazer de cada passo com seus companheiros e que enfrenta as dificuldades da montanha em equipe com o mesmo prazer de quem sorri ao ver o sol nascer por de cima dos altos cumes.................

 

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Legal Marcos, parabéns pela travessia e relato. Em especial por esta parte, pois compartilhamos o mesmo pensamento:

 

.................................... A cada dia percebo que o bom montanhista não é aquele que melhor escala, que tem os melhores equipamentos ou que percorre longas distâncias em menos tempo, mas sim aquele que compartilha suas experiências com outros amigos, divide o prazer de cada passo com seus companheiros e que enfrenta as dificuldades da montanha em equipe com o mesmo prazer de quem sorri ao ver o sol nascer por de cima dos altos cumes.................

 

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Obrigado Otávio, é bom saber que eu não sou o unico que penso desta forma.

 

Abraços

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  • Membros de Honra
Sensacional o relato amigo! Fale mais como são os abrigos, são quatro no total? E o que tem em cada abrigo? abraço

 

Vitor obrigado!

 

Na verdade são 2 abrigos, o do açu e o abrigo quatro, pouco antes do cume da pedra do sino, pelo que apurei tinha outros abrigos (1,2 e 3) que foram desativados, um deles inclusive pode ser visto as ruinas na trilha de teresopolis ate a pedra do sino.

 

Os abrigos dispoe de banheiro com banho quente, cozinha, beliche, bivaque (dormir no chão dentro do abrigo) e area de camping. Cada serviço utilizado e tipo de hospedagem é cobrado as taxas vc pode ver no site que do Parque Nacional da Serra dos Órgão - PARNASO que indico nos primeiros paragrafos do relato.

 

Abraços!

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  • Membros de Honra
Legal Marcos, parabéns pela travessia e relato. Em especial por esta parte, pois compartilhamos o mesmo pensamento:

 

.................................... A cada dia percebo que o bom montanhista não é aquele que melhor escala, que tem os melhores equipamentos ou que percorre longas distâncias em menos tempo, mas sim aquele que compartilha suas experiências com outros amigos, divide o prazer de cada passo com seus companheiros e que enfrenta as dificuldades da montanha em equipe com o mesmo prazer de quem sorri ao ver o sol nascer por de cima dos altos cumes.................

 

::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::

 

Obrigado Otávio, é bom saber que eu não sou o unico que penso desta forma.

 

Abraços

 

Cara, arrisco dizer que somos a maioria, graças a Deus!!!

Pelo menos minha galera é tudo gente boa da melhor qualidade. Mais importante do que a montanha, os equipos, etc... são os amigos, sempre!!!

Como diz um grande camarada, companhia é tudo, você pode estar no melhor lugar do mundo, mas com as pessoas erradas... ::quilpish::::prestessao::::toma::

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  • Membros de Honra
Legal Marcos, parabéns pela travessia e relato. Em especial por esta parte, pois compartilhamos o mesmo pensamento:

 

.................................... A cada dia percebo que o bom montanhista não é aquele que melhor escala, que tem os melhores equipamentos ou que percorre longas distâncias em menos tempo, mas sim aquele que compartilha suas experiências com outros amigos, divide o prazer de cada passo com seus companheiros e que enfrenta as dificuldades da montanha em equipe com o mesmo prazer de quem sorri ao ver o sol nascer por de cima dos altos cumes.................

 

 

Obrigado Otávio, é bom saber que eu não sou o unico que penso desta forma.

 

Abraços

 

Cara, arrisco dizer que somos a maioria, graças a Deus!!!

Pelo menos minha galera é tudo gente boa da melhor qualidade. Mais importante do que a montanha, os equipos, etc... são os amigos, sempre!!!

Como diz um grande camarada, companhia é tudo, você pode estar no melhor lugar do mundo, mas com as pessoas erradas... ::quilpish::::prestessao::::toma::

 

 

Olá Marcos, Otávio e demais companheiros!

 

Cara, muito bacana o relato. Emocionante mesmo. Confesso que quando vi o título: "Os bons montanhistas..." pensei de cara que se tratava de alguém se auto-glorificando. Depois da leitura percebi a razão do qualificativo... ::otemo::::otemo::::otemo::

 

Aproveitando o ensejo, também endosso o trecho citado acima (e que me permiti negritar) e já comentado aí atrás por um grande companheiro de trekking, certo Otávio!?

 

As montanhas e a natureza nos irmanam, ao contrário da cidade, do trabalho - que estão sempre a nos instigar na competição, na superação uns dos outros (capitalismo 'maledeto'). Creio que seja algo atávico. Fiz vários trekkings solo, mas os mais prazeirosos até hoje sempre foram os realizados com amigos. Novos ou velhos amigos!

 

Abraços!

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