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Trilha Chico Mendes de Bike


Frank Ely

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     Ícone em preservação das florestas, Chico Mendes, lutou e pagou com a vida para que hoje, após quase 30 anos de sua morte a floresta siga em pé, e foi atrás de mais sobre essa história e das vivencias das pessoas dessa região que seguimos viagem.

     Colhi o máximo de informação de quem já havia ido até essa região, botei no bisaco junto com mais umas tralharias e fomos, Eliézio e Úrsula (um casal de amigos), minha esposa Ana e Eu.

 

1° Dia, Sexta Feira 13/07/2018

     Saímos os quatro de Rio Branco de carro as 14:00 com destino a estrada de Assis Brasil (Estrada do Pacífico) km84, saímos "tarde" por conta do trabalho, não tivemos opção, no km84 entrada a direita, percorremos 16km de estrada de chão até a propriedade de dona Luiza Carlota, onde acampamos, já passava das 21:00hs, 320kms percorridos de carro. Boa noite🌙

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2° Dia, Sábado 14/07/2018

     Tomamos café da manhã😋 regado de uma boa conversa com Dona Luiza, de cara um leve impacto com o que estamos acostumados numa cidade mais "avechada", pessoa calma que nos acolheu em sua casa de braços abertos, arrumamos tudoooo, barracas, bikes e todas as tralhas para de fato entrar na floresta para o "desconhecido", eram 8:00hs.

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     Logo nos primeiros metros a floresta já começa a se mostrar como uma modelo se mostra na passarela, árvores centenárias, sons de muitos animais "notando" nossa presença, fazendo sons que parece estarem incomodados com intrusos que somos, a cada metro que nos aprofundamos na mata densa vemos a beleza de tudo aquilo ao qual muitos defensores da natureza deram suas vidas tentando preservar, mas a cada metro que avançávamos e animais que víamos como Paca, Macaco, Arara, etc, Eliézio e Eu vimos um Gato Maracajá (uma onça em miniatura, do tamanho de um cão doméstico🐈) o medo do inesperado, desconhecido e conhecido tomava conta principalmente da nossa amiga Úrsula, era como se o "espírito" da floresta a consumisse com a possibilidade de um encontro com a rainha das florestas das Américas, a temida onça pintada 🐈, por mais que tentássemos acalma la e incentiva la a apreciar o caminha, parecia que era em vão, por vezes as lágrimas saíram mesmo que ela não quisesse, como estávamos de bike naquele percurso que exige muita técnica e agilidade🚴‍♂️, até essa função motora ia ficando comprometida, mas ela não desistiu de lutar contra aquilo que a consumia e fomos avançando e conhecendo tuuuuuudo aquilo. 

     Já perto das 11:00 chegamos a propriedade do seu André, ele estava na lida de suas plantações para o sustento da família, não achamos justo lhe incomodar, visto que estávamos de passagem, mas fomos muito bem recebido por sua Esposa e uma outra moça (não recordo o parentesco), tomamos uma água fria do seu filtro de barro, depois ficamos sabemos que essa água é conhecida na região por ser fria 😍😍, uma breve conversa sobre o que poderíamos encontrar mais a frente e seguimos.

     Por volta das 13:00 chegamos a propriedade Cariri do seu Nunes que parece um oásis no meio da floresta, chegamos numa hora das mais "impróprias" pra essas bandas, a hora que se senta pra ouvir o rádio, mas ele o largou em que estava ouvindo os recados e notícias e veio nos abrir a porta também como se fossemos da família, nos acolheu, nos deu água e como estávamos com fome, fomos direto ao ponto, passamos até aquele momento comendo biribotes (pequenas guloseimas), estávamos precisando de algo mais consistente, de imediato ele chamou sua esposa e ela com uma incrível rapidez nos preparou um delicioso almoço com uma carne de sol 'dahora', era como se ele estivesse recebendo aqueles entes queridos a muito tempo sem ver, por vezes nos fez o convite de dormimos lá mesmo para conversar mais mais e mais, deu um aperto de sairmos daquele lugar e daquelas pessoas, conversamos tanto que seu Nunes "esqueceu" de mencionar os Geoglifos na sua propriedade, saímos em busca de um sr. ao qual eu já tinha uma referencia, Sr Anacleto "o homem que cultiva um Apuí gigante de 300 metros de raiz", não demorou e chegamos, encontramos ele construindo sua nova residência e ele parou e veio nos atender com um entusiasmo contagiante, disse para entrarmos que logo ele terminaria e vinha até nós, lugar lindo lindo, no alto de um morro com uma vista espetacular, ficamos ali admirando, não demorou e ele veio nos falando de seu plano de construir um mirante naquele alto pra se ver por sobre a floresta, estávamos ansiosos e ele também, o Apuí gigante ☺️, ele parecia que esperava por isso 😏, fomos conhecer aquela árvore gigante de centenas e centenas de anos, fotos e mais fotos, olhando o que dava daquela senhora da floreta e escutando o seu Anacleto nos falando de tudo o que ele pesquisara sobre o que talvez seja a moradora mais antiga da sua propriedade, mais a frente outra gigante, uma Samaúma, depois nos mostrou todo o processo da fabricação de rapaduras(ele havia feito no dia anterior, perdemos o ato😪), já escurecendo voltamos e fomos conhecer o restante da família e nos acomodar enquanto o jantar não fica pronto, cardápio de iguarias da floresta, com aquela grande mesa, ué....mais tudo nesse lugar é grande???? NÃO! seu Anacleto é pequeno igual a mim:lol:, mesa que tinha de tudo, comi feito um perdido 9_9.

     Depois do Jantar com toda a sua família, esposa, filhos, nora, e netos, ele nos levou a um cômodo e com todo orgulho de brilhar os olhos nos mostrou um vídeo em mais uma de suas criações/invenções, ligando fios, baterias, alto falante improvisados alimentados por uma pequena placa solar, visto que não há eletricidade, vimos vídeos raríssimos que conta muito da história de luta da preservação, muitos seringueiros ainda em vida (antes de serem assassinados) tentando reunir forças entre si liderados por Chico Mendes ao qual o sr Anacleto também fazia parte ainda adolescente, a cada sena ele nos explicava revivendo todo o ocorrido, momento únicos. Já por volta das 21:00hs resolvemos nos acolher em nossas barracas, ele insistiu para que dormíssemos na casa com eles, mas gosto de paixão de acampar vigiado pelas estrelas. Boa noite 😍😍.

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     Seu Nunes e sua Família

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     Seu Anacleto e sua Família

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     Samaúma

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     Apuí

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     Nova casa sendo construída 

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3° Dia, Domingo 15/07/2018

     Acordamos quando o sono acabou🤣🤣🤣(combinamos em não colocar despertador), e sem tanta pressa, fomos aos poucos arrumando tudo, tomamos café, e novamente nos despedimos com aquela vontade de ficar um pouco mais, mas o caminho nos esperava e tínhamos informes que eram muitos kms com infindáveis ladeiras, dito e feito::lol4::::lol4::, saindo de lá nosso próximo ponto de referencia era o rio Xapuri, o seu Anacleto no ensinou uma preciosa vendinha mais a frente um pouco afastada do caminho, não resistimos, fomos lá em busca de algo gelado:lol:, e pasmem, tinha, também alimentados com uma pequena placa solar e uma espécie de conversor de energia, tomamos um refrigerante dahora, uma breve conversa, e seguimos, pouco mais a frente um pequeno perrengue, pneu rasgou num pau, "normal" no MTB ::essa::, mas a magrela teve que passar por uma cirurgia e precisamos seguir com mais dificuldade :cry:, nada que tirasse o brilho da nossa trilha. O Eliézio comprou um mel do seu Anacleto no intuito de levar pra casa mas tomamos quase tudo no caminho, ficou só a raspa no fundo da garrafa :razz:

     Esses dois dias foi também um teste de ferro pra cada um de nós que precisamos vencer nossas próprias dificuldades, Eliézio foi pegar um balde de água e deu um mau jeito nas costas ainda na sexta feira, a Úrsula com medo incontrolável da felina (ainda bem que não vimos::lol4::::lol4::::lol4::), a Ana com hemorragia interna, vulgo menstruação, e Eu com um pneu rasgado que preenchemos com um lençol e uma pequena toalha de rosto::mmm:, mas ninguém desanimou, e o sabor que se tem ao termino é indescritível. OBRIGADO a todos que encontramos no caminho nesse final de semana incrível que passamos na floresta, boa parte dela intocável.

     Por onde passamos ninguém se falava em dinheiro nem valores, era como se fossemos da família, mas claro que tudo tem custos e não fomos pra explorar ninguém, todos as três propriedades onde paramos ou dormimos eles não queriam aceitar dinheiro pela comida/dormida, sei também que o dinheiro as vezes não pode comprar/pagar certas coisas, principalmente quando vem do coração, mas era como poderíamos agradecer naquele momento e em duas das residencias "tive" que deixar o dinheiro em cima de um móvel da casa pois eles não queriam pagamento por aquelas gentilezas, espero nos encontrarmos outras vezes para continuar a retribuir.

     

     Um pouco sobre a trilha, distância e altimetria

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     Obrigaduuuuuuu, até a próxima

  • Amei! 1
  • 2 semanas depois...
  • Membros
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Frank, muito bem relatado e fotografado. De todas as fotos, destaco a foto entre as sapopemas (raízes da árvore) e de tudo que você escreveu destaco este trecho que indica uma enorme sensibilidade de sua parte "Por onde passamos ninguém se falava em dinheiro nem valores, era como se fossemos da família, mas claro que tudo tem custos e não fomos pra explorar ninguém,..." . O espírito é esse mesmo, parabéns! Minhas saudações também para Thalita Figueiredo que fez o primeiro comentário, ela e sua turma foram brilhantes companhias na Serra do Divisor há dois anos em que produzimos dois bons e saudosos relatos nos Mochileiros. Abraços capixabas de Hilton

  • Amei! 3

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