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  • Membros de Honra

Aproveitei o feriadão de 12/10 e voltei novamente para a Serra de São José, perto de Pirenópolis. Desta vez sem a grande companhia do Renato (ver o relato “Travessia dos Pirineus”, do Renato). Uma pena, porque ele é uma excelente companhia e grande conhecedor dos cerrados. Mas estava trabalhando no feriadão (juntando o primeiro milhão - de libras esterlinas!).

 

É incrível como a cerca de 100 Km de Brasília podemos encontrar emas, siriemas, perdizes, macacos, teiús, tucanos e cobras.

 

Cheguei na casa de Dona Valdecirene por volta de 14 horas da sexta. Isto economiza uns 15 Km desde Cocalzinho. Deixei o carro lá e iniciei a jornada debaixo de sol forte. Dona Conceição, que estava lá, se despediu de mim pedindo seriamente que tivesse cuidado com as onças, que estavam aparecendo na região.

 

Pouco adiante uma queimada. O pessoal no centro-oeste queima muito o pasto seco logo antes das chuvas para o capim rebrotar verde. Não acho que seja uma boa técnica. Mas alguns dizem que o cerrado sempre esteve sujeito ao fogo, por isso a maioria das árvores resiste as chamas.

 

Mas algo interessante acontecia: uma enorme concentração de águias seguia na frente das chamas. Um casal de siriemas passeava tranqüilamente. Ambas as espécies oportunamente caçavam os bichos que fugiam do fogo e se expunham aos bicos e garras. Cobras, insetos, roedores e filhotes de perdiz. As siriemas, geralmente tão tímidas e ariscas, nem davam bola para a minha presença. Estavam garantindo o banquete.

 

Um pouco mais adiante vi um vulto correndo na mata fechada. Não dava para distinguir direito, parecia uma ema. Saindo da estrada avistei não uma, mas três emas subindo um cimo de morro. Fiquei me perguntando se também estavam almoçando na frente da queimada.

 

Com uma hora de caminhada, aproximadamente, cheguei no ponto da estrada onde sairia dela para explorar os campos de cerrado.

 

O sol estava escondido atrás de uma névoa (cirrus) sinal de chuva próxima. A previsão era de um final de semana chuvoso.

 

Segui trilha de gado até o momento que ela desapareceu. Vara mato atrás de água, problema nesta época do ano (final do período de estiagem). Fui para um bonito aglomerado de mata, com buritizeiros (sinal de água) imaginando se daria para acampar.

 

Um capim pisoteado estava convidativo para armar a barraca, exceto pelo fato de haver ossos de um boi que provavelmente morreu ali. Não pude deixar de lembrar da recomendação de D. Conceição.

 

Tive de entrar num mato fechado para encontrar um olho d’água. Reabasteci meu cantil. O lugar não era bom. Não dava para tomar banho e teria de entrar toda hora na mata para pegar água.

 

Segui. Espantei uma perdiz e numa subida de morro vi três emas (seriam as mesmas?). Cheguei no início de uma vereda que seguia no sentido leste-oeste, provavelmente indo desaguar no canion do Dragãozinho. Estava bem seco e o leito do córrego só tinha areia e pedras. Sabia que descendo mais cedo ou mais tarde apareceria água.

 

O problema era o mais tarde. Já eram 17:30 e ainda deveria montar acampamento. Nuvens negras e trovões indicavam que a chuva estava próxima.

 

Num bonito descampado vi duas poças onde a água se acumulava. Tecnicamente não estava parada apenas porque um pequeno filete escorria. Como tinha água de beber suficiente nos cantis, elegi o local.

 

Peguei a barraca e na montagem uma das tiras onde ficava o olhal para encaixe da vareta dianteira da barraca e para espetar o espeque (uma túnel Zolo da Doite) rasgou e ficou na minha mão. Tive de fazer um improviso para armar a tenda. Ela me daria outras surpresas durante a noite.

 

Tomei um banho quase morno. Água deliciosa. Só não fiquei mais porque ainda devia preparar a janta e os peixinhos começaram a beliscar a pele.

 

Depois do jantar fui para a tenda onde recomecei a ler “Rumo ao Pólo Sul, A trágica história de Robert Falcon Scott”, de Diana Preston, Editora 34. Excelente narrativa.

 

Começou a chover por volta de 20:30. Chuva forte com trovões espocando de tudo que é lado. Pouco tempo depois começaram a aparecer gotas no lado interno. Todas as costuras minaram água e inclusive o tecido saturava e começava a pingar.

 

Para uma tenda de apenas um teto deveria ter uma impermeabilidade melhor! Resultado: fiquei uma hora com a toalhinha enxugando o teto e as poças no chão. Depois torcia o pano na panela. Quando enchia, abria rápido o zíper da tenda e derramava a água fora. Parecia um bote furado!

 

Calcei as botas, pois os raios e trovões indicavam que estavam cada vez mais perto. Quando um clarão forte e um pipoco estourava mais perto ficava agachado de cócoras em cima do isolante (a altura da tenda permitia isto) aguardando o pior. Se ficar deitado, a eletricidade de um raio nas proximidades é conduzida pelo solo molhado e pode dar um baita choque. Sentado de cócoras é a posição clássica. O solado das botas permite um isolamento maior. É claro que no caso de um raio direto na barraca isto de nada adiantaria. Caixão e vela. Alias, não precisaria de caixão. Bastaria uma caixa de sapato para me enterrar.

 

Não ajudava muito o fato de eu estar num descampado. Porém havia uns pontos um pouco mais altos que a barraca. Sabemos que os raios estão caindo próximos pela intensidade da luz e do barulho do trovão. Se contarmos os segundos entre o clarão e o som e percebermos que está diminuindo a diferença, isto significa que o centro da tempestade está vindo em sua direção e está cada vez mais perto.

 

Diminuiu a intensidade da chuva e a freqüência dos trovões. Finalmente pude dormir, por volta das 10 horas.

 

O sábado amanheceu bonito. Tomei um café e não resisti, caindo novamente n’água. Agora de fato havia o córrego, com força, depois da tempestade.

 

Parti para descer a Serra de São José no seu lado norte, ver os rios que desciam formando canions. Depois de 3 horas cansativas, seguindo parte trilha de gado, parte vara-mato, eu cheguei ao fundo do vale num local bem arborizado as margens de um riacho, um lugar muito bonito e agradável.

 

Tchibum no riacho, de roupa e tudo, para uma “lavagem expressa”. Depois pendurei as roupas e meias para secar, ficando com o calção de banho. Enquanto lanchava fiquei impressionado com a quantidade de formigas e abelhas que pousaram nas roupas que pendurei nos galhos para secar. Provavelmente não era meu suor que atraia elas. Creio que o sal do suor ainda estava entranhado nas roupas e isto atrai os insetos. No meu caso, depois de muito suar e o suor secar, fica uma marca branca de sal nas roupas.

 

Sai do riacho com o calção de banho para montar a barraca e voltei para banhar-me outra vez.

 

Ainda estava no banho quando começou a chover. Entrei na barraca para ler e dormir um pouco, pois a noite anterior foi literalmente tormentosa.

 

Por volta de 17 horas o tempo melhorou, saí da barraca e fiz a janta. Com fogareiro de benzina jamais cozinho na barraca! Com a panela na mão, à medida que comia andava fraldeando o morro, fazendo um reconhecimento dos arredores, tentando descobrir alguma trilha subindo o morro, pois a descida havia sido muito penosa. Acabei descobrindo uma trilha de gado. Sabia por onde subiria na manhã seguinte.

 

Noite tranqüila, bem diferente da anterior. Não choveu durante a noite.

 

Na manhã de domingo, dia lindo. No café avistei um macaco (macaco-prego?) pulando pelas árvores e um tucano. O macaco se atira de um galho para outro como um kamikaze. A confiança que ele tem ao saltar é impressionante. Ele tem certeza que vai conseguir agarrar o outro galho após um salto acrobático.

 

Subi a trilha que avistei no dia anterior. No caminho uma pequena jararaca, filhote. Botei a ponta do bastão perto dela para ver se dava o bote. Ela saiu de fininho. Mas não desprezar uma cobrinha, pois dizem que elas é que tem o veneno mais poderoso, para protege-las.

 

Depois que acabou a trilha um vara-mato e algum trepa pedra. Num determinado momento um teiú saiu correndo, mas parou a menos de dois metros ao meu lado na entrada da toca dele (uma fenda num paredão de pedra). Tava seguro de si porque se o ameaçasse corria para a toca. Ficou me encarando com a língua entrando e saindo da boca.

 

Desta vez, em relação à trilha anterior, vi muito mais animais. Não sei se por causa do início das chuvas os bichos decidem sair mais, pela rota percorrida ou porque da outra vez estava com o Renato. Na companhia de outro trekker a gente fala mais, faz mais barulho e espanta os bichos.

 

Cheguei a casa de Dona Valdecirene por volta de 13 horas de domingo. Foi um trekking leve, pois só andei 3 a 4 horas por dia.

 

Passei no posto de Cocalzinho para uma coxinha de frango e uma Coca. Depois de uma hora de estrada já estava de volta em BSB, onde bati um feijão. O gasto energético foi grande porque senti que a comida não saciava no resto do dia!

 

Espero fazer muita trilha aqui no Centro-Oeste. Muito prático e tem coisa muito bonita na região. Na Chapada Diamantina não observava tanta vida.

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  • Membros de Honra

Otávio:

 

Correr ou encarar? Acho que nenhum dos dois. Costumo dizer que tenho que praticar este hobby enquanto não estou mais velho e ainda tenho certo controle sobre o meu esfincter. Mas se a onça aparecer...De repente é até uma boa estratégia. A onça não vai querer saber de me devorar... ::bruuu::

 

Mas dizem que correr é a pior coisa. A onça pode até ter dúvida se o bicho homem é uma presa. Mas se correr ela terá certeza que é o almoço tentando fugir! E não dá para ganhar na corrida!

 

Quanto as fotos, Maria Emília e Otávio, vou ficar devendo. Ainda estou sem máquina, desde março quando a minha tomou um banho num lago da Patagônia. Espero uma próxima viagem para comprar uma no free shop (de preferência a prova d'água 10 metros!).

 

Uma pena porque acho que daria para fotografar as siriemas, cobra, teiú e até o macaco, se fosse rápido. ::grr::

 

Abs, Peter

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  • 1 mês depois...
  • Colaboradores

Fala Peter.

 

Como sempre ótimo relato. E quando será a próxima. Neste próximo mês de dezembro estarei livre todos os finais de semana, inclusive podendo sair na sexta-feira, se for fazer alguma travessia e eu puder te acompanhar agradeço. Gostaria muito de ter a honra de te acompanhar, já que você tem bastante experiência, e eu estou indo embora de Brasília até janeiro.

 

Um abraço e qualquer coisa entre em contato.

 

Nelmar Gomes

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  • Membros de Honra

Valeu Nelmar.

 

Nos 2 primeiros fds de dezembro estou possivelmente viajando. Mas nos seguintes talvez dê para ir. Eu te aviso. Renato me chamou para a travessia leste da Chapada dos Veadeiros mas não tenho 4 dias seguidos para fazer. Tá na minha lista. Mas um fds acho que dá. Só temos que escolher um roteiro menor.

 

Abs, peter

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