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Montevideo–Buenos Aires–Rosário–Córdoba–Mendoza 1°mochilão de uma vegetariana sozinha (fotos)


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Bom gente, depois de ler tantas dicas bacanas por aqui, resolvi postar o relato do meu primeiro mochilão. Uruguai e Argentina em 16 dias, sozinha.

 

Minha viagem tinha dois desafios primordiais: embarcar sozinha para a Argentina, país conhecido por seus homens, digamos, galanteadores, e eu ser vegetariana, o que restringe a dieta na estrada.

 

Para outras meninas que estejam na situação pela qual eu passei:

O fato de ter ido sozinha não atrapalhou em nada. Eu sou meio emburrada por natureza, então não dava muita brecha para gracinha. Não peguei muito táxi, mas quando resolvi seguir os passos de Angélica, todos os motoristas foram muito respeitosos. Alguns notavam meu sotaque evidente, mas tinham a delicadeza de fingir que tudo estava normal, e para outros mais amigáveis eu falava que era do Brasil e eles sempre vinham com histórias bacanas sobre as férias em Salvador ou Floripa. De novo: eu não fiquei dando brecha para gracinha, acho que essa postura “malvadona” tem que imperar quando estamos sozinhas. Na verdade ter ido só foi muito bom, já que tive que me comunicar mais com as pessoas e conheci muita gente bacana.

Quando falei que ia viajar sozinha, a reação das pessoas era de surpresa. Mas cooooomo sozinha? Não está com medo? Você é louca! Claro que deu um frio na barriga, afinal essa foi a primeira vez que eu sai do país, não falava espanhol e não conhecia ninguém no Uruguai ou na Argentina. Mas essa viagem foi a melhor coisa que já fiz na vida. Cresci muito e aprendi demais.

Sobre ser vegetariana: Eu como ovos e leite, então fica mais tranquilo pegar a estrada. Estava meio tensa por ir a dois países que tradicionalmente baseiam suas dietas em carne, mas foi tudo muito tranquilo. Cozinhei muito no hostel, comi muita fruta e, quando queria comer fora, optava por pizzas, medialunas, empanadas veg e massas sem carne, tudo muito fácil de achar. No Burguer King argentino, inclusive, existe um combo veg com hambúrguer e nuggets \o/

 

Para montar o roteiro eu usei três guias:

South America on a shoestring – big trips on small budgets. Lonely Planet. (É em um inglês bem fácil e tem dicas incríveis)

Argentina. Guia o Viajante.

Argentina – Rough Guide. Publifolha.

Para saber mais sobre preços e horários dos ônibus na Argentina, consulte o site http://www.plataforma10.com. Eu comprei minhas passagens na rodoviária ou em agências conveniadas com o hostel. Muito cuidado com agências de viagem picaretas, especialmente em Buenos Aires!

 

Bom, mas chega de blábláblá!

Deixo meu relato diário caso possa ajudar alguém. Em caso de dúvidas, informações ou dicas, entre em contato :)

 

Primeiro dia: São Paulo – Montevideo (final da Copa América!)

Saí de SP no dia 24 de julho, um domingo. Peguei um voo de manhã para dar tempo de aproveitar bem o primeiro dia. Quando chegamos em Montevideo o avião teve que atrasar um pouco o pouso, o que foi ótimo! Ele deu uma volta por toda a cidade e me apaixonei logo de cara. Tudo branquinho, simétrico e o rio de la plata abraçando Montevideo com aquele azul hipnotizante. Passar pela fronteira é muito tranquilo, só é necessário o RG e eles te dão um documento que deve ser devolvido quando deixar o país. Peguei um táxi super chique para ir até o hostel, depois me explicaram que os táxis do aeroporto são especiais e – consequentemente – mais caros. Fiquei hospedada no Pocitos Hostel, localizado no bairro de mesmo nome. Super recomendo.

A cidade estava linda, toda enfeitada para a final da Copa América. Os uruguaios levam futebol muito a sério e estavam super empolgados para o jogo. Cheguei no hostel, deixei as malas e fui ao mercado comprar umas coisinhas para beliscar até a hora do jogo. Para quem for para Montevideo, uma dia: Pocitos é um bairro lindo e super seguro, mas é tudo muito caro por lá. Deixe para fazer suas comprinhas no centro, muito mais barato. Assisti ao jogo, Celeste campeã! E fui até o calçadão, ou a “rambla”, comemorar com os uruguaios. Fiquei espantada com a educação e simpatia de todos. As ruas ficaram fechadas de gente comemorando, mas tudo muito seguro. Crianças, velhinhos, todos brincando sem violência ou baixaria. Mesmo os mais jovens que estavam bebendo e fumando, o fizeram na maior educação. Não sei se isso era um reflexo do bairro onde me hospedei, mas fiquei impressionada com a postura respeitosa de todos.

 

Segundo dia: Montevideo (Centro)

Acordei cedinho e fui passear pelo centro da cidade com uma argentina que conheci na véspera. Montevideo é uma cidade relativamente pequena e plana, então dá para andar de ônibus ou a pé mesmo. Pegamos um busão até o centro, não mais que vinte minutos, e fomos caminhando meio sem rumo. Primeiro ficamos andando pelo porto, que é muito bonito, com umas muralhas e uns velhinhos pescando, enquanto navios de exportação passam cheios de containers. Contrastes que são o charme de Montevideo. A moça do hostel ficou insistindo para que tomássemos cuidado no porto, mas nós achamos muito tranquilo. Talvez por sermos de São Paulo e Buenos Aires, estejamos acostumadas com ambientes mais perigosos. Também aproveitei a ajuda linguística da amiga porteña para comprar meu bilhete de Buquebus para Buenos Aires.

Fomos até o mercado del puerto, mas foi bem decepcionante. Não tem quase nada à venda. As comidas parecem apetitosas, mas praticamente tudo é à base de churrasco. Como eu não como carne, fiquei só olhando :cry: Eu tinha marcado em um guia todos os lugares que queria conhecer, assim íamos caminhando meio sem rumo e, quando percebia que estávamos perto de um lugar que eu queria ver, parávamos e procurávamos. Para quem curte história e arte: não deixe de conhecer Museo de Arte Precolombino e Indígena (MAPI) e o Museo Torres Garcia. Valem muito a pena. Também achei fundamental ver a Puerta de la ciudadela, a Plaza Independencia e a Plaza Zabala.

Comemos em uma casa de lanches natureba no centro, bem honesta, e voltamos para o hostel caminhando pela rambla. A cidade é bem reta e com um mapa básico dá para se virar bem. (Os museus e hostels possuem panfletos com mapas e guias culturais da cidade, pergunte por eles). Fizemos uma caminhada de mais ou menos uma hora, com uma parada estratégica em uma praça. Vale muito a pena caminhar pelo calçadão do rio/mar de la plata. É de uma calma incomparável.

 

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A belíssima rambla de Montevideo

 

 

Terceiro dia: Montevideo (bairros e centro)

A amiga porteña foi embora e tive meu primeiro dia realmente sozinha em Montevideo. Fui visitar mais alguns museus, longe do centro e de “casa”, o que me possibilitou conhecer um pouco mais da cidade. Com a ajuda da funcionária do Pocitos Hostel (que foi um doce) peguei um ônibus até o Museo de la Memoria, que aborda a última ditadura militar uruguaia. É parada obrigatória para quem se interessa por história. Lá conheci uma senhora que ficou um tempão conversando comigo sobre o Uruguai e fazendo mil perguntas sobre o Brasil. Os funcionários são super atenciosos e simpáticos. De lá, caminhei até o Museo Municial de Bellas Artes. Pois é, eu adoro um museu ::otemo:: . Foi uma caminhada muito agradável e onde eu vivi uma das maiores provas de gentileza da minha vida. Fui pedir informação a um moço na banca de jornal e ele não estava seguro sobre a rua na qual eu deveria entrar. Ele perguntou para um taxista que estava parado e os dois pararam um outro taxista para perguntar, apenas para ter certeza de que estavam dando a informação certa! Eu fiquei passada com tanta atenção. Os uruguaios são muito queridos e atenciosos. Enfim, depois desse museu eu peguei um busão até o centro. Queria conhecer o Solis por dentro, mas acabei descendo no ponto errado, me atrasei e perdi a excursão. Fiz umas comprinhas, caminhei um pouco mais e voltei ao hostel.

 

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O centro, ou Ciudad Vieja, à tardezinha.

 

 

Quarto dia: Montevideo e Buenos Aires

Acordei ansiosa para pegar o buquebus, que iria sair dali umas duas horas.

Como o buquebus foi uma das minhas maiores preocupações, vou falar um pouco sobre ele: é como uma balsa gigante, que vai para diversos lugares do sul. É um serviço bem concorrido, então vale a pena comprar a passagem com alguns dias de antecedência. Eu comprei a minha dois dias antes. Umas brasileiras do hostel deixaram para comprar no dia e ficaram sem, então melhor garantir. Para quem vai cruzar a fronteira, dá para pagar a passagem em pesos uruguaios ou argentinos. Eles também aceitam cartão de crédito, mas no dia em que eu fui comprar a máquina estava quebrada. A viagem no buquebus é muito tranquila e tem free shop e serviço de lanches. A parte na qual estão os acentos quase não balança, mas os banheiros e o free shop, que ficam um piso abaixo, sacolejam bastante e eu fiquei mareada.

Enfim, acordei e fiquei perguntando para o funcionário do hostel sobre o buquebus. Ele me tranquilizou e disse que chegando meia hora antes do embarque estava bom. Eu fiquei meio cabreira, mas confiei. Fui dar uma volta na praia (era dia de feira, tirei fotos lindas!) e voltei para o hostel. O táxi chegou cinco minutos depois do chamado (!) e eu acabei chegando no porto uma hora antes. Fui a segunda passageira a chegar e fiquei uma eternidade esperando buquebus sair. Maldita ansiedade! Mas no fim foi bom porque pude conversar bastante com um casal – gaúchos muito simpáticos – e consegui sentar na janelinha do buquebus, uma vista linda do rio de la plata. Navios gigantes passando bem pertinho da gente, aves, e aquele azul lindo.

Chegar em Buenos Aires foi um choque. Depois de quatro dias de gentileza, calma, natureza e muita conversa fiada, desembarquei bem no centro caótico da capital argentina. Na fila do táxi, só brasileiros e um argentino que deu “uma caixinha” para o atendente conseguir um táxi para ele antes. Dividi o táxi com umas brasileiras que encontrei na fila e já tinha conhecido no Uruguai. O taxista era um senhor uruguaio que nos levou pelo centro e ficou contando a história dos monumentos. Que emoção ver a Casa Rosada pela primeira vez!

Fiquei no hostel The Clan Bed and Breakfast, dessa vez em quarto privativo. Fica bem no centro da cidade, dá para fazer tudo caminhando. Os funcionários são muito simpáticos e prestativos. Tem gente que mora lá, então rola um clima bem família, em especial à notinha. E um dado importante: os cafés-da-manhã são muito fartos. Muito mesmo. Do tipo que dá para ficar sem almoçar. O único problema é que tem uma balada na rua do hostel, então à noite fica um barulho bem alto a noite toda. Enfim, cheguei ao hostel e fui fazer compras no mercado para cozinhar e aproveitei para ir até a Casa Rosada e a Catedral. Elas estavam fechadas, mas deu para ver as luzes de fora à noite, uma coisa linda. Na volta me perdi e tive que consultar o guia, o que eu odeio, afinal fica escrito TURISTA na testa. Nisso um menino de uns 12 anos coloca a mão no meu ombro e me pede dinheiro. Eu falei que não tinha e ele: se você não me der vou roubar tudo que você tem. Eu fiquei puta, gritei que não tinha e comecei a andar super rápido. Não sei se ele ia me roubar mesmo ou estava me zoando, mas isso já serviu para A-me lembrar que eu não estava mais na pacata Montevideo e B-me deixar cabreira durante toda a viagem.

 

Quinto dia: Buenos Aires (Centro)

Decidi conhecer as proximidades do centro da cidade. Fui caminhando até a Catedral Metropolitana, a principal do país e onde está o mausoléu com os restos de San Martin. Também dei uma volta pela Plaza de Mayo e tirei aquelas fotos de turista :) Depois caminhei até o obelisco e, finalmente, ao Museo Beatle, que fica em uma galeria na Corrientes. Paguei caro – 40 pesos! – mas é parada obrigatória para os fans de música. Com eu sou beatlemaniaca, não poderia perder a chance. De lá caminhei mais pela Corrientes – muitas livrarias, é de enlouquecer! – passei pelo Carrefour para comprar umas guloseimas (experimente alfajor da Milka, é de comer de joelhos!) e voltei para a Plaza de Mayo porque soube que as madres iriam fazer seu tradicional protesto. É muito emocionante acompanhá-las. Depois disso fui ao museu do Cabildo e voltei para o hostel. Estava muito cansada e fazia muito frio: sensação térmica de -2°C!

 

 

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Uma das ruas do centro porteño

 

Sexto dia: Buenos Aires (La Boca, Puerto Madero e San Telmo)

Acordei toda animada e perguntei ao moço do hostel:

- Como vou para La Boca?

- Que boca? (troll face)

Como assim que La Boca, meu senhor? A que eu venho querendo conhecer desde sempre!

Peguei um busão no centro, o 64, que faz final no Caminito. Parei em uma lojinha para comprar umas coisinhas e fui até o Caminito, que é lindo, lindo. Fiz umas comprinhas e fui conhecer La Bombonera. Adoro futebol e sou apaixonada pelo futebol argentino (por favor, não me xinguem), então me acabei no Museo de la Pasión Boquense. Uma dica: se você se interessa minimamente por futebol, faça o tour. Não importa se é caro, se demora, se os atendentes do caixa são mal humorados. Faça o tour pelo estádio.

O tour valeu muito a pena. Uma moça muito simpática contou detalhes da história do Boca ::love:: , conhecemos o estádio por dentro e nos divertimos horrores. O legal é que a guia fala espanhol, mas pode repetir em inglês ou português. Eu entendi tudo o que ela falava, e outros brasileiros que estavam no passeio também, é bem sussa. Me apaixonei pelo Boca e saí de lá com uma bandeirola “Camila, el hincha n°1 de CABJ, te amo”! Hahaha. As coisas na Bombonera são muito, muito caras. Vale a pena dar uma pesquisada antes de fazer comprinhas por lá, por mais que a pasión boquense te contagie!

Saí de La Boca e peguei um ônibus até San Telmo. Desci meio perdida, quando achei que estava no bairro certo. Andei, andei e cheguei em... Puerto Madero! Tudo bem, afinal ele também estava na lista, mas minha falta de norte foi engraçada. Puerto Madero é lindo, e só. Os restaurantes de lá são chiquérrimos e, consequentemente, caríssimos. Se você estiver com uns bons pesos sobrando, pode se arriscar. Mas como eu estava contando moedinhas, preferi comer minha maçã na humildade. Fui perguntando e caminhando até que cheguei em San Telmo. Tirei minha foto com a Mafalda ::love:: e comprei meu mimo preferido da viagem: um quadrinho da turma da Mafalda vestida de Beatles! Comi em uma pizzaria em frente à casa da Mafaldita. A pizza era boa, mas o serviço, Jesus me dê paciência! Chamei a garçonete três vezes e ela preferia fazer nada a me atender. Brincadeira, né? Enfim, San Telmo é um bairro lindo, cheio de bares, pubs e lojas estilosas. Fiquei pouco por lá, pretendo conhecer melhor em outra viagem porteña. Voltei para o hostel caminhando (as ruas de San Telmo parecem bem seguras pelo movimento e boa iluminação). Fui para “casa” tomar chá e me enrolar nas cobertas, tamanho o frio!

 

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La Bombonera ::love::

 

Sétimo dia: Centro, La Recoleta (tentativa frustrada) e Hard Rock Café

Saí de “casa” toda pimpona com as instruções de como chegar até a Recoleta de ônibus. Mas queria conhecer a livraria El Ateneo e decidi ir caminhando. Sobre El Ateneo: vale muito a pena conhecer. É lindíssima, apesar do preço meio salgado dos livros e CDs. Dá para dar uma passadinha depois de conhecer o Obelisco, que está relativamente perto. Pois bem, fui procurar o papel com o busão que deveria pegar para a Recoleta e descubro que perdi. Perdi o papel. Burra a pão de ló! ::putz:: Aí beleza, mantive a calma e fui caminhando de acordo com o mapa do meu guia. Mas sabe Deus como, eu consegui ir para o lado contrário e ir parar no centro de novo! Só não é mais burra por falta de espaço! Fiquei andando perdida um tempão e, por fim, peguei o subte (o metrô porteño) e desci na estação que uns policiais me orientaram. Caminhei, caminhei, caminhei, completamente perdida e enfim encontrei o cemitério. Só que aí eu estava tão cansada que visitei uma capelinha ao lado do cemitério, que tem um museu bem bonitinho, e fui correndo atrás do Hard Rock Café, para tomar uns bons drink e ouvir um rock. Para os vegetarianos: o hambúrguer veg deles é uma delicia, bem generoso e não tão caro. Lembro que paguei cerca de 50 pesos em um mais um chopp Quilmes (delícia!). Na mesa do Hard Rock eu conversei com um moço do Panamá muito simpático, que me deu um conselho valioso: esses perrengues pelos quais você passa fazem parte da aventura. Verdade, né? O que seria de um mochilão sem eventuais perrengues? Pensei nisso quando me despedi, fui finalmente conhecer o cemitério da Recoleta e estava fechado. Fue fue fuééén. Aí tive que ir perguntando como fazia para chegar em um subte.

 

Oitavo dia: La Recoleta, Palermo, tentativa de golpe e eleições

Meu último dia em Buenos Aires. Tinha me programado para ir até a cidade de La Plata, mas como não tinha conhecido várias coisas de Buenos Aires, decidi ficar. Queria ir a alguns museus, entre eles o Museu de Arte Latinoamericano, o Malba, que abriga um dos mais valiosos acervos de arte do nosso continente. Levantei cedinho e conheci o Cemitério da Recoleta, enfim. É bem bonito, mas confesso que me sinto meio mal em cemitérios, em especial porque estava tendo um velório no mesmo dia. Acho meio falta de respeito ficar turistando enquanto as pessoas choram seus mortos. Fui caminhando, passei por alguns museus e vi que estavam todos fechados. Decidi caminhar até Palermo e, enquanto fotografava a faculdade de direito, uma gosma caiu na minha cabeça. Aí um casal veio me ajudar a me limpar, ficou falando que era cocô de pomba. Eu fiquei bem de olho na minha mochila, ainda estava meio traumatizada com o moleque do primeiro dia. Quando, de repente, vejo o cara com a minha carteira na mão. Filho da puta! Aí ele deu um migué, falou que tinha caído e eu fui conferir tudo. Não senti falta de nada, carrego pouco dinheiro na carteira e ele estava lá. Não entendi até hoje se foi uma tentativa frustrada de golpe ou se eu estava paranóica demais em Buenos Aires. Seguindo a orientação do casal, fui até a faculdade de direito, que estava aberta por causa das eleições primárias, usar o banheiro e tive que pegar um taxi para “casa” lavar o cabelo, que ainda estava fedendo.

Banho tomado, aproveitei o desvio de rota para tentar conhecer o interior da Casa Rosada, que funciona aos sábados e domingos. Mas o guarda me informou que estava fechado por causa das eleições. Frustrada, fui caminhar pelo centro, peguei um táxi para o Malba e fuefuefuéén, também fechado. Conheci um velhinho italiano na porta do museu e fomos tomar um café. Ele me contou várias histórias sobre a Buenos Aires de antigamente e me levou até a porta do Jardim Japonês, uma formosura. Voltei para “casa” frustrada por não ter conseguido fazer os passeios programados.

 

Nono dia – Perrengues na rodoviária de Buenos Aires e final feliz em Rosário

Comprei minha passagem para Rosário um dia antes, em uma agência. Fica um conselho: compre passagens apenas na rodoviária ou em uma agência conveniada com o hostel. Tem muita agência de viagem picareta em Buenos Aires, e quem me disse isso foram os próprios porteños. O ônibus ia sair cedo, então empacotei minhas coisas e fui para Retiro, a rodoviária da capital. Estava decidida a fazer a Angélica e ir de táxi, mas um moço que vivia no hostel me disse que era mais fácil ir de subte. Afinal, estávamos perto de várias estações e Retiro é uma estação final. Paulistana traumatizada, perguntei se não seria difícil, afinal era horário de pico e eu estava com duas malas mais a mochila. Ele disse que não, podia confiar.

Fiz o check out, desci para o subte (com uma mala de rodinha, uma mala pequena em cima e uma mochila), confiando na palavra do colega. Desço as escadas no maior perrengue, chego na plataforma e quando abre a porta....

TA-DÁ

O metrô lotado que não dava para entrar. Eu quase sentei no chão e chorei. Estava em cima da hora, não dava mais tempo de pegar táxi e o metrô que nem a Sé ás 6 da tarde. Eu só conseguia repetir: colombiano filho da puta, colombiano pelotudo. Pelotuda eu também de confiar. Hijo de puta. O outro trem chegou e eu fui empurrando para fazer caber minhas malas. Nas duas estações que se seguiram, as pessoas desceram de boa. Mas na terceira, todo mundo resolveu descer. Tipo estação da Luz às 7 da manhã. Eu, obviamente, não conseguia dar licença por estar cheia de malas e com um monte de gente me empurrando. Qual foi a reação dos passageiros? Descer o soco! Sério. Tomei soco, pontapé, empurrão e a coitada da minha mãe foi que foi xingada.

Aí eu sentei no banco do subter e chorei. Estava com fome, com frio, homesick e ainda passei por isso. Comecei a chorar abraçada nas malas.

 

Desci em Retiro em cima da hora do busu sair e, claro, me perdi. Quando me achei, pedi informação para um moço que estava sentado por ali e ele, na maior calma: seu ônibus já saiu. Nossa, quase começo a chorar de novo. E ele: calma, moça. Vai no balcão da companhia e pede para eles trocarem sua passagem que tudo bem.

Chego no balcão da companhia.

(sorriso de choro): - Hola, bom dia. Queria trocar minha passagem, por favor, que eu perdi o ônibus.

(cara fechada): - Se atrasou é?

(cara de choro): - Eu sou estrangeira e me perdi.

(cara feia): -Toma outra.

(sorriso amarelo): - Obrigada

Eu entendi que o bumba sairia da plataforma 10 DE 71, dali uma hora. Fiquei sentada no frio esperando. Esperando. Esperando. Aí vi que estava atrasado demais e perguntei para uma senhora se ela sabia do ônibus para Rosário. Ela viu minha passagem e falou: ih filha, esse já saiu. E eu: como assim? Aqui é a plataforma 10, ele sai da plataforma 10. Ela: não, ele encosta em qualquer plataforma daqui, da 10 ATÉ a 71.

Chorei de novo.

Me controlei e voltei no balcão, mas com outro atendente.

-Moço, perdi o ônibus, você poderia trocar a passagem?

Passagem trocada, 15 minutos antes do ônibus sair eu colei em um segurança e pedi para ele me ajudar. Ele localizou o ônibus para mim e, no fim, um brasileiro ouviu minha conversa com ele e ficamos juntos meio nos apoiando. Com a super ajuda do anjo segurança peguei o busão para Rosário.

Os ônibus argentinos são muito seguros. Eles etiquetam sua bagagem e só te entregam se você mostrar o comprovante no desembarque. As estradas argentinas também são muito seguras e bem cuidadas, ao menos no trajeto que eu pude conhecer. Mas muito muito muito cuidado com a rodoviária de Buenos Aires. Eu vi muita gente suspeita por lá, encarando bagagem e fingindo pedir dinheiro para olhar dentro das bolsas. Todo cuidado é pouco. Ah, e a plataforma de embarque é em uma área descoberta. Se for no inverno, como eu, leve um agasalho extra porque faz muito frio.

Enfim cheguei em Rosário, bem de tardezinha por causa do tempo perdido com a confusão da rodoviária. Ao chegar em Rosário já senti uma atmosfera mais calma Apesar de ser a 3ª cidade mais importante do país, perdendo apenas para a capital e Córdoba, Rosário consegue manter o clima de cidade do interior. Na rodoviária já senti a diferença: as polícias eram praticamente todas mulheres, e com traços indígenas. Girl Power!

Peguei um taxi por volta das 4 da tarde e percebi que o comércio estava quase todo fechado. Era hora da siesta. Tem coisa mais cidade fofa do interior que isso?

Fiquei no hostel La Casona de Don Jaime II. Recomendo demais. Equipe simpática e atenciosa, funcionários brasileiros para quando o espanhol falhar e muito bem localizado. Para não perder por completo o dia, fui ao mercado e depois sai caminhando pela cidade. Com uma importante universidade, Rosário mantém um clima muito jovem e descontraído. É normal, por exemplo, ver muitos estudantes e jovens andando com violões ou guitarras pelas ruas. Fui seguindo o mapa até o Monumento a la Bandeira, que imaginava ser uma estatuazinha qualquer. Quando cheguei lá, fiquei absurdada.

O Monumento é a uma das coisas mais bonitas que eu vi na Argentina. Ele fica na beira do rio Paraná, onde a bandeira argentina foi criada. É enorme, tem uma fogueira simbólica, policiais com fardas especiais fazendo a guarda e uma torre enorme com as cores da pátria projetadas. Lindo, lindo, lindo. Voltei pelo centro, comprei uns livros que estavam super baratinhos e voltei para o hostel para me recuperar do trauminha porteño.

 

Décimo dia – Rosário (centro e parque)

Levantei cedinho e fui dar uma volta por Rosário. O centro da cidade é relativamente pequeno e dá para fazer o básico a pé. Perambulei um pouco pelo centro e depois fui ao belíssimo Parque de La Independencia, onde fica o Museo Historico Provincial Julio Marc, com um acervo super completo desde a pré-história argentina até a colônia. Os funcionários do museu, assim como os rosarinos no geral, são muito simpáticos e adoram uma prosa. Para quem está aprendendo espanhol, é uma ótima oportunidade de treinar o idioma. Os rosarinos são pacientes e não ficam corrigindo ou interrompendo. Depois caminhei pelo centro (vale a pena conhecer as lojas e os centros comerciais: produtos baratos e de muito bom gosto). Conheci o Museo de La Memoria, que aborda a ditadura militar, andei pelas proximidades das faculdades, que ficam espalhadas pela cidade, e voltei ao Monumento a la Bandera (por dois pesos é possível subir de elevador até o topo do monumento e ver toda a cidade. É muito bonito), ao rio Paraná e fui à Praça Che Guevara (que nasceu em Rosário) e à sua casa de nascimento, que nada mais é que um prédio com uma placa na frente :(. Tudo muito bonito e tranquilo. Jantei empanadas de queso e cebolla, uma deliciosa e barata opção para os vegs ::hãã2::

 

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O Monumento a la Bandera

 

 

Décimo primeiro dia – Rosário e Córdoba

Fiquei apenas um dia inteiro em Rosário e a verdade é que me arrependi profundamente. A cidade é linda, tranquila e cheia de gente simpática disposta a dois dedinhos de prosa. Além disso, a vida noturna rosarina é incrível, cheia de bares, pubs, restaurantes... Quero muito voltar para lá e conhecer melhor a cidade. Por conta do rio Paraná, eles também contam com vários passeios de barco e lancha, e muitas praias.

Fiz o check out sem pressa e peguei o bumba para Córdoba por volta do meio dia, dessa vez sem traumas. Comprei a passagem na rodoviária na hora do embarque, seguindo a orientação da moça do hostel. Ela disse que em alta temporada (do final de junho a meados de julho) a procura por passagens para Córdoba é alta e é melhor garantir com antecedência. Mas com estávamos no dia 3 de agosto, estava tranquilo.

Mais uma vez a pontualidade e qualidade dos ônibus argentinos me surpreendeu. Fui no segundo andar do ônibus, com uma janela panorâmica que me deu uma vista linda e presente. Era um ônibus “pinga-pinga”, o que foi ruim porque perdi tempo, mas foi magnífico porque pude circular por várias cidadezinhas argentinas e conhecer um pouco melhor o interior e as famosas serras de Córdoba, lindas de viver.

Cheguei ao hostel à noitinha. Me hospedei no Córdoba Backpackers. Sua localização é ótima – no centro, perto de tudo – e os funcionários são relativamente interessados, mas a estrutura é bem ruim. Fiquei em um quarto privado. A TV não funcionava, a pintura estava descascando e a parede do chuveiro tinha um buraco redondo no alto, parecendo um cano quebrado. Medo. Também fiquei bem nervosa porque reservei três noites e eles computaram duas no mesmo quarto e uma em um sem banheiro. Um absurdo, já que eu fiz a reserva com dois meses de antecedência. No fim cancelei a reserva do último dia e viajei à noite. ::bruuu::

Conheci o centro de Córdoba pela noite e fechei um passeio no hostel para o dia seguinte cedinho, para Alta Gracia (cidade onde o Che Guevara viveu) e La Cumbrecita.

 

Décimo segundo dia – Alta Gracia e La Cumbrecita

Essa foi a primeira excursão do mochilão, por estar curta de grana e porque normalmente fico de saco cheio com excursões. Mas valeu muito a pena. Uma que na viagem conheci um argentino, um mexicano e uma venezuelana, e ficamos andando meio de grupinho. Em Alta Gracia conhecemos apenas o Museu Casa do Che Guevara, mas que é muito lindo. Independente da sua ideologia, pisar no mesmo chão que um ícone do nosso continente e ver suas coisas tão de perto é emocionante. Uma senhora espanhola que estava conosco saiu de lá aos prantos. Seguimos de van para La Cumbrecita, uma cidade linda de colonização alemã. Paramos no meio do caminho no dique Los Molinos para tirar fotos e ficar sem fôlego com tanta beleza. As serras de Córdoba, definitivamente, são magníficas. Em La Cumbrecita comemos em um restaurante lindo, com parede de vidro para a serra, e cerca de 60 pesos um almoço delicioso, uma pechincha! Depois fizemos trilha até uma cachoeira e, no caminho, vimos um restinho de neve da semana anterior. Eu e a venezuelana ficamos histéricas, hahaha. Primeira vez que víamos neve na vida! No fim do dia nos deixaram no centro de Córdoba, a nosso pedido. Caminhamos um pouco, jantamos no Burguer King do shopping Olmos, no centro, (há hamburguers e nuggets vegs!) e fomos para o hostel beber e conversar. Estava cansada e bêbada e capotei no quarto.

 

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Alguém aí lembra de La Poderosa?

 

 

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La Cumbrecita e as famosas serras de Córdoba

 

 

Décimo terceiro dia – Córdoba (centro)

Com a excursão do dia anterior, não tive tempo de conhecer Córdoba direito. Tirei a primeira hora do dia para comprar minha passagem para Mendoza e depois dei um rolê pela cidade. Córdoba é muito grande e bem bonita. Mas meio caótica, como qualquer cidade com aquele tamanho e importância. Visitei algumas igrejas (são muitas!). Eu conheci o Museo de la Memória, sobre a ditadura militar, que está em um prédio onde no tempo da ditadura funcionou um local de tortura, prisão e assassinato de presos políticos. Tem histórias de vários cordobenses que foram mortos, é bem impressionante. Também ficam expostas fotografias de pessoas que faleceram ali. Alguns dos monitores do museu são ex-presos políticos, vale a pena conversar com eles, que esclarecem nossas dúvidas com toda a paciência. Também conheci a cripta jesuítica em uma passagem em uma rua para pedestres, como se fosse um pequeno túnel. Ela foi descoberta durante a construção da avenida e ficou preservada. A contribuição é de 2 pesos e uma guia fica à sua disposição. Um tour muito interessante é o pela Universidade de Córdoba, onde uma guia conta a interessante história da universidade e da colonização jesuítica. Se tiver que conhecer uma capela, não perca a Capela Doméstica da mansão jesuítica, que fica nas ruínas do centro da cidade. Construída em 1668, ela foi tombada pela Unesco e nos deixou sem fôlego.

Bem cansada de tanto caminhar, voltei ao hostel onde comi, bebi uma cervejinha e esperei pelo horário de meu ônibus para Mendoza. Fui de táxi até a rodoviária batendo um super papo com o taxista e fiquei esperando a hora do bumba chegar. Comprei um ônibus leito com serviço e foi a coisa mais engraçada. A poltrona vira uma cama melhor que a minha, com travesseiro e cobertinha! Rola um serviço de bordo onde são servidas bebidas, janta e café-da-manhã. O motorista conversa com a gente que nem no avião. A janta é servida, passam um filminho para ajudar a relaxar e, depois, as luzes apagam. Dormi super bem, acordei quase em Mendoza com o “busãomoço” perguntando: Breakfast, lady? Hahaha. Vegs, as duas refeições têm carne. Sorte que eu fiz uma quentinha de medialunas na rodoviária e comi enquanto via o filme.

 

Décimo quarto dia – Mendoza

Cheguei na rodoviária de Mendoza tonta de sono, meio sem saber o que estava acontecendo. Peguei o taxi para o hostel e achei que ia ter que esperar até o horário do check in (eram apenas 7 da manhã), mas meu quarto estava livre e eu pude ir descansar. Fiquei no Quinta Rufino Hostel, o melhor da viagem. Super barato, (180 pesos por três dias no quarto privativo com banheiro e café-da-manhã), café-da-manhã muito farto, equipe solicita e tudo super limpo e organizado. Perto de tudo, inclusive do centro, onde ficam os barzinhos. Recomendo. ::otemo::

Dei aquela cochilada, tomei um banhão e estava pronta para conhecer a cidade. Mendoza é linda. Simples assim. Localizada na Cordilheira dos Andes, ela consegue unir sofisticação e natureza. Fiquei tão encantada vagando pela cidade que fui perceber só umas 4 da tarde que não comia nada desde o dia anterior! Almocei uma pizza individual com Seven up (pois é, ela ainda existe no Uruguai e na Argentina, adoro!) e fui conhecer a famosa Plaza Indepedencia. Lá vi um senhor que estava com um ônibus bem daqueles turistão, sem teto. Ele ia até o Cerro de la Glória e eu super embarquei. Paguei cerca de 30 pesos, não lembro ao certo. Mas vale muito a pena, o senhor passa por boa parte da cidade e vai contando a história. Por fim, entra no parque San Martin, onde fica o Cerro de la Glória, que foi placo de uma importante batalha durante o processo de independência. Mas, mais que isso, proporciona uma visão linda da pré-cordilheira dos Andes.

Nesse passeio conheci um casal de brasileiros que me falou que estava indo fechar um pacote para conhecer a Cordilheira dos Andes. Gente, meu sonho era conhecer a cordilheira! Mais que depressa aceitei o convite deles, fui a uma agência de turismo e fechamos a viagem. Mais uma vez, o conselho: antes de fecharmos o pacote, o casal foi até a secretaria de turismo da cidade e perguntou se a agência era mesmo de confiança. Infelizmente tem muito picareta por aí.

Me despedi do casal e fui conhecer a feira de artesanato da Plaza Independencia. É muito linda, com coisas baratinhas e de bom gosto. Guarde um dinheirinho para ela. Outra dia boa é a livraria / loja de discos Yenny de Mendoza. Ela fica no centro e é muito mais barata que suas “irmãs” uruguaias e da capital. Comprei vários CDs lá por 15 e 20 pesos, e um DVD do Chapolin Colorado por apenas 18.

Fui dormir cedo porque no dia seguinte iria realizar o sonho de conhecer os Andes.

 

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A pré-cordilheira vista do Parque San Martin

 

 

Décimo quinto dia – Cordilheira dos Andes e nevasca

Acordei antes do sol nascer para ir aos Andes. Estava morrendo de medo de neve (sempre que eu estava em uma cidade e ia para a outra, os argentinos me botavam medo do frio: Ah, você vai para Córdoba? Não vai aguentar o frio não, menina. Te agasalha). Então, para subir os Andes eu me preparei para o pior: uma meia calça, uma meia de lã, uma meia normal, bota, calça jeans, camiseta, camiseta de manga comprida, casaquinho, casaco de lã, sobretudo, duas luvas, cachecol e toca de lã de alpaca. Ufa. Fui tomar café e certamente estava ridícula. O moço do hostel me olhou e falou: você vai para o Aconcagua? Essa roupa não é suficiente, e deu uma risadinha. Mas melhor ridícula que congelada.

A van do passeio buzinou e lá fui eu. O guia era super simpático e ficou me zoando o tempo todo porque falei que torcia para o Corinthians e o Boca, hahaha. Antes de subirmos o guia explica bastante sobre o soroche, sobre com é perigoso ir até os Andes e conta umas histórias macabras de gente que ficou presa na neve e morreu, avião que cai, busão que fica preso. Assim, está todo mundo ciente do que pode acontecer. A van vai fazendo umas paradinhas no caminho para podermos tirar foto e perder o fôlego com a paisagem.

Paramos em uma cidade super charmosa chamada Potrerillos para alugar as roupas e sapatos de neve e uns esquis, que o guia didaticamente explicava que eram “esquibundas”. A excursão era bem variada: casais jovens, gente sozinha, famílias, senhores. Todos argentinos, exceto eu, o casal de brasileiros do dia anterior e um casal português lindinho em lua de mel.

Começamos a subir os Andes e estava uma mega nevasca. A neve estava atrasada: o que era para ter nevado em junho estava nevando em agosto! Mas não me importei, estava vendo neve pela primeira vez e fiquei muito emocionada. A van parou para colocar correntes nas rodas (coisa de filme!) e eu fiquei toda feliz pulando na neve, fazendo guerrinha de neve, comendo flocos de neve! Íamos passando por pontos importantes da geografia andina, mas era impossível ver qualquer coisa, por causa da nevasca. O guia falava, todo sarcástico: anotem e joguem no Google Imagens depois :roll: . Ir até o Aconcagua seria impossível, então o guia tentou nos levar até a Puente del Inca. No meio do caminho começou uma super nevasca e tivemos que voltar corridos! Era lindíssimo, mas dá muito medo. A neve vem muito rápido, dá a impressão de que irá cobrir a van em segundos.

Voltamos para Potrerillos onde brincamos na neve. Aí minha ficha caiu: isso é neve dos Andes! Fiquei toda boba olhando para o céu e o guia veio me perguntar se estava tudo bem. E eu: sim, estou muito feliz! Ele deve ter pensado: coitada, essa é pinel. Almoçamos muito bem em um hotel chiquérrimo por cerca de 50 pesos e voltamos para casa, fotografando os Andes ensandecidamente. A van me deixou na porta de “casa”, tomei um banho bem quente para tirar a friagem da neve e fui passear pela Plaza Independencia. Depois dormi cedinho porque no dia seguinte voltaria para São Paulo.

 

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Quem quer neve?

 

Décimo sexto dia- Mendoza, mais perrengue em Buenos Aires e, enfim, São Paulo

Acordei cedinho, peguei um táxi para, seguindo as orientações da LAN, estar no aeroporto três horas antes do embarque. Cheguei no aeroporto e.... TUDO VAZIO. Aí eu olhei meu voucher, olhei relógio e fui fuçar nas lojinhas do aeroporto. Comprei uns alfajores (doce de leite coberto com açúcar, divinos!) e perguntei para a moça cadê todo mundo. Ela me falou que isso acontece todos os dias, a LAN manda chegar com três horas de antecedência, mas os funcionários só chegam uma hora e meia antes do primeiro voo.

Ok.

Comprei uma Rolling Stone (a Rolling Stone argentina é incrível!), e fiquei lendo. Fui tirar umas fotos do lado de fora do aeroporto, com o céu cor-de-rosa e depois de muita enrolação autorizaram o check in e o embarque.

Fiz conexão no Aeroparque de Buenos Aires. Todos desceram, fomos para a esteira indicada e nada das nossas malas. E nada. E nada. Até que alguém gritou: nossas malas estão aqui! E todos correram para pegar em outra esteira. No meio tempo, um gurizinho brasileiro vem gritando para o pai: os jogadores do Boca estão ali, ó. E eu: pelamordedeus, onde? Ele: ali na outra sala. E eu não podia ir porque estava esperando minha mala. Aí o guri volta com um autógrafo do Riquelme. DO RIQUELME. E nada da minha mala. E eu querendo ver o Boca. E nada.

Os jogadores foram embora. Meus colegas de voo foram embora. E nada das minhas malas.

Fiquei desesperada, amaldiçoando Buenos Aires. Sai correndo com minha mochila e uma caixa de alfajores no carrinho de bagagem até o guichê da LAN. Falei que minha mala tinha sumido e a atendente, naquele mau humor porteño: volta lá que sua mala tá lá. Eu: moça, não tá, esperei até todas saírem. Moça: tá lá sim. Eu: NÃO TÁ, FAÇA O FAVOR DE CONFERIR O QUE ACONTECEU. Aí a atendente ao lado dela explicou que minha mala iria direto para Guarulhos. E a moça número 1 teimando que a mala estava lá. Até que ela chamou um colega no rádio e ele confirmou que a mala tinha ido para Guarulhos. E eu: mas isso é certeza, né? Resposta: cara de bunda.

E eu fiquei sem meu autógrafo do Riquelme. ::grr::

Embarquei novamente, agora para Guarulhos, e, fora uma turbulência monstruosa, deu tudo certo e minha mala realmente estava no voo. Cheguei em casa feliz, cheia de histórias para contar. E sofrendo com soroche ao revés por três dias.

 

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Tchau. Andes! Até a próxima! (aeroporto de Mendoza)

Editado por Visitante
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  • Membros de Honra

Camila, parabéns pelo relato! ::otemo::::otemo::

Em BsAs tb sofri uma tentativa de golpe com o carinha pondo a mão no ombro e pedindo dinheiro e no metrô roubaram meu celular com o manjado golpe de um que finge pegar alguma coisa no chão enquanto outro aproveita a sua distração e te rouba! Esse de alguém ser muito educado e se oferecer pra te limpar tb é golpe manjado!!!

Mas mesmo assim, pretendo voltar lá em dezembro de 2012!!!!

 

Abraço.

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  • Membros

Oi Péricles! Muito obrigada, fico feliz que tenha gostado.

Pois é, duas tentativas de golpe! Minha sorte é que eu estava ligeira, já tinha lido muito sobre os golpes porteños, e os dois golpistas foram muito mongos. Em especial o segundo, que foi tentar me roubar na frente da faculdade de direito em dia de eleição, lotado de policial! É muito babaca.

Mas apesar dos pesares gostei muito de Buenos Aires e a Argentina é um país lindíssimo. Pretendo voltar em 2013, agora para conhecer o Norte. ::otemo::

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  • 2 semanas depois...
  • Membros

Camila, parabéns!

 

Viajar sozinha é um ato de coragem e certamente muito educativo!

Já estive em BA três vezes ( e retornarei mais três vezes para estudar), em todas elas, eu e minha família

tivemos problemas em razão de atos pouco honestos de alguns portenhos. Da primeira vez, minha mãe foi roubada no Centro,um rapaz avançou em seu

pescoço para arrancar-lhe um colar e a proprietária do apartamento que aluguei por intermédio de uma escola de idiomas insistiu em receber mais uma diária

que não lhe era devida, além de ir todos os dias no apartamento e pretender regular até a energia elétrica que usávamos, um horror!!

Da segunda vez, desembarcamos na cidade durante um cruzeiro e o taxista devolveu o troco de cem dólares em moedas falsas, o que somente descobrimos

quando tentamos usá-las em Punta del Este. No último mês de julho/2011, retornei a BA para iniciar um mestrado, saindo do aeroporto pegamos um táxi de empresa

credenciada no aeroporto, ao chegar no destino constatamos que uma de nossas bolsas fora furtada, provavelmente pelo empregado da empresa de táxi que fingiu

guardá-la no porta-malas, mas na verdade a deixou com algum comparsa picareta, fato do qual temos quase certeza porque até entrarmos no táxi a bolsa se encontrava

entre outras bagagens.

Sempre usei o subtê de BA sem qualquer problema, mas em julho, em determinados horários ele fica lotadíssimo e os portenhos não aprenderam a básica lição de educação: deixar quem está dentro do vagão sair para depois entrar aqueles que estão do lado de fora. Certo dia, eu, meu marido, nossa filha e uma amiguinha dela ficamos

literalmente presos dentro do vagão do metrô por três estações e para sairmos tivemos que nos valer da educação local, empurrar, socar, enfim uma loucura. Mas, recomendo o metrô como um meio rápido e baratíssimo de locomoção em BA, não obstante as condições lastimáveis das estações, que deveriam ser muito bonitas em tempos melhores, com seus azulejos belíssimos.

Mas faço um alerta, assim como no Brasil onde há gente de todo tipo e humor, há portenhos atenciosos, educados, honestos, tenho e tive professores argentinos que são maravilhosos, já obtive informações muito úteis com pessoas do povo, policiais,taxistas e fui bem atendida em algumas lojas e restaurantes ( o que não é comum em BA). Também, percebi uma diferença imensa entre o argentino de BA e o de Bariloche, porque, nesta última os nativos são sempre hospitaleiros, atenciosos, e o atendimento em restaurantes, hoteis, lojas é sempre educado.

É preciso ter em conta que, BA é uma metrópole de uma pais que enfrenta problemas de desemprego, com aumento do número de usuários de "paco", a versão deles para o "crack" , e que na última década viu um crescimento acelerado de villas ( o nome local para designar favelas) em seu entorno, circunstâncias que geram e agravam a violência urbana em qualquer sociedade.Nas minhas viagens de subtê, posso perceber como a vida tem sido muito difícil para os trabalhadores na Argentina, em dias de muito frio pessoas com agasalhos remendados, muito usados. Na calle Florida, que conheci lindíssima em 2001, vejo hoje muitos ambulantes, mulheres com crianças pequenas trabalhando até tarde, em noites geladíssimas.

Também, ouvi reclamações de argentinos sobre turistas brasileiros, como por exemplo de um garçom que me disse ter ouvido de um brasileiro que, o que é servido na parrilhada completa (prato tipico argentino) no Brasil é " comida para cachorro" , atitude que me parece muito desrespeitosa para com os nativos do pais anfitrião, se você está em um pais estranho e não conhece o que será servido, pergunte antes de fazer seu pedido e respeite os costumes locais.

Ressalvando os problemas de segurança, BA merece ser conhecida por seus parques, seus museus , para compras, para conhecer os costumes dos vizinhos .É uma bonita cidade e que tem um zoológico maravilhoso, o rosedal e o jardim japonês, passeios muito bonitos para se fazer com as crianças, especialmente nos dias quentes de verão.

No próximo mês de fevereiro, após sair de BA, vou conhecer Montevidéu e lhe agradeço as preciosas dicas.

Obrigada,

Carmen Lúcia

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  • Membros

Essa é a minha primeira postagem aqui no site, literalmente. Sempre leio muita coisa aqui, mas só hoje criei uma conta. Gostei muito do seu relato, pretendo fazer um mochilão que engloba Uruguai, Argentina e Chile, alem de algumas cidades brasileiras. Cada vez que vejo alguem falando sobre o Uruguai, mais me interesso pelo país, o povo de lá parece ser realmente muito hospitaleiro. Enfim, saiba que com certeza, suas dicas serão de grande ajuda não só na minha, mas na viagem de muitos dos que passam aqui pelo site.

 

Abraços e boa sorte com as suas proximas aventuras. ::cool:::'>

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  • Membros de Honra

Também gostei muito do relato, parece filme ! Comédia e drama, muita história pra contar, hehe. Estarei em Montevideu e Buenos Aires em abril e to torcendo pra Pluna alterar meu vôo de volta, pra eu poder mudá-lo sem pagar multas e ficar mais tempo viajando. Queria muito ir até Mendoza.

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  • Membros

Fico feliz por ter ajudado, pessoal. Qualquer coisa é só perguntar ::hãã2::

 

Só uma coisinha sobre Buenos Aires: eu tive algumas experiências bem ruins na cidade, mas queria destacar que conheci muita gente bacana por lá, que me ajudou, se interessou e foi muito honesta. E a cidade é incrível de linda. Listei apenas os lugares mais importantes que conheci, mas fiz vários passeinhos meio sem rumo que valeram muito a pena. O que eu acho que acontece é que quando saímos de férias "baixamos a guarda", mas os problemas das cidades grandes não param. Não achei Buenos Aires mais perigosa que São Paulo, onde vivo, por exemplo.

 

Beijos ::otemo::

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  • 9 meses depois...
  • Membros

Olá, sou novo aqui e vou fazer um mochilão igual ao seu a partir do final de Dezembro/2012 até metade de Janeiro\2013, além disso também sou vegetariano então agradeço suas dicas!

 

Porém Partirei de Porto Alegre direto à Buenos Aires.

 

Roteiro(mais ou menos):

Buenos Aires (de 29/12 a 30/12)

Rosario(de 31/12 a 05/01)

Cordoba(06/01 a 08/01)

Mendoza(09/01 a 11/01)

 

Se alguem pilhar fazer esta trip junto ou estará nestas cidades nesta época pode me dar um tok (www.facebook.com/eurodrigoalmeida)

 

Abraço e boa viajem a todos!

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