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Uruguai e Buenos Aires de busão - 18 dias (fev/mar)


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4º DIA > Punta del Diablo

 

No dia seguinte, acordei cedo, tomei café da manhã, me despedi de Maca, que estava voltando para Rosário, e saí com Eve andando até a estrada. Sim, a mesma estrada na qual eu havia andado na noite anterior. Podíamos ter pego a van, mas ela passa a cada 1h, que eu me lembre, e não podíamos esperar. Tentamos pedir carona várias vezes, até que vimos um carro de polícia vindo e, de brincadeira, fizemos sinal para eles. Quando percebemos, a kombi deles parou mais à frente. Nos olhamos, sem entender nada. Corremos até lá. "Para donde quieren ir?". I-na-cre-di-tá-vel!!! Eles nos levaram até o terminal de ônibus.

 

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Eu e Eve já havíamos combinado no dia anterior de irmos juntas para La Pedrera, mas, chegando ao terminal, ficamos sabendo que o ônibus já havia saído, então, decidimos ir até a Fortaleza de Santa Teresa. O ônibus te deixa no meio da estrada e tu tem que andar um pouco para chegar na entrada de onde fica a fortaleza. Que eu me lembre, a entrada custa uns 30 pesos. Depois, tu tem que andar mais um bocado até a Fortaleza.

 

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Quando chegamos lá, era meio-dia e ela só abria às 13h, então sentamos bem lindas no bar que tem em frente para tomar uma Patrícia, mas, como vocês podem ver abaixo, os cavalos curtiam mais cerveja que nós.

 

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Depois de trocar de lugar algumas vezes fugindo dos cavalos, eu e Eve conversamos muito, trocamos dicas, contamos sobre as nossas vidas, sobre experiências de viagem (que eu praticamente não tinha), agradecemos uma à outra por sermos companheiras perfeitas de viagem. A verdade era que eu e Eve nos entendíamos, eu com meus 20 e poucos, e ela com seus 40 e poucos, eu acho. Combinamos de nos encontrar de novo em meu segundo dia em Montevideo.

 

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Quando finalmente entramos na Fortaleza, tiramos muitas fotos (minha câmera se fresqueou (ou seja, não quis funcionar), então a Eve tirou algumas fotos minhas, mas eu ainda não tenho elas :( ). A tal da Fortaleza é enorme, imponente, linda, mas precisávamos ir embora porque ainda queríamos muito ir para La Pedrera. Andamos todo o caminho de volta até a estrada, sentamos na parada e esperamos um ônibus, mas nenhum passava, então íamos tentando pegar carona. Eu já tava me arrependendo, já tava querendo desistir e ir para a praia perto do hostel mesmo. O sol tava torturando naquele dia. De repente, ao longe, avistamos outro carro de polícia. Fizemos sinal e, adivinhem, eram os mesmos caras de antes. Já estávamos cansadas de esperar e estava ficando tarde. Eles nos largaram em La Esmeralda, onde ainda ficamos na estrada esperando algum ônibus ou uma alma caridosa que desse carona, mas nada acontecia, até que os policiais-bombeiros passaram de novo e decidiram nos levar até La Pedrera. Passamos a chamá-los de anjos da guarda. Olha, se não fosse por eles, acho que não teríamos chegado lá. Quando finalmente colocamos os pés em La Pedrera, começou a chover. Siiiim, começou. Tanto que só consegui tirar duas fotos de lá. Tristeza.

 

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Acabamos chegando em casa (já perceberam como é espontâneo tu passar a chamar o lugar onde tu tá hospedado de casa?) além das 22h. Eu estava cansada e sem muita vontade de interagir com a galera. Naquela noite, havia chegado mais gente, uma americana, uma britânica, um polonês e sei lá mais quem. Mesmo assim, sentei perto deles e fiquei quieta, não estava nada a fim de conversar, mas um cara começou a conversar comigo. Se chamava James e era canadense. Conversamos bastante. No fim, acabei aceitando ir com a galera ver se tinha alguma festa. Fomos para a tal da rua perto da praia e estava vazia, só havia um lugar aberto. Pra quem tá viajando, não tem tempo ruim. Fizemos a festa do mesmo jeito e não foi como se precisássemos de mais alguém, mesmo que pessoas a mais sempre sejam bem-vindas. :D Fui dormir um pouco depois das cinco da manhã novamente.

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5º DIA > Punta del Diablo

 

Em meu terceiro dia em Punta del Diablo, acordei para o café da manhã. Eve havia seguido viagem para Cabo Polônio. Federico e Thiago já haviam ido embora também. Comi o mesmo de todas as manhãs, arrumei algumas coisas no quarto e, de repente, escutei alguém tocando e tentando cantar Velha Infância, dos Tribalistas. Me aproximei. Eram Lugo e Fede. O primeiro trabalhando no hostel, o segundo já tendo trabalhando, mas de férias. O primeiro era uruguaio, o segundo era argentino. Lugo então começou a música de novo para que eu cantasse. Eu mesma me ofereci para cantar, coisa inédita. Algumas pessoas sabem que eu canto, mas como eu sou tímida demais, nunca canto na frente dos outros assim, mas digamos que naquele dia eu estava in the mood. Depois, nós três fomos para a praia.

 

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Lá, encontramos uma das gurias do hostel e depois chegou a finlandesa Anni, que havia chegado naquele dia mesmo no hostel. Eu e Anni decidimos andar até a outra praia e ficamos amigas. Conversamos por horas e depois meio que cochilamos no sol... Era bom mesmo eu continuar praticando meu inglês.

 

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Passava já da hora do almoço quando Anni voltou para o hostel, e eu fui andando até a Playa de los Pescadores para tirar fotos das casas e barcos coloridos. Fiquei mais de uma hora andando pela areia, fotografando até os surfistas, entrando em lojas lindas e hippies (foram as melhores lojas que entrei durante a viagem.. não que eu tenha entrado em muitas).

 

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Procurei um lugar na praia para almoçar, mas não encontrei nenhum que me desse mesmo vontade de ficar. Voltei para o hostel e depois de ficar um tempo achando que eu não ia almoçar nada, descobri que tinha um supermercado ali perto. Fui até lá, comprei bolachas recheadas, um suco de laranja, um pacote de massa, um potinho de dulce de leche (muito bom, por sinal) e uma maionese, tudo para levar para Cabo Polônio. Almocei bolacha às 18h.

À noite, teve asado de novo. Conheci um britânico e um australiano, não me lembro o nome deles. Acabei conhecendo também Romina e outros argentinos que estavam com ela. Mais tarde, fomos ver se tinha alguma festa, mas era uma segunda-feira e estava terminando a temporada né, então estava tudo fechado. Decidimos ir beber cerveja na praia. Eu, Romina, Kevin (o francês), penso que o irmão de Romina (não consigo lembrar o nome) e mi hermanito Nacho. Depois de um tempo, voltamos para o hostel e ficamos conversando mais um pouco sem querer dormir. Eu finalmente me rendi ao sono e me despedi deles. Eram novamente cinco e pouco da manhã.

 

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Minha estadia em Punta del Diablo foi muito tranquila e eu me diverti muito lá, tanto que gostaria muito de voltar lá no próximo Ano Novo, quando dizem que enche. É bem diferente de Punta del Este. Não tem luxo, não tem montes de coisas rolando, não vi cambio nenhum, mal tem telefones nas ruas ou caixas eletrônicos onde quer que seja. As casas são rústicas, coloridas, a maioria é de madeira.

 

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Meus três dias lá se tornaram ainda melhores, assim como em Punta, por causa do hostel. Eu amei ficar lá e era como se fosse mesmo uma casa, a MINHA casa, com hermanitos chilenos, argentinos, finlandeses, holandeses, franceses, britânicos, australianos, visitantes canadenses e, é claro, uruguaios. Foram três dias de aprendizado, tentando me comunicar com as pessoas, desenvolver meu inglês e meu espanhol, trocando elogios, sabendo conviver com tantas pessoas, me abrindo mais mesmo que às vezes eu me sinta acuada, aprendendo a dividir, a trocar ideia, descobrindo mais sobre outras culturas totalmente diferentes da minha, me dando bem com alguém só pelo olhar, virando parceira de viagem de alguém nem que seja só por um dia, me apaixonando por alguém nem que seja só por uma noite, dançando em um lugar vazio e mesmo assim se divertindo com as pessoas que estão comigo, provando Pisco, Fernet e chimarrão doce, comendo chicholo, que nunca gostei muito, e no fim ir dormir com um abraço de mi hermanito Nacho, sair com o abraço do australiano de lindos e brilhantes olhos azuis, o abraço "me gusta usted" de Lugo, o desejo que eu tivesse uma ótima caminhada de um francês querido, o "mi nueva mejor amiga" de Romina e o tchau de longe de Anni no terminal antes de ela entrar no ônibus para Montevideo. O carinho das pessoas é uma das sensações mais absurdamente lindas e emocionantes e intensas que se leva dessa vida de viajante. Em minha última noite em Punta del Diablo, me peguei olhando para o rosto de cada um deles e meu coração já começava a sentir saudades. Mas é preciso ir. É preciso sempre ir.

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6º DIA > Punta del Diablo/Cabo Polônio

 

Quando cheguei no terminal de Punta del Diablo, depois de me despedir de Anni, fui comprar a passagem para Cabo Polônio na Rutas del Sol para o horário das 11h e pouco, mas não tinha mais aquele horário, e eu teria que esperar até às 15h00 para pegar o outro. Só que, dessa vez, eu estava bem informada. Eve havia ido para lá um dia antes, e eu havia pedido a ela que me avisasse sobre o horário do ônibus. Por causa dela, eu sabia que talvez não tivesse o ônibus das 11h e pouco e sabia que, caso isso acontecesse, era possível pegar o ônibus das 11h15 para Rocha e, às 13h, pegar o bus de Rocha para Cabo Polônio. Comprei as duas passagens e me fue. Ao todo, gastei 249 pesos. Passei o trajeto inteiro dos dois ônibus escrevendo em meu caderno sobre Punta del Diablo.

Chegando ao terminal de Cabo Polônio, tu tem que comprar o ticket do 4x4, que te leva até lá. Custa uns 170 pesos o ticket ida e volta. Quando estava me preparando para entrar no 4x4 que estava quase cheio, fui surpreendida por Eve, que estava indo embora. Nos abraçamos, marcamos novamente de se ver em Montevideo e ela me disse que em Cabo Polônio não pegava nada mesmo, nem luz, nem internet. Feliz por encontrar Eve, é sempre bom encontrar novamente pessoas boas que já passaram pelo teu caminho, logo entrei no tal do 4x4. Estava lotado e, acima de mim, sentava um cara com os tênis completamente embarrados. O que tem isso? O que tem é que durante o caminho inteiro ficava caindo barro na minha cabeça. :x É engraçado? Nãaao, não é. Pense numa pessoa que ficou profundamente irritada. Isso é falta de respeito. Então, lembre-se: se tu for na parte de cima do 4x4, verifique se seus sapatos estão muito sujos e, se estiverem, retire-os. Não custa nada. Beleza? Obrigado.

 

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Para piorar a situação, estava chovendo. Quando cheguei no hostel, eles não tinham a minha reserva, então apresentei meu comprovante do hostelworld. E olha que eu tinha mandado email para eles antes de sair de Porto Alegre, e haviam me confirmado que a reserva estava feita. Para me deixar ainda mais irritada, o cara disse que eu tinha que pagar um valor mais alto do que aquele que indicava no meu papel do hostelworld. ::grr:: Mostrei o papel de novo e ele disse que aquele era o preço de outra temporada, sei lá. Eu insisti e ele acabou me cobrando até um pouco menos do preço indicado no papel. Tá de brincadeira comigo? Eu sou uma pessoa muito compreensiva, paciente e calma, é muito difícil me irritar, mas, mesmo eu não sendo grosseira nem nada com o cara do staff, aquilo me deixou irritada com a falta de organização, mas ainda mais porque senti que ele queria se aproveitar cobrando mais dinheiro do que era. Resolvido o assunto, ele me mostrou meu quarto.

O hostel que eu escolhi foi o Viejo Lobo. Eu queria ter ficado mesmo no Alojamiento El Zorro, mas achei muito caro (custa uns 80 pila, ou como diriam os brazileiros, R$ 80 :lol: ), na próxima, vou mesmo assim. O Viejo Lobo tem luz, mesmo que seja tri fraca, tu vai poder tomar banho com água quente, internet não rola lá, assim que tu desce do 4x4 tu já enxerga ele, e isso é muito bom. Não tem café da manhã. O hostel tem dois andares, mas eu só vi o de baixo. Fiquei no quarto misto para 4 pessoas, é bem apertado, mal tem onde colocar a mochila. Deixei a minha em cima da cama, e ela continuou lá quando eu fui dormi. A diária foi em torno de R$ 35. As instalações são bem precárias, é tudo beeeem hippie. E o staff também. Todo mundo beeeem hippie.

 

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Bem, depois de deixar minhas coisas no quarto, tentei socializar com os quatro argentinos que conversavam no fundo do hostel. Logo, estava tomando chimarrão com eles, mas não me sentia tão confortável, aquilo não estava dando certo. Eu me sentia estranha entre eles. Digo, sempre há aquele impacto inicial de chegar em um lugar que tu não conhece, aquele desconforto de não falar com ninguém, aquela falta de familiaridade que logo se dissipa porque sempre temos que começar de novo, viver fazendo novas amizades, certo? Mas lá tava estranho mesmo. Os viajantes mal se falavam. O que me restava era ler. Levei dois livros. Notas do Subsolo, do Dostoiévski, e O sol também se levanta, do Hemingway. Eu estava lendo o primeiro, mas não aguentei muito tempo, precisava sair de lá, explorar a cidade. A chuva não ia me desanimar.

 

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Andei por praticamente toda a praia, o frio era demais. Tirei quantas fotos pude, queria ver tudo que desse antes de anoitecer e não dar para enxergar mais nada. Não sei se vocês sabem, mas Cabo Polônio é uma cidade que praticamente não tem luz, pouquíssimos lugares tem internet e água quente. À noite, a cidade fica no completo escuro. Daí vocês se perguntam por que alguém iria para lá. Eu fui porque, depois de muita pesquisa, li várias pessoas dizendo que é imperdível, passeio obrigatório. E é. Quando tu estiver por lá, a cidade vai dar um jeito de te mostrar que é. Sem contar que tu conhece tudo em umas duas horas.

 

OBS.: Muita gente vai para Cabo Polônio caminhando pelas dunas desde Valizas. Dizem que é lindo demais o percurso, que tem uns 8km. A caminhada dura umas 2h30. Na próxima, reservarei mais tempo para fazer isso.

 

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Depois de andar até quase o final do lado deserto da praia, voltei tudo e andei até a outra ponta. Fui pelo caminho certo até o farol, mas não vi a entrada, então passei por debaixo da cerca. Me senti A invasora. Desviei de muita bosta de cavalo pra chegar até lá. A entrada para subir o farol custa 20 pesos. Subi as escadas, que pareciam não terminar mais, e então vi outro Cabo Polônio. É lindo demais, lindo mesmo com chuva. Quando vi toda aquela paisagem, entendi porque dizem que temos que ir. O guarda do farol me levou para ver os leões marinhos mais de perto e a pedra enorme que se mexe. Fiquei com medo. Não da pedra, do guardinha. Aí começou com uns papos que eu sou bonita. Bem, era hora de ir. Me despedi e fui embora. Era só o que me faltava. No Uruguai e em Buenos Aires é assim. Os homens não perdem a chance de dar em cima, seja sendo guardinha de um lugar, seja sendo um simples pedestre na rua, todos têm que falar alguma coisa. Chega a ser engraçado.

 

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Voltei para o hostel. Por mais que eu tentasse socializar com os argentinos, não me sentia totalmente bem-vinda, então fiquei conversando com o casal de outros argentinos e com o casal turco. Juan Pablo, que iria me hospedar em Montevideo, me disse que eu deveria ir ao El Joselo, um bar hippie onde o dono é um velho cego chamado Joselo. Eu já havia lido algo sobre esse bar, mas a pessoa que escreveu sobre ele não lembrava do nome, então eu queria muito ir. Anoiteceu e não se enxergava mais nada. Meia dúzia de lâmpadas. Um casal francês e uma mulher que falava espanhol, que eu acho que era espanhola, estavam saindo para jantar. Fui junto. Jantei milanesa de pescado com fritas e fui uma pessoa feliz depois de ter passado o dia comendo pão e bolacha recheada. O ambiente era escuro, haviam velas nas mesas, bem intimista. Até então, eu só pensava que queria muito ir no El Joselo.

 

PAUSE

 

Gente, eu queria explicar que eu estava muito desanimada por causa do clima do hostel, porque estava chovendo e porque algumas coisas desde que eu cheguei lá me fizeram passar raiva. A mudança foi brusca. Em um momento, eu tava em Punta del Este e em Punta del Diablo me divertindo horrores com as pessoas dos hostels, ficando amiga mesmo de muitas, e, de repente, rolou toda essa falta de conexão, toda a situação incômoda com o cara do staff. Tá legal que tudo isso não seria motivo para acabar com o meu dia, e não foi, mas a questão é que eu tinha uma expectativa enorme em relação a Cabo Polônio. Era simplesmente o lugar que eu mais queria conhecer na minha viagem inteira. Em segundo lugar, ficava Punta del Diablo. A vista que o farol me deu da cidade me deixou muito feliz, muito mesmo. Foi sensacional. Mas ainda restava um pouco de tristeza no meu coração, e eu não sabia por quê.

 

PLAY

 

Enquanto conversava com o pessoal no restaurante, eles eram muito legais, foi ótimo conhecê-los, entraram dois músicos. Um com seu violão e o outro com seus sapatos de sapateado, sua barba e seus cabelos cacheados presos num alto rabo-de-cavalo. So hippie. O primeiro uruguaio, o segundo espanhol. Se apresentaram, disseram que haviam se conhecido há uns 20 dias em Cabo Polônio e se sentiram tão conectados musicalmente que decidiram ensaiar e sair tocando em vários bares. Só o segundo cara cantava. Quando a primeira nota saiu de sua boca, meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração se aqueceu. Sim, eu chorei, bem silenciosamente pra ninguém notar, mas é que aquela voz era tão linda, mas tão linda. Eu, na mesma hora, entendi que aquele momento valia e representava toda a minha viagem. Era exatamente o tipo de coisa que eu queria ver e ouvir durante a minha caminhada. Essas coisas que nos tocam, sabe? Então, aquele cantinho de tristeza sumiu. Quando terminaram sua apresentação, disseram que tocariam, em seguida, no El Joselo. Já ouviram falar em destino? As duas Sandras e o francês quiseram ir para lá então. O El Joselo é um lugar lindo, cheio de hippies, gostei muito do clima, da quantidade de plantas, das luzes (digo, efeito da iluminação das velas), de tudo. Tem que ir, gente. Tem-que-ir. Mas, confesso que eu iria me surpreender ainda mais com o lugar se não tivesse ouvido o cantor no restaurante anterior. Aquela voz e aquelas músicas, o amadorismo bonito de ver, o sapateado acompanhando e complementando o violão, tudo, absolutamente tudo vinha do coração. Me apaixonei por flamenco em Cabo Polônio.

 

PAUSA

 

Eu não lembro e ainda não consegui achar nenhuma das músicas que cantaram no restaurante, então aí vai um vídeo da Estrella Morente. Essa mulher é demais. Descobri ela ontem enquanto estava baixando músicas flamencas. Dá pra sentir a paixão? Imaginem só voz, violão e sapateado fazendo o papel das palmas dentro de um restaurante pequeno à luz de velas em Cabo Polônio. ::hahaha::

 

 

PLAY

 

Os amigos do hostel decidiram ir embora e eu... bem, vocês sabem que eu fiquei. Ignorei novamente minha total falta de direção e preferi ouvir mais daquela voz. Quando paguei a conta e saí do bar, nada se via. Um breu. Sabia que devia seguir reto e depois dobrar, mas não me achava. Fui vagando na completa escuridão às vezes um tantinho iluminada pela luz do farol e não me achava de jeito nenhum. Eu só queria dormir. O que me tranquilizava era que o cara do hostel havia dito que não é perigoso andar sozinho por lá à noite, que é tranquilo. Em um momento de um certo desespero, roubei uma garrafa com uma vela dentro que estava em frente a uma casa e continuei vagando, mas parecia não ajudar nada. Até aquele dia, não havia roubos em Cabo Polônio. ahahhah.. Bem, a essa hora, já me xingava arrependida por não ter ido embora antes, estava começando a me desesperar, mas então respirei fundo, parei um segundo e lembrei que tinha passado pela casa onde dizia "Baños". Voltei até lá e parei em frente a ela. Sabendo que ali também ficava a enfermaria e que um dos argentinos à tarde havia dito que ela ficava quase em frente ao hostel, percebi que estava perto. Andei reto para onde o hostel devia estar e vi a placa de letras coloridas de uma loja pela qual eu havia passado de dia, então sabia que o hostel estava quase em frente à ela, mas, para me certificar, andei um pouco mais naquele caminho porque sabia que havia uns brinquedos em forma de barcos. Quando os avistei, sabia que tinha me achado. Andei até o hostel, entrei e dormi o sono dos justos. Eu estava louca para chegar em Montevideo.

Se perder quando se está viajando é até clichê. Não se conectar com algumas pessoas pode acontecer, mas há tanta coisa bonita que pode. Uma pessoa apaixonante, uma paisagem de tirar o ar, uma música que faz chorar, um papo profundamente filosófico. Estamos nessa vida para aprender. Estamos nessa vida de viajantes para aprender mais. Lembro que, quando estávamos no El Joselo, o francês me perguntou o que eu fazia da vida. Respondi que estudo Letras, mas que não sei bem o que quero fazer depois. Ele me disse que, com 22 anos, eu já devia saber o que eu queria. Surpresa por alguém, não qualquer pessoa, mas um viajante como todos nós, reduzir dessa forma todas as infinitas possibilidades que os verbos "ser" e "querer" pressupõem, perguntei: "Por que, com 22 anos, eu tenho que saber o que eu quero, se tem gente com 40 que ainda não sabe? Por que eu tenho que escolher só uma coisa quando há tantas que eu quero fazer?". Ele não soube como me responder. De novo, estamos nessa vida de viajantes para aprender MAIS. Creio que ele aprendeu. A única certeza que eu tinha naquela noite era que eu estava sendo e fazendo o que eu queria. Eu estava sendo mochileira e eu finalmente havia tido coragem de colocar o pé na estrada. A única certeza que eu tenho hoje é que quero continuar sendo mochileira e continuar colocando o pé na estrada. Já entendi que esses dois quereres são os principais condutores da minha vida. Só penso em viajar, trabalho sempre pensando em economizar para viajar, só quero viajar, e quem sabe, entre uma viagem e outra, escrever sobre viajar. Tudo pode não ter começado muito bem quando cheguei em Cabo Polônio, mas terminou lindamente. No final, o que importa são só as coisas boas.

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7º DIA > Cabo Polônio/Montevideo

 

Acordei perto das 10h e me preparei para ir embora. Fiquei matando tempo ainda no hostel, mas depois me dirigi com o casal de turcos para o lugar que todos se abrigavam da chuva para esperar o 4x4. Quando chegamos no terminal, me despedi dos turcos e fui comprar a passagem para Montevideo. Descobri que o ônibus estava lotado, então teria que pegar o próximo, que só vinha às 15h10. Sem poder me comunicar com ninguém, estava ficando um pouco preocupada. Eu sabia que meus pais estavam preocupados, o meu dinheiro estava acabando e, desde que eu havia saído de Punta del Diablo, não tinha falado mais com Juan, então tinha medo que ele achasse que eu não ia mais. Quando finalmente peguei o ônibus, pude descansar um pouco. Tentei dormir e consegui na maior parte do tempo, quando os dois hippies se agarrando ao meu lado não me atrapalhavam. :roll: A viagem demorou um pouco mais de 4h e me custou, pela empresa Rutas del Sol, 394 pesos.

Montevideo me recebeu chuvosa. Minha chegada nesta cidade representava o fim da preocupação de meus pais por eu não dar notícias a um pouco mais de um dia, o fim da minha pobreza, uma espécie de fim do meu visual desleixado, cabelo sujo preso de mal jeito como de propósito (já tava entrando na vibe hipponga que tava curtindo até ali), fim de clima de praia, da vida mansa, da socialização alberguiana (ai, saudade). Agora era apenas eu de novo, sozinha, vagando pela rodoviária. Liguei para meus pais, depois para Juan, que não atendeu, então decidi pegar um táxi e ir direto à casa dele.

 

PAUSA

 

Mas quem é esse Juan, Ellen? Então, o Juan é um uruguaio muito gente boa que aceitou me hospedar na casa dele através do Couchsurfing. Nós nunca havíamos nos visto na vida. Tá, mas o que é esse Couchsurfing? O Couchsurfing é uma rede de viajantes do mundo todo, que oferecem a sua casa para hospedar outros viajantes e tudo totalmente de graça. Mas, preciso deixar bem claro que a questão principal não é o fato de tu não ter que pagar nada, o principal objetivo do site é o intercâmbio cultural (não, não é um intercâmbio daqueles que todo mundo conhece) entre viajantes e isso não precisa acontecer necessariamente através de hospedagem, ou seja, para te cadastrar no site, tu não é obrigado a hospedar alguém também, tu pode marcar a opção Coffee and Drink, isso quer dizer que tu tá disponível para levar viajantes que estiverem na tua cidade para conhecer pontos turísticos, ou ir em alguma festa, ou sair para beber, ou seja, passeios. O importante do site é o viajante ficar na casa de um nativo ou passear com um nativo e viver a cidade, a cultura, enfim, tudo, através do olhar do nativo. Além do intercâmbio cultural, isso também é bom porque tu acaba conhecendo lugares que não são turísticos, que tem mais nativos e que tu nem saberia que existem se estivesse em um hostel por exemplo. É claro que ficar em hostel também é sensacional, mas as experiências que o Couchsurfing te proporciona são muito enriquecedoras também. Imagina ter um amigo em todos os cantos do mundo. É mais ou menos isso.

 

Mais três coisas.

 

1ª) Cada cidade tem uma comunidade no Couchsurfing, por exemplo, CS Porto Alegre. Aqui, a nossa comunidade até que é ativa, temos encontros semanais sempre no mesmo bar, marcamos churrascos, viagens juntos, entre outros eventos. É bom para conhecer viajantes da tua própria cidade, além de quem está passando por lá.

 

2ª) Existe um grande evento que se chama Invasão. Invasão é quando muitos viajantes vão para a mesma cidade e a galera do Couchsurfing dessa cidade organiza diversos eventos para recebê-los, além de hospedá-los. Esses eventos geralmente incluem um churrasco, tours pela cidade, uma confraternização de boas-vindas, uma festa, entre outras coisas muito legais. Em maio, terá a Invasão Brasília. Em setembro, Invasão Manaus. E, em novembro, a segunda Invasão Porto Alegre. Venhaaam! :P

 

3ª) Mas, Ellen, como que eu vou pra casa de uma pessoa que eu nunca vi? Não é perigoso?

Pra não dizer que não falei das coisas nem tão boas assim: no site, a confiança é baseada nas referências que cada viajante escreve sobre quem o (a) hospedou, quem ele (a) conheceu; então, por se tratar de uma comunidade virtual que vai para o mundo real, todos estão sujeitos a ter referências negativas advindas de experiências negativas, visto que ninguém se conhece. Portanto, para tentar evitar esse tipo de coisa, é imprescindível que o viajante leia bem o perfil e, principalmente, as referências de outros csers (como são chamados os membros do couchsurfing), no intuito de obter o máximo de informações, se possível, até procurar o perfil do facebook da pessoa. Quanto mais referências alguém tiver, mais confiável. Mesmo assim, ninguém está livre de más experiências... mas, não se apavorem, não pirem, todas as experiências que tive até agora foram ótimas e as que ouvi de outros csers também. Não tenham medo, leia bem o perfil das pessoas, bote fé, escreva referências lindas e crie um mundo melhor um sofá de cada vez. :P

 

Mais informações em:

 

http://www.couchsurfing.org

http://nithincoca.com/2013/03/27/the-rise-and-fall-of-couchsurfing/ - O CS tá passando por alguns probleminhas, saiba melhor o que anda acontecendo através desse link. Por causa disso, tem muita gente migrando ou também mantendo um perfil em uma outra rede de viajantes chamada Be Welcome. Para saber mais sobre essa rede, entre em http://www.bewelcome.org/ .

 

PLAY

 

Então, eu iria me hospedar na casa de Juan por 4 dias. Mandei um pedido para ele, ele aceitou e até me deu dicas e informações sobre Cabo Polônio. Na fila do táxi, ainda na rodoviária, comecei a conversar com um homem, que trabalha no Palácio Legislativo e que me deu seu cartão caso eu tivesse algum problema ou, no fim de semana, quisesse conhecer a cidade e não tivesse companhia. Táxi em Montevideo é muito, mas muito barato. Cheguei em frente ao prédio de Juan abaixo de chuva e toquei a campainha, ninguém atendeu. Pensei "Fodeu! Tô desabrigada.". Toquei o botão da zeladora, e ela disse que, como não havia ninguém, ela não podia abrir. Compaixão não havia naquele coração, deixar alguém assim na chuva. Então me peguei sem saber o que fazer. Descobri que havia um telefone público em uma rua perto dali e andei até lá. Eu havia comprado um cartão telefônico na rodoviária, então pude ligar novamente para Juan, e, finalmente, ele atendeu. Tivemos um desencontro. Pelo que eu entendi, ele estava na rodoviária porque ligou para o número que eu tinha ligado para ele e descobriu que era de lá. Quando ele chegou, eu estava sentada com minhas coisas nas escadinhas do prédio. Ele me recebeu muito bem, me fez ficar muito à vontade, me fez muitas perguntas (vocês não odeiam quando é só vocês que fazem perguntas?), me contou sobre ele, sobre seu trabalho, sobre suas plantas, sua família. Compramos coisas no supermercado e jantamos pizza e tomamos cerveja e ficamos conversando até quase duas da manhã. Éramos só eu e ele naquela noite.

 

Como puderam ver, foi um dia apenas para deslocamento, por isso não tem nenhuma foto. Mas o dia seguinte... Cara, como eu tirei fotos.

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