Colaboradores Este é um post popular. Schumacher Postado Abril 12, 2018 Colaboradores Este é um post popular. Postado Abril 12, 2018 Fala, pessoal! Esse é o resumo de um mochilão por ilhas pouco visitadas da África que fiz entre fevereiro e abril de 2018. Quem quiser o relato completo poderá conferir futuramente em meu blog Rediscovering the World Dia 1 Na madrugada de 16 de julho embarquei no avião da Ethiopian Airlines de Guarulhos até Seicheles (2500 reais ida e volta). Não tive o que reclamar do translado, pois o avião era grande e novo, com comida e entretenimento decentes, e ainda tive sorte de poder deitar usando as 3 poltronas, já que estava meio vazio. A incomodação veio na conexão em Adis Abeba. Ao desembarcamos, eu e os demais provenientes da América do Sul que teriam que pernoitar lá fomos levados a uma sala onde policiais revistaram nossas bagagens. Como se isso não bastasse, ainda nos fizeram cag*r de porta aberta para garantir que não tínhamos drogas no corpo. Somente depois dessa inspeção absurda é que emitiram nossos vistos de trânsito gratuitamente e nos levaram para hotéis, no meu caso o Debredamo. Supostamente 4 estrelas, mas que não deveria ser mais de 3. Lá tivemos direito à janta e café da manhã, mas com o escasso tempo e com o jet lag pouco pude comer e dormir. Dia 2 Às 6:45 a van já estava na porta, nos deixando no aeroporto, onde fiquei algumas horas coçando o saco, já que o wi-fi livre não estava funcionando. Embarquei num avião médio sobre o deserto da Somália até Mahé, a ilha principal de Seicheles, um dos vários arquipélagos a serem visitados por mim no Oceano Índico. A fila da imigração foi meio demorada. Ao menos, não é preciso visto para visitar o país. E dá para se virar muito bem no inglês ou francês. Saquei dinheiro local num caixa automático e esperei do lado de fora do aeroporto pelo transporte público. Os velhos ônibus custam 7 rúpias (~1,7 reais) e, assim como os demais veículos, dirigem em mão inglesa. Meia hora depois, desci no terminal de ônibus central da ilha de Mahé, na capital Victoria. Lá peguei o n° 21 para Bel Ombre, onde cheguei no fim do dia na Villa la Cachette. Fiquei com uma quitinete completa e com ar condicionado por 43 dólares o dia. Meus vizinhos eram enormes morcegos frugívoros endêmicos (Pteropus seychellensis). Ao anoitecer, a dona me levou de carro para conhecer as redondezas e comprar comida. Como era sábado à noite, um dos poucos “take away” (locais baratos onde se compra comida para levar) abertos na região era o Sun Coco, onde pedi uma boa pizza por 120 rúpias. Dia 3 Devido ao jet lag violento, acordei às 3 da madrugada e não consegui voltar a dormir. Com isso, só esperei o sol nascer para sair da hospedagem. Às 7 e meia já estava na trilha de 1 hora parcialmente coberta até a praia de Anse Major. Entre as atrações do caminho estão as vistas para o mar e montanha, vegetação exuberante, rochas e animais como aves e aranhas gigantes. Se for o primeiro do dia nessa trilha, tenha atenção para não esbarrar em alguma teia, como aconteceu comigo repetidamente. Um mirante espetacular indica que você está chegando. A infraestrutura da praia é quase nula, então não espere um vendedor de água de coco por lá. Com o mar só para mim, botei o equipamento de snorkeling e caí na água. Ela é tão quente que esse é provavelmente o motivo da maioria dos corais estarem mortos. Ao menos ainda há muitos e variados peixes, incluso grandões como barracudas. Entre os invertebrados, vi pela primeira vez na natureza um bando de lulas. Apenas quando deixei Anse Major é que os turistas chegavam, no calor e sol infernal que fazia. Ao deixar a trilha conheci o Batman, um morcego gigante que impressionantemente é domesticado, ficando solto na casa do dono e interagindo com os visitantes, por meio da lambida. Fiquei só pensando na raiva que iria pegar se aquele bicho resolvesse me morder, mas felizmente nada ocorreu. Tive que tomar um ônibus até Beau Vallon, já que em Bel Ombre não havia nenhum lugar para comer aberto. Depois que peguei um hambúrguer no mesmo local da noite anterior, aproveitei que já estava por ali e caminhei até a praia. Pena que já havia comido, pois no calçadão há barracas com algumas opções de comida regional disponíveis. Passei a tarde nessa praia agradável e cheia de resorts e turistas, mas peguei sol demais e queimei essa pele branca. A intenção era passar a noite de boa na hospedagem, só que descobri da pior maneira que virei alérgico a amoxicilina, ao tomar um comprimido para dor de garganta. Uns 20 minutos depois, comecei a ter todo tipo de reação possível, precisando ser levado a um hospital na capital Victoria pelos donos da hospedagem. Se não tivessem me ajudado durante a crise não sei se estaria aqui para contar essa história. A consulta + remédios custou 400 rúpias, menos do que custaria num hospital privado no Brasil. Dia 4 Passei a manhã jogado na cama me recuperando. Na hora do almoço, apesar de não estar em condições, fui fazer a trilha que eu desejava, de Bel Ombre até Port Glaud, através do Parque Nacional Morne Seychellois. O começo é uma subida violenta que faz qualquer um desistir, além de não estar bem mantida, com mata fechada e árvores caídas no caminho. De interessante, vi pela primeira vez alguns tenrecos (Tenrec ecaudatus), uma ordem de mamíferos exclusiva da África, principalmente as ilhas do Índico. Parece um gambá espinhoso. Há também diversos invertebrados diferentes, como um caracol preto e uma aranha verde. Ao chegar ao topo do morro na parte plana, a trilha fica mais acessível e a vegetação muda completamente. Ali fica um banhado reconhecido internacionalmente que é chamado de Mare aux Cochons, onde habitam palmeiras gigantes. No céu, passam pra lá e pra cá rabos-de-palha-de-bico-laranja (Phaethon lepturus). O trecho final é uma descida confusa. No alto da mata perto de um dos rios atravessados avistei um casal de pomba-azul-de-Seicheles (Alectroenas pulcherrimus). Quase 5 horas depois cheguei a Port Glaud. De um lado, manguezal, do outro a Ilha Thérèse, ideal para snorkeling. Logo peguei um ônibus até Victoria. Em frente ao terminal fica o fast food Butcher’s Grill. Devorei um yakisoba por 75 rúpias, e peguei o último ônibus disponível de volta a Bel Ombre, já à noite. Dia 5 De manhã consegui uma carona até Victoria, começando a visita pelo jardim botânico. A entrada um pouco salgada custa 100 rúpias. São jardins de temáticas diversas, mas um tanto simples. O que me chamou mais a atenção foram as árvores de coco-do-mar, que portavam frutos da maior semente do mundo, que tem o formato de um traseiro e pode pesar até 18 kg! Outra coisa interessante do jardim é o cercado de tartarugas-gigantes, provenientes do arquipélago de Aldabra. Elas são a única espécie restante de tartarugas-gigantes no mundo, além da que habita Galápagos. Caminhei até o centro, totalmente coberto para me proteger do sol cancerígeno. Há um monte de lojas com souvenires caros à venda, além de mercados. Peguei meu almoço num dos muitos “take away”, pagando 75 rúpias por uma salada com peixe, arroz e chapati. Comi numa sombra em frente ao relógio e aos edifícios antigos em estilo colonial. Há algumas dezenas por lá. re Há alguns prédios religiosos interessantes para uma foto, como igrejas, um templo hindu e uma mesquita. Lá também fica o mercado de alimentos Sir Selwyn Clarke. Há peixes e vegetais, além de alguns produtos processados. Em seguida, entrei no museu de história natural. São 15 rúpias para 4 salas com informações, representações e partes de animais e plantas de Seicheles, muitos deles endêmicos. É escrito em inglês. Ainda tinha um tempinho, mas não sabia mais o que ver, então segui ao terminal de balsas, onde peguei o Cat Cocos para a ilha de Praslin. Uma hora depois desembarquei. Havia alugado um quarto pelo Airbnb, mas a comunicação foi bem confusa. Acabei caminhando um bocado até achar o lugar. Apesar de pagar um valor aproximado à hospedagem de Mahé, aqui não havia ar condicionado e nem wi-fi. Em outro quarto estava um casal de egípcios, que me convidou para jantar um prato típico de lá que eles cozinharam. Dia 6 Caminhei até a entrada do Vallée de Mai, tarefa não tão simples, já que além de morros não há acostamentos e muitas vezes nem calçadas nas ruas de Seicheles. A entrada é cara (375 rúpias), mas pode ser paga no cartão de crédito. Vallée de Mai é uma parte do Parque Nacional de Praslin que é considerada patrimônio da UNESCO, já que é uma floresta preservada de palmeiras, sobretudo o coco-do-mar, portador das maiores sementes do mundo. Associado às palmeiras, diversos invertebrados, répteis, anfíbios e aves endêmicas vivem. Consegui ver algumas dessas espécies em meio às trilhas da reserva, como o papagaio-preto, o bubul e a lagartixa-verde. Depois de longas horas fotografando, tive que esperar mais de meia hora para conseguir um ônibus em direção ao noroeste da ilha. O transporte coletivo em Praslin é bem mais escasso que em Mahé. Desci no ponto final do Monte Plaisir, onde por uma pequena trilha aberta tive acesso a mirantes com vista para as belas praias e florestas do oeste. Como não sabia se poderia ter acesso já que fazem parte de hotéis, voltei pela trilha e peguei outra condução para descer em Grand Anse. Foi lá onde almocei já no meio da tarde. Pedi uma pizza de frutos-do-mar para levar (145 rúpias) do hotel de luxo Oasis, cuja diária mais barata é em torno de mil reais! Comi na praia longa mas não tão bonita de Grand Anse. Ao caminhar pela avenida até um ponto de ônibus, descobri por acaso o primeiro wi-fi aberto da ilha, no Indian Ocean Lodge. Depois de abusar do uso, parei num dos muitos mercadinhos indianos, onde só se encontra porcarias, e em seguida tomei outro ônibus até a hospedagem. A tarifa dos coletivos em Praslin é fixa em 7 rúpias. Passei a noite de boa na casa da Anne-Marie assistindo TV. Dia 7 De manhã, embarquei num ônibus cuja parada final é Anse Boudin. Dali, eu e mais um bocado de turistas europeus partimos para a famosa praia de Anse Lazio. São 10 a 15 minutos de caminhada, mas há um morrinho chato no meio. Na chegada, há um cercado com algumas tartarugas gigantes. Não se paga nada e ainda é possível acariciá-las. A praia em si é bem bonita, com areia clara, mar azul e pedras, além do mundo submerso. Esse eu conheci bem, mergulhando horas em ambos costões de Anse Lazio. Aqui ainda há certo número de corais mortos, mas os que restam abrigam um grande número de espécies de seres marinhos. Destaque para as tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata), sépias, arraias, barracudas, moreia, peixe-leão, além de uma infinidade de peixes de todas as cores. Só ficou faltando os tubarões, que eram vistos com frequência até os ataques mortais de 2011, quando foram caçados em massa; e as águas-vivas, que eu não fazia muita questão de encontrar. Mas no geral, foi um dos melhores pontos em que mergulhei. Tomei um suco no Honesty Bar (há ainda 2 restaurantes caros nessa praia) e parti, pegando o ônibus e saltando em Anse Volbert. Esse é um balneário com mais infraestrutura turística, como hotéis, lojas e restaurantes. Aqui acabei fechando um passeio de barco para as ilhas de um parque marinho. Na volta, tentei achar o exótico prato de curry de morcego, mas ele estava indisponível. Caso você tenha mais sorte, dê um pulo no restaurante La Goulue, onde custa 260 rúpias. Acabei jantando outra coisa que ainda não havia provado: curry de arraia. Essa por 60 rúpias no “take away” Coco Rouge. Parece com peixe o gosto, mas a textura é um pouco diferente. Dia 8 Peguei um barco do píer de Praslin até La Digue, a terceira ilha mais habitada do arquipélago. Após quinze minutos desembarquei, já sendo oferecido uma das muitas bicicletas para aluguel, que recusei. Caminhei em direção sul pela rua principal até a Reserva Veuve, uma pequena mata com área alagada que protege uma das espécies mais raras do planeta: o papa-moscas-do-paraíso. Há menos de 200 deles, e todos vivem em La Digue! Consegui ver 3 e fotografar 1. A entrada da reserva não é cobrada. Continuei ao sul, ingressando na L’Union Estate Farm, uma antiga fazenda da época colonial. Custa atualmente 115 rúpias a entrada, e em sua área há algumas coisas interessantes, como um cemitério, plantação de baunilha, cercado de tartarugas gigantes, além da principal, o acesso à praia mais bonita da ilha. Anse Source D’Argent impressiona por suas rochas de granito naturalmente escavadas e situadas sobre a areia clara e sobre o mar transparente e cheio de vegetação subaquática. É possível fazer passeios, comer ou comprar artesanatos por lá; tudo obviamente caro. Ou então relaxar nas piscinas naturais, curtir a paisagem na sombra ou seguir por uma trilha até praias mais exclusivas. Optei por retornar depois de um tempo. Parei para almoçar no Gala Takeaway, onde escolhi um prato de salada com frango por 80 rúpias. Voltando ao centrinho, fui no supermercado da rede STC e, ao sair, achei uma rede de wi-fi aberta para acessar o Facebook. Passei um tempo ali até quase ser a hora de voltar a Praslin. Ao chegar à hospedagem, conheci um novo hóspede, um chinês viajado, com o qual conversei por horas. Dia 9 De manhã me buscaram para o passeio de lancha com origem em Cote D’Or até as ilhas do parque marinho, ao custo de 660 rúpias + 200 de taxa pro parque. O tour foi legal, mas não como o que foi prometido. Primeira parada, depois de uns minutos navegando, foi na ilha Big Soeur. Ficamos uma hora em frente a uma praia praticando snorkeling sobre corais mortos. Depois, outra hora no mar da ilha Felicité. Nesse lugar há um hotel 6 estrelas! Onde a lancha nos deixou os corais também estavam destruídos, mas fui em direção leste, onde jaziam em melhor estado. Basicamente vi os mesmos animais de Anse Lazio, inclusive as tartarugas-de-pente e as arraias-pintadas. No intervalo entre os mergulhos havia somente bananas e água à oferta na lancha. O último ponto, em lugar da ilha Cocos, foi a rocha Ave Maria. Nesse que foi o melhor lugar, o barqueiro só nos deixou por meia hora. Ali a profundidade é de até 9 m. Além de muitas arraias-pintadas, cardumes e peixes grandes, vi até mesmo um tubarão de tamanho considerável descansando no fundo. Ele nem se mexeu quando me aproximei para fotografá-lo. Ao voltar à terra firme, começou a chover. Peguei um curry de galinha ali na praia e voltei pra casa. O pilantra do cara do barco ficou me devendo dinheiro e não pagou. Jamais negociem com um tal de Ted. Dia 10 Esse dia foi um sufoco, pois eu tinha que chegar no aeroporto da outra ilha antes das 9:40 pra fazer o check-in do voo. Acordei às 6 e 20 para pegar a balsa de volta a Mahé. Perdi o primeiro ônibus até o porto e o segundo não veio, mas consegui uma carona, chegando 10 minutos antes do embarque finalizar. O trajeto de barco durou 1 hora e 5 minutos, então segui caminhando até o terminal de ônibus, onde cheguei às 8:45. Só que o transporte que deveria sair 10 minutos depois levou 20. Por ser domingo não havia trânsito, então eu consegui saltar do ônibus e chegar no balcão da Air Austral 5 minutos antes do término do check-in! Mais tranquilo, relaxei no voo de 2 horas e meia até a ilha de Reunião, território da França. O serviço de bordo e o avião foram melhores do que eu esperava. Na imigração só me perguntaram quantos dias eu ficaria. Caminhei num forte sol até o ponto onde pegaria um dos 2 ônibus necessários ao meu destino, mas o próximo levaria mais de uma hora para chegar, então fui almoçar e matar tempo numa hamburgueria ao lado. Meio caro já que em Reunião a moeda é o euro, mas ao menos se pode usar cartão de crédito. O ônibus custou 2 euros e me deixou na rodoviária de Saint André, onde tudo estava fechado por ser domingo. Usei meu francês precário (aqui só se fala francês) pra entender se realmente haveria outro ônibus mais tarde para meu destino final ou se eu ficaria perdido no meio do nada. Horas depois ele chegou, quando meu celular já estava sem bateria. O caminho para o interior é super cênico, são morros completamente cobertos de verde e com cachoeiras. A certo ponto tive que trocar de condução para enfim chegar no pôr do sol em Hell-Bourg, um vilarejo entre montanhas. Rapidamente comprei comida para a trilha dos dias seguintes antes que o mercadinho fechasse, depois jantei uma pizza grande (7 euros) e me hospedei no quarto coletivo em que havia somente eu no lugar chamado Gite du Piton D'anchaing, por 16 euros. É uma boa hospedagem. Dia 11 Tomei um café-da-manhã ali (6 euros), deixei a mochila grande e às 8 e meia fui com a pequena até o começo do trekking denominado GRR1 Tour des Pitons des Neiges, onde ficam os “pitons”, “cirques” e “ramparts” da ilha de Reunião, patrimônio histórico da humanidade. “Pitons” são os picos dos morros, “cirques” os vales arredondados e “ramparts” os paredões. A trilha iniciou abaixo dos mil metros de altitude e só houve ascensão até o fim do primeiro dia. A primeira parte é a mais difícil, ainda que eu tenha optado pelo Terre Plate, em lugar do caminho mais comum da Forest Bélouve. A inclinação é demais, a ponto de precisar usar as mãos em alguns pontos. Ainda, a mata é fechada no início, e há muitos cruzamentos de riacho e alguns pontos alagados. A vegetação é abundantemente verde, de angiospermas, gimnospermas, pteridófitas e briófitas. Animais são sobretudo invertebrados, além de ter visto aves pequenas de umas 4 espécies Quando acabou essa parte, na junção das trilhas chamada Cap Anglais, parei uns instantes pra almoçar meus sandubas de queijo e presunto. Nesse momento passou por mim a única pessoa que vi até chegar no refúgio. Nessa etapa a inclinação é menor, já não há árvores, apenas belos arbustos, então se fica exposto ao sol (ou ao nevoeiro denso e chuva, dependendo do clima). Tempos depois, cheguei ao refúgio Gite du Caverne Dufour, onde passaria a noite por 20 euros. Fiz o registro e, sob uma chuva chata, comecei sozinho a ascensão pro pico às 3 e meia, já que os demais iriam apenas na madrugada seguinte. No caminho de pedras e maior inclinação, os arbustos vão diminuindo e dando lugar à vegetação rasteira esparsa e musgos. Essa parte é particularmente bem sinalizada, com marcas brancas nas rochas, que começam a ser de escória vulcânica. O tempo foi melhorando, até que eventualmente cheguei ao topo do Piton des Neiges com um céu parcialmente aberto. A altitude do pico é de 3070 metros, ou seja, eu subi num dia só cerca de 2100 metros! Fiquei tirando um milhão de fotos, até que começou a ficar frio e o sol se pôr, sinal de que eu deveria partir. A descida não foi fácil como imaginado, pois estava escuro, então acabei tropeçando e me machucando um pouco, mas nada que comprometesse. Eis que 11 horas depois do começo, finalmente às 19:30 retornei ao refúgio totalmente exausto, mas com a missão cumprida! Nessa hora havia bastante gente no lugar, se preparando pra dormir. A água do chuveiro acabou, então tive que contentar com o que havia sobrado nas pias para um banho improvisado. Quando fui jantar todos já estavam na cama, então logo depois eu fui também. Dia 12 Poucos passos após o refúgio fica o Cirque de Cilaos. A vista de cima do morro do caldeirão com a vila no meio é impressionante. Infelizmente a alegria acabou por aí, pois quase tudo que foi subido no dia anterior agora seria descido. Pela primeira vez senti falta de bastões de caminhada, pois meus joelhos sofreram e meu tênis já com a sola lisa piorou as coisas. Fiz tão devagar esse trecho que o terminei preocupado em não chegar ao refúgio seguinte até o horário limite (18:30), já que nesse dia seriam percorridos nada menos que 17 km. O que não vi de gente no dia anterior compensou nesse. Ao deixar a floresta protegida de Matarum, o próximo pedaço foi razoavelmente plano, passando pelas quedas d'água Bassin Bleu, Ravine Ferrière e Bras Rouge. No último desses, é preciso atravessar por dentro da água corrente, um pouco forte devido à chuva que caía. Detalhe para a quantidade de rãs/sapos que vi nesse trecho, sempre na beira da trilha, saltando no mato com a aproximação humana. Nessa hora eu estava atrás do tempo, então tive que dar uma acelerada. O problema é que dali até a passagem Col de Taibit seria sempre morro acima. A chuva também não ajudou; por várias vezes pensei em desistir. Finalmente cheguei ao topo, adentrando o Cirque de Mafate, o terceiro dos 3. Do mirante no topo, se tem a vista do vilarejo rural de Marla, onde eu ficaria, depois de descer de novo. Cheguei na hospedagem meia hora antes do término. Como eu já estava sem comida, fui ao único estabelecimento aberto aquela hora, o Snack Bar Marla. Lá pedi uma baguete recheada por 5 euros e seis samosas (salgado indiano frito e picante, recheado com carne) por 3 euros. Fiquei num quarto de 3 camas com tomada e com direito a chuveiro quente, graças. Dia 13 Acordei, peguei uns salgados na lanchonete e parti no horário usual. Depois de umas travessias de rios, a subida chata para ter a vista do outro lado do Cirque de Mafate. O trecho seguinte, plano, é bastante cênico. A Plaine des Tamarins (Planície dos Tamarindos) é cheio de árvores cobertas de musgo sobre um terreno encharcado, em parte com bois. Depois veio a ascensão ao Col de Fourche, passando pro Cirque de Salazie, ou seja, nova descida. O caminho acompanha a Ravine des Merles por uma longa distância, atravessando-a em alguns pontos, até a respeitável cachoeira Cascade du Grand Sable. Em seguida, uma região plana de floresta de pinheiros. Do nada, a trilha fica fechada de mato novamente, até a saída em umas fazendas isoladas, ponto onde se vê diversas aves. Dali em diante a caminhada vai por uma estrada 4x4 até a ponte para Bras Marron, onde recomeça a civilização. Um pouco mais de subida no asfalto, até a Anciens Thermes, com as ruínas das águas termais que levaram à fundação de Hell-Bourg. Ao atravessar, cheguei enfim ao povoado onde iniciei a jornada. Foram 3 dias inteiros subindo e descendo os morros do GRR1, extremamente cansativos mas visualmente esplendorosos. À noite, botei as roupas imundas e encharcadas para lavar (9 euros), e jantei no restaurante Ti-Chouchou, comendo um prato da culinária regional (Sauté du Porc aux Bedrés). Foram 12 euros pra dois pratos cheios, muito bom. Dia 14 Precisava urgentemente de um chinelo, pois 2 dos meus 3 calçados haviam ido pro saco. Por sorte, achei na loja de souvenires por 3 euros. De manhã mesmo segui ao aeroporto, onde fiquei aguardando algumas horas pro voo até Madagascar pela Air Austral. Que bom que ao menos há wi-fi gratuito no aeroporto de Saint-Denis. O que eu tinha de apreço pela Air Austral foi embora nesse voo seguinte. Voei num turbo-hélice e só com um lanchinho. Na chegada comprei o visto, que para até 30 dias custa 35 euros, 37 dólares ou o equivalente em ariary, a moeda de Madagascar. Não consegui sacar dinheiro nos ATM’s do aeroporto, então tive que trocar dólares. Como já estava escuro, achei melhor não ir de ônibus ou táxi-brousse (van), pois a área metropolitana de Antananarivo é perigosa. Com isso, paguei 30 mil ariary (cerca de 30 reais), depois de negociar o preço em francês, a língua oficial e segunda mais falada depois do malgache. A primeira impressão do país foi terrível. Veículos caindo aos pedaços em estradas completamente esburacadas sem iluminação. Beira da estrada lotada de comércio informal e muita sujeira. De fato, Madagascar possui um dos piores IDH do mundo. O trajeto de 17 km do aeroporto internacional em Ivato até o centro de Tana, o apelido da capital, tomou mais de uma hora, graças à não existência de rodovias. Passei a noite no Madagascar Underground, um dos raros albergues de verdade do país. É um lugar animado, limpíssimo e confortável, cuja cama de triliche em dormitório custa 32 mil ariary. Nessa noite rolou até um som ao vivo na área de convívio. Dia 15 Acordei certo que conseguiria uma van da empresa Cotisse (pontual e com veículos bem melhores que o padrão) para algum canto do país, mas todos já estavam lotados! Com isso me botaram num táxi até uma estação de táxi-brousse, onde esperei por horas a fio sem expectativa de partida. Aborrecido, achei melhor voltar para o albergue. Que bom que assim o fiz, pois conheci bastante gente legal no resto do dia. Caminhei pelos arredores com o suíço Tom e depois a japonesa Hirari, sempre com o olho aberto e mão firme na bolsa. É um lugar feio, de vez em quando alguém vem lhe pedir dinheiro ou pra comprar algumas coisa, mas não deixa de ser interessante observar o comércio de rua, e até provar algumas coisas. Claro, tomando muito cuidado, pois esse país é notório pela quantidade de doenças fatais que aqui ocorrem, como até mesmo a peste negra, que eu nem sabia que existia mais. O almoço foi perto do albergue, onde fiquei com uma tilápia e complementos por 6 mil ariary. Havia até mesmo cérebro de porco no cardápio. A janta foi num lugar mais chique onde só iam estrangeiros, o Le Carnivore. Nos unimos ao americano Francesco e seus amigos que atuam na ONG Peace Corps. Paguei 9 mil ariary num mojito e 15 mil numa pizza com carne de crocodilo, uma delícia! Dia 16 Às 9 da manhã eu, Hirari e Francesco pegamos a van da Cotisse para Andasibe. Pagamos 30 mil cada por um veículo bom até mesmo com wi-fi a bordo. Menos de 4h depois chegamos na junção de Andasibe, incluindo uma parada para urinar em meio aos arrozais. Na beira de estrada, almoçamos por 6 mil num “hotely”, um tipo de estabelecimento que é tanto um hotel quanto um restaurante de baixo custo, não dos mais agradáveis. Caminhamos um pouco até onde eu e Francesco decidimos ficar, o Feon’Ny Ala. É um hotel bacana na beira da floresta. Ficamos com um bangalô confortável por 80 mil por noite no total. Logo caminhamos em direção a um dos parques da área, o Mitsinjo, de iniciativa privada. Assim como nos demais de Madagascar, um guia é compulsório, então na entrada mesmo pegamos o Evariste, um guia bacana com um inglês bom, o que não é tão fácil de achar. Escolhemos a caminhada de 3 horas, que custou 40 mil para cada. Nos deslumbramos com a quantidade de animais diferentes e endêmicos que vimos, como camaleões, invertebrados (destaque para o inseto girafa), sapos, pássaros e os lêmures. Um grupo da espécie marrom chegou bem perto da gente. Em meio às trilhas, aprendemos também sobre a flora, também única devido à evolução isolada da ilha. Por mais 20 mil, fizemos a caminhada noturna, logo ao escurecer, com quase 2 horas de duração. Começou na floresta, mas com a chuva não conseguimos ver muito além dos anfíbios, então fomos levados à estrada, onde avistamos alguns lêmures noturnos, de duas espécies: uma delas o minúsculo e arisco lêmure-rato-de-Goodman, descoberto apenas recentemente. Jantamos no hotel mesmo, que não é tão barato. Enquanto isso aproveitamos o wi-fi. Dia 17 Acordamos bem cedo para visitar o Parque Nacional Mantadia. Como os outros parques nacionais, paga-se tanto a entrada quanto um guia a ser dividido entre o grupo. A entrada foi de 45 mil e o guia (o mesmo anterior) de 60 mil (30 pra cada) por 4 horas. A área de floresta é maior e há bastante desnível, mas graças à chuva que não deu trégua o dia todo, não conseguimos ver tantas coisas. As mais impressionantes foram uma minhoca de uns 1,2 metros e os lêmures mais famosos do parque, também os maiores existentes, chamados de indri. É possível ouvir de longe seus chamados que parecem um choro. Francesco teve que voltar pro hotel em virtude de um machucado, mas eu segui ao terceiro parque, o VOIMMA, conduzido pela comunidade de Andasibe. Aqui escolhi a caminhada de 2 horas (30 mil) e fiquei com outra guia. Vi diferentes espécies de invertebrados e camaleões, além das 2 espécies de lêmure diurnos, só que dessa vez cheguei mais perto dos indri. Depois da longa caminhada de volta, almocei carne de zebu (13 mil) no restaurante da Marie Guesthouse. Esse é o gado típico trazido a Madagascar, pois não há bovinos aqui. Ao cair à noite, fui sozinho à estrada para tentar flagrar a vida noturna por conta própria. Logo consegui localizar por meio do reflexo dos olhos na lanterna os dois lêmures noturnos, e melhor de tudo, fotografá-los de perto! Ainda achei uns camaleões interessantes enquanto retornava pra janta antes que o restaurante do hotel fechasse. Dia 18 Depois do café da manhã, eu e Francesco fomos até a junção da rodovia, onde não precisamos aguardar muito até passar um táxi-brousse a Moramanga, a cidade mais próxima. Custou apenas 2 mil, mas cheguei com o pé dormente, de tão estreito que era o espaço entre as fileiras. Lá na estação de táxi-brousse pagamos 7 mil até Antananarivo, esperando um pouco mais até sair. Por sorte, esse veículo era melhor. Chegamos na hora do almoço em Tana, então fomos diretamente a um restaurante, o do hotel chique Sakamanga. Lá provei por 13 mil o prato típico “ravitoto”, que consiste em um molho feito a partir de folhas de mandioca, colocado sobre pedaços de carne. É quase bom. À tarde retornei ao albergue Madagascar Underground, onde tomei umas cervejas com o pessoal. Já no fim da tarde, fui ao supermercado fazer umas compras. Foi só eu chegar lá que deu o maior temporal. Em poucos minutos as ruas viraram rios, visto que não há escoamento pluvial. Não teve jeito, tive que voltar com a água nas canelas. Jantei tacos no albergue, que inexplicavelmente só serve comida mexicana, e tomei outras cervejas, antes de ir dormir cedo. Dia 19 Às 7 horas partiu a van da Cotisse para Morondava, uma viagem de cerca de 12 horas por 45 mil ariary. Todo o bom conceito da Cotisse foi por água abaixo nessa viagem. Além do wi-fi não funcionar, o veículo de 709 mil km rodados não tinha cinto, o motorista foi imprudente e nem esperou eu terminar de comer na parada do almoço. Foi difícil achar o que fazer nesse longo trajeto. Restou a mim admirar a vista das paisagens verdes e comunidades primitivas e ouvir música. Após uma dezena de barreiras de propina, digo, policiais, finalmente chegamos em Morondava, uma cidade mais tumultuada e suja do que eu esperava. Do ponto de ônibus, caminhei até o Les Bougainvilliers. Meu guia Lonely Planet estava com toda razão quando descreveu que os quartos privativos parecem celas de prisão, mas entre pagar 35 mil por isso ou 70 mil por um bangalô velho, fiquei com o mais barato. Ao menos conta com wi-fi no restaurante à beira do mar, onde comi um bom prato com camarão por 16 mil. Dia 20 Passei o dia em busca de passeios em conta para Kirindy e Belo-Sur-Mer, o que não foi nada fácil visto que havia pouquíssimos turistas na cidade. Depois de procurar em quase todos hotéis e agentes de turismo informais de rua, acabei conseguindo por 90 mil um tour de meio dia para a Avenida dos Baobás e até a Reserva de Kirindy, onde eu ficaria por conta própria. Nesse meio tempo, caminhei pelas ruas e pela praia não muito agradável, almocei lulas e provei suco de baobá, saquei dinheiro num dos 2 caixas eletrônicos disponíveis em toda região, comprei um artesanato e jantei camarão. Dia 21 Às 7 embarquei no veículo que chegou uns 50 minutos depois na Avenida dos Baobás. É muito bela a paisagem dos gigantes centenários e até milenares, mas fica difícil conseguir uma foto boa com tanta barraca de souvenir e criança com camaleão pedindo dinheiro. Continuamos observando as 6 espécies dessa árvore que ali vivem, entre as 8 existentes no mundo. A parada posterior foi o baobá do amor, uma árvore siamesa entrelaçada. Mais além, outra paradinha no Camp Amoureux, acomodação na selva que contém lêmures-rato quase domesticados para fotos em troca de bananas. Ao deixar a estrada principal e adentrar os 5 km até a entrada da Reserva de Kirindy, a estrada ficou ainda pior que já estava. Poças que cobriam até metade da altura do carro estavam no caminho. Ainda bem que minha ideia de alugar uma moto não foi adiante. Na chegada, pagamos os 35 mil de entrada no parque e 10 mil pra caminhada diurna, e eu mais 35 pelo quarto compartilhado… com ninguém. Estava quente, mas não como em Morondava. Não vimos muito além do lêmure marrom e do branco (sifaka), e um grupo dos predadores mangustos. Os mosquitos são terríveis aqui, então use calça e se encha de repelente no resto. Ao retornar, almocei espaguete à bolonhesa (20 mil). Passei a tarde caminhando na área do alojamento, totalmente absorvida pela floresta decídua de Kirindy, agora verde, já que é estação chuvosa. Não há wi-fi, mas ao menos uns livros sobre a biodiversidade de Madagascar me permitiram passar o tempo. Ao final do dia veio o esperado safári pedestre noturno (20 mil). Fui com o mesmo guia, Marcieli (ou algo parecido), pois o cara sabia até o nome científico das espécies. Nas 2 horas e meia vimos muitas coisas. Cinco das seis espécies noturnas de lêmures (apenas o menor primata do mundo que não achamos), vários camaleões, insetos, aranhas e até mesmo uma cobra que posou pra gente. Foi incrível. Jantei zebu com arroz (20 mil), bebi uma gelada quente (4 mil) com o guia e tomei um banho de caneco. Antes de dormir, ainda consegui ver o rato gigante saltador, que parece um coelho mas é um roedor, no pátio da pousada. Também vi ratazanas, inclusive na cozinha. Infelizmente não consegui achar o maior predador de Madagascar, o fossa, que se assemelha a um grande felino. Dia 22 O café da manhã foi bem meia boca, não valeu os mesmos 15 mil que eu paguei por um baita café no hotel em Morondava. Me despedi do pessoal e percorri os 5 km a pé até a estrada principal. Lá consegui uns 15 minutos depois um táxi-brousse por 15 mil até Morondava. Resolvi esbanjar no almoço. Comi uma baita lagosta que daria pra dois, pagando 55 mil. Passei a tarde de bobeira digerindo a bichinha. Quem apareceu para jantar em meu hotel foi o coreano Brandon, que eu havia conhecido em Antananarivo. Ficamos conversando, mas os mosquitos não deixaram o reencontro durar muito. Dia 23 Tive que acordar às 3 da madruga pra ir até o terminal pegar o transporte de volta a Antananarivo! Passei o dia que nem um zumbi enquanto o táxi-brousse pegava e largava gente a toda hora. O almoço foi tenebroso, mas pelo preço não havia como reclamar: Cerca de 4 reais, o mais barato que já comi, fora o restaurante subsidiado da universidade. Quatorze horas depois, finalmente chegamos. Achei que não seria possível embarcar num táxi pior do que os que eu havia pegado, mas esse parecia ter sido rejeitado até pelo ferro-velho. Jantei no L’Oasis, um restaurante com ambiente bacana atrás do albergue. Um ótimo talharim com frutos do mar saiu por 20 mil. Depois disso, fiquei pelo albergue Madagascar Underground, minha base no país. Dia 24 De manhã subi uma morrebinha até o ponto mais alto da cidade, onde fica o palácio da rainha Ranavalona, uma das principais, num período em que a sociedade colonial de Madagascar era matriarcal. A entrada custou 30 mil com o guia obrigatório. Há algumas construções em pedra, como a igreja protestante e a remodelação do palácio, já que as de madeira foram abaixo em incêndios. Também há uma réplica do quarto do rei. A vista também é interessante, pois se pode ver toda a cidade, que não é bonita. Perto dali fica outra construção histórica, o museu Andafiavaratra. Passem longe dali. Paguei 20 mil pra ver três pequenas salas com artefatos da monarquia. Prosseguindo a descida, almocei no Crepe H&H. Comi um gostoso crepe de galinha enorme por 14 mil + 2,5 mil pelo suco natural de graviola (sim, eles também cultivam aqui). Me preparei para as inevitáveis dezenas de pedintes insistentes no caminho ao supermercado. Depois passei a tarde no albergue lendo. Conheci o senhor italiano Giancarlo, que estava para iniciar uma viagem de bicicleta por Madagascar. Fui com ele e um senhor alemão jantar num hotel perto do albergue. Dia 25 Às 7 horas embarquei na van da Cotisse até o Parque Nacional de Ankarafantsika (35 mil). Foi a mesma aventura de sempre. Detalhe para a ausência de florestas até a chegada no parque; resultado do desmatamento extensivo para produção de carvão... Por volta das 4 da tarde o motorista me largou na portaria, que fica bem ao longo da rodovia. Achei que eu seria o único turista naquele parque pouco conhecido, mas por sorte havia um casal de alemães acampando lá, então eu não precisaria arcar sozinho com o custo do guia. À beira de um lago há uma torre de observação de avifauna. Naquele fim de tarde era enorme a quantidade das 3 espécies mais abundantes ali, principalmente garças. A comida na sede do parque não é barata, mas há um vilarejo ao lado com um restaurante mais em conta. Foi lá que eu e os alemães jantamos “mi sao”, pagando 10 mil num prato. Convidei os dois para uma sessão noturna de observação de fauna e eles aceitaram. Só que aqui não tive tanto sucesso quanto nos outros parques, pois a vegetação estava carregada demais de folhas. Ainda assim, vimos alguns pequenos lêmures e invertebrados. Dia 26 Esse dia fez a viagem até Ankarafantsika valer a pena. Me encontrei com os colegas germânicos e o guia Ndrema às 7 horas para a mais longa trilha no parque. A entrada custou 55 mil e a caminhada com guia 65 mil, a ser dividido em 3. Andamos um bocado de horas na floresta decídua, aprendendo bastante sobre as muitas plantas endêmicas de Madagascar. O guia também manja dos animais, então vimos umas tantas espécies novas para mim, sobretudo de invertebrados, mas também pássaros, cobras, lêmures e coloridos camaleões. À continuação, trocamos a mata pela savana. Pena que aqui não há nenhum grande mamífero, apenas cupinzeiros e outras aves. Depois de uma caminhada substancial sob um sol de rachar, eis que surgiu um baita cânion em nossa frente. Retornamos o caminho, chegando para o almoço no vilarejo bem depois do tempo previsto. Na área da sede do parque havia um grupo dos grandes lêmures “sifaka coquerel”. Sem descanso, fizemos outro passeio a pé com o mesmo guia, dessa vez de 50 mil ariary em torno de um lago. Ali há crocodilos que já mataram algumas dezenas de pessoas. A volta foi extensa, mas vimos animais e plantas diferentes da outra parte, pois aqui cresce vegetação aquática e de floresta primária. O que mais vimos foram aves, até mesmo de grande porte. Os enormes tamarindeiros e baobás também chamaram a atenção. Novamente, o passeio foi mais duradouro que o previsto, então seguimos direto para o jantar. Dia 27 Dei uma averiguada na sede em busca de bichos, mas logo me entreguei à espera pela carona a Majunga. Tive que esperar uns 7 táxi-brousse diferentes passarem e uns 45 minutos para enfim conseguir um com vaga que fosse pra lá. Paguei os 6 mil e me apertei pelas quase 3 horas seguintes. A parada final foi bem no centro, então pude ir caminhando até o hotel escolhido, o Chez Madame Chabaud. Paguei 32 mil ariary numa suíte razoável com TV. O único problema é que não há wi-fi no estabelecimento. Almocei no restaurante do próprio hotel, não muito em conta, e um pouco mais tarde fui dar uma volta. O bom dessa cidade não muito bonita é que o transporte é super barato. Com mil ariary, ou seja, 1 real, você pode ir de tuk-tuk pra qualquer lugar num raio de alguns quilômetros. Percorri toda a orla do baobá gigante da Corniche a Ville Touristique, mas de bom só presenciei o pôr do sol na praia, em meio a muitos jovens malgaches. À noite, segui ao bar/restaurante AquaRhum. Foi onde comi uma pizza grande vegetariana (11 mil) e suco de limão (3,5 mil), enquanto usava o wi-fi disponível aos clientes. Dia 28 Voltei ao AquaRhum, mas não achei que o café da manhã tenha valido a pena. Quase em frente fica um supermercado padrão da rede Leader Price, onde fui em seguida fazer umas compras. Uma coisa que tem me deixado incomodado é a quantidade de velhos brancos com jovens malgaches. No hotel, bar, mercado, praia, por todos os lados. Retornei ao Chez Madame Chabaud, ficando para o almoço. À tarde, peguei um tuk-tuk até Amborovy (60 mil ida e volta). Lá, além do aeroporto, fica a atração geológica Cirque Rouge. Passei uma hora caminhando sozinho dentro de sua área, admirando o relevo diferente arenoso e argiloso em todas as tonalidades do amarelo ao roxo. Saí de lá pelo riacho que desemboca numa praia tranquila, onde ficam os pescadores da Villa Vero e suas canoas com estabilizador lateral em apenas um lado. Retornei ao AquaRhum para o jantar, quando caiu uma chuva. Dia 29 Às 7 e meia retornei a Tana com a Cotisse, e lá fiquei até a partida para Comores. Tive muita sorte do veículo para o qual eu tinha pago (34 mil pelo econômico) ter sido substituído pelo VIP, por falta de gente. Assim, fiquei numa van bastante espaçosa e pela primeira vez em Madagascar, com acesso a ar condicionado. A viagem foi conforme o esperado, tirando o trânsito absurdo na chegada. Jantei zebu no restaurante próximo L’Órion e depois fiquei pelo albergue. Dia 30 Um breve giro com um francês e o holandês Bauke pelo mercado de rua, bastante movimentado no sábado. Depois, seguimos até a antiga estação de trem Soarano, transformada em um centro de compras, com souvenires de qualidade. Em seguida, eu e o holandês almoçamos pizzas de crocodilo no Le Carnivore, antes de pormos os pés no museu de arte e arqueologia. Esse é pouco interessante, com alguns artefatos e textos, mas é ao menos gratuito e trilíngue. De volta ao albergue, li um pouco, ganhei da seleção holandesa no pebolim e antes que escurecesse e a chuva engrossasse (havia um ciclone passando perto) eu fui até a creperia pegar um rango. Acho que meu recorde de distância percorrida em Tana sem perturbação alheia não chegou a 100 m, me tirou do sério isso. Quando não são pedintes, são taxistas ou vendedores. A noite foi animada. Primeiro, algumas brincadeiras no albergue com uma galera bacana, incluindo as parcerias do dia anterior e a alemã Eva. Depois, fomos em 7 para a balada a pé. O primeiro clube que entramos foi o Cuba. Assim como os demais, não se paga a entrada. Pedimos um balde de mojito (30 mil) e dançamos em meio aos malgaches. O detalhe desta balada é o espelho. Chegamos a entrar em outro estabelecimento que fica ao lado e estava bem cheio, mas havia tantas prostitutas que logo saímos. Então caminhamos mais umas quadras até o Mak Club. Nesse ambiente havia quase tantos brancos quantos nativos. Tocou até música brasileira. Aqui ficamos até o clube esvaziar. Tentamos entrar no Mojo Club ao lado, mas como metade da galera não estava de calçado fechado, não nos deixaram. Com isso, voltamos ao Cuba, onde ficamos mais um tempo. O retorno pelas ruas foi seguro, já que estávamos em um bando, mas eu não recomendaria andar sozinho. Dia 31 Pela hora do almoço, eu, Bauke e o belga Wilson fomos visitar a colina sagrada de Ambohimanga, na região metropolitana de Tana. Como de táxi-brousse não seria tão simples, dividimos um táxi particular que por 100 mil no total nos levou, esperou e trouxe de volta. A entrada em Ambohimanga custa 10 mil. É um patrimônio da UNESCO do século 18, consistindo nas fortificações, jardins, residências e tumbas da família real que governava o país nessa época. Como é restaurado constantemente, está preservado. Considerei a visita interessante, até uma baita chuva nos botar pra correr. Para o almoço, escolhemos o Mad Delicies, restaurante com comidas típicas a partir de 5 mil, bem próximo do albergue. Já para a janta, fomos os 3 mais o coreano Brandon num restaurante italiano meio caro. Dia 32 Fui com o Brandon tomar café da manhã no buffet livre do hotel Sakamanga. Por apenas 20 mil ariary você pode escolher entre uma diversidade de opções, como omeletes, sanduíches, frutas, bolos. Saímos de lá de barrigas cheias. Recomendo fortemente. Me despedi e parti para o aeroporto de táxi (45 mil). Ao chegar no terminal, a já esperada notícia de que o voo atrasaria pelo menos 2 horas. Aproveitei pra trocar ariary por euro e para almoçar no razoável restaurante com buffet livre (19500 ariary). Para chegar ao check in, foi preciso ter a temperatura medida para que nenhum doente embarcasse, possivelmente uma medida contra a peste. Subi no avião grande da Air Madagascar até o francófono arquipélago de Comores. O entretenimento de bordo se resume a uma revista e a alimentação a um lanche reforçado. Ao desembarcar, fui o único a emitir o visto de turista, por 30 euros. Como não havia mais táxi-brousse aquela hora e nem caixa automático no aeroporto, o taxista teve que se contentar com os únicos 5 euros e 3 dólares que eu tinha no bolso, para me trazer à cidade. Fiquei no Farida Lodge, que na verdade é uma casa de família na beira-mar. A suíte é razoável, tendo em vista a grana que paguei (30 euros sem café da manhã). Internet e água quente? Pode esquecer. Ao menos me deram uma carona ao centro, onde consegui sacar francos em um dos 4 bancos que ficam juntos numa praça. Aproveitei e fiz um estoque no supermercado também. Como eu acabei fechando uma atividade bem cedo pro dia seguinte, apenas devorei o jantar feito pela dona da casa e fui pra cama. Dia 33 Se dormi 5 horas foi muito, pois às 3 da madrugada meu despertador tocou. Uma hora depois o guia passou na casa e levou eu e mais 2 garotas e 1 garoto franceses para a subida no vulcão Karthala. Paguei 25000 francos comorenses (50 euros), mas se tivesse sozinho custaria até o dobro! Às 4:45 horas começamos a ascensão aos 400 e poucos metros de altitude. Nessa hora já se escutava os gritos intermináveis e incompreensíveis nos auto-falantes, anunciando a primeira oração islâmica do dia. Qual a necessidade disso? Ainda completamente escuro, seguimos morro acima em uma antiga rota de 4x4 sob a luz das lanternas. Apenas às 6 h, quando adentramos uma trilha estreita na floresta, é que a luz do dia se fez presente. E os pássaros começaram a cantoria. À medida em que subíamos, a floresta foi ficando com menor porte e diversidade. Ao menos a temperatura do dia não subira, graças ao aumento de altitude. No campo aberto foi possível ver Moroni, o aeroporto e o mar. Arbustos tomaram conta da paisagem. Eis que pouco mais de 4 horas depois, incluindo paradas, chegamos à borda do vulcão, a cerca de 2400 metros de altura, um tempo de subida memorável. A cratera principal é enorme, e com um cenário de outro mundo. O Karthala é um vulcão ativo, como se pode notar nos rastros de fumaça emitidos por ele, sendo que a última erupção foi em 2007. Descemos até dentro da cratera, caminhando sobre o sedimento da erupção de 1977. É bastante interessante acompanhar como a vegetação, principalmente inferior, vem tomando conta dessa área outrora árida. Vimos outra cratera profunda dentro da anterior, antes de voltarmos ao topo, onde almoçamos nossos sanduíches de sardinha. A descida não foi nada fácil. As pedras soltas e a terra encharcada deram origem a um festival de escorregões. Principalmente de minha parte, pois meu tênis bastante usado já estava completamente liso na sola. Além disso, a parte da frente abriu e um rasgo se fez em cima. É o terceiro calçado que eu perco nessa viagem. Para jantar, fui ao restaurante próximo Jardín de la Paix, que possui wi-fi. Pedi um prato de polvo (4 mil francos) e um suco, mas algo não me fez bem, pois eu passei a noite meio mal. Dia 34 Fraco da diarreia, reservei o dia para conhecer Moroni e a cidadezinha vizinha Iconi. Ainda bem que os táxis são compartilhados e, portanto, baratos. Precisei de 2 táxis para ir a Iconi, e um para voltar ao centro de Moroni (450 francos a ida e 250 a volta). Em frente ao mar de Iconi, ficam algumas atrações. Uma é a cratera do vulcão, que é vegetada e pode ser escalada. No lado marinho, forma um paredão vertical. Pena que a praia, cujo mar é lindo, seja completamente cheia de sujeira. Ô povinho mais porco esse. As edificações são outro atrativo. Há uma pequena ruína do Palácio de Kavhiridjewo, do século 16. Também há a antiga grande mesquita da cidade, agora fechada. Pra terminar, uma “madrassa” (escola religiosa), cheia de crianças curiosas por estrangeiros. No centro de Moroni, apesar do calor, me senti quase à vontade para caminhar. Sendo um dos raros turistas, os nativos me encaravam, naturalmente, mas diferentemente de Antananarivo, aqui eu não era abordado constantemente. Há pobreza sim, mas não como em Madagascar. Infelizmente o museu de Comores estava fechado para reforma. Segui pelas ruas, acompanhando o comércio que se dava em parte em lojas e em parte em barracas na calçada. Adentrei o mercado Volo Volo. Comidas, utensílios, higiene, roupas, só faltaram os souvenires. Acabei escolhendo um conjunto da seleção comorense de futebol (7 mil francos) como tal. Almocei num restaurante qualquer na estrada à beira do mar e depois retornei à hospedagem, onde passei a tarde e noite entre a cama e o vaso. Dia 35 Como não havia melhorado ainda, fui à farmácia, onde me receitaram um laxante reverso e um antibiótico. Um pouco melhor, pelo meio-dia peguei um táxi-brousse por 500 francos até o norte da ilha, na cidade de Mitsamiouli. Além do aeroporto, a estrada é bem ruim, então levou mais de uma hora o trajeto de 40 km. Sem reserva feita, fui procurar um quarto no hotel Maloudja Bungalows. Como o nome sugere, são bangalôs, dezenas deles, em uma praia particular linda. Adivinha se eu não era o único cliente? Paguei 15 mil francos por noite, mas não havia ventilador e nem água corrente. Além disso, os bangalôs estão caindo aos pedaços, literalmente. Mas essa situação está para mudar, pois uma cia dos Emirados Árabes assinou um contrato para renovar o hotel completamente. Aproveitei o resto da tarde para mergulhar. Com meu equipamento de snorkeling, explorei por 2 horas quase toda área da praia, cheia de corais rasos. Vi uma porção de espécies diferentes, mas como a profundidade máxima é de uns 3 metros, nada grande passou pela minha vista. A visibilidade também não é tão boa. Quando já estava para sair, avistei duas moreias e dois peixes-escorpião. Depois do pôr do sol no mar, jantei no restaurante da hospedagem. Por 4 mil francos veio uma montanha de carne de carneiro, batata-doce e banana-da-terra. Acabei não conseguindo vencê-la. Terminei o dia (e mais o seguinte) sem cag*r mais nenhuma vez desde que tomei as 2 cápsulas de Imodium. Remediozinho eficiente esse, hein? Dia 36 O café da manhã poderia ser um pouquinho melhor. Depois que o tomei, caí na água novamente. Dessa vez, fui até onde estava o barco de um pescador, há uns 600 metros da praia. Assim, consegui chegar na zona onde a profundidade aumenta e, consequentemente o tamanho das criaturas. Infelizmente já estava tarde e não pude ficar muito, mas consegui ver duas tartarugas-de-pente antes de retornar. Meu almoço foi um baita prato de polvo (que eu vi sendo caçado com arpão enquanto eu mergulhava), acompanhado de batata-doce e fruta-pão, também por 4 mil francos. À tarde, mergulhei novamente na praia do hotel, vendo alguns bichos novos. A coisa que mais me incomodou aqui não foi o calor, mas os mosquitos, que não te deixam em paz em momento algum. Se eu pegasse malária, haveria grandes chances de ter sido daqui. Obs: segundo os nativos, o repelente que usam e que funciona bem é uma mistura de óleo de coco com essência de ylang-ylang. Jantei galinha com batata-doce e salada. Depois disso, parti pro meu bangalô. Dia 37 Caminhei pela estrada de chão até 3 praias após a do hotel, no local conhecido como Trou du Prophète (Buraco do Profeta). É tido como um local sagrado, onde Maomé esteve. No entanto, não vi nada de especial por lá, e é uma localização tão maltratada quanto as outras. Lá fica outra hospedagem rústica, o Chez Micky. Fui nadando até as profundezas, mais próximas da costa por aquelas bandas. As ondas atrapalharam um pouco, mas um tempo depois eu cheguei. Vim acompanhando o relevo submarino acidentado paralelamente à costa, em direção ao meu hotel. Ainda que as paisagens subaquáticas sejam belas, não vi muitas espécies novas a princípio. Uma certa hora vi uma baita barracuda na coluna d'água, mas quando ela me viu, se mandou. O auge foi uma arraia grandona, o maior animal que vi, acompanhado de uma rêmora. Mergulhei em direção a elas, mas quando eu subi para respirar elas vieram em minha direção! Tomei um baita susto, mas nada de grave aconteceu, pois elas mudaram de rumo em seguida e foram embora. Sendo assim, voltei à praia para almoçar peixe. Depois, fiquei curtindo o visual e conversando com os poucos nativos que falavam bem inglês. No final da tarde a praia se encheu de jovens, ouvindo música e jogando futebol. À noite, jantei e fui dormir mais cedo. Dia 38 Às 6 e meia, por um trocado eu peguei carona com um motorista que iria passar pelo aeroporto, onde fiquei. Gastei o resto dos meus francos num souvenir e embarquei no primeiro dos 4 voos do dia! Após escala em Mayotte, desci em Madagascar através da Air Madagascar. Ainda bem que não precisei de um visto de trânsito lá, pois não tinha mais dinheiro algum. Fiquei usando o wi-fi livre enquanto aguardava o voo seguinte pela Air Austral, com escala em Reunião e destino em Maurício. Os últimos voos atrasaram um pouco. No desembarque já fiquei impressionado com o desenvolvimento do país, fato que eu iria confirmar nos dias seguintes, pois nem parece a África. Brasileiros não precisam de visto, então passei tranquilo, saquei as rúpias de Maurício (10 = 1 real) e comecei a dura negociação com os taxistas, já que era umas 10 e meia da noite e não havia mais ônibus há horas. O melhor que consegui até Mahebourg, apenas 9 km distantes dali, foi 400 rúpias (sim, os táxis são caros aqui). Dormi no Bamboo Guesthouse, onde tive uma suíte para mim com ar condicionado (aleluia!) e café da manhã por 880 rúpias. Dia 39 Tomei o café e segui ao terminal de ônibus, onde embarquei no n° 46 até Point Jerome (20 rúpias). Ali fica a sede da ONG que cuida da conservação de Maurício e principalmente da pequena Ile aux Aigrettes, logo em frente. Por 800 rúpias me registrei na hora para o tour guiado das 10 da manhã. Passado um pequeno trecho de lancha, desembarca-se na ilha que é o melhor exemplo de restauração ambiental ao que era antes de Maurício ser ocupado pelos colonizadores e ter muitas de suas espécies extintas, como a simpática ave terrestre dodô. Vimos na natureza algumas das espécies de plantas e animais endêmicas das ilhas Mascarenhas (Reunião, Maurício e Rodrigues). Foi um passeio de mais de 1 hora e meia bem bacana. Retornei de ônibus, parando no supermercado London Way para comprar comida e almoçar (80 rúpias num yakisoba). Em continuação, andei até o Museu Nacional de História. Gratuito, é interessante a visita, pois conta através de muitos artefatos e de descrições em inglês e francês sobre a história das ocupação holandesa, seguida pela francesa e por fim pela inglesa, além dos indianos, que desde o início até hoje formam a base da população, junto com os negros descendentes de escravos. Já no meio da tarde, dei uma passada pelo mercado (Bazaar) de Mahebourg. A grande maioria do que é oferecido à venda são alimentos, então não achei um souvenir interessante. Enquanto meu ônibus seguinte não partia, dei uma averiguada no bonito calçadão à beira-mar, que fica ao lado do terminal de ônibus. Por uns trocados, cruzei o meio do país no ônibus n° 198, levando mais de uma hora para chegar no Bagatelle, um dos modernos shoppings do país. Foi lá onde reencontrei meu colega de colégio Túlio, 13 anos depois. Comemos na praça de alimentação e em seguida fui para seu baita apartamento, onde fiquei hospedado pelos dias seguintes, na cidade de Moka. Passamos o resto da noite conversando. Dia 40 Pelas 8 e pouco eu já estava no ônibus n° 173, que por 31 rúpias atravessou um trânsito intenso, levando uma hora e meia para chegar em Curepipe, na estação de Jan Palach Nord. Para prosseguir na viagem, atravessei a rua para Jan Palach Sud, onde tomei a condução n° 133 em direção ao sul, até Souillac (34 rúpias). Esse trecho, no entanto, levou menos da metade do tempo, apesar de cobrir uma distância quase duas vezes maior. No caminho, é canavial pra tudo quanto é lado. Ainda assim, um caldo de cana custa o dobro do preço do Brasil! Nesse povoado, desci para conhecer a praia de Gris Gris. As falésias sendo atingidas por ondas violentas são impressionantes, bem como a floresta que a cerca e a pedra que chove. Andei mais um pouco, passando em frente ao museu Robert Edward Hart, onde resolvi entrar, já que é gratuito. É a casa de coral do poeta e naturalista das Ilhas Maurício, com seus pertences, incluindo uma coleção de insetos. Almocei no restaurante Rochester Falls. Com 390 rúpias comi um prato típico mauriciano: curry de polvo. Gostei. Tive que andar em meio ao canavial num sol forte para chegar na cachoeira de Rochester Falls. A altura não é tanta, mas as colunas basálticas são bem interessantes, e um banho foi bem convidativo e necessário. De volta a Souillac, esperava no terminal de ônibus quando uma van passou chamando pra direção que eu seguiria, então eu entrei. Em Baie du Cap eu peguei o ônibus seguinte, n° 5, que seguiu pela costa sudeste, bastante cênica, até Quatre Bourne. Novamente, assim que desci no ponto final já apareceu a condução necessária seguinte, no caso o n° 153 até Moka. O trajeto de Souillac até Moka levou nada menos que 3 horas, então ao chegar o sol já se despedia. Jantamos e tomamos um chope na Flying Dodo, a primeira microcervejaria artesanal do país. O bar fica no shopping Bagatelle, mas é um pouco carinho. Dia 41 Túlio me deu carona até o terminal de Quatre Bornes, onde eu subi no ônibus até a entrada da estrada de terra ao sul do monte Le Morne. Aparentemente não há padrão para os ônibus, pois cada um que peguei estava num estado diferente, mas todos sem ar condicionado. Um km e meio depois, cheguei ao portão, onde fica também o estacionamento pra quem vem de carro. Não precisa pagar nada, basta colocar seu nome num caderno e começar a ascensão. Não há onde obter água, e o tanso aqui esqueceu a garrafa no carro. No início o sol não é um problema, já que as árvores cobrem a trilha aberta. Segui subindo em meio a outras poucas pessoas. Na metade do caminho há uns mirantes e a vegetação vira arbustiva. Teoricamente não se pode passar dali, já que o setor final é bastante inclinado, sendo necessário realmente escalar. Como a corda que auxiliava não é está mais lá, tentaram proibir o acesso, mas bastante gente, como eu e os guias, ainda sobem. Com muita cautela escalei as rochas e cheguei à cruz implantada no ponto mais alto possível para quem não tem equipamento de escalada. Levei uma hora líquida até lá em cima, há 490 metros de altura (a saída é do nível do mar). É possível ver quase todos os lados desse ponto. Não há palavras que descrevam a incrível vista das montanhas esverdeadas, das ilhotas costeiras e da grande barreira de corais que cerca Maurício. Destaque também para os belos rabos-de-palha, que fazem acrobacias ao redor do monte. Muitas fotos depois desci, levando quase uma hora. Peguei o mesmo ônibus de volta, descendo no shopping Cascavelle para almoçar e matar a sede que já estava insuportável, já que eu fiquei mais de 6 horas sem beber nada. Depois disso, fui com meu camarada até a praia de Flic en Flac, onde paramos no bar de um resort para tomar uns drinks nada baratos. Após o pôr do sol, jantamos no restaurante Twin’s Dragon II, também nesse bairro. O ambiente até que é bom, mas a comida enfeitada não é grandes coisas, além de ser cara. Dia 42 Com o ônibus n° 93 fui até a capital Port Louis. Lá, caminhei pelas ruas movimentadas e cheias de prédios do centro. Comecei pelo Caudan Waterfront, uma área mais nobre em frente ao mar e ao lado do porto. Aqui ficam lojas e restaurantes caros. Em sequência, uma bela caminhada morro acima até o Fort Adelaide. Das ruínas sobrou pouco, mas a vista 360° de toda cidade e dos morros vale a subida. Passei pela exótica mesquita Jummah e pelo bairro China Town, até parar no mercado central. Provei alguns sabores de Maurício, como o “dholl puri”. É uma massa mole feita de uma lentilha amarela cujo interior é preenchido com gororobas pastosas coloridas. Por apenas 12 rúpias, é uma das comidas mais baratas que se acha, sendo bastante popular nas ruas. Nada mal. Comprei um souvenir na seção do mercado destinada a isso e segui para o patrimônio da humanidade Aapravasi Ghat. Gratuito, contém um centro de interpretação com informações sobre o que se deu aqui no passado, além das ruínas das construções. Esse lugar foi responsável pela recepção, alojamento temporário e todos os trâmites dos imigrantes, sobretudo indianos, que substituíram os escravos após a abolição da escravatura. Foram centenas de milhares que permaneceram, formando o povo de Maurício. Na estação norte, continuei no ônibus n° 22 até Pamplemousses, onde fica o principal jardim botânico do país. Paga-se 200 rúpias para o acesso ao parque paisagístico. É bonito mas nada de especial, já que a principal atração é um lago artificial com vitórias-régias brasileiras. Também há tartarugas gigantes e cervos, além dos muitos passarinhos soltos. Voltei à casa no final da tarde. Fomos até o norte da ilha para jantar numa pizzaria italiana. Dia 43 Passamos o dia num passeio de barco de Grand Baie à ilha Gabriel, no norte de Maurício. Meu parceiro conseguiu por 900 rúpias, bem menos que o preço normal, comprando num site de compras coletivas. Pelas 9 subimos no catamarã, junto com uma dezena de turistas. Enquanto aproveitávamos as bebidas liberadas, cruzamos o mar passando a impressionante ilha Coin de Mire. Cerca de uma hora e meia depois do início, o barco parou entre as ilhas Flat, onde fica um farol, e a Gabriel, onde desembarcamos. Praticamos um pouco de snorkeling, vendo alguns corais rasos com peixes, cefalópodes e até uma tartaruga-verde que nem ligou para a nossa presença enquanto comia as algas. Quando chegou a nossa hora de comer, deixamos a água. No cardápio, salada, macarrão e proteínas animais variadas. Tivemos mais um tempo à toa na ilha, em que eu dei uma caminhada e tirei fotos das aves tropicais. O retorno foi concluído depois das 4 e meia. Voltamos à casa do Túlio e nos arrumamos para partir. Ele foi ao aeroporto e me deixou numa pousada próxima de lá, a VG Royal Residency. Tive uma suíte grandona com ar, TV e internet por 1100 rúpias. Desci para provar a última das comidas principais da culinária mauriciana, o “boulette”. Como o nome indica, são bolotas de massa recheadas por alguma proteína e mergulhadas em um tempero. Provei 6 tipos, nenhum ruim, por apenas 65 rúpias. Dia 44 De manhã cedo caminhei até o aeroporto, troquei as rúpias restantes por euros e aguardei o embarque internacional até Reunião. Lá tive que fazer uma conexão de um dia antes de continuar a volta para casa. Ao desembarcar, esperei o próximo ônibus até a capital Saint-Denis (5 euros). Caminhei pouco pelo centro, pois estava quente e eu não o achei tão interessante. Sendo assim, só comi um kebab e fui pro Hotel du Centre, onde um quarto pequeno com ar e TV me custou 35 euros. Dia 45 Como o único jeito de ir de forma mais barata até o aeroporto no começo do dia de domingo envolveria uma caminhada seguida por um ônibus às 5 e 20 e mais outra caminhada, optei pelo transfer do hotel por 15 euros, saindo às 6 horas. Voei de Air Austral até Seicheles, onde ficaria mais 2 dias por 280 reais, mas dessa vez hospedado num Airbnb próximo ao aeroporto. Com o feriado de Páscoa, tudo estava fechado. Sendo assim, só me restou almoçar no “takeaway” do aeroporto, chamado SkyChef Shop (a partir de 50 rúpias) e pegar uma praia depois. Escolhi a de Baie Lazare (ônibus n° 5) que, assim como as demais, estava cheia de gente comemorando a folga com música, comida e bebida. Fiquei relaxando na água morna por um tempo. Jantei arroz, curry de carneiro e salada no mesmo lugar e depois me recolhi, tentando fazer uso da internet sofrível da hospedagem. Dia 46 Tomei o café da manhã e fiquei de bobeira até a hora do almoço. Aqui o feriado se estende até segunda, então a situação continuou igual. Peguei meu equipamento de mergulho e parti com o ônibus n° 9 até o ponto final da longínqua Port Launay, onde caminhei mais 3 km até a praia pouco visitada de Baie Ternay. O mar desse local é protegido por um parque marinho, sendo ótimo para mergulhos. Nas mais de 2 horas em que fiquei submerso, vi os corais de sempre, mas também várias barracudas, três arraias-chita e cardumes não com centenas, mas milhares de peixes! Na volta a maré estava tão alta que não havia mais faixa de areia. Quase pisei numa arraia. Descansei nas águas quentes de Port Launay enquanto o ônibus não saía. Depois do longo retorno jantei no aeroporto e me retirei. Dia 47 Não fiz praticamente nada o dia todo, já que teria o voo no fim da tarde e o dia estava quente demais. Sendo assim, só fiquei pelo aeroporto. Voei de Ethiopian Airlines até Adis Abeba, recebendo hospedagem gratuita no hotel Empire Addis, que possui uma das maiores suítes em que já fiquei. No entanto, nem pude aproveitar, porque do desembarque até chegar no hotel levou 2 horas, graças à fila enorme da imigração. Dia 48 Tomei o café e me levaram de volta pro aeroporto, onde peguei o voo para Guarulhos. Tudo normal, com exceção da quase totalidade de filipinos a bordo. Vi uma porção de filmes, li e comi pro tempo passar. No final da tarde cheguei, mas ainda tive que esperar umas horas para finalmente chegar em casa em Floripa, tomar um banho gostoso e ter uma boa noite de sono, sonhando com as memórias dessa baita viagem. Curtiu? Então dá um pulo no meu blog e confere outros tantos destinos interessantes: http://rediscoveringtheworld.com 9 Citar
Colaboradores João Rosenthal Postado Abril 13, 2018 Colaboradores Postado Abril 13, 2018 Demais! Primeiro relato de Comores e Madagascar que vejo aqui no Mochileiros. 2 Citar
Colaboradores Schumacher Postado Abril 13, 2018 Autor Colaboradores Postado Abril 13, 2018 @João Rosenthal Valeu, meu! Procuro sempre deixar por aqui um pouco sobre minhas experiências em lugares pouco visitados, meu tipo de destino preferido Citar
Membros victorprado Postado Abril 13, 2018 Membros Postado Abril 13, 2018 13 minutos atrás, João Rosenthal disse: Demais! Primeiro relato de Comores e Madagascar que vejo aqui no Mochileiros. Exato!!! Tava procurando/esperando um tbm. 1 Citar
Membros Márcio/Sp Postado Dezembro 13, 2018 Membros Postado Dezembro 13, 2018 Que relato fantástico !!!! Tinha outra imagem deMadagascar, me lembrou Ciudad de Leste piorada kkkk Citar
Colaboradores Schumacher Postado Dezembro 13, 2018 Autor Colaboradores Postado Dezembro 13, 2018 @Márcio/Sp heheh, valeu! Eu também esperava mais das cidades, mas dentro dos parques não há igual Citar
Membros copaes Postado Abril 29, 2019 Membros Postado Abril 29, 2019 Schumacher, parabéns pelo fantástico relato. Uma opinião sua: quem é mais bonita, ilhas Maurício ou ilhas Seycheles? Estou com passagem comprada para novembro, para Joanesburgo. De lá quero conhecer uma dessas 2 ilhas. Mas o detalhe é que irei com minha esposa e filha de 4 anos. Pretendo ficar em AIRBNB. Quais das 2 ilhas possuem praias mais bonitas e de águas transparentes? Já vi que Maurício é maior e mais povoada, além de ter um trânsito absurdo no entorno da capital. Já Seycheles me parece mais calma. Bem, não faremos as trilhas que vc fez, mas aproveitaremos bastante banho de mar e mergulho, que adoro.. Por fim, me pareceu também que a temperatura da água do mar em Seycheles é mais quente que Maurício, é isso mesmo? Valeu.. Citar
Colaboradores Schumacher Postado Abril 29, 2019 Autor Colaboradores Postado Abril 29, 2019 Obrigado! Nesse caso, acredito que Seicheles seja a melhor opção mesmo. Citar
Membros copaes Postado Abril 29, 2019 Membros Postado Abril 29, 2019 Em termos de custo, quem é mais em conta, Seicheles ou Maurício? Citar
Colaboradores Schumacher Postado Abril 30, 2019 Autor Colaboradores Postado Abril 30, 2019 Maurício é um pouquinho mais barato. Citar
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