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A viagem da minha vida : 5 meses em Bolívia, Peru, Chile, Argentina e Brasil.


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O outro lado da fronteira, primeiras noções da Bolívia e a chegada em Santa Cruz de la Sierra 

De antemão agradeço as manifestações aqui. Me fizeram antecipar a minha escrita. Ainda não manjo bem dos fóruns aqui então espero não desorganizar esse por acidente. Vivendo e aprendendo, vamo nessa!

Sobre custos: Juntei cerca de 15 mil reais. Mas MUITA CALMA. Porque terminei minha viagem com cerca de 6 mil. Sendo que chegando no Brasil, me senti mais livre para gastar dinheiro. E fiquei um mês viajando por aqui.

Em outras experiências que eu tive viajando fora, passei a entender que fronteiras em geral são lugares para se passar rápido. Pelo intenso fluxo de pessoas, acredito que existe uma tensão velada em algumas fronteiras. Isso pode ser um preconceito meu talvez. Na época, li alguns depoimentos aqui no site de policiais pedindo propina para passar que colaboraram com essa minha visão.  Como disse no depoimento anterior, tinha 3 horas de espera.

Dica útil para viajantes: sempre pesquisem se fronteiras fecham ou não. Isso pode te poupar algum tempo/estresse.

Quando cheguei haviam duas pessoas na fila. Um homem brasileiro que gastava o espanhol com uma simpática boliviana. Comecei a conversar com eles. Logo mais pessoas chegaram a fronteira. E fui percebendo que esse cara que era o primeiro da fila era uma espécie de chato legal. Daqueles caras que falam todo tempo, brincam e tiram todo mundo de forma bem gaiata mesmo. Apesar da minha falta de paciência inicial com esse perfil, entendi que estar em um grupo me fazia mais forte em relação a uma possível situação de abuso de poder por parte das autoridades, sejam brasileiras ou bolivianas. A conversa foi rolando solta com membros da fila. Sem nunca descuidar dos meus pertences e documentos.

Entre as pessoas que chegaram a fila, haviam duas garotas mochileiras que já haviam chamado minha atenção desde a rodoviária de Campo Grande. Sou bom com rostos. E as duas tinham mochilas nas costas, assim como eu. O restante da fila parecia fazer aquele percurso com mais frequência.

Um pouco antes da fronteira abrir, a Boliviana simpática se ofereceu para me ajudar a trocar meu dinheiro. Seu nome era Alexandra, e ela tinha acabado de voltar de uma experiência de 4 meses no Brasil onde também ajudaram muito ela.

Passado as horas e a fronteira, finalmente estava no lado Boliviano, em Puerto Quijarro.
Dica para viajantes: Levem dólar! Do meu dinheiro total, saquei 5 mil e comprei dólar com isso, ainda no Brasil. Levei escondido o dinheiro separado em 5 lugares diferentes, entre eles doleira, bolso falso e coisa do tipo. De resto, habilitei meu cartão internacional para sacar.

Alexandra me ajudou a trocar dinheiro e identificar possíveis notas falsas. Acredito que fronteiras são lugares para se gastar dinheiro. Um dólar custava 3,90 bolivianos, enquanto em outros lugares como La Paz, o custo era de 3,95. Fico pensando que talvez tivesse valido a pena procurar uma casa de cambio em Campo Grande para isso. Pão durice a parte, Alexandra me ajudou muito.
Ela me deu dicas. Me orientou onde eu acharia o famoso trem da morte. Mas disse que o ônibus era o mesmo preço. Ela era de Santa Cruz de La Sierra, então íamos para o mesmo lugar. Até me despedi temporariamente dela para procurar o trem da morte. Na cia de trem, vi que o horário de saída do trem era mais a tarde. E eu não estava interessado em esperar tanto naquele lugar.

Preciso fazer aqui uma pausa para escrever um pouco sobre eu: sou muito territorialista. Mas Puerto Quijarro era uma cidade bem pobre mesmo. A diferença com Corumbá era nítida. Já fiz muito trabalho com população de rua e coisa e tal. Em geral, não me incomodo de estar em um lugar como aquele. Mas eu tinha uma mochila, barba feita e rostinho de europeu. Era facilmente notado. Queria ir embora rápido, de preferência.

 Reencontrei Alexandra na rodoviária da cidade. Decidimos viajar juntos. Primeira grande dica da Bolívia passado por nossa querida nativa: “Vitor, na Bolivia es tudo negociable”. Ela dominava espanhol, ela pechinchava. Eu confiava.
Segunda grande noção da Bolívia: lá é aonde testemunhei a atuação mais escrota do Capitalismo na vida dos comerciantes. Enquanto Alexandra negociava com uma Cia de ônibus, veio outra e tentou furar o negócio, oferecendo valores mais baixos pela passagem. Em segundos apareceu um terceiro buscando a mesma coisa. E um quarto, e um quinto...çocorro! Estávamos cercados de comerciantes! Alexandra deu um basta e disse que não ia comprar de ninguém. Fomos almoçar, mas a real é que ela já tinha escolhido onde queria nossas passagens. Pós almoço, fomos até a banca que ela gostou. Pedimos para ver a qualidade do ônibus. Terceira dica importante da Bolívia: não acredite no que te falam. Acreditem no que vocês veem. É comum prometerem mundos e fundos para mochileiros e o serviço real ser aquém.


Nota importante sobre a Bolívia: Não tenho a intenção de só falar mal do país, muito pelo contrário. Entendo que muitas dessas situações desagradáveis são causadas pelas desigualdades sociais. E ai temos um problema muito mais complexo a ser analisado e certamente não conseguiria fazer isso por aqui.

O ônibus que viajamos era ótimo. Mas não tinha o wi fi prometido. Segundo a Alexandra, isso já era esperado. Vou destacar da viagem o conforto do ônibus, a vista da estrada, as crianças vendendo pollo (frango) e refresco, uma garotinha fofa (tá ai na foto)que percebeu meu portunhol e ficou curiosa e um Brasileiro que estudava medicina em Santa Cruz e se juntou a nós.
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Nota sobre Santa Cruz: Se tacarmos uma pedra na cabeça de alguém por lá, 120% de certeza de chance de acertarmos a cabeça de um Brasileiro estudante de medicina.

As crianças que vendiam frango entravam no ônibus nas paradas e ofereciam para todos ali. Para elas, era uma forma de diversão, além de trabalho. Não querendo romantizar essa relação trabalhista escrota encontrada. Mas me confortou ver que de alguma forma elas se divertiam fazendo aquilo. Já tinha lido muito sobre essas crianças por aqui.

O Brasileiro que estudava em Santa Cruz se chamava Adolfo. Seguimos nós três conversando até o fim da viagem. Chegando em Santa Cruz, Alexandra despediu rápido. Foi correndo ver o namorado. Adolfo me deixou num taxi e negociou um valor rápido pra mim para praça 24 de Setiembre. Sabia da praça por conta de depoimentos desse site. A partir dali, fui procurar estadia por conta própria.
Perto da praça, tinha hotéis pertos. E muita gente falando português nas ruas. Chegando ao hotel, percebi meu bolso cheio de papeis que considerei inúteis. Amassei um deles que me deram na fronteira. Fiz menção de jogar no lixo, mas uma voz divina ecoou na minha cabeça e disse para eu não fazer aquilo. Guardei o papel amassado em meu bolso de novo. Conversando com a dona do hotel em que fui me hospedar, descobri que quase joguei fora o comprovante de que eu posso ficar na Bolívia. Ou seja, quase me auto deportei em menos de 24 horas em um novo país. Seria tragicômico. Então ai vai outra dica importante sobre a fronteira. Guardem papeiszinhos. Não joga nada fora! Isso pode salvar sua vida.

Por hoje encerro meu depoimento por aqui. Espero que esteja sendo útil, apesar desse nível de detalhismo. Em algum momento a história vai correr mais rápido, mas considero fundamental explicitar alguns detalhes para viajantes inexperientes como eu.

Espero que gostem

Vitor

20150513_203101.thumb.jpg.beecf5cd210f9f870f6ed8165f8a718b.jpgAdolfo, Alexandra e eu. E uma moça boliviana ao fundo.

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Continue escrevendo. Estou acompanhando. Realmente há uma visão turística pró Europa e Estados Unidos e a América do Sul é deixada para segundo plano. Eu também tenho muito o que conhecer. Tem sempre algo novo e lindo por perto, além de uma identificação cultural maior. Obrigado por este relato entusiasmante.

 

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Estou acompanhando cada detalhe, e esse me chamou a atenção: - "Já fiz muito trabalho com população de rua e coisa e tal".

Eu iniciei o The Street Store em Manaus, onde fui indicado para ser um dos condutores da Tocha Olímpica.

Continue seu relato, irei acompanhar até o fim.

Ai está uma das fotos, conduzindo a Tocha Olímpica e outra foto com o pessoal, com o trabalho com os moradores de rua e essa última foto, é quando vamos as cidades ribeirinhas no Amazonas, para a distribuição de ranchos e roupas, é a minha esposa que aparece na foto. Não sei se vai seguir nessa ordem.

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14 horas atrás, casal100 disse:

@Vitorvenancio12 Meu amigo calma!  Esse tipo de relato de viagem tem que ser degustado com bastante moderação. Tem que ser igual novela viu...um por dia ou semana....brincadeira  heim

São detalhes importantíssimos escrito de uma forma bem didática e leve.

5 meses não são 5 dias. Então esse relato vai se mesmo, igual a novela kkkkkkkkkk

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