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Morro Chapéu de Sol


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MORRO CHAPÉU DE SOL

 

Primeira pernada de 2015. Nada melhor para iniciar o ano montanhístico do que uma jornada a um lugar pouco conhecido, pouco frequentado e ainda não visitado...

Caminhar na região de transição entre as Serras do Ibitiraquire e da Graciosa é sempre uma aventura de responsabilidade e recompensas. Envolve boas doses de conhecimento de orientação além de abnegação e resiliência contra os diversos infortúnios, especialmente no verão. Além do calor intenso, que exige um abastecimento de água muito além do normal, mosquitos e butucas gigantes parecem saídos de filmes de ficção científica e mesmo com bons repelentes não deixam o caminhante em paz. Taturanas, vespas e formigas completam a voraz fauna insetívora da área, impondo respeito a quem deseja adentrar naqueles domínios.

 

O Morro Chapéu de Sol é o nosso objetivo principal do dia. Modesto, apenas 935m de altitude na carta topográfica. No entanto sua posição é estratégica, encravado numa das encostas do Vale do Rio Mãe Catira.

Saímos cedo de Curitiba (não tanto quanto gostaríamos) e sebo nas canelas. Sem trilha pronta para seguir, sabemos apenas onde está o nosso objetivo no mapa e temos um traçado aproximado planejado em casa pelas curvas de nível da carta topográfica por entre os vales e matas da região. Em seu encalço um seleto pelotão da AMC - Associação Montanhistas de Cristo: Eu, Otávio, Daniel, Edinaldo, Rafael, Márcio e o Antônio Sérgio, todos conhecidos de outras inúmeras aventuras pelas nossas serras.

 

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Nos atrapalhamos um pouco ao iniciar o trajeto. Do Marco 22 partem vários ramais de trilhas para todas as direções e inicialmente buscamos seguir alguma já consolidada. Em dúvida e sem esperanças de encontrar algo mastigado, logo abandonamos um dos ramais batidos e começamos a abrir no peito uma passagem na direção que pretendíamos seguir. Logo nos vemos em cima de um morrote de onde é possível divisar o cume do nosso objetivo. Algumas voltas mais, barranco abaixo, encontramos um ramal de trilha bem batida que nos leva na direção desejada, passando por um belo riacho, depois do qual a trilha desaparece novamente. Vamos que vamos, nada que um pouco de vontade e algumas lambidas de facão não resolvam.

 

Os desafios nos movem, são nosso combustível em meio à umidade e o calor da exuberante mata atlântica. Logo nos deparamos com densos bambuzais, que de início tentamos em vão contornar, apenas para encontrar outros mais adiante. Logo nos convencemos que não adianta enrolar, vamos ter que desembainhar as espadas. Um a um os bambuzais são rasgados à facão e, após algumas voltas desviando de terrenos desfavoráveis atingimos a linha de crista que nos levaria ao nosso objetivo final. No entanto, quando próximo ao cume do 895m, somos alvo de um ataque de um enxame de vespas ensandecidas que nos tocam em debandada encosta abaixo.

Alguns pensam em desistir, ainda sob o efeito das picadas. Outros pensam no que fazer. Passados alguns minutos, resoluto sentencio "ao cume e avante!" Não sairia derrotado dali. Faltavam pouco mais de 300m até o objetivo. Traçamos uma rota alternativa no GPS e tocamos em frente.

 

Parece pouco, mas na floresta as distâncias são bastante relativas e nestes poucos metros ainda restavam um pequeno vale e duas encostas a vencer. Numa delas, logo de cara, somos testados por um tapete de formigas que vitimam mais alguns dos combatentes menos afortunados. Nada que uns metros correndo encosta abaixo não resolvam. Logo, galgamos os íngremes metros finais que nos separam do cume que começamos a perseguir quase 5 horas antes quando botamos os pés no Marco 22.

 

Cume!

 

Na verdade uma discreta e diminuta clareira (?) cercada de mato por todos os lados e com uma pequena janela de visual em meio à densa vegetação, aberta por uma árvore apodrecida e tombada, de onde se equilibrando precariamente era possível vislumbrar um pequena pedaço do quadrante nordeste do horizonte e outro pequeno trecho do quadrante sul em meio a galhos e folhas de plantas.

 

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Objetivo atingido. Guerreiros cansados, tanto pelo calor insuportável quanto pela peleja contra quiçassas e insetos pelo caminho. Pequena pausa para contemplações, lanche e contabilizar o que sobrou da água para o retorno. Trovões ribombam sobre o Ciririca e sobre os Agudos, ali perto. Uns pensam nos raios, outros nos desafios que nos aguardariam no retorno. Outros ainda contemplam novos desafios no horizonte...

 

Vamos que vamos. Na tentativa de resgatar a mensagem deixada por outros que ali estiveram antes de nós, numa pequena garrafa PET pendurada numa árvore, verificamos que o papel usado estava desmanchando-se com a umidade condensada na garrafa. Providenciamos uma mensagem substitutiva, bem curta e embalada em um saco plástico para que resista por talvez mais uns 2 ou 3 anos, até que outro grupo de malucos deseje voltar e o consiga fazer com sucesso.

Bora prá baixo. A chuva que prometia nos varrer daquele cume passou ao longe e agora nosso pensamento se fixa nas formigas e nas vespas que podíamos encontrar no caminho de volta, primeiro sonhando com a água gelada de um racho que ainda estava a quase duas horas de caminhada... No retorno nada de formigas e nem das vespas. A água do riacho, no entanto, nos deleita a goles fartos, gelada e límpida. Todos, sedentos, se fartam do líquido precioso em uma longa e merecida pausa. Refeitos, é hora de continuar a jornada, agora por uma trilha larga, batida e barrenta até a fronteira da civilização, agora sonhando com pastel e Coca-Cola. Não demora muito e avistamos sinais dos predadores de duas patas: uma perene cabana de palmiteiros quase nas margens da Estrada da Graciosa. Logo pisávamos novamente no calçamento de nosso ponto de partida. Findava a aventura.

 

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Missão cumprida. Todos, entre sedentos, arranhados e picados sobreviveram e logo estarão prontos para novas investidas por aquelas e outras matas da região em busca de novos cumes, de novos desafios e, sobretudo, da profícua convivência com seus companheiros de muitas jornadas, com mais uma boa história para contar. E que venham outras!

 

Selva!

 

Dados do percurso:

Morro Chapéu de Sol - limite setentrional da Serra do Ibitiraquire - altitudes: oficial - 935m, medição no GPS - 990m. Coordenadas: (22J) 712092,156E, 7198124,529N.

Distância do Marco 22: 2,8 Km

 

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  • Membros de Honra

O que mais posso dizer?!?! Show de bola!!!!

Eu sempre falo, não vá pro mato no verão, mas não adianta... :mrgreen: as formigas me pegaram legal, na hora nem senti nada, mas no dia seguinte...

Morrote pequeninho, tão perto mas tão longe, quem quiser ir pra lá fale com o Getúlio, eu não volto!!! :mrgreen::mrgreen:

AH! Esqueceu de falar que a emoção aflorou quando estávamos chegando no cume, teve gente que até chorou... :mrgreen::mrgreen::mrgreen:

Grande caminhada, grandes companheiros de velhas e novas aventuras. E que 2015 seja abençoado por Deus com muitas montanhas, perrengues, caminhadas e amigos.

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  • Membros de Honra

Parabéns, Getúlio, pela grande pernada exploratória e pelo belo relato!

 

Nada melhor que começar o ano realizando um projeto desse, ainda com a adrenalina das vespas e formigas, mas sem desanimar. Para quem esperava cobras e aranhas, a brincadeira foi outra...

 

Me tira uma dúvida apenas: depois do riacho não havia mais nenhum sinal de trilha mesmo? Não encontraram nada, nem na ida nem na volta?

 

Parabéns aos valentes companheiros também.

Abraço!

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  • Membros de Honra

Vou responder essa Rafael.

Achávamos e perdíamos rastros e algumas fitas nas árvores, mas nada que pudesse chamar de trilha. Mas grande parte é varando mato mesmo.

Seguimos o relado do Fiori no Altamontanha, e o GPS do Getúlio que estudou o lugar.

Fizemos alguns desvios para evitar os bambuzais e as vespas, o que talvez nos tenha tirado da rota dos outros que lá já estiveram.

Pelo que o Fiori me falou estiveram por lá em 2005 Johny Genevensis, Prof. Pill e Simepar, em 2012 e 2013 Fiori, Moisés e Paulo Marinho. Também o Cover já visitou o morrote, mas faz algum tempinho (não sei quando).

Dá pra ver porque não tem trilha, nem rastro, pro Chapéu de Sol...

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  • Membros de Honra

Salve moçada!

 

Estive viajando... Por isso "fora do ar" uns dias.

 

Rafael, agradeço seus comentários. Como o Otávio falou, trilha mesmo somente até o "último" riacho. Digo último pois na ida abrimos um caminho pela direita da trilha batida que percorremos na volta e que cruza outros dois riachos antes (sentido do caminho de ida).

Depois deste terceiro riacho nada mais de trilha. Só rastros esparsos (fitas e marcas de facão - aqui e acolá, bem espaçadas).

 

Márcio e Otávio, agradeço os comentários. Os insetos foram o azar desta pernada. Felizmente nada de mais grave, apenas sustos e algumas picadas, além das inerentes piadas... Rsrs!

Também, se não houver nenhum incidente ficamos sem histórias para contar :mrgreen:

 

Logo virão outras e naquela mesma área... Aguardem!

 

Abraços!

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  • 3 anos depois...

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