Membros Gbecker92 Postado Junho 15 Membros Postado Junho 15 (editado) 🏔️ Prefácio – Como tudo começou Desde que fiz meu primeiro mochilão, em 2015, penso em escrever sobre algumas das experiências que vivi. Como uma forma de registrar e, talvez, inspirar quem também quer se aventurar por aí. Na época, eu estava com vinte e poucos anos quando reencontrei, por acaso, um amigo que não via há anos. Ele tinha acabado de voltar de uma viagem até o fim do mundo — Ushuaia. Eu nunca tinha me interessado por “mochilão”, mas depois de ouvir ele contar os seus dias de estrada, entre paisagens absurdas e perrengues, fiquei vidrado com a ideia de sair viajando com uma mochila nas costas. Comecei a planejar. Devorei relatos aqui no Mochileiros — que, na época, era onde a galera se ajudava. Tracei o roteiro, fiz planilha de gastos, calculei tudo no limite. Demorei quase um ano para juntar a grana. Em janeiro de 2015, embarquei sozinho. Uma mochila, alguns dólares e muita vontade de conhecer o mundo com meus próprios olhos. Passei 30 dias viajando : pelas estradas da Bolívia, caminhei pela Trilha Inca no Peru, me perdi no deserto do Atacama. Conheci gente de tudo que é canto, ouvi histórias, vi paisagens que até hoje guardo na memória. Aquela viagem me marcou. Dez anos se passaram, e depois de outras tantas estradas, resolvi escrever. Porque viajar muda a gente — e contar essas histórias também. Editado Junho 15 por Gbecker92 incluir fotos 2 Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 15 Autor Membros Postado Junho 15 (editado) Dia 1 – Rumo à Argentina: estrada, amigos e a chegada a Buenos Aires A ideia era simples: pegar o carro e cruzar a fronteira rumo à Argentina. Já tínhamos feito algo parecido antes — passamos a virada de 2022 para 2023 em Mendoza — e tudo tinha corrido bem: longas horas de estrada, bons vinhos e paisagens de tirar o fôlego. Desta vez, o destino era Bariloche, a quase 3.000 km de casa (São Leopoldo, RS). Escolhemos viajar no verão, entre dezembro e janeiro, época perfeita para aproveitar a natureza da Patagônia Argentina. Mas queríamos mais do que uma viagem — queríamos uma aventura com boa companhia. Um amigo de longa data topou o plano, e ele e a sua parceira se juntaram a nós nessa trip. Partimos no dia 26 de dezembro de 2023, com o nascer do sol. Depois de muitas horas na estrada, chegamos a Buenos Aires por volta das 22h do mesmo dia. Como era a primeira vez dos nossos amigos na cidade, planejamos visitar alguns pontos turísticos clássicos e explorar lugares menos óbvios. Eu pretendia apenas curtir o estilo de vida porteño, sem grandes pretensões. Já a Juliana tinha uma lista de restaurantes para conhecer, entre eles o Don Julio, Niño Gordo e outros nomes famosos da cena gastronômica local. Única foto do grupo no 1o dia: Editado Junho 16 por Gbecker92 incluir fotos 2 Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 16 Autor Membros Postado Junho 16 Dia 2 – Buenos Aires no ritmo certo Começamos nosso primeiro dia em Buenos Aires com café da manhã no Martínez, na Avenida Callao — um clássico. Medialunas frescas, café forte e o empurrão necessário para enfrentar o primeiro desafio do dia: a fila da Western Union. Com a cotação do câmbio paralelo favorável, essa era a melhor opção de câmbio. Com os bolsos abastecidos de pesos, seguimos caminhando pela Recoleta até o El Ateneo, a livraria mais conhecida da cidade. Instalado num antigo teatro, o lugar impressiona. Não compramos nada — os preços estavam altos — mas só estar ali já valia a visita. Almoçamos no Quotidiano, um dos meus preferidos da cidade, e aproveitamos para dar uma volta pelos arredores. Acabamos entrando no Centro Cultural Recoleta e foi uma surpresa agradável. O espaço é enorme, bem cuidado, cheio de exposições e atividades culturais. Ficamos um tempo sentados observando um grupo treinando break dance. A cidade tem essa vibe viva, espontânea. Na sequência, seguimos caminhando até o MALBA. No caminho, cruzamos a imponente Faculdade de Direito e passamos pela Floralis Genérica, que mesmo fechada (por questões climáticas), segue bonita. No museu, pegamos uma exposição da Frida Kahlo e outra da Cecilia Vicuña — até então desconhecida pra mim. E, claro, lá estava também o Abaporu, da Tarsila do Amaral. Aquele mesmo, com o pézão e o sol, que quem estudou nos anos 2000 reconhece na hora. Fechamos o dia na Plaza Independencia, observando o ritmo tranquilo da cidade. Nada de pressa. Era só o começo da viagem, e a sensação era essa: aproveitar sem correr, sem meta, deixando Buenos Aires se revelar aos poucos. 3 Citar
Colaboradores Juliana Champi Postado Junho 16 Colaboradores Postado Junho 16 Em 14/06/2025 em 23:04, Gbecker92 disse: Porque viajar muda a gente — e contar essas histórias também. Sim! É o que me move! Acompanhando essa história! 1 1 Citar
Membros D FABIANO Postado Junho 16 Membros Postado Junho 16 @Gbecker92 Você conta até agora que só foi a lugares famosos que, por exemplo, eu nem sei aonde estão. Para mim,a autenticidade dos lugares está em lugares aonde o local vai, não turismo. Citar
Membros SilviaAlves Postado Junho 16 Membros Postado Junho 16 2 horas atrás, D FABIANO disse: @Gbecker92 Você conta até agora que só foi a lugares famosos que, por exemplo, eu nem sei aonde estão. Para mim,a autenticidade dos lugares está em lugares aonde o local vai, não turismo. mas ele comenta que estava com amigos que não conheciam a cidade, por visitou alguns pontos turísticos ¯\_(ツ)_/¯ 2 Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 18 Autor Membros Postado Junho 18 Em 15/06/2025 em 23:52, Juliana Champi disse: Sim! É o que me move! Acompanhando essa história! Em 16/06/2025 em 17:48, SilviaAlves disse: mas ele comenta que estava com amigos que não conheciam a cidade, por visitou alguns pontos turísticos ¯\_(ツ)_/¯ Obrigado pelos comentários e por acompanharem! Meu objetivo é dividir um pouco da minha experiência e, quem sabe, inspirar outras pessoas a se jogarem nessa também. Não percam o final dessa trip — passamos um perrengue que merece ser compartilhado. Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 18 Autor Membros Postado Junho 18 Dia 3 – Recoleta, Chinatown e a pizza napoletana para encerrar o dia No segundo dia, saímos cedo rumo ao Cemitério da Recoleta. Apesar do horário, o sol já estava a pino. Encontramos o guia à sombra de uma árvore, junto de outros turistas, esperando o momento de iniciar o tour. Mais do que a imponência arquitetônica — que por si só já justifica a visita — o que realmente marca são as histórias das pessoas ali enterradas. Uma delas ficou gravada na memória: um casal que, após uma briga irreconciliável, foi enterrado de costas um para o outro, como último desejo. Saímos de lá já perto do meio-dia, famintos, e seguimos para o bairro chinês. A ideia de incluir esse ponto no roteiro foi da Juliana. Eu não botava muita fé, mas fui surpreendido positivamente. A rua principal era um mergulho em uma legítima Chinatown: restaurantes, bares e lojas com fachadas em ideogramas, aromas exóticos no ar, e uma energia vibrante. Almoçamos em um restaurante típico coreano — uma das culinárias preferidas da Ju. Foi uma escolha certeira. Ali perto, encontramos uma loja com produtos originais de Dragon Ball Z — um momento icônico, considerando que o Nicolas e eu somos fãs de longa data. Não compramos nada, e claro, me arrependi. Seguimos explorando as ruas transversais, entramos em lojas, mercados, e no fim, decidimos experimentar uma bebida chamada Bubble Tea, um tipo de chá gelado com bolinhas que lembram sagu (iguaria gaúcha) . Foi, sem exagero, uma das piores experiências com bebida que já tive. Recomendo a prova, justamente porque é difícil achar algo pior. De lá, pegamos um táxi e fomos deixados nas imediações do outlet Distrito Arcos, em Palermo. Demos uma olhada nas lojas — todas caras, exceto a da Crocs, com preços surpreendentemente justos. Compramos chinelos, que desde então têm sido nossos companheiros de jornada. Nicolas e Barbara também se equiparam. Agora sim, legítimos hermanos de Crocs nos pés. Já era noite quando saímos de lá para explorar os bares de Palermo. Queríamos conhecer o Uptown, um bar subterrâneo com temática de estação de metrô. Caminhamos até o local indicado, mas a entrada era tão discreta que quase passamos direto: uma escada que descia para o subsolo. Um segurança nos aguardava na porta. Suados, cansados e provavelmente mal vestidos para os padrões do lugar, hesitamos em tentar. Só a Bárbara, com ousadia, foi direto falar com o segurança. Fomos barrados — não pelas roupas, mas pelas sacolas da Crocs. Andando pelo bairro e acabamos encontrando uma pizzaria napolitana chamada "Siamo nel Forno". Um achado. A pizza, acompanhada de um generoso vaso de cerveja, encerrou o dia com chave de ouro. 2 Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 19 Autor Membros Postado Junho 19 (editado) Dia 4 – Café, clássicos de Buenos Aires e o primeiro perrengue da viagem Nosso último dia em Buenos Aires foi para andar sem pressa, revisitando os principais pontos turísticos da cidade. Mas antes, uma missão prática: reabastecer o caixa para a próxima etapa da viagem. Fomos à Western Union. Enquanto a Bárbara e a Ju encaravam a fila, o Nicolas e eu aproveitamos para resolver outra pendência — comprar um chip de internet. No caminho, encontramos uma cafeteria despretensiosa e resolvemos parar. O lugar era aconchegante, e o barista, super atencioso. Vendo nossa indecisão, nos sugeriu uma bebida curiosa: café gelado com água tônica e uma rodela de laranja. Surpreendente e refrescante — caiu perfeitamente para o calor da manhã. Vale a recomendação: o lugar se chama La Ventana de Café. Assistimos à preparação toda e ainda sentimos o aroma de um pacote de café recém-aberto. Uma experiência simples, mas marcante. Depois de reencontrar as meninas, começamos nossa caminhada. Passamos pelo Teatro Colón, pelo Obelisco e seguimos até a Casa Rosada. Tiramos algumas fotos e seguimos em direção ao Puerto Madero. No caminho, tivemos uma surpresa: um show de tango ao vivo na Puente de la Mujer, sob um sol de rachar. Uma cena digna de cartão-postal. Simples, inesperada e única. Com o horário do almoço se aproximando, seguimos até o Mercado San Telmo. O ambiente ali tem um clima único: uma mistura de gastronomia, história e cultura. A Ju e eu fomos ao Vortex, uma casa de massas bem recomendada nos sites. Já o Nicolas e a Bárbara optaram por uma tradicional parrilla argentina. De lá, resolvemos dar uma pausa no roteiro turístico e testar a sorte no Cassino de Buenos Aires. Entramos cheios de planos — quem sabe a sorte não mudava nossa viagem? Não mudou. Entre jogadas otimistas e apostas perdidas, vimos as fichas sumirem rapidamente. Saímos de lá zerados. Ainda tivemos tempo para uma última missão: comprar vinhos e espumantes antes de cair na estrada. Fomos a um mercado chinês em Palermo, dica pescada no Instagram. E realmente, os preços eram ótimos — rótulos conhecidos no Brasil por menos da metade do valor. O dono nos atendeu pessoalmente. Gente fina, embora com um jeito meio enigmático. Só aceitava dinheiro, e mesmo tentando explicar de onde vinham os vinhos, ninguém entendeu direito — o mistério continua. No meio das compras, veio o balde de água fria: a Ju recebeu uma notificação do Airbnb informando que nossa hospedagem em Bariloche havia sido cancelada. Faltavam menos de 24 horas para chegarmos lá. Nosso primeiro perrengue. Como eu tinha feito a reserva, sabia que não tinha sido fácil encontrar algo bom e com preço justo. Bariloche parecia incerta naquele momento. Voltamos para o apartamento, discutindo o que fazer. Depois de muita pesquisa e algum suporte do Airbnb, conseguimos o reembolso e — para nossa sorte — encontramos outra acomodação, ainda melhor que a anterior. Nicolas entrou em modo missão-impossível: pesquisou, negociou, falou com o suporte e resolveu tudo. No fim, deu tudo certo. Há males que vêm para o bem. La Ventania de Café: Paparazzi (Barbara e Nicolas): Almoço no Vortex: Juliana tentando a sorte: Editado Junho 19 por Gbecker92 2 Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 22 Autor Membros Postado Junho 22 Dia 5 — Rumo a Bariloche Saímos cedo, afinal, teríamos 1.500 km pela frente até o nosso destino final: San Carlos de Bariloche. Eu já havia encarado algumas estradas longas e achava que estava preparado para o que viria. Talvez por isso não tenha pesquisado tanto — melhor dizendo, quase nada. Apenas dei uma olhada na rota pelo Google Maps, li alguns relatos e segui com aquela confiança típica de quem acha que já viu de tudo. Conforme nos afastávamos de Buenos Aires, a paisagem foi mudando: o urbano cedeu espaço aos pampas extensos e planos, tão familiares a nós, gaúchos. Uma das coisas que mais gosto em uma road trip é justamente essa transição lenta de paisagens — é como se a estrada fosse nos preparando, passo a passo, para a energia do destino. Depois de muitas horas de viagem, cruzamos La Pampa. Mas antes, atravessamos o imenso Parque Nacional Lihué Calel. A essa altura, com o sinal fraco, nosso mapa parou de atualizar. Eu estava no banco do carona e, ao checar a rota, percebi que teríamos um longo trecho pela frente — estradas esburacadas, sem sinal de posto por perto. Fiz uma estimativa rápida: a cidade mais próxima ficava a cerca de 300 km, enquanto nossa autonomia era de apenas 250 km. Um leve desespero me atingiu. O Nicolas e a Barbara estavam dormindo tranquilos e foram acordados com a notícia. Sugeri que desligássemos o ar-condicionado e reduzíssemos a velocidade para 80-90 km/h. A estratégia deu certo: a autonomia aumentou e, alguns quilômetros depois, se igualou à distância que faltava. Para nossa sorte, logo após cruzarmos o parque, passamos por um pequeno povoado — mal sinalizado no mapa — mas que tinha, como uma miragem, um posto de gasolina à beira da estrada. Ali, pudemos encher o tanque com a gasolina "supra". Esticamos as pernas, respiramos fundo e seguimos viagem. A previsão de chegada em Bariloche era por volta da meia-noite. Às 21h10, fomos presenteados com um pôr do sol inesquecível. O céu se tingiu de laranja intenso — um belo sinal de boas-vindas à Patagônia e aos dias que nos esperavam. Paramos o carro para registrar aquele momento mágico. Já perto de Bariloche, a noite escura e o céu estrelado nos envolviam enquanto subíamos pelas estradas sinuosas da região. O cansaço das mais de 17 horas de estrada tornava essa última subida um verdadeiro desafio. Falávamos qualquer coisa entre nós só para espantar o sono. E, finalmente, à 1h da manhã, chegamos ao nosso destino. Exaustos, sim, mas com a sensação de missão cumprida. Mas ainda nos aguardava uma última surpresa digna de roteiro: assim que abrimos a porta do nosso Airbnb, o alarme disparou. E não era um simples bip discreto — era uma sirene ensurdecedora, dessas que parecem anunciar o fim do mundo, rompendo o silêncio da madrugada andina. Ninguém fazia ideia de como desligar aquele troço. Procuramos desesperadamente por um botão, um controle, um bilhete com instruções… até por intervenção divina, quem sabe. Foram minutos intermináveis sob aquele som estridente, enquanto imaginávamos as luzes dos vizinhos se acendendo uma a uma. Quando finalmente conseguimos desativar o alarme, o silêncio voltou. E, depois de tudo, só restava mesmo cair na cama e agradecer: missão cumprida. 4 Citar
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