Membros Gbecker92 Postado Junho 24 Autor Membros Postado Junho 24 Dia 06 — O último dia do ano, o primeiro em Bariloche Acordamos mais tarde, e com razão: foram quase 18 horas dentro do carro no dia anterior. O corpo ainda reclamava, mas a vontade de explorar falava mais alto. Afinal, era o último dia de 2023 e, ao mesmo tempo, nosso primeiro dia em Bariloche. Queríamos sair para desbravar a cidade — e, claro, também precisávamos comprar os itens da nossa ceia de Réveillon. Confesso que minha primeira impressão não foi das melhores. Quando chegamos, na noite anterior, tudo estava escuro e silencioso demais. A paisagem parecia não se revelar. Mas bastou o sol aparecer para que a cidade ganhasse contornos completamente novos: muito verde, flores, lagos cristalinos, tudo abraçado por montanhas nevadas. À tarde, decidimos explorar as praias mais próximas. O dia estava ensolarado e o clima ameno, perfeito para relaxar ao ar livre. As praias da região são diferentes das que estamos acostumados: no lugar da areia fina, um cascalho grosso que desafia os pés descalços. A água, vinda do degelo das montanhas, é absurdamente fria — só de olhar, já dava pra imaginar. Foi ali que encontramos um brasileiro vendendo Fernet com Coca na beira da praia. Aquela combinação tradicionalmente argentina, que até então eu encarava com desconfiança. Batemos um papo rápido. Ele me lembrou da época do meu primeiro mochilão — devia ter a mesma idade que eu tinha naqueles tempos. Compramos um copo... depois outro. E ali, sentado sob o sol andino, apreciamos aquela tarde. Nicolas resolveu testar a água. Se aproximou, entrou devagar... e mergulhou de cabeça. Eu, do meu canto, ainda sentia frio mesmo ao sol, mas diante daquele ato de coragem, não podia ficar pra trás. Levantei sem pensar, corri até a margem e me atirei também. O impacto da água gelada foi de tirar o fôlego, mas aos poucos o corpo vai se adaptando. O pior, na verdade, era caminhar sobre o cascalho — uma tortura silenciosa, mas que também faz parte da experiência. À noite, após nossa ceia — que, por sinal, contou com lentilha (porque tradição é tradição) e um risoto improvisado como prato principal — saímos para ver a virada do ano. Foi um momento estranho, silencioso até demais. Nada de fogos, festas ou agitação. Para quem está acostumado com o Réveillon brasileiro, tudo pareceu um tanto sem graça. Mas talvez fosse só diferente. E talvez fosse exatamente isso o que a gente precisava para começar o novo ano: silêncio, paisagem, e uma taça erguida sob o céu estrelado. 2 Citar
Membros Gbecker92 Postado Junho 28 Autor Membros Postado Junho 28 (editado) Dia 07 — A ruta dos lagos (o dia em que Bariloche nos ganhou) Como no primeiro dia do ano a maioria dos parques estava fechada, aproveitamos para conhecer a Ruta de Los Siete Lagos — uma estrada que liga Villa La Angostura a San Martín de los Andes, conhecida como uma das rotas mais bonitas do mundo. Saímos pela manhã e logo encontramos a entrada da famosa estrada. Já nos primeiros quilômetros fomos presenteados com paisagens de tirar o fôlego, transformando o simples ato de dirigir pela mítica Ruta 40 em uma experiência memorável. Pelo caminho, parávamos em diversos mirantes para apreciar a natureza e fotografar a imensidão ao redor. Uma dica que fez toda a diferença nessa viagem foi levar um guia impresso — no nosso caso, o Lonely Planet Argentina. Além de trazer mapas, indicações de hotéis e restaurantes, o guia oferece sugestões de locais menos explorados. Foi assim que descobrimos a Villa Traful. No mapa, parecia uma escapada rápida, mas a estrada de cascalho e os obstáculos do trajeto tornaram a ida uma pequena aventura — principalmente para quem estava a bordo de um Renegade 4x2. Mas cada sacolejo valeu a pena. Chegar àquele vilarejo escondido aos pés de uma montanha, banhado por um lago que refletia a paisagem como um espelho, foi como encontrar um refúgio secreto no meio da Patagônia. Depois de um almoço simples e prático — atum com batata enlatada — alugamos caiaques para remar pelo lago. Formamos duplas e nos lançamos em direções diferentes, cada um querendo explorar um pedaço daquele silêncio. E que silêncio... apenas o som suave do remo cortando a água, que era tão límpida que, nas partes mais rasas, permitia ver até o fundo. O tempo passou sem que notássemos. Quando nos demos conta, já era hora de devolver os caiaques. A atmosfera daquele lugar era única. Molhamos os pés na água gelada, registramos o momento em algumas fotos e voltamos à Ruta 40, com a alma leve. Chegamos a San Martín de los Andes no final da tarde — não sem antes parar em alguns dos lagos ao longo do caminho. A cidade nos recebeu com sua baía salpicada de veleiros, envolta por montanhas. Era uma visão encantadora. Menos turística que Bariloche, San Martín exalava charme em cada esquina. Caminhamos sem pressa até encontrar a Mamuska (famosa loja de chocolates e sorvetes), onde provamos um sorvete de frutas patagônicas sem igual. No caminho de volta a Bariloche, o entardecer pintou o céu em tons quentes — um encerramento perfeito para um dia que nos ofereceu beleza, silêncio e um pouco de aventura. Editado Junho 28 por Gbecker92 1 3 Citar
Membros Este é um post popular. Gbecker92 Postado Junho 28 Autor Membros Este é um post popular. Postado Junho 28 Dia 08 — Montanhas, trilhas e o melhor jantar da viagem Começamos o dia visitando o Cerro Campanário. A subida de teleférico já anunciava o que nos aguardava no topo: uma das vistas mais privilegiadas da região. Lá de cima, o cenário dos lagos e montanhas era tão deslumbrante que, por si só, renderia um quadro. Tiramos fotos, mas a verdade é que nenhuma imagem consegue capturar completamente o que os olhos viram ali. Em seguida, seguimos pelo Circuito Chico até o Llao Llao Resort, um hotel icônico que, mais do que hospedagem, é também ponto turístico. A parada valeu a pena: sua arquitetura charmosa, cercada pela natureza, já era suficiente para impressionar. Logo depois, fomos em busca de um lugar para almoçar — e não demorou até encontrarmos uma verdadeira joia escondida: o restaurante Bechamel Club, dentro de um campo de golfe. A decoração rústica, no estilo cabana requintada, combinava perfeitamente com o clima da cidade. Almoçamos com vista para o campo, em um ambiente sereno e acolhedor, daqueles que fazem a refeição parecer mais saborosa só pelo cenário. De estômago cheio e ânimo renovado, partimos para nossa primeira trilha da viagem, no Parque Municipal Llao Llao. A caminhada até o Mirador do Lago Moreno foi leve, com paisagens tranquilas ao redor. Mas, em seguida, encaramos uma trilha de nível moderado. Depois de alguns minutos subindo, a inclinação ficou mais acentuada e a trilha apontava direto para o alto da montanha. Juliana preferiu não seguir, então decidimos esperar enquanto Nicolas e Bárbara continuaram sozinhos. Cerca de uma hora depois, eles retornaram animados, descrevendo a vista como recompensadora — uma daquelas paisagens que te fazem esquecer o cansaço da subida. Ficamos com um certo arrependimento, mas também com a certeza de que cada um vive a viagem ao seu próprio ritmo. Com o sol já se pondo, decidimos voltar para casa. No caminho, fizemos uma parada estratégica em uma peixaria — e chegamos no limite: fomos os últimos clientes atendidos. Um casal chegou dois minutos depois e ficou do lado de fora, sem sorte. Nossa ideia era comprar salmão, mas o preço nos desanimou. Foi então que a atendente, simpática, nos apresentou um peixe típico da região, de aparência e sabor muito semelhantes, mas com um detalhe irresistível: o preço era uma pechincha. Enquanto o pessoal tomava banho e preparava os acompanhamentos, fiquei responsável pela parrillera. Acendi o fogo com calma, cerveja Patagonia na mão e o céu estrelado acima — um cenário perfeito para encerrar o dia. Mantive as brasas vivas no tempo certo, deixando o peixe assar devagar, até atingir o ponto ideal. Foi, sem dúvida, nosso melhor jantar em Bariloche. Recebi elogios, brindamos, conversamos e, exaustos depois de um dia cheio de paisagens e caminhadas, fomos dormir com aquela satisfação serena de quem aproveitou bem cada momento. 2 3 Citar
Membros ThiagoHM Postado Junho 29 Membros Postado Junho 29 Bons relatos e fotos Gbecker, continue postando! Citar
Colaboradores luizh91 Postado Junho 29 Colaboradores Postado Junho 29 (editado) Acompanhando! Ótimo relato e as fotos estão lindas! A Argentina é fantástica! Editado Junho 29 por luizh91 Citar
Membros Gbecker92 Postado 15 horas Autor Membros Postado 15 horas Em 29/06/2025 em 11:53, ThiagoHM disse: Bons relatos e fotos Gbecker, continue postando! Em 29/06/2025 em 13:25, luizh91 disse: Acompanhando! Ótimo relato e as fotos estão lindas! A Argentina é fantástica! Gracias por acompanhar! Vamos adelante! 1 Citar
Membros Gbecker92 Postado 15 horas Autor Membros Postado 15 horas Dia 09 – Mutucas, trilhas e cerveja com vista de cinema Acordamos mais tarde nesse dia, sem pressa. A Ju e eu aproveitamos a manhã para dar uma volta pelo centro e, na volta, paramos em uma banquinha à beira da estrada para comprar frutas patagônicas fresquinhas. Levei uma porção de framboesas que, sem exagero, foram as melhores que já comi. Depois de um café reforçado, seguimos para mais um dia de trilhas. Começamos pela Cascata dos Duendes, um caminho curto e tranquilo. A Ju preferiu ficar por lá mesmo, curtindo o som da água e a sombra das árvores, enquanto eu, o Nicolas e a Bárbara decidimos encarar a subida até o Mirador do Lago Gutiérrez. A trilha parecia simples... até as mutucas entrarem em cena. Sim, mutucas. Aquelas moscas grandes que perseguem como se tivessem radar. E vinham em bando. Corríamos, nos escondíamos, xingávamos — e logo apareciam outras. Foi uma cena caótica: andar, bater nas pernas, espantar com a mão, tentar não tropeçar. Uma trilha de resistência física e emocional. Depois de muito suar (e lutar contra as criaturas voadoras), chegamos ao topo. O visual compensava tudo. Lá de cima, o Lago Gutiérrez se estendia tranquilo, refletindo o céu claro. Fizemos algumas fotos e respiramos fundo. A lembrança daquele momento ficou dividida entre o cenário deslumbrante e o tormento das mutucas. De lá, seguimos para a charmosa Villa Suiza — uma vilinha organizada, com lojinhas de produtos locais e clima de cartão-postal. Demos uma volta, compramos alguns souvenirs e pegamos a estrada novamente. No fim da tarde, chegamos à cereja do bolo do dia: a Cervejaria Patagonia. Que lugar. A arquitetura rústica e elegante se encaixa perfeitamente no cenário: vista para o lago, montanhas ao fundo, gramado bem cuidado e um pôr do sol dourando tudo. É daqueles lugares que dá vontade de não ir embora. A Ju e eu fizemos a degustação guiada — e valeu cada gole. Aprendemos sobre o processo de produção, desde a escolha dos ingredientes até a fermentação, com um detalhe curioso: a água utilizada ali vem diretamente do degelo da Patagônia. Provamos várias variações, mas a que mais nos marcou foi uma cerveja escura harmonizada com chocolate amargo. Uma combinação inusitada que funcionou absurdamente bem. Enquanto isso, o Nicolas e a Bárbara estavam no salão principal, tomando uma Patagonia gelada e admirando a paisagem. Nos reunimos ao final do dia para uma partida de pebolim — risadas, competitividade e vista cinematográfica ao fundo. Um brinde final àqueles pequenos grandes momentos que fazem uma viagem inesquecível. Citar
Membros Gbecker92 Postado 15 horas Autor Membros Postado 15 horas Dia 10 — Despedida com vista e medialuna Nosso último dia em Bariloche já começou com aquele típico clima de despedida. Deixamos para visitar o Cerro Otto, que ficava bem próximo à nossa acomodação. A subida até o cume é feita por um teleférico — e, do topo, é possível ver toda a cidade. Lá de cima, a vista é ampla e impressionante. No inverno, o local se transforma em uma estação de esqui, mas mesmo fora da temporada já valia a visita. Tiramos boas fotos e aproveitamos para tomar um café com medialuna no restaurante giratório. À tarde, voltamos ao centro para comprar algumas lembranças da viagem e abastecer o carro para a longa jornada de volta. Para a noite, tínhamos um plano especial: jantar em um restaurante que a Juliana estava querendo conhecer desde que chegamos. Saímos cedo, animados… mas, ao chegar, descobrimos que havia fila de espera. Ficou para uma próxima. Tentamos outras opções — todas lotadas ou fechadas. No fim, não conseguimos jantar em nenhum dos restaurantes que ela queria. Dá pra imaginar o humor da Ju depois disso. Mesmo assim, nos despedimos de Bariloche com aquele sentimento bom de quem viveu dias intensos, cheios de paisagens, sabores, silêncios e risadas. Era hora de seguir viagem, mas uma parte nossa já tinha ficado ali. 1 Citar
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