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Índia: experiências e dicas de quem morou no país


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Não vou mentir pra vocês: viver na Índia é desafiador. Não que seja ruim, muito pelo contrário, é um aprendizado atrás do outro, mas fácil também não é. Conheço muita gente que foi à Índia e fala maravilhas do país, só traz de volta impressões positivas. Isso costuma acontecer para quem visita o país de férias. Como a Índia é um dos países mais baratos do mundo para se viajar (eu gastava ridículos U$ 13 por dia), quem sai do Brasil pra ficar um mês por lá costuma ter a vida de um marajá, sendo poupado de todos os problemas do país.

 

Esse não foi o nosso caso. Desembarcamos na Índia para fazer um intercâmbio de 6 meses. Fomos trabalhar numa empresa de tecnologia da informação (IT), em Chandigarh, uma cidade planejada no norte da Índia. Escolhemos Chandigarh porque ela tem a fama de ser a mais moderna e limpa cidade do país, muito embora não seja uma cidade turística.

 

Nós ganhávamos U$ 300 por mês. E acredite: esse valor era o bastante para pagar todas as contas, incluindo o aluguel de uma casa bem confortável, e ainda viajar uma vez por mês. Mas na lógica local, claro, ou seja vivendo como um típico indiano médio, convivendo com as mesmas coisas e os mesmos problemas que eles convivem.

 

Vou focar o relato nas viagens que nós fizemos ao longo dos 6 meses em que moramos por lá. Aproveitamos muitos finais de semana para viajar em cidades que ficam perto de Chandigarh. Assim conhecemos McLeod Ganj, que fica no Himalaia indiano. É uma vila muito simpática, uma daqueles lugares exóticos que a gente nunca acredita que existe até pisar lá. McLeod tem fama internacional por ser a casa do Dalai Lama, assim como de todo o governo em exílio do Tibet. Essa foi nossa primeira viagem no país, e mesmo depois de muitos meses e muitos outros lugares, McLeod permaneceu como nosso lugar favorito.

 

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Também durante um final de semana conhecemos Rishkesh, a cidade que fica às margens do rio Ganges, num trecho onde o rio acaba de sair do Himalaia indiano e ainda é limpo. Foi nessa cidade que os Beatles ficaram durante 3 meses,na década de 60. A cidade tem uma aura única, e também é um lugar superlegal. Lá é possível, acredite se quiser, fazer rafting no Ganges. Nós fizemos e foi uma experiência única.

 

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Também durante um fim de semana nós conhecemos as cidades de Amritsar, que fica na fronteira entre a Índia e o Paquistão; e Manali, encravada no Himalaia. A primeira é famosa por ser a cidade mais sagrada paras os sikhs, aquela religião em que os homens usam turbantes e os fiéis não cortam os cabelos, simplificando ao máximo a explicação. Já Manali é uma estação de esqui (!) na Índia. Lá vimos neve. Muita neve. Sim, a Índia também pode ser fria.

 

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Durante o réveillon de 2011/2012 fizemos nossa primeira viagem mais longa pelo país. Pegamos um avião e fomos para Mumbai, que é simplesmente fantástica. Uma cidade enorme, completamente confusa e muito cosmopolita. De lá pegamos um ônibus e fomos até as praias mais famosas da Índia: Goa.

 

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Para quem não sabe, Goa era parte de Portugal até 40 anos atrás. Ou seja, os nomes das ruas estão em português, você encontra gente que fale português (embora não seja muito comum) e a arquitetura das casas e igrejas (católicas) lembra em muito o Brasil. É absolutamente fantástico ver um pedaço de terra tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente do nosso país (afinal, é a Índia!).

 

Goa é um contraste dentro da Índia. Lá você encontra russas fazendo topless nas praias e, ao mesmo tempo, milhares de indianos que viajam e se aglomeram nas praias justamente para ver russas fazendo topless. Enfim, não é uma boa ideia fazer isso por lá.

 

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Quando acabamos nosso intercâmbio resolvemos viajar mais ainda. Foi assim que conhecemos o Rajastão, o estado indiano dos marajás. Sabe aquela imagem da Índia que a gente tem da TV? A que envolve elefantes, um lugar quente, encantadores de serpentes e mulheres de roupas coloridas? Tudo isso você acha no Rajastão. Foi lá que muitas cenas da novela caminho das Índias foram gravadas. Inclusive, em Jaipur um senhor fez questão de me mostrar uma foto dele coma Juliana Paes assim que eu disse que era do Brasil. Hehehe

 

No Rajastão estivemos nas cidades de Jaipur, Udaiupr, Jodhpur e Jaisalmer. Na última fizemos um safári de camelo do deserto do Thar, que fica na fronteira entre a Índia e o Paquistão e foi onde os indianos testaram sua primeira bomba atômica, na década de 70. Foi fantástico dormir no deserto e ver como o povo local vive, cozinha, come dorme, etc...

 

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Do Rajastão fomos para Kajuharo,a famosa cidade dos Kama Sutra Temples, que fica na outra ponta do país. São vários templos, com imagens de sexo de tudo quanto é tipo, inclusive com animais (!). E complicado entender a razão para uma sociedade que produziu isso ser hoje tão conservadora.

 

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De lá, seguimos de trem até Varanasi, a cidade mais sagrada para os hindus e onde acontecem as famosas cerimônias de cremação às margens do Ganges. Não há palavras para descrever Varanasi!! É um lugar inacreditável. Fede a urina e há fezes para todos os lados. O rio Ganges é absolutamente poluído, e há relatos que dizem que milhares de corpos são vistos boiando por lá, todos os anos. Ainda assim, o lugar tem uma aura extraordinária, e assistir uma cerimônia religiosa na beira do rio é uma daquelas coisas inesquecíveis.

 

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De Varanasi, seguimos para Calcutá, na pior viagem de trem de nossas vidas. Um conselho: se for viajar de trem na Índia, viaje numa classe mais confortável. Nós não fizemos isso nesse trecho, e a viagem foi tensa. Em Calcutá não há nada pra fazer. Não conselho ninguém a passar por lá.

 

Alguma semanas depois começamos a parte mais complicada da viagem, que foi no sul a Índia. Viajamos de trem pelos estados do Tâmil Nadu e do Kerala. Novamente, enfrentamos dificuldades por conta do nosso baixo orçamento de viagem. Ficávamos em hotéis ruins e os ônibus caiam aos pedaços (literalmente). O Tâmil Nadu é um estado que atrai muito turismo interno. Hindus visitam várias cidades da região, que são sagradas e têm templos enormes. No Tâmil o racionamento de energia é regra, e muitas cidades não têm eletricidade por até 8 horas por dia!! Imagina isso num calor de mais de 40 graus! Dormir sem ventilador era impossível.

 

Já o Kerala é um dos estados mais desenvolvidos da Índia e que foi recentemente descoberto por turistas europeus. Tem lugares interessantes, e uma vegetação completamente diferente da que vimos no norte do país.

 

Ainda passamos por Bangalore, Hyderabad, Hampi e Nova Délhi. Destaque para Hampi, que é patrimônio da humanidade. Lá ficam as ruínas de uma cidade que foi a segunda maior do mundo há 500 anos, onde viviam centenas de milhares de pessoas.

 

Faltou o que? Sim, ele, o Taj Mahal, maior monumento da Índia e símbolo máximo do país. O Taj fica numa cidade perto de Nova Délhi (mais ou menos umas 3 horas) que se chama Agra. E sim, ele é lindo. Dá só uma olhada na foto!

 

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O resumo é: gostamos muito da Índia, é um país incrível, mas cheio de desafios. Toda hora alguém te para na rua querendo conversar. Isso é legal nos primeiros dias, mas começa a incomodar depois de alguns meses. Além disso, as mulheres sofrem assédio dos homens muito frequentemente, então é necessário usar roupas muito discretas e ter muito cuidado.

 

Higiene e comida são outros desafios. E vale destacar também o trânsito, que é uma loucura. É um país completamente diferente do nosso, então é lógico que ocorra um choque de culturas e valores.

 

Pra quem quer conhecer a Índia, mas tem pouco tempo, a dica é conhecer o norte: Agra, a cidade do Taj Mahal, e o Rajastão não podem faltar em nenhuma viagem. Varanasi também é fundamental. E tenta incluir também Amritsar (só por causa do Golden Temple, a cidade é horrível) e principalmente McLeod Ganj e Rishkesh, que foram nossos dois lugares favoritos no país! Tudo fica no norte e é possível ir de trem (menos em McLeod. Para ir lá é preciso ir de ônibus ou de carro).

 

Vamos postar mais relatos aqui aos poucos para ajudar quem pretenda visitar a Índia, mas por hora vamos parar por aqui já que esse post está enorme! Quem quiser mais informação pode dar uma passada lá no 360meridianos. Tem muito material lá! :D:D:D

 

A Índia é um desafio e tanto para mochileiros! ::otemo::::otemo::

 

Abraços!

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  • 2 meses depois...
  • 6 meses depois...
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Olá! Bom, é necessário ter algumas precauções, tipo usar roupas longas, evitar grandes aglomerações e evitar o uso de transporte público. Também não é uma boa ideia andar sozinha de noite. O ideal, francamente, é achar uma companhia. Dá uma olhada nesses dois textos aqui:

 

http://www.360meridianos.com/2012/01/as-mulheres-na-india-ou-falta-delas.html

 

http://www.360meridianos.com/2013/02/guia-para-mulheres-india.html

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  • 3 semanas depois...
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Tenho um ex namorado indiano e quando fui a India fiquei hospedada na casa da familia dele. É uma cultura muito interessante! Os indianos por norma não namoram e o meu caso foi por ele já não morar mais na India há muitos anos. Quando eu resolvi conhecer a India o namoro já tinha acabado, mas quando cheguei na casa da familia dele (em Chandigarh) fui tratada como nora/cunhada. Deram-me os tradicionais presentes que dão as noras (roupas tradicionais e jóias), meus ex-cunhados chamavam-me "didi" ("irmã mais velha", na India a esposa passa a ser da familia) e na rua, as pessoas são muito curiosas e quando perguntavam a resposta era "my brother's fiancee"

Durante minha estadia fui tratada como princesa, tinha empregados a fazer-me coisas e não me deixaram gastar uma rupia com nada. Compravam-me, além de roupas e jóias, sandálias, make, lenços, acessórios... Levaram a vários lugares de carro. Não experimentei o famoso transporte publico da India, apenas o tuck tuck por insistência minha. Não saía sozinha para lugar nenhum e o meu ex ligava 4 vezes por dia para ter a certeza que eu não tinha saído sozinha. LOL Amei, amei. Já tinha paixão pela India, agora que ganhei lá uma família nem se fala. Em novembro a irmã dele vai casar e ela me quer lá, fazendo o papel da irmã mais velha...

Adorei o seu relato e quando li que ficou em Chandigarh senti muita nostalgia... Sukhna Lake, Rocks Garden, Sector 17 ... :):D

Vivi como eles, comendo com as mãos, acordando com o chai e tomando aquele café da manhã que mais parece um almoço, aprendi a fazer pulao e roti com a empregada da casa, ia aos templos e repetia os rituais com eles sem saber bem o que significava e amei, mas confesso que queria ter vivido assim como vc fez, com mochila às costas e se jogando em tudo, mesmo como turista, é mais a minha cara (por isso meu ex ligava, já sabe como sou).

Vou seguir seu blog. Bjs

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