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Bolívia, Peru e Chile (com trilha Salkantay) - 27 dias - Agosto/2013


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# 12º dia - 16/08 - Cusco

 

Acordei meio de ressaca da noite anterior. O Alan chegou com o dia já claro, eram umas 7 da manhã. Acabamos os três dormindo até mais tarde nesse dia, acho que acordamos depois do meio-dia. Quando acordamos fomos procurar um lugar pra comer e fechar os passeios do Valle Sagrado e Machu Picchu. Cotamos em algumas agências e acabamos fechando para o dia seguinte o Valle Sagrado, por 40 soles, e um city tour por 20 soles pro dia 18/08.

 

Antes de viajar eu já havia contatado a agência Inca Peru Travel, através do site Brasil de Mochila, para fechar a trilha Salkantay. Estava com medo de chegar em Cusco e não ter mais vagas. Mas lá descobri que isso foi desnecessário. Pra trilha Salkantay ou pro pacote de Machu Picchu de 1 dia sempre há vagas, independente do dia em que você chegue em Cusco. Basta procurar uma das milhões de agências na Plaza de Armas. Os preços basicamente são os mesmos em todas. A única trilha que deve ser fechada com bastante antecedencia é a Trilha Inca, se não me engano a lista de espera é de 3 a 4 meses.

 

Pela Inca Peru Travel, o pacote de 5 dias da trilha Salkantay custa 290 dólares, com Machu Picchu incluso. Em agências na Plaza de Armas cheguei a encontrar por 230 dólares. Como eu já havia pago antecipado 150 dólares antes de viajar, fui procurar a agência Inca Peru pra completar o que faltava e conhecer os detalhes do serviço. O Alan resolveu fazer a trilha também. O Leandro iria voltar pro Brasil no dia 25/08, então não ia dar tempo dele fazer a trilha com a gente. Então, fomos eu e o Alan até a agência. Ela não fica nos arredores da Plaza de Armas, onde estão a maioria das agências. Mas é fácil de encontrar, fica a umas 4 quadras da Plaza. Lá conversamos com o Rimber, dono da agência, que nos explicou detalhadamente tudo o que estava incluso: café da manhã, almoço, café da tarde e jantar nos 4 primeiros dias, guia falando português durante toda a trilha, cavalos e carregadores pra levar as mochilas pesadas, cozinheiros e ajudantes de cozinha, e barracas duplas. Tive que alugar um saco de dormir também, a 15 dólares. O Alan disse que não dormia em saco de dormir porque se sentia preso, então resolveu não alugar. O Rimber ainda nos disse que seria um grupo de 10 brasileiros, então já imaginamos a bagunça que iria ser. Acabamos fechando lá mesmo e fomos pra Plaza de Armas comer e passar o tempo.

 

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O Alan teve a idéia de procurar uma lan house pra passar as fotos da câmera pra um DVD, afinal já tinham se passado 12 dias de viagem. Imagina perder todas as fotos tiradas até agora? Essa foi a decisão mais sábia da viagem (saiba mais nos próximos capítulos).

 

A noite ficamos no bar do Wild Rover, pra variar, e foi praticamente a mesma coisa do dia anterior. Deu 1 da manhã, fomos pra rua e no lugar da van, dessa vez tinha uma Kombi conversível (!) esperando pra levar pra balada. Fomos todo mundo em pé dentro da Kombi, acenando pro pessoal na rua e fazendo a maior zona. Dentro da Kombi ganhamos umas pulseiras VIP e o motorista nos deixou no The Temple, uma balada bem grande. Mais uma vez, não lembro muito o que aconteceu lá dentro, só sei que toda hora que eu encontrava o Alan perdido na pista ele vinha todo feliz com uma garrafa de Brahma encher meu copo. De novo voltei pro Wild Rover sozinho, mas desta vez ainda encontrei uma barraquinha de sanduíche no meio do caminho. Depois de ingerir a bomba chamada sanduíche voltei andando e nem sei como encontrei o caminho, porque o The Temple fica a umas quadras da Plaza de Armas, só não sei em que direção. Cheguei no Wild Rover e capotei.

 

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# 13º dia - 17/08 - Cusco / Valle Sagrado

 

O Alan mais uma vez chegou no Wild Rover com o sol raiando, mas desta vez nem vi. Acordei com ele na cama de baixo do beliche assustado e falando que não encontrava a câmera. Revirou todo o armário, a mochila, e nada. Ele só lembrava que havia levado a câmera pra balada, afinal era o aniversário dele (era hoje, dia 17, mas como já tinha passado da meia-noite ele resolveu levar pra tirar fotos). Procuramos em todos os lugares e enfim ele se conformou que sua câmera tinha ido pro vinagre. Felizmente no dia anterior ele teve a brilhante idéia de gravar as fotos num DVD, então dos males o menor.

 

Acordamos, tomamos café no Wild Rover e ficamos esperando o ônibus que ia nos levar pro tour do Valle Sagrado. Passaram no hostel 9 horas pra nos buscar e fomos com mais umas 15 pessoas no micro-ônibus. A primeira parada foi em Pisaq, um sítio arqueológico bem bacana. Lá também compramos o boleto turístico que dá acesso a várias atrações de Cusco. Pagamos 130 soles. Depois de Pisaq paramos pra almoçar num restaurante em Urubamba, que não estava incluso no tour e custava 20 soles, buffet self-service com comida meio esquisita. No almoço conhecemos duas paulistas, a Paty e a outra Paty. Depois de almoçar seguimos pra Ollantaytambo, outro sítio arqueológico, com uma escadaria imensa mas uma vista incrível de lá de cima. De acordo com o programado ainda conheceríamos Chinchero, mas na saída de Ollantaytambo havia um congestionamento fenomenal. Ficamos parados por mais de 1 hora até uma carreta conseguir manobrar e sair do meio da rua. Ollantaytambo tem ruas estreitas e pequenas, na minha opinião não faz muito sentido um caminhão carreta passar por ali. Passado o congestionamento já estava ficando escuro, então a guia Jenny perguntou se ainda queríamos ir para Chinchero. Como a maioria decidiu não ir, seguimos pra Cusco, onde chegamos umas 8 da noite. Nesse dia ficamos um pouco no bar do Wild Rover, saí pra comer no McDonald's na Plaza de Armas e voltei pro hostel. Lembro que dormi cedo.

 

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# 14º dia - 18/08 - Cusco / City Tour

 

Acordamos cedo pra nos despedir do Leandro porque ele não ia fazer a trilha Salkantay com a gente. Como ele tinha menos dias no roteiro, iria hoje mesmo pra Machu Picchu. Depois de 13 dias os três juntos já o considerava um irmão pra mim, então foi meio triste ele ir embora, mas paciência. Acabamos ficando eu e o Alan. Ele resolveu voltar na loja onde gravamos os DVDs pra perguntar onde poderia comprar uma câmera nova e barata. Os donos da loja, o Benny e a Benny (Benedito e Benedita) eram muito simpáticos, conversamos um bom tempo sobre política, economia, novelas brasileiras e mais um monte de assuntos. Quem precisar de serviços de gravação de CD ou DVD sugiro passar lá e bater um papo com eles. A Benny indicou um mercado popular um pouco distante do centro, o Molinos, onde haveria aparelhos eletrônicos mais baratos. Pegamos um táxi e por 3 soles nos deixou lá, fica perto da rodoviária. Parece uma Rua 25 de Março, mas menor. Tem de tudo, câmera, televisão, camisetas de time falsas, comida, bebida, ferragens, brinquedos, etc. O Alan acabou comprando lá uma câmera igual a que ele perdeu, pagou 250 soles. Também comprou um cobertor por 18 soles, afinal no dia seguinte iríamos começar a trilha Salkantay e ele não tinha alugado o saco de dormir.

 

Voltamos pro hostel e esperamos o ônibus do city tour, que passou às 14h. A primeira parada foi em Qoricancha, uma catedral bem próxima da Plaza de Armas. Eu não sou muito fã de igrejas e catedrais, então pra mim foi um pouco entediante. Em seguida fomos pra Sacsayhuaman (ou Sexy Woman), um sítio arqueológico bem legal, com pedras enormes encaixadas umas nas outras. Sem explicação, coisa de extraterrestre. Depois visitamos os sítios de Tambomachay, Qenqo e Puka Pukara (não necessariamente nessa ordem) e retornamos pra Cusco por volta das 21h. Voltando pro Wild Rover encontramos as Paty's e elas acabaram indo pra lá com a gente comer e tomar uma cerveja, mas foram embora cedo. Nesse dia eu não tava muito bem do estômago e resolvi não abusar, afinal no dia seguinte começaríamos bem cedo a Salkantay e eu queria estar 100%. Nunca havia feito uma trilha desse porte, então não sabia muito bem o que me esperava. O Alan resolveu ir pra balada e foi parar no The Temple, o mesmo lugar onde ele perdeu a câmera. Dessa vez, felizmente ele não levou a câmera. Deitei pra descansar e acabei dormindo.

 

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# 15º dia - 19/08 - Trilha Salkantay

 

Acordei 5h da manhã pois a van da Inca Peru Travel passaria às 5h30 para nos levar até o início da trilha. O Alan chegou da balada 4h da manhã, então imagina o estado em que ele estava. Depois de ter quase derrubado a cama e jogado uma garrafa de água na cabeça dele, enfim ele conseguiu levantar da cama. Eu resolvi levar a mochila cargueira e a de ataque para a trilha, afinal teriam cavalos e carregadores durante todo o trajeto. Depois vi que foi uma burrada, porque acabei não usando quase nada da mochila cargueira. O Alan deixou a dele no Wild Rover e só levou a pequena. Às 5h40 a van chegou e embarcamos. Passamos em outros três hotéis pra pegar o resto dos brasileiros que iriam conosco. Logo que nos conhecemos, mesmo todo mundo com cara de sono, já fizemos amizade e o clima foi bem legal. Eram 9 brasileiros. E brasileiro que é brasileiro faz amizade até na fila do banco.

 

Nosso grupo então estava formado: eu, Alan, um casal de paulistas (Daniel e Mariana), outro paulista que estava sozinho (Cláudio), e uma família do interior de São Paulo (o casal Alê e Néia e os primos Daniel "Polito" e PC). Todos dentro da van e paramos na saída de Cusco pra buscar um dos cozinheiros que nos acompanharia, nisso o Alan percebeu que esqueceu as duas blusas no Wild Rover. Bateu um pânico, afinal pegaríamos frio durante boa parte da trilha, ou seja, ir sem blusa seria um suicídio gelado. Ele pediu pra van voltar mas o motorista disse que não poderia e sugeriu que ele pegasse um táxi pra ir e voltar. Foi o que ele fez. Chegando no Wild Rover só havia uma das blusas no quarto, a outra misteriosamente desapareceu (ou no popular, foi furtada). Mesmo depois de bater boca com o Raul, o segurança do hostel, não teve jeito. Foi o único ponto negativo do Wild Rover na viagem toda.

 

De volta a van, partimos finalmente para o início da trilha, em Mollepata. No caminho ainda paramos pra tomar café num restaurante. Chegamos no início da trilha por volta das 10h. Finalmente iria conhecer meus limites e saber se eu, um alcóolatra sedentário, iria aguentar 4 dias de caminhada. O guia era o Fisher, um peruano que fala português melhor que muito brasileiro. Uma figura, muito gente boa, recomendo para quem quiser se aventurar na trilha Salkantay procurar ele. O Facebook é Fisher Chavez (facebook.com/fisher.chavez).

 

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Já no início da trilha pegamos uma baita subida e o ar começou a faltar. Dá-lhe folha de coca! A folha de coca realmente combate o mal da altitude, é como se fosse um "turbo" no organismo", mas o efeito dela passa depois de uns 10 minutos e logo o ar falta novamente. Depois de 1 hora subindo, finalmente começamos a caminhar no plano. Mais 2 horas andando chegamos a Soraypampa, ponto do primeiro almoço. Quando chegamos já estava tudo preparado: mesas, cadeiras, bacia com água quente pra lavar a mão, barraca-cozinha, banheiro químico. Sinceramente eu me surpreendi com o trabalho dos carregadores e cozinheiros. Eles conseguem fazer o impossível durante os 4 dias e sempre estão sorrindo, brincando, mesmo sem falar espanhol (eles falam quéchua e pouco entendem o espanhol, quem dirá o português). Um dos cozinheiros, a quem apelidamos de Ligeirinho, estava sempre correndo e rindo de qualquer coisa. Nesse primeiro almoço tinha sopa, arroz, peixe com molho, batata (um dos 4.504 tipos de batata peruana), legumes e abacate. Ainda tinha uma sobremesa que eu não lembro e suco. Almoçamos, descansamos uns 20 minutos e voltamos pra trilha. Mais 3 horas caminhando, dessa vez sempre subindo, chegamos a uma visão incrível de uma lagoa no pé de uma montanha nevada. Confesso que cheguei lá em cima no meu limite e quase desisti, mas ao apreciar aquela vista percebi que valeu a pena cada ar (não) respirado. O Fisher disse que não leva muitas pessoas até lá porque geralmente chegam naquele ponto ao anoitecer. Ficamos sentados uns bons 20 minutos naquele paraíso e logo começamos a descer até o primeiro acampamento. Lá haviam várias barracas de outros grupos já montadas e um mini-mercado. Chegamos lá já de noite, com uma Lua incrível entre as montanhas. Dentro do mini-mercado tinham mesas e uma cozinha, usada pelos cozinheiros de todas as agências. Tomamos chá com pipoca e logo chegou o jantar, basicamente o mesmo do almoço. Apesar de estar sempre muito gostoso, as refeições eram quase as mesmas, só mudava peixe por frango, arroz por macarrão, mas no geral era um padrão. A surpresa desse dia veio na sobremesa, um mousse de chocolate com confeitos. Logo depois de comer fomos dormir, por volta das 9h da noite. As barracas e os sacos de dormir já estavam todos montados. Era só entrar e capotar. Depois de andar sei lá quantos quilômetros eu dormi igual uma pedra.

 

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# 16º dia - 20/08 - Trilha Salkantay

 

Os cozinheiros passam de barraca em barraca, às 5h da manhã, acordando a gente com um chá de coca. Levantamos e fomos tomar café no mini-mercado. Café, chá, chocolate, pão, manteiga, geléia, ou seja, o café-da-manhã boliviano/peruano. Os cozinheiros ainda deram uma maçã e uma barra de cereal pra cada um, pra levarmos na trilha. Desmontadas as barracas, arrumadas as malas, escovados os dentes, às 6h30 começamos a caminhar. O Fisher logo alertou que este seria o dia mais cansativo, mas o mais bonito de todos. Basicamente a primeira parte do segundo dia, até o horário do almoço, é só subida. Em poucas horas subimos de 3500 para 4600 metros de altitude. Nesse intervalo é óbvio que eu parei pra descansar, respirar e mascar folha de coca umas 412 vezes. Realmente é bastante cansativo, até mesmo pros experientes em trilhas. Mais uma vez pensei em desistir, pensei em chorar, pensei em chamar minha mãe, pensei "que porra que eu tô fazendo aqui?", mas continuei andando. O ápice do segundo dia é a chegada aos pés do Nevado Salkantay, a 4600 metros de altitude. Ainda faltava um bom pedaço mas eu já consegui avistar lááááá em cima o alvo. Ao ver aquela paisagem deslumbrante disse pra mim mesmo que chegaria lá, não importa como, mas chegaria. Provavelmente eu estava sobre efeito da altitude + folha de coca + maluquice, porque eu nunca diria isso pra mim mesmo em sã consciência. O fato é que eu cheguei lá! Pode parecer conversa de doido, mas pra mim foi uma vitória imensa. Eu não frequento academia, raramente faço exercícios físicos, não corro, bebo com frequência, como batata frita com bacon, ou seja, levo uma vida nada saudável. Por todos esses motivos é que me surpreendi comigo mesmo, de ter feito tal loucura. E por isso que incentivo a todos fazerem esta trilha, mesmo não tendo experiência alguma como eu. É possível, basta ser maluco e ter força de vontade (e um joelho de ferro... aliás o meu dói até hoje).

 

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Voltando ao relato, chegamos aos pés do Salkantay e o Fisher nos deu uma aula sobre a montanha, falou das lendas, das tradições, muito interessante. Em seguida ele disse que iria nos mostrar uma outra lagoa parecida com a que vimos no primeiro dia, mas que o caminho até lá era difícil porque não havia trilha. Teríamos que caminhar sobre pedras num terreno bem acidentado. Então, quem quisesse ir era só acompanha-lo, quem não quisesse poderia seguir a estrada que daria no acampamento do almoço. Só o Alan, o Alê e a Néia não quiseram ver a lagoa. Eu, mais uma vez sob efeito da coca, resolvi ir. Já dizia Freud: "o que é um peido pra quem tá cagado?". Realmente não há trilha, só um monte de pedra que você tem que ir pulando uma a uma. Logo chegamos no ponto de onde se pode ver a lagoa. Eu disse pra mim mesmo "Puta que pariu". Foi a visão mais bonita que eu tive na viagem, sem dúvida. A lagoa é de um azul intenso e cercada por montanhas nevadas, enfim, é lindimais. Ainda espantado, fui dividir com o Fisher minha alegria em estar ali.

 

Eu: - Cacete, que lugar lindo.

Fisher: - Muito bonito. E eu não trago ninguém aqui.

Eu: - Imagino, é muito difícil chegar, poucas pessoas devem aceitar vir. (imaginando na minha cabeça que "ninguém" significava "poucas pessoas")

Fisher: - Não, é ninguém mesmo, é a primeira vez que venho aqui.

Eu: - E como você sabia o caminho? (ainda espantado e imaginando que um helicóptero do exército teria que ir nos resgatar)

Fisher: - Não sabia, fui seguindo as pedras.

 

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Depois do diálogo animador começamos a descer. Felizmente de lá de cima dava pra ver a estrada que terminaria no acampamento do almoço, então logo descartei a idéia do helicóptero. Umas boas 2 horas caminhando finalmente chegamos ao almoço. Isso eram umas 2h da tarde. Dessa vez tinha macarrão com molho branco e vermelho, muito gostoso. Ao lado do acampamento passava um rio e eu fui lá enfiar o pé na água gelada e lavar a cara. Descansamos uns 20 minutos e toca caminhar de novo. Depois de passar a manhã inteira só subindo, agora seria só descida. E aí meu joelho começou a dar sinal de vida.

 

Pausa pra uma explicação médica/fisiológica sem base científica nenhuma: quando estamos andando em subida ficamos mais cansados e o ar desaparece, imagino que seja pelo alto nível de esforço que o corpo faz pra conseguir subir. Pra descer o cansaço é menor, mas as pernas são sobrecarregadas porque tem que aguentar todo o peso do corpo a cada passo dado.

 

Depois da aula sobre medicina, voltamos ao relato. Meu joelho começou a doer bastante e aí entendi porque tanta gente na trilha estava usando aqueles bastões de caminhada. No primeiro dia achei que era frescura, porque eu estava andando sem eles e não sentia diferença nenhuma. Eles são bem mais úteis na descida, porque dividem o peso do corpo com as suas pernas. Depois de umas 3 horas só descendo (e destruindo o joelho) chegamos finalmente ao acampamento, em Chaullay. Lá tinha mais estrutura porque era realmente um camping. Tinha banheiro, lojinha vendendo comida e bebida, gramado pra montar as barracas. Logo que cheguei desabei no gramado e fiquei lá uns 15 minutos deitado, descansando as pernas. Dois dias sem beber já estava fazendo mal pro meu corpo, então fomos tomar umas cervejas quentes na lojinha. Logo depois veio o jantar, dessa vez tinha uma espécie de omelete que tava muito bom. Na verdade eu sempre achava a comida muito boa, porque depois de passar o dia caminhando acho que a gente come até pedra à milanesa e acha que tá bom. De novo a surpresa estava na sobremesa. Estávamos sentados na mesa conversando e de repente aparece o cozinheiro Ligeirinho com uma frigideira pegando fogo. Aí ele jogava uma banana na frigideira e o ajudante jogava pinga e fazia aquela labareda. Foi bem bacana, todo mundo ganhou uma banana flambada e um show particular dos cozinheiros a cada banana servida. No final, todo mundo aplaudiu. Depois de comer e beber mais umas cervejas, fomos dormir. Acho que eram umas 8h30 da noite.

 

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# 17º dia - 21/08 - Trilha Salkantay

 

De novo fomos acordados pelos cozinheiros às 6h da manhã com o chá de coca na barraca. Tomamos o café-padrão, ganhamos um pacote de cookies e logo começamos a caminhar. Nesse dia o Fisher disse que faria calor durante a trilha, então deixamos as blusas mais pesadas com os carregadores. Nesse dia a trilha é bem tranquila, na maior parte é plano e faz mesmo calor. O único problema são os mosquitos, então é bom passar repelente. Nesse dia eu comecei a caminhar na frente do resto do grupo e andei uma boa parte sozinho. Não que eu quis dar uma de atleta, mas é que pararam pra trocar de roupa ou sei lá o que, e eu decidi continuar caminhando. Nesse momento solitário refleti sobre um monte de coisa, fiquei pensando em tudo o que já tinha acontecido e o que ainda iria acontecer. Foi aquele momento "xarope" que todo mundo diz ter na viagem, e o meu primeiro foi esse. Andamos durante umas 3 horas e chegamos a uma espécie de sítio, onde tinha uma mini-loja e um gramado bem grande onde tinha um pessoal de outras agências descansando. Como cheguei primeiro que o resto da galera, comprei um Gatorade e fiquei lá descansando. Logo chegaram os outros, um por um. Um pessoal ainda resolveu jogar futebol no gramado, mas como meu joelho tava destruído nem me arrisquei. Uns 30 minutos depois voltamos a andar e 2 horas depois chegamos a uma cachoeira que forma uma piscina natural. Tinha uns gringos lá dentro da água (que devia estar a uns 10 graus). Eu resolvi só colocar o pé e lavar o rosto, não me animei a entrar naquela água gelada, apesar do sol forte que fazia. Logo em seguida foi chegando o restante do grupo. O Fisher disse que iria tentar reservar uma van pra nos levar até Santa Teresa, onde dormiríamos à noite, e falou pra caminharmos na frente até o local do almoço, que estava a uns 30 minutos adiante. A estrada é só uma, não tem erro. Começamos a andar e logo o Fisher passou numa van perguntando se queríamos carona. Meu joelho pensou primeiro que meu cérebro e disse "sim". Em 10 minutos chegamos a uma pequena vila, onde almoçamos. Em seguida a van nos levou até o vilarejo de Santa Teresa, onde ficaríamos acampados a noite. Chegando no camping em Santa Teresa, combinamos do motorista nos buscar em 30 minutos pra irmos nas Aguas Termales. Deixamos as malas, os carregadores montaram as barracas, trocamos de roupa e esperamos a van. Logo ela chegou e fomos pras Aguas Termales, que ficam a 10 minutos de Santa Teresa.

 

Pra quem andou quase 40 quilômetros em 3 dias, entrar numa piscina de água quente a 35 graus é como estar no paraíso. Ficamos lá durante 2 horas, o suficiente pra relaxar até o dedinho do pé. Suficiente também pra limpar as unhas, uma dos benefícios das Águas Termales que descobri na viagem. Voltamos de van para o camping e já estava de noite. Pagamos 20 soles cada um pro rapaz da van. Tomamos café com pipocas e bolachas e logo em seguida veio o jantar. Depois de comer apareceu um pessoal de uma agência oferecendo tirolesa para o dia seguinte. Levaram até uma TV pra mostrar um vídeo de como era o passeio. Eu já nem tava prestando muita atenção porque imaginei que iriam cobrar uma fortuna. Quando terminou o vídeo ele disse o preço: 35 dólares pra fazer 4 tirolesas. Aí fiquei animado, tava esperando que cobrassem uns 100 dólares ou mais. Conversamos entre nós e eu, o Alan e o Claudio resolver fazer. Já estava quase fechando com o rapaz e o Fisher chamou a gente de canto pra falar que conhecia uma agência melhor, mais segura e que iria cobrar o mesmo preço. Lógico que aceitamos a sugestão. O Fisher ligou pro cara e uns 20 minutos depois ele apareceu no camping. Fechamos com ele o preço de 40 dólares por 6 tirolesas e ele disse que nos buscaria de van no camping às 8h da manhã. Pensei "finalmente vou poder dormir até mais tarde!". Estava enganado...

 

Já estava pensando em dormir quando o Fisher disse que iria rolar uma festa no camping. Aí vi um pessoal montando caixas de som, luzes, fogueira e pensei "dormir? pra quê?". Logo começou a música e todo mundo começou a dançar em volta da fogueira. Tinha bastante gente de outras agências nesse camping, então a festa tava animada. Ainda tinha uma mini-loja que vendia cerveja GELADA! Então música + fogueira + cerveja + turistas, imagina no que deu. Tocou até Michel Teló, Gustavo Lima, e todas essas "maravilhas" da MPB. Uma hora fui buscar mais cerveja no bar do camping e fiquei vendo de longe aquela festa toda e aí tive meu momento "xarope" novamente. Pensei "eu tô aqui bebendo em alguma parte bem remota do Peru, a milhares de quilômetros de casa, com um monte de gente de várias parte do mundo, com todo mundo se divertindo mesmo sem falar a mesma língua. Cara, como isso é legal". É óbvio que eu não pensei assim bonitinho, mas o sentido foi esse... eu acho.

 

Ah, esqueci de contar que o Alan é torcedor fanático do Vitória, pra onde ele ia levava a bandeira do time. Na festa do camping, de repente ele aparece gritando "conheci um peruano que já assistiu um jogo do Vitória no Barradão, vem aqui ver!". Ele queria que alguém ouvisse a história do próprio cara, pra depois não pensarem que ele tava mentindo. Daí fiquei conversando sobre futebol com esse cara, só não lembro o que. E sei que a festa foi boa, mas não lembro de muita coisa nem do número de cervejas que tomei. Também não lembro como cheguei na barraca, só sei que acordei lá.

 

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Caramba, tá bom demais esse relato! Fiquei até triste quando rolei a página e vi que não tinha mais texto, hahaha.

 

O relato tá engraçado, cheio de informações úteis e "causos" curiosos. Peru provavelmente vai ser meu primeiro destino internacional e saiba que você fez eu colocar as trilhas Salkantay no meu futuro roteiro, mesmo eu nem tendo visto ainda o final da história.

 

Enfim, continue, por favor! ::hahaha::

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