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Bem, sei que há trocentos relatos sobre essa clássica travessia, então aqui vai mais um.... :D

 

Álbum, com todas as fotos da travessia estão em:

https://photos.app.goo.gl/gh3c4PJaBMSHoF887

 

Travessia realizada entre dias 12 a 15/06/2014.

 

Eram 3:55h da manhã de uma fria madrugada de quinta-feira qdo saltei do ônibus na minúscula e pacata rodoviária de Passa Quatro (MG), que mais parecia um galpão qualquer. Após pegar meu chum...ops, cargueira do bagageiro do busão, Vivi, Marcão e alguns amigos do Sandro já se encontravam no local a minha espera e dos demais. Michel também já estava no local, mas só foi aparecer meia hora depois, pois se encontrava no mundo dos sonhos dentro de seu carro.

 

Feitas as devidas apresentações, ficamos aguardando os demais do grupo chegarem. A madrugada na pacata cidadezinha localizada em um vale no meio das imponentes montanhas da Mantiqueira estava gelada, como é comum em cidades de altitudes elevadas (acima dos 1.000 metros). O céu estava com poucas nuvens, o que indicava que o dia seria bem aproveitável nesse primeiro dia. Os 2 resgates contratados já se encontravam no local e ficamos aguardando o resto do pessoal chegar.

 

Tão logo isso ocorreu (embora alguns que disseram que viriam, deram para trás e sequer avisaram, mas felizmente a maioria apareceu), as 5:30h partimos rumo ao inicio da trilha, onde chegamos por volta das 6h20, na chamada "Fazenda Santa Amélia" (Toca do lobo) na cota dos 1.570 metros de altitude. A fazenda parecia estar abandonada e uma placa verde já bem gasta pela ação do tempo nos dava as boas-vindas com algumas orientações, dicas e o mapa com os picos, pontos de acampamento e de água.

 

1º Dia - Toca do Lobo (1.570 m) ao Pico do Capim amarelo (2.491m)

 

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Mapa ilustrativo da travessia com os pontos de acampamento, água e os principais picos

 

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A placa bem gasta, já não dava para visualizar quase nada, infelizmente....

 

Após ajeitarmos as cargueiras e alguns alongamentos básicos, iniciamos a caminhada por volta das 6:40. O trecho inicial da fazenda até a Toca do Lobo já começa logo de cara com uma subida, dando uma idéia do que nos aguardara nesse primeiro dia, rumo ao Pico do Capim amarelo. Após o primeiro lance de subida (que foi boa para aquecer os músculos e espantar o frio da manhã), a estradinha nivela, vira trilha e segue margeando a encosta esquerda de um morro, passando a descer levemente em direção a um pequeno vale. Passo por uma trifurcação, onde pego o caminho mais batido a esquerda.

 

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Galera ajeitando as cargueiras

 

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A simpática e discreta fazenda Santa Amélia

 

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Inicio da trilha

 

Os primeiros raios de sol coloriam o topo das montanhas ao redor, indicando que o dia seria igualmente aproveitável e com visão total do percurso e do entorno. Nesse trecho inicial, algumas aberturas no meio da mata fechada revelavam os picos do entorno, por onde iria passar, dando uma ideia do que me esperava pela frente....

 

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Janelas em meio a mata fechada, revelavam alguns picos

 

Não demora muito e as 7:10, chego no 1º ponto de água da travessia ao lado de uma pequena gruta conhecida como "Toca do Lobo", que realmente lembra uma toca. Lá, encontro parte da galera que havia saído minutos antes de mim na frente, fazendo seu primeiro pit stop no local e também faço o mesmo. A água de um rio que corre bem do lado direito é corrente e de boa qualidade, mas sabendo que havia outro ponto de água mais acima, optei por deixar para abastecer os cantis mais acima, entre os morros do Cruzeiro e Quartzito, a cerca de 1 hora de caminhada trilha acima, economizando no peso da cargueira. ::mmm:

 

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Toca do Lobo

 

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1ºponto de água ao lado da Toca

 

Depois de atravessar o rio, sigo pela trilha a direita e passo por mais um trecho de mata fechada, que não dura muito tempo e logo dão lugar aos primeiros trechos de campos de altitude, formado inicialmente por gramídeas e capim ralo, com trilha bem aberta, possibilitando as primeiras visões dos picos ao redor por onde ainda irei passar. Pouco a pouco, o pessoal vai se afastando uns dos outros, devido ao ritmo variado de cada um e nisso, vou seguindo pela trilha, que vai subindo meio que em zig-zag, sem maiores dificuldades....As primeiras vistas nesse trecho inicial de subida já são de impressionar, inclusive com as primeiras visões do Pico do Capim amarelo bem lá no alto imponente, a esquerda.

 

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Primeiras vistas logo que sai da mata fechada

 

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Pico do Capim amarelo lá no alto, bem distante ainda

 

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Passados 30 minutos desde a Toca, chego no alto do morro do Cruzeiro na cota dos 1.783m, onde já é possível visualizar parte dos trechos por onde a trilha segue em direção ao próximo morro, o do Quartzito. Após alguns cliques e uma curta parada para descanço, retomo a pernada, descendo levemente o morro, para então iniciar a primeira subida forte em direção ao Quartzito.

 

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Subida do morro do cruzeiro,se não me engano...Subidinha ainda "tranquila"

 

A trilha segue galgando a crista em zig zag, com a visão do entorno e o percurso da trilha bem demarcada a frente que são um atrativo a parte. Quanto mais você vai avançando, mas te dá vontade de parar e ficar apreciando aqueles belos contornos serranos e as finas cristas que dão nome a Serra fina.

 

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Belíssimas vistas do vale do Paraíba durante a subida

 

Mas a subida ainda está só no começo e logo visualizo bem a frente, o paredão íngreme do próximo morro, o do Quartzito, pronto para ser escalaminhado, ao mesmo tempo que ouço um barulho de água de um riachinho do lado direito. Mais 15 minutos após passar pelo alto do Cruzeiro e 45 minutos desde a Toca, chego ao segundo e último ponto de água desse 1º dia as 8:40, onde uma discreta bifurcação a direita sugere que o acesso ao riachinho é por ali.

 

É a partir desse ponto que deve-se encher todos os cantis para os próximos 2 dias, pois o próximo ponto de água será somente no rio claro, no final do 2ºdia, nas nascentes da base da Pedra da Mina. ::essa::

 

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Chegando ao 2º e último ponto d´agua desse 1º dia de Travessia. É aqui que acaba a moleza da cargueira mais leve e deve-se encher os cantis para 2 dias.

 

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2º ponto d´agua

 

Encho os cantis com 3 litros de água e ainda tinha mais 1 de gatorade que foram mais que suficientes para mim.

Com os cantis cheios, inicio a subida em direção ao Quartzito. Com a mochila mais pesada do que nunca, a moleza acaba e é o bicho iria pegar para valer, pois é a partir do segundo ponto de água que se inicia a primeira subida pirambeira em direção ao morro do Quartzito. E vamos que vamos.

 

Esse primeiro trecho é bem íngreme e com a cargueira mais pesada ainda, foi bem complicado, dando uma idéia do que ainda teria pela frente. As 9:15, chego ao topo do Morro do Quartzito (na cota dos 2.020 metros de altitude) para um merecido, mas breve descanso. Aproveito a pausa para apreciar as belas paisagens do entorno, com os picos do Marins, Marinzinho e Itaguare bem ao fundão, se destacando no horizonte.

 

É nesse trecho que se passa pela parte mais bonita da subida e também onde se visualiza o trecho da foto "clássica" da trilha descendo e contornando o topo da crista até a base do enorme paredão do Capim Amarelo. Aqui a subida dá uma tregua e a caminhada segue no plano, com uma leve descida pelo alto de uma fina crista logo após passar pelo alto do morro do Quartzito. O Topo do Capim amarelo aparece bem imponente lá no alto e a frente, parecendo estar próxima, mas ainda resta uma longa subida pirambeira até lá. Aqui encontro alguns vestígios de acampamento, mas como o local é exposto aos ventos, é arriscado acampar aqui.

 

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Alto do morro do Cruzeiro visto do alto do Quartzito

 

Do alto do Quartzito, se tem a visão de todo o trecho percorrido e também todo o traçado da trilha demarcada pelo alto das cristas. É um capitulo a parte e rendeu vários clicks. O grupo de 12 pessoas se dividiu em grupos menores, onde cada grupo foi seguindo em seus ritmos, com os mais rápidos mais acima, eu no intermediário e os mais lentos logo atrás de mim, o que gerou belas fotos da galera em diferentes ângulos. Em uma travessia como essa, é quase impossível todo mundo ficar juntos em um mesmo ritmo.

 

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Picos do Marins, Marinzinho e Itaguaré bem ao fundão....

 

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Chegando ao trecho da foto "classica" ::otemo::

 

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Caminhar pela fina crista é uma sensação única...

 

Após descer levemente o morro do Quartzito, passando pela crista com 2 grandes vales a direita e a esquerda, chego definitivamente no "paredão" da base do Capim e é a partir de agora que as pernas serão postas a prova máxima de resistência e superação. As 10:15, começo a longa e exaustiva subida que vai ficando cada vez mais íngreme e com alguns lances de escalaminhada, onde o auxilio das mãos passam a ser necessários para impulso nas pedras e troncos.

 

A subida é árdua, o sol castiga muito e nisso, acabo parando várias vezes para retomar o fôlego. As 11:00 chego ao alto de um morro, conhecido como "Cotovelo" onde a subida dá uma leve trégua e aproveito para fazer uma pausa. Olho para cima e vejo a nebulosidade aumentando sobre o topo do Capim amarelo.

 

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Vista do alto do morro do Cotovelo

 

Subindo de cocoruto em cocoruto, vou seguindo em direção ao morro do camelo em trilha bem demarcada e com vários lances de escalaminhada. O Grupo está bem dividido e a minha frente vejo os mais rápidos mais acima e os mais lentos lá embaixo. A pirambeira não dá trégua e parecia não ter fim. Só de olhar para cima, cansava até a vista. Vou ganhando altitude rapidamente e quase 3 horas desde o Quartzito lá embaixo, chego a um ombro do Capim Amarelo, conhecido como "Camelo" na cota dos 2.380 metros de altitude.

 

A principio, achei que era o topo do capim, mas não era. Enquanto isso, a neblina foi ficando ainda mais densa e nisso, a visão ficou prejudicada. Descanso por algum tempo aqui e pouco antes das 13h00, volto a caminhada.

 

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Alto do morro do "Camelo" um ombro do Capim amarelo, com o pico do Capim mais acima ainda, encoberto pelas nuvens

 

Segui mais um pouco até chegar a uma parte mais plana onde a trilha passa por 2 descampados bem protegidas no meio de enormes tufos de capim elefante. Olhando para baixo (aproveitando algumas janelas em meio a neblina), consegui visualizar o Michel e os demais bem lá embaixo ainda, enquanto a Vivi, Marco e Fábio dispararam na frente e imaginei que a essa hora, já haviam chegado no topo. O relógio marcava 13:00hs e eu ainda não fazia ideia de qto tempo iria levar até o topo do capim.

 

Após passar pelas áreas de acampamento, visualizo bem a frente outro paredão no meio da neblina, com a trilha indo na direção dele. A subida volta a ficar ainda mais íngreme e com alguns trechos enlameados e pirambeiros, acabo parando mais algumas vezes para recuperar o fôlego. Em alguns pontos, havia cordas estrategicamente instaladas para auxilio nos trechos mais complicados da subida e que foram muito bem-vindas. O ataque final ao cume é de matar com mais lances de escalaminhada e trepa-pedra. Com o peso da cargueira e uma noite praticamente sem dormir, não foi nada fácil vencer esse trecho.

 

As pernas e braços já pediam arrego, mas continuar era preciso. E se já estava ruim com a falta de visibilidade, ficou pior qdo começou a chover fraco, o que me deixou apreensivo....O Topo parecia estar bem próximo e finalmente, as 13:20 chego nele, onde sou recepcionado por parte da galera da turma do Roger, Marco e da Vivi que já haviam chegado lá entre 30 minutos a 1 hora antes de mim e já tinham até montado seus respectivos "aposentos"....rsrs

Mas ainda faltavam o Michel, Mariana e outros que estavam atrás de mim e só chegaram cerca de 40 minutos depois.

 

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Enfim, barraca montada e o merecido descanso no topo do Capim amarelo

 

O Cume do Capim é bem plano e com várias clareiras para 1 ou 2 barracas, todas bem protegidas por conta dos enormes tufos de capim elefante que formam uma ótima proteção contra os fortes ventos. Como ainda havia muitas clareiras disponíveis, pude escolher o melhor ponto para montar a barraca. Na subida final a chuva havia parado, mas voltou no exato momento que estava montando a barraca. Não foi fácil montar a barraca por causa da chuva, pois tive que monta-la as pressas, mas felizmente era apenas uma chuvinha passageira e logo parou, não chegando nem a molhar direito o chão.

 

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Descampados entre os tufos de capim elefante

 

Após montada a barraca, explorei as laterais do topo e depois fui preparar meu almoço, ficando o resto da tarde de boa com o pessoal. Fui deitar por volta das 19h30 e logo peguei no sono. De madrugada, acordei com o teto da barraca mais clara e ao botar a cabeça para fora, vi que a neblina havia dissipado, o céu estava com poucas nuvens e a lua brilhava forte. Com isso pude apreciar as cidades em volta todas iluminadas e com a lua cheia iluminando todo o topo. E ainda pude me presentear com a bela visão dos picos da Serra fina ao redor, com a Pedra da Mina em destaque a leste. A temperatura não caiu muito de madrugada e ficou em torno dos 04ºC.

 

Continua no post abaixo....

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2º Dia - Do Capim amarelo (2.491m) a Pedra da Mina (2.797m)

 

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Nascer do sol

 

A Sexta-feira 13 amanheceu com poucas nuvens e com isso pude apreciar um belíssimo nascer do sol. A vista do alto dos 2.491 metros de altitude do cume do Capim Amarelo é de 360 graus e de tirar o fôlego. Ao noroeste visualizo as cidades do vale do Paraíba, ao oeste as cidades do sul de MG com os picos do Marins, Marinzinho e Itaguaré bem ao fundo e ao nordeste e leste todo o caminho a percorrer em direção a Pedra da Mina. que aparece distante ao fundo, imponente.

 

Porém, noto que não será nada fácil, pois há muitas subidas e descidas fortes no caminho. E era apenas uma pequena amostra do que eu ainda iria experimentar durante os próximos 3 dias de travessia.

 

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Marins, Marinzinho e Itaguaré vistos do Capim amarelo

 

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Possível trilha "alternativa" até o Capim amarelo vindo diretamente de Passa Quatro?

 

Barraca desmontada e mochila nas costas, inicio a caminhada rumo a Pedra da mina pontualmente as 9h00. A descida do Capim em direção a Pedra da Mina segue em meio ao bambuzal, com vários lances de desescalaminhadas e quem tem problemas de joelho sofre um bocadinho nessa parte, pois assim como a subida final ao cume, a descida também é de lascar. A visão do vale a frente é de impressionar e vou perdendo altitude rapidamente.

 

Assim que a descida termina, a trilha mergulha em um trecho de Capim elefante com tufos bem altos. O trecho de vale é curto e logo me vejo subindo o pequeno morro onde passo por uma área de acampamento, conhecido como "avançado".

 

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Face oposta do Pico do Capim amarelo, vista logo após a descida de seu cume...

 

Passo por algumas clareiras protegidas na base que podem ser utilizadas em caso do topo do Capim estar lotado ou se você quiser adiantar parte do percurso do dia seguinte. Do avançado se tem uma bela visão do Topo do Capim lá no alto bem imponente que acabara de descer....Também avisto parte do meu grupo descendo o pico, o que deu uma idéia de como somos minúsculos perante a grandeza e a imponência da montanha...

 

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Pico da Pedra da mina bem distante ainda, aparecendo discretamente atrás das escarpas serranas do morro do Melano...

 

Do alto do avançado, visualizo o topo do chamado Pico do Melano bem a frente, com a Pedra da mina bem atrás dela, ainda distante. Passo por mais um trecho de capim elefante com tufos bem altos e lá, tenho um perdido: Após passar mais uma clareira, a trilha parece seguir a esquerda, mas logo se fecha, então retorno até a bifurcação e após procurar por cerca de 10 minutos, encontro a trilha certa a direita, meio escondida em meio aos tufos de capim. A trilha segue pela direita depois sobe uma pequena rocha, seguindo reto pela borda direita de um pequeno morro a esquerda, para então mergulhar na mata fechada de bambuzinhos.

 

As 10:35, com pouco mais de 1 hora e meia de caminhada desde o topo do Capim amarelo, chego ao "Maracanã", onde reencontro parte do pessoal do meu grupo que estava a frente me aguardando e aos demais que estavam atrás de mim. Me junto a eles e aproveito o pitstop para molhar a goela e forrar o estômago. A area do Maracanã é composta por um amplo descampado em uma mega clareira no meio de um vale, entre o Capim e o Dourado, sendo uma otima opção de camping para grupos com 5 ou mais barracas. Mas,assim como o topo do Capim, não há água próxima.

 

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Pessoal no Maracanã

 

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Pico do Melano visto do Maracanã

 

Do Maracanã, visualizo o paredão do que acredito ser o cume do Melano bem a frente, com uma enorme subida pirambeira por onde iriamos passar. Não demora muito e logo começamos a subir. A subida é bem íngreme e com lances de escalaminhada, vou parando em alguns momentos para retomar o fôlego. As 11:10, com pouco mais de 2 horas de caminhada desde o Capim, chego ao topo para um merecido descanso e pude visualizar os campinhos do Maracanã lá embaixo com o Pico do Capim Amarelo em destaque, ficando cada vez mais para trás. É uma visão em tanto dos picos e vales acima dos 2.200 metros de altitude.

 

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Capim amarelo ficando cada vez mais para trás...

 

Do alto, a direita, se tem mais uma bela vista do vale do Paraíba e a frente e os contrafortes serranos da Pedra da Mina. A partir desse ponto, a trilha passa a seguir pelo extenso cume e por vários trechos em lajes de pedra. Desço mais um pequeno vale e discretamente, vou subindo por lajes de pedras e após passar pelo ponto mais alto do Melano, adentro a um trecho de "chapadão" com enormes rochedos, onde a trilha some de vez e a navegação passa a ser quase que exclusivamente por totens.

 

Depois de 4 horas e meia de caminhada desde o Capim amarelo, chego a um trecho mais plano do chapadão,onde tenho a visão dos grandes vales que compõe a base da pedra da mina com a mesma bem imponente a minha frente e parecendo estar bem perto, mas ainda resta a descida dos vales até lá.

 

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Gigantescos vales

 

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Trecho de lajes de pedra

 

A descida ao vale onde fica as nascentes da pedra da mina é bem tranquila e vai seguindo por lajes de pedras, trechos de bambuzal e alguns trechos de capim elefante, com a maior parte da navegação no visual, através de vestígios de trilha e vários totens indicando o caminho. A paisagem do mega vale é de tirar o fôlego de qualquer um e é claro que foi merecedor de várias pausas para clicks e apreciação do local.

 

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Inicio da descida até os 3 grandes vales na base da Pedra da mina, onde fica a Cachoeira vermelha e o Rio Claro

 

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Assim como no dia anterior, a nebulosidade aumentou bastante e escondeu o sol, mas dessa vez, as nuvens ficaram um pouco mais acima, o que permitiu a visão de praticamente todo o vale na base da Pedra da mina. Me guiando pelos totens e vestígios de trilha, vou descendo em direção ao Rio claro, passando batido pela Cachoeira vermelha. Durante a descida, visualizo a esquerda, enormes precipícios e fendas no meio de tufos de capim elefante, indicando que ali deve haver algum riozinho descendo vale abaixo, mas o caminho a seguir é para a direita e é para lá que sigo.

 

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Bem a frente, vejo a galera do Roger subindo e contornando um pequeno morrinho a esquerda em direção ao terceiro vale, onde fica o rio claro e em seguida, logo atrás deles estão a Vivi e o Marco. Estavam chegando ao Rio claro, o único e tão desejado ponto de água desse 2º dia, após 1 dia e meio sem ver água alguma desde a base do Quartzito, no inicio do 1º dia. Dizem que há água no vale entre o Maracanã e o Dourado, mas nem lembrei de conferir. Ainda tinha 1 litro de água no cantil e 500ml de gatorade da mochila, então nem me preocupei e continuei descendo o primeiro dos 2 vales que compõe a base da Pedra da mina.

 

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Trechos longos por lajes de pedra...

 

Ao terminar a primeira descida até o primeiro de 3 vales, vejo totens indicando o caminho a direita e o percurso agora passa a bordejar a encosta que desci a esquerda, onde chega-se a um outro vale a direita que lembra bastante o Vale do Ruah, por ser plano e tomado por enormes tufos de capim elefante. Inicio uma discreta subida em meio as lajes de pedra de um rochedo que divide os 3 vales e alcanço o Marco, que estava parado ali descansando.

 

Bem atrás, ainda iniciando a descida do Melano, visualizo o Michel e os demais acerca de 20 minutos de caminhada de onde eu e o Marco estavamos.

 

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Um grande vale que lembra bastante o Vale do Ruah próximo a base da Pedra da Mina

 

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Trechos de trilha e um Totem a esquerda indicando o caminho

 

As paisagens são de encher os olhos e a vontade é de ficar um bom tempo parado contemplando aquele platô inóspido no meio dos gigantescos picos acima dos 2.600 metros de altitude que lembram bastante as paisagens da cordilheira dos andes...O gps do marco indicava altitude média de 2.450 metros no vale e logo a frente o subidão nervoso e pirambeiro da pedra da mina nos aguardara. A caminhada vai seguindo em uma subida bem leve e vamos nos guiando pelos totens.

 

Após chegar no alto do rochedo, a trilha vira a direita e mergulha no meio dos tufos de capim elefante, descendo em direção do vale que fica na base da Pedra da mina. Do alto do Rochedo já era possível ver a fenda por onde passava o rio claro.

 

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Vales tomados pelo Capim elefante que de longe parece uma graminha rala, mas qdo se está lá no meio, é bem diferente....São tufos com mais de 2 metros de altura....

 

As 14h20 finalmente chego ao Rio claro, na base da Pedra da mina, onde encontro o pessoal reunido lá, enquanto que o Grupo do Roger já estavam se aprontando para iniciar a subida final ao cume. Após reabastecer meu cantil com mais 1 litro de água e outro de gatorade, parte do pessoal do grupo decidiu acampar ali por temer que o cume estivesse lotado. Como o meu foco era acampar no cume ou numa das 2 bases (via paiolinho, na chamada cratera), e sabendo que estaria vazio pelo fato do feriado ser só em SP e o jogo do Brasil na quinta (que faria muita gente vir para trilha somente depois), optei por subir e acampar no topo.

 

Me despedi do pessoal e parti rumo a subida da pedra da mina, que mostrava que não seria nada fácil e que de fato, levaria pelo menos 1 hora para chegar até o topo, conforme me alertou o Marco. Vai ver estavam com medo do JASON estar lá no topo esperando os incautos, por ser sexta-feira 13, ::lol3::

Ao lado do Rio claro e em volta, há alguns ótimos descampados bem protegidos, cada um para 2 ou 3 barracas.

 

Mesmo com o tempo encoberto e a ausência do sol, o subidão de ataque final ao cume é de matar e os músculos das pernas já estavam esgotados, por conta do stress dos constantes sobe morro/desce morro nesse 2º dia. Já havia andado mais de 6 horas desde o Capim e o corpo reclamava, pois o cansaço estava bem evidente. A trilha em direção ao cume vai subindo em relativo zig-zag em meio a um bambuzal baixo, mas com muitos lances de escalaminhada, fui parando várias vezes para retomar o fôlego e poupar um pouco os músculos, já que não tinha pressa alguma.

 

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Vista do vale do Rio claro ficando lá embaixo, durante a subida ao cume da pedra da mina

 

Depois de 40 minutos de subida íngreme, pirambeira e que mais parecia não ter fim, saio do trecho de bambuzal baixo e a a trilha novamente dá lugar as lajes de pedras, onde totens iam mostrando o caminho. Ao chegar no primeiro de 2 ombros, o nivel de inclinação diminui, o que mostra que o topo estava bem próximo. Mais 20 minutos e depois de passar pelos 2 ombros, finalmente chego ao topo dos 2.797 metros de altitude da 4º montanha mais alta do Brasil, a Pedra da mina as 16h00, com exatas 1 hora cravado de subida desde o Rio claro.

 

E para minha surpresa, só havia a galera do Grupo do Roger que havia decidido subir e acampar no cume, que logo me recepcionaram qdo cheguei. Os demais optaram por ficar acampados lá embaixo, na base mesmo e só os reencontrarei na manhã do dia seguinte...

 

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Final de tarde no cume da pedra da mina, com vista dos contrafortes serranos da Serra fina e parte do trecho por onde irei passar no dia seguinte...vale do Ruah abaixo, meio escuro e a esquerda, a crista do cupim do Boi e as encostas serranas do Itatiaia bem ao fundão

 

Após a contemplação do visual e muitos clicks, desci até a cratera-base que fica a cerca de 10 minutos do cume e para minha surpresa, assim como no topo, não havia ninguém de outro grupo lá e com isso, pude escolher o melhor lugar para montar a barraca. O topo estava bem como imaginava: Jogo do Brasil e feriado somente em SP é como dia de semana normal. Dificilmente teria outros grupos acampados. Horas depois, já dentro da barraca e pronto para dormir, imaginei que se eu tivesse subido sozinho e todos os demais ficassem acampados lá embaixo na base, teria o cume e suas 2 outras bases só para mim, sendo dono absoluto do lugar... ::otemo::

 

A temperatura não diminuiu muito a noite e foi bem tranquila. Enquanto que no cume estava ventando bastante, na "cratera" só havia um sereno. A noite desse 2º dia foi mais uma vez com lua cheia e céu limpo, o que permitiu a contemplação total de todas as cidades do entorno iluminadas, além do cume, que estava tão claro, que quase nem precisei usar as lanternas. E nenhum sinal do Jason lá.... :mrgreen:

 

Continua....

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3º Dia - Da Pedra da Mina (2.797m ) ao Pico dos 3 Estados (2.656 m)

 

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Amanhecer no cume da Pedra da mina

 

O Sábado amanheceu meio enevoado,o que me deu a impressão inicial que não iria conseguir ver o nascer do sol no cume.. Mas para a minha grata surpresa, era só uma nuvem passando e logo o tempo abriu e na verdade, as nuvens estavam é embaixo. Então corri até o topo e pude contemplar um nascer do sol sensacional, iluminando todo o topo do cume e o tapete de nuvens logo abaixo, tampando boa parte do vale do paraíba, formando um espetáculo único e diferenciado, típico de grandes altitudes. As nuvens deram um "plus" na paisagem, mas o vento forte e o frio no cume eram de lascar.

 

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Nascer do sol

 

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É um espetáculo em tanto

 

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Pico do Capim Amarelo (local do primeiro pernoite) a esquerda....

 

A leste visualizo todo o caminho que irei percorrer nesse 3º dia, passando pelo Vale do Ruah, Pìco da Brecha, a crista do cupim do Boi e do lado esquerdo do Cupim, o Pico dos 3 estados. Já a oeste, visualizo todo o percurso do dia anterior com a ponta do pico do Capim Amarelo em destaque bem ao sudoeste. Assim como no segundo dia, imaginei que o percurso do terceiro dia também não seria nada fácil, mas no final, foi mais tranquilo do que no segundo dia, pois teve menos subidas e descidas de vale.

 

Após contemplar o astro-rei surgindo por detrás das encostas serranas do PN do Itatiaia, desci para tomar café e as 7h30 já estava desmontando a barraca. Mochila nas costas, retornei ao cume, onde encontrei a galera que acampou lá embaixo na base, nas nascentes da Pedra da mina. Com o grupo todo reunido novamente, iniciamos a descida do cume em direção ao Vale do Ruah.

 

Assim como a subida do dia anterior, a descida também é relativamente forte e segue toda por lajes de pedra. A visão do Vale lá embaixo é de impressionar e as paisagens do entorno também. Apesar de forte, a descida não é longa e num piscar de olhos já estava caminhando pelo vale mais alto do Brasil, o Vale do Ruah, com 2.512 metros de altitude.

 

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Descida da Pedra da mina em direção ao Vale do Ruah

 

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O belíssimo vale do Ruah logo a frente

 

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Face oposta da Pedra da Mina

 

Termino a descida, adentrando o vale e a trilha vai seguindo em direção leste quase em linha reta. Passo por uma grande área de acampamento para pelo menos 5 barracas e a trilha vai seguindo em frente, com vários trechos de "charco". Caminhar pelo vale mais alto do Brasil é uma experiência única. O Capim elefante é a vegetação predominante e o ideal aqui é usar luvas para evitar os cortes nos dedos provocados pelo capim e para poder abrir passagem no meio das folhagens.

 

No meio do vale (após a trilha chegar as nascentes do Rio Verde), fizemos uma parada para encher os cantis, pois ali é o único ponto de água desse 3º dia. E assim como no 1ºdia, encho os cantis para os próximos 2 dias, pois só irei encontrar água no final da travessia, no dia seguinte. E novamente 3 litros de água e 1 de gatorade são mais do que suficientes.

 

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Cruzando o vale do Ruah

 

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Áreas de charco no vale do Ruah

 

40 minutos desde o topo da Pedra da Mina, termino de cruzar o vale do Ruah e a trilha segue margeando o rio verde pela direita, em direção a base do morro da Brecha. Embora plano, esse trecho não é nada fácil e os tufos de capim estão muito altos, o que dificulta o avanço do grupo e acaba deixando a trilha "invisível" em vários pontos. Muitos tufos tem mais de 2 metros de altura e a trilha some em meio das folhagens do capim.

 

O Rio Verde vai ficando cada vez mais encachoeirado e as 10:18 passo por uma pequena cachoeira formado pelo Rio. Pausa para clicks, é claro. Afinal, não é em qualquer lugar que se encontra uma cachoeira a mais de 2.500 metros de altitude, mesmo pequena. ::mmm:

 

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Cachoeira do Rio verde

 

Logo a frente após a cachu, visualizo a subida pela crista da Brecha bem próximo por onde terei que passar e noto que será um pouco complicado, por conta do capim que está muito alto, dando a impressão que não há mais caminho algum ali. Nesse ponto, o risco de se perder é bem alto para quem não tem noção do caminho a seguir ou não está munido de bússola ou gps com tracklog. Vou abrindo caminho no meio dos tufos de capim elefante enquanto sigo em direção a base do morro da Brecha.

 

Após chegar na base, inicio a subida da crista, mas pego uma bifurcação errada e tenho que voltar uns 10 minutos até encontrar novamente o caminho certo, que é bem pela direita, momento esse que o companheirismo da galera foi fundamental na hora de indicar para onde eu devia seguir, para que não perdesse tempo precioso procurando o caminho certo.

 

Qdo se chega na base da crista, o caminho a seguir é pela direita do rio, subindo bem pelo meio da crista. O problema é que o capim está tão alto ali que encobriu a trilha toda, então esse trecho inicial teve que ser no vara-capim mesmo. Felizmente a subida e o trecho de capim não duram muito e logo dão lugar a mata mais fechada, mas de bambuzal, onde reencontro a trilha bem demarcada novamente. Mais um trecho de subida e logo estou no alto do morro da Brecha, com uma bela vista de todo o caminho pela crista do Cupim do Boi, onde visualizo os primeiros do grupo na frente.

 

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Rio Verde e vale do Ruah ficando para trás.

 

Do alto da crista, visualizo o belo traçado sinuoso do Rio verde no meio do capim elefante, seguindo seu curso. As 11:20, com quase 2 horas de caminhada desde o cume da Pedra da mina, passo por uma area de acampamento para cerca de 3 barracas e a partir dai, a caminhada fica bem mais tranquila, seguindo com pequenas subidas e descidas pela crista em direção ao Pico do cupim do boi, com o imponente Pico dos 3 estados a esquerda parecendo estar próximo, mas ainda distante umas 3 a 4 horas de caminhada.

 

A trilha segue agora pelo alto das cristas em direção ao pico cupim do boi, com as belas visões da encosta serrana do PN do Itatiaia a frente, com um precipício de 2.000 metros de altitude a direita e um enorme vale a esquerda.

 

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Caminhada pela crista em direção ao cupim do boi

 

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todo o trecho de crista percorrido

 

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Pedra da Mina lá no fundo

 

É tão alto que só de olhar para baixo, chega a dar calafrios. Quem tem fobia a altura, iria passar maus bocados nesse trecho, pois a crista é fina e você caminha bem ao lado de gigantescos precipícios e desfiladeiros que são de impressionar. É um dos trechos mais bonitos da travessia. A todo momento, o Pico das Agulhas negras aparece em destaque em primeiro plano a frente com as Prateleiras a direita.

 

A sudoeste, os contrafortes serranos da Pedra da Mina, e do lado esquerdo, o vale por onde fica o bairro do paiolinho e a trilha que vem de lá. E o Pico dos 3 estados é visível o tempo todo a esquerda, exceto qdo está encoberto pelas nuvens, é claro.

 

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Vales profundos

 

Mais alguns trechos curtos de sobe morro/desce morro, as 13:06, chego ao final da crista no alto do cupim do boi, onde visualizo bem a esquerda, o enorme subida pirambeira do Pico dos 3 estados. A Partir do final da crista, a trilha vira a esquerda e desce forte até um vale, mergulhando em meio a enormes bambuzais, para então começar a longa subida em direção ao cume do pico dos 3 estados. A subida inicial em direção o cume dos 3 estados é bem ingreme e com lances de escalaminhada, vou parando algumas vezes para retomar o fôlego.

 

Chego a um ombro, onde a subida dá uma trégua, então aproveito para fazer uma parada maior, antes de encarar o subidão final de ataque ao cume....

 

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Chegada ao final da crista do cupim do Boi

 

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Pico dos 3 estados, visto da crista do Cupim do Boi

 

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No cume do cupim do Boi, se tem logo a frente, a bela vista das encostas serranas do Parque Nacional do Itatiaia, com os Picos das Agulhas Negras e Prateleiras em destaque

 

10 minutos depois, retomo a caminhada e logo a frente, visualizo a trilha subindo o enorme paredão ingreme dos 3 estados por onde terei que passar. O ataque final ao cume mais uma vez é de matar e é praticamente uma escalaminhada de quase 1 hora em meio a tufos de capim, onde o auxilio das mãos foram necessários o tempo todo para impulso e apoio nos troncos, pedras e o capim.

 

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Trecho de bambuzinhos no vale entre o Cupim do Boi e 3 estados

 

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O Subidão nervoso ao cume dos 3 estados

 

Nesse trecho, o uso das luvas mais uma vez fez muita diferença, por conta de muitos trechos de capim elefante e bambuzinhos, pois o capim acabou servindo como apoio em boa parte da subida onde não havia outra opção. Por isso, é altamente recomendável subir esse trecho com luvas. E após mais de 1 hora de subidão pirambeiro, pouco antes das 15:00hs, chego ao topo dos 3 estados para o então merecido descanso.

 

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Enfim, no marco de divisa dos 3 estados, que dá nome ao cume

 

O Cume dos 3 estados é bem parecido com o Capim amarelo, com várias clareiras abertas em meio de enormes tufos de capim elefante, então nem me preocupo com os ventos. No topo, havia só parte do meu grupo que estava na frente e chegaram antes de mim. Como ainda havia outros bons descampados disponíveis, mais uma vez, pude escolher o melhor local para montar minha barraca. Pôr do sol nesse terceiro dia estava fora de cogitação, pois o topo estava totalmente encoberto e sem pespectiva nenhuma de melhora. Por isso desencanei, fiz minha janta e fiquei junto da galera, só jogando conversa fora, enquanto esperava o sono vir.

 

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Cume do Pico dos 3 estados é bem semelhante ao do Capim amarelo, com várias descampados para montar barracas bem protegidas por enormes tufos de capim elefante

 

Por volta das 23:30 acordo para ir ao banheiro e percebo que a neblina do final da tarde do dia anterior deu lugar a um belo céu estrelado, onde pude apreciar mais uma vez a lua cheia iluminando todo o cume e as cidades lá embaixo, iluminadas. O Termômetro que deixei do lado de fora da barraca marcava em torno de 03ºC. Após apreciação da lua e da noite estrelada, volto para a barraca, me enfio dentro do saco de dormir e logo pego no sono novamente.

 

Continua . . .

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Ahhh Renato, que maravilha de relato.

Super detalhado, fotos belissimas, e pude "reviver" todos os momentos que passamos todos juntos lá na Serra Fina, uma belissima travessia, "só nossa" e sem a muvuca de feriadões...rs

Muito bom.

Estou aqui na expectativa pelo 4º e ultimo capítulo, hehehe

Abraços, e até as proximas, muito em breve hein.

Obrigada por compartilhar.

Adorei participar dessa trip com vocês.

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4º e último Dia - Descida do Pico dos 3 Estados (2.656 m) ao Sitio do Pierre (1.800m)

 

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Nascer do sol no topo dos 3 estados

 

Acordo as 5:30 com a movimentação do pessoal no cume e ao colocar a cabeça para fora da barraca, vejo tudo aberto no topo, o que permitiu uma visão geral de todo o entorno. Já tinha noção de que o amanhecer iria ser de céu limpo, pois havia acordado de madrugada para ir ao banheiro e fiquei um tempo só apreciando as estrelas, a lua cheia iluminando todo o cume e as cidades iluminadas lá embaixo. Já estava com gostinho de despedida e como o percurso do 3º dia foi bem mais suave do que nos 2 primeiros dias, nem sentia mais o cansaço acumulado e queria mais.

 

Qdo a gente vai para a montanha para curtir, apreciar, admirar e se divertir, os perrengues e o cansaço físico se torna algo passageiro e o psicológico diz: Faz parte, o corpo pode cansar, mas a mente descansa.

 

Após o registro do surgimento do astro-rei por trás das cristas da Serra do Itatiaia, preparo meu último café da manhã e aproveito para apreciar as belas vistas em torno do cume dos 3 estados, onde a oeste pude visualizar todo o percurso do dia anterior desde a Pedra da mina e a leste, a enorme descida pirambeira e o caminho a seguir em direção ao Pico do Ivo e a Fazenda Eng.da serra, distante cerca de 5 horas de caminhada dali.

 

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A direita, a imponente Pedra da mina, com a vista da maior parte do trecho do dia anterior pela crista percorridos

 

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Pedra da mina, com zoom. Detalhe no vale do Ruah logo abaixo, a esquerda ::otemo::

 

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Vista do trecho de crista por onde sobe a trilha que vem do paiolinho pelo alto dos 3 cocorutos entre a primeira subida pirambeira do "Deus que me livre" e a da "Misericórdia".

 

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Barraca desmontada e mochila nas costas, pouco antes das 8h00, inicio a caminhada do último trecho da travessia em direção a Rodovia. O trecho inicial da descida dos 3 estados é muito íngreme, com vários lances de desescalaminhada. Com isso, tenho que ir descendo e segurando forte na vegetação em volta para evitar despencar vale abaixo. Assim como na descida do Capim amarelo, a vista do vale lá embaixo é de impressionar.

 

1 hora desde o topo dos 3 estados, termino a sequencia de 2 descidas e estou cruzando o vale, onde passo por um descampado na Base denominada "bandeirante", para cerca de 3 barracas que é bem protegida pela vegetação alta e pode ser uma boa alternativa para o caso do topo dos 3 estados estar lotado ou se estiver fazendo a travessia no sentido contrário e chegar ali de noite.

 

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Ainda nos 3 estados

 

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Galera iniciando a descida do cume dos 3 estados

 

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Vista do trecho de crista por onde passamos

 

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Vista do vale e da crista durante a descida do topo dos 3 estados, por onde ainda iria passar

 

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Descida pirambeira e com vários lances de desescalaminhada ::mmm:

 

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Pico dos 3 estados ficando para trás

 

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Face oposta do Pico dos 3 estados

 

A partir desse ponto, subo alguns morros e a caminhada segue pela crista, ora por lajes de pedra, ora no meio dos bambuzinhos ou capim elefante. A cerca de 2 horas de caminhada ainda, está o topo do Pico dos Ivos. As nuvens surgem novamente e tomam conta de tudo, mas ainda consigo tirar boas fotos do topo dos 3 estados ficando para trás e o percurso de descida por onde irei passar, com o subidão do Ivos se aproximando.

 

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Vales

 

Já havia andado 2 horas desde o topo dos 3 estados e após passar por alguns trechos de bambuzal alto em mata fechada, estou subindo o Ivos e a nebulosidade já cobriu tudo, deixando a visão totalmente prejudicada. O Capim e os bambuzinhos complicam a subida e insistem em enroscar nas mochilas, dificultando meu avanço. As 10:05 chegamos ao topo do Ivos, na cota dos 2.513 metros de altitude, onde fizemos uma breve parada para descanso e lanche, pois a partir dai, só seria descida quase que initerrupta (e de pelo menos umas 3 a 4 horas) até o Pierre.

 

No topo do Ivos há alguns descampados para acampamento, mas todos expostos aos ventos, por isso, é complicado acampar aqui. As 10:20 demos adeus ao cume do Ivos, começando de vez a longa descida pela crista até a fazenda Engenho da Serra.

 

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Galera no cume do pico dos Ivos

 

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Descida do topo do Ivos, que vai ficando para trás...

 

Durante a descida, a vegetação dos campos de altitude pouco a pouco vão dando lugar a mata atlantica. A descida é longa, constante, mas não é pirambeira, apenas longa e com vários túneis de bambuzinhos e trechos de capim elefante. Mas mesmo assim, a perda de altitude ali é relativamente rápida, e vai ocorrendo a medida que a trilha vai dando voltas e mais voltas, enquanto desce. 1 hora desde o Pico do Ivos, a visibilidade começa a melhorar, pois estou saindo de dentro das nuvens.

 

A altitude ainda girava em torno de 2.100 metros segundo o gps do Marco e faltando 1 hora de descida até a fazenda, passo por mais um área de acampamento plana e protegida, para umas 4 barracas.

 

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Descampado durante a descida, entre os picos do Ivo e a Fazenda do Pierre.

 

45 minutos desde o último descampado mais acima, passo por uma bica d´água a direita, a primeira desde o última no inicio do dia anterior no vale do Ruah. Mais 15 minutos e chego a uma bifurcação, onde o caminho a seguir é a esquerda, já numa estrada de terra abandonada e tomada pelo mato....E finalmente, com pouco mais de 5 horas e meia de caminhada desde o topo dos 3 estados, chego as primeiras casas da fazenda Engenho da Serra, na cota dos 1.800 metros de altitude as 13:10, onde o trecho de descida final até a Rodovia, passa a ser por uma estradinha de terra.

 

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Picú visto do trecho final de descida, já bem próxima a fazenda....

 

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Chegando a Fazenda do Pierre (Engenho da Serra)

 

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Fim da trilha e travessia da Serra fina concluída... ::otemo::

 

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Durante a descida até a portaria, visualizo bem a frente a Pedra do "Picú" no outro lado do vale que vai aparecendo várias outras vezes, a medida que íamos descendo pela estrada de terra. Mais 15 minutos, finalmente chegamos ao portão de saída da fazenda, onde nosso resgate nos aguardara. Com todo mundo reunido novamente, fomos até um restaurante de trutas ali próximo comemorar e bebemorar o sucesso da empreitada.

 

Depois da refeição caprichada, nos despedimos e cada grupo seguiu para suas respectivas cidades. Eu segui de carona de volta com o grupo da Vivi e cheguei em SP por volta das 19h30, cansado, mas feliz.

 

____________________________________________________________

 

 

Bem, essas dicas já são bem batidas, mas é sempre bom lembrar que se prevenir, nunca é demais ::otemo::

 

--> Um dos maiores perrengues dessa travessia é a escassez de água. Entre um ponto e outro, é sempre bom levar um pouco mais de água além do necessário. Mas sem exagerar, para não extrapolar muito no peso da cargueira, é claro.

O Ideal é levar uns 3 a 4 litros de um ponto de água a outro, com excessão dos trechos entre o final do segundo dia e o inicio do terceiro, onde por conta da proximidade entre os pontos de água, dá para subir e descer do cume da pedra da mina bem mais leve, portando, não é preciso sair lá de baixo carregado, como no inicio do primeiro e terceiro dia.

 

Utilizei apenas 1 garrafa PET de 1,5 litros + um cantil de 2 litros e deu para carregar água e não fiquei sem em nenhum momento. E de quebra ainda tinha 2 garrafinhas de 500 ml de gatorade, totalizando 4,5 litros. Melhor pecar pelo excesso do que pela falta dele.

 

--> Isotônicos em pastilha, do tipo "Suum" são uma boa pedida. Assim, dá para levar mais de 5 litros de "gatorade" em apenas um tubinho. Cada pastilha rende 500 ml e cada tubinho vem 10 pastilhas em média. São ótimos para repor os sais mineirais, sem precisar carregar 5 litros a mais nas costas. Pode-se usar parte da água para dissolver as pastilhas em garrafinhas de 500 ml daqueles de gatorade mesmo, transformando 500ml de água em 500ml de "gatorade" em poucos minutos. Me deu muito pique, evitou cãibras e também de chegar exausto no final de cada dia.

 

--> Não recomendo fazer essa travessia sem o uso de luvas de jeito algum. As luvas são um item quase que obrigatório, pois evitam os cortes nos dedos provocados pelo Capim elefante. Esse tipo de capim corta com muita facilidade e o uso de luvas além de proteger dos cortes, se torna um grande facilitador, pois com as luvas, você poderá usar o capim como apoio nas subidas e descidas, diminuindo a carga nas pernas e joelhos.

 

--> Faça o possível para levar o isolante e a barraca dentro da mochila. Ou então, embale-os bem, com uma toalha ou algo que os deixe bem protegidos, evitando deixa-los na horizontal do lado de fora da barraca. Caso contrário, os bambuzinhos irão acabar com eles.

 

--> A trilha durante toda a travessia está bem demarcada, com excessão dos trechos de capim elefante. Porém, nos trechos de lajes de pedras, a trilha dá lugar a enormes e extensos costões rochosos, onde a navegação passa a ser através de totens. A navegação para quem não tem experiência em orientação por totens e vestígios de trilha, fica bem complicada até mesmo com o uso de gps, imagina sem....Portanto, muita atenção nos trechos de lajes de pedra e aprenda a se guiar sem o uso de gps, que pode falhar na hora H e te deixar numa fria.

 

--> Sinal de celular pega sem problemas no alto dos picos e na crista.

 

--> Boné é indispensável para evitar o sol forte...

 

--> A travessia da Serra fina não é uma travessia qualquer e é preciso estar muito bem preparado fisicamente e psicologicamente para vencer os desafios por ela impostos durante os 4 dias. Subidas e descidas pirambeiras e longas com alto grau de declive e aclive acumulados podem gerar lesões em pessoas que não estejam com um bom preparo físico. E por ser 4 dias e com escassez de água, a mochila fica muito pesada mesmo. Não há como escapar disso.

 

--> A melhor época para se fazer a travessia é no periodo seco, ou seja, de Maio a Setembro. Mesmo assim, vá somente com a certeza de tempo firme nos 4 dias e adie em caso de previsão de mau tempo. Não adianta arriscar achando que a previsão vai errar, pois a probabilidade dela acertar é maior do que de errar. A montanha não vai fugir de lá e é melhor adiar e ir com a certeza maior de tempo firme nos 4 dias do que contar com a sorte e pegar tempo fechado, sem visibilidade alguma e correndo risco de pegar chuva e ventos fortes.

 

--> Muita atenção nos trechos de capim elefante, pois as folhagens dela cobrem quase que totalmente a trilha, deixando-a meio que "invisível" . Por isso é preciso ir abrindo caminho entre os tufos afim de visualizar a trilha, escondida pelas folhagens do capim. Tendo um bom farejo de trilha, é possível encontrar o caminho mesmo sem gps ou tracklog, itens que devem ser utilizados para auxilio somente em caso de dúvidas qto ao caminho. As bifurcações em meio do capim podem confundir e se você não souber distinguir a trilha bem marcada daquelas bifurcações em meio aos tufos, se perderá com facilidade...

 

--> Leve saquinhos reserva, inclusive para poder trazer o seu lixo de volta.

 

--> Próximo da Toca do Lobo há um refúgio, que é um ótimo local para pernoite:

http://www.refugioserrafina.com.br

 

--> Na cidade de Passa Quatro, uma das melhores opções de hospedagem é o Hotel Serra Azul:

https://www.facebook.com/pages/Hotel-Serra-Azul-Passa-Quatro-MG/561280500569208?ref=stream

 

--> Logo abaixo seguem alguns contatos que fornecem transporte para a Toca do Lobo ou para pegar no final da travessia, no Sitio do Pierre, contatos fornecidos pela Vivi Mar.

 

- Taxista Marquinhos: (35) 9113-1214 (Itamonte) - Um dos + baratos;

- Celso: (35) 3371-1291 - Recados no Hotel Serra Azul (Passa Quatro);

- Edson da Toyota: (35) 9963-4108 ou (35) 3371-1660 (Passa Quatro);

- Sr. Caetano: (35) 3771-1510 (Passa Quatro);

- Sr.Samuel: (35) 9113-1700 (Itamonte);

- Eliana da 4P4 Ecoturismo: (35) 3371-4263, 3371-3937, 3371-2268 (Passa Quatro);

- Taxistas Schmidt e Boni: (35) 3371-2013 e (35) 9962-4025 (Passa Quatro).

- Carlinhos: (35) 9109-1185

- Zezinho: (35) 9113-0745

- Maú: (35) 9216-4793 ou faz a travessia alpina.de asfalto a asfalto.

- Joaquim Siqueira 35 3371 2410, 35 9113 7643 ou jjssiqueira@bol.com.br

- Hotel Serra Azul em Passa Quatro que cobra barato pernoite de mochileiros contato Steffi Sikorski (35) 3371.1291 hotelserraazul@hotelserraazul.com.br .

 

--> Por ser uma travessia clássica, existem dezenas de tracklogs dela disponíveis na internet. Aqui vai um link direto:

 

http://pt.wikiloc.com/wikiloc/find.do?q=travessia+serra+fina

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Ahhh Renato, que maravilha de relato.

Super detalhado, fotos belissimas, e pude "reviver" todos os momentos que passamos todos juntos lá na Serra Fina, uma belissima travessia, "só nossa" e sem a muvuca de feriadões...rs

Muito bom.

Estou aqui na expectativa pelo 4º e ultimo capítulo, hehehe

Abraços, e até as proximas, muito em breve hein.

Obrigada por compartilhar.

Adorei participar dessa trip com vocês.

 

Oi Vivi, que bom que gostou. Fico muito feliz por isso. Já deve ter visto que postei o 4º e último dia logo acima, né? Deu um pouquinho de trabalho escrever esse relato, por conta de trocentos detalhes e a correria do dia-a-dia. Mas procurei passar da melhor forma possível a experiência que tive, os apuros, perrengues, além das sensações e tudo mais durante os 4 dias de caminhada nessa dura, dificil, porém prazerosa travessia. Caminhar ao lado de pessoas mais experientes que eu foi uma honra e um plus a mais nessa caminhada hard e deixar mais dicas atualizadas para quem ainda não fez a travessia.

 

Acredito que tenha conseguido passar uma boa noção de como é a sensação de estar ali, no meio daquele belissimo lugar, as paisagens dos campos de altitude, vales, caminhar por lajes de pedras, enfim...sensação única, um pouco da cordilheira dos andes em um país tropical.... ::mmm:

 

Beijos e até a próxima !!!

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