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Um fim de semana qualquer, sozinha, no Rio....


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  • Membros de Honra

2010 foi um ano de diversos acontecimentos que viraram a vida de cabeça pra baixo e mudaram muitas das certezas que eu tinha sobre tudo. A "Resolução de Ano Novo" era fazer 2011 um ano de novas aprendizagens sobre mim, em todos os sentidos que fossem positivos e possiveis. E já na primeira semana do ano, surgiu a oportunidade de por isso em prática.

 

Eu nunca havia viajado sozinha.

Já viajei ( e ainda viajo )a trabalho - mas nunca dá pra chamar isso de "conhecer lugares", pelo menos nao quando a estada é aeroportoxescritorioxaeroporto...

Já rodei 1400 km sozinha de ônibus pra um lugar que nao conhecia - mas ia encontrar conhecidos que iriam me ciceronear.

Mas viajar sozinha mesmo, por escolha, por bater o pé no "estou bem acompanhada comigo mesma", nunca.

 

Eu sou virginiana, tendo a ser metodica, quando nao conheco o lugar, tendo a procurar todas as informacoes possiveis sobre ele como preparação para lá estar. Gosto de saber por onde ir mesmo quando nao sei bem onde estou.... Mas dessa vez , eu nao tive tempo pra disso. Eu já sabia desde dezembro que no inicio da segunda semana do ano, iria para Porto Alegre, a trabalho. Mas na quinta a tarde surgiu um gerente avisando de um pepino que demandava minha presença no Rio de Janeiro. No dia seguinte. Eu ia fazer a ponte aerea SP-RJ-SP numa sexta e segunda de manha lá ia eu, de novo, para Porto Alegre. Foi quando veio o clique: porque nao ficar no Rio no final de semana ? Afinal, já havia estado na cidade algumas vezes a trabalho, mas conhecer mesmo, nunca houve chance. Porque nao transformar isso numa chance?

 

Convenci a empresa a trocar o aeroporto de saida da passagem da segunda-feira, deixei pra tras uma mãe em desespero pensando em sua filha solta e sozinha por ai (engraçado que viagem a trabalho ela nunca disse nada rs) e embarquei na sexta de manhã para a tal da Cidade Maravilhosa. Tudo que deu tempo de pegar foi o telefone de tres hostels, a mala e só. Resolvi as coisas relativas a meu trabalho e, por volta das 18h estava livre para ir onde quisesse. Mas..ir onde? Não tinha ideia, era apenas eu, uma mala e nenhum rumo... ou quase nenhum...

 

Telefonei ao primeiro hostel, em Copacabana - lotado. Parti pro segundo, em Ipanema - tambem lotado.

Bateu um certo desespero quando liguei pro terceiro , em Botafogo, e - UFA - tinha vaga no El Misti, um "primo" do Misti Chilli lá de Parati, onde já me hospedei tambem. Adorei a "ruela" e casa antiga onde o hostel está instalado, alem de seu staff supergente boa. E a localização - Botafogo me pareceu um bairro muito agradável e tranquilo, e o Hostel fica a uma quadra do metrô, com supermercados e bares bem proximos. Pelas ruas do bairro eu tinha uma visao linda do Cristo Redentor de um lado , e do Morro da Urca de outro. Achei otimo ficar ali , pra chegar nas praias ou em qualquer outro canto era so descer a quadra e embarcar no metro; onde o metro nao chegasse, bastava atravessar a avenida e pegar um ônibus.

 

Acertei as diarias, e quando cheguei no quarto (coletivo feminino. 12 camas), quatro inglesas e duas dinamarquesas conversavam animadas. Claro, eu so fui descobrir de onde elas eram muito tempo depois, porque naquele momento, eu nao estava entendendo nada e continuei assim por mais algumas horas. Explico: a maioria dos hospedes eram europeus ou argentinos e chilenos. Eu nao falo espanhol e meu ingles é tão fluente e compreensivel quanto um cachorro tentando se comunicar com um papagaio...

 

O ambiente no hostel, por volta das 20h era extremamente animado, mas uma angustia massacrante me cercava. Eu era o proprio retrato do "cachorro que caiu da mudança", totalmente perdida e começando a me questionar se aquela tinha sido uma boa ideia. Fiquei calada, me sentindo idiota enquanto andava pelos cantos, tentando achar alguem conversando em portugues pra puxar papo - sem sucesso algum. O pouco ingles que sabia podeira até engatar uma conversa, mas e como é que eu ia continuar ? kkk . Na outra beira, os hermanos falavam tao rapido que eu tambem nao conseguia entender o que diziam. Me bateu um sentimento de burrice extrema por não ter pensado que poderia cair numa situação assim, parar justamente num lugar onde nao tinha nenhum brasileiro - ate o pessoal do staff falava portugues com sotaque. E quanto mais eu pensava assim, ia me sentindo pior , e pior , e pior (uma amiga psicologa disse que o nome disso é auto-sabotagem rs...)

 

Sai e fui sentar na calçada, junto a um bando de carros estacionados, acendi um cigarro e fiz o que achava que era o mais lógico naquela situação: caí no choro! ::lol4::

 

Eu estava num hostel, esperava encontrar pessoas e historias diferentes, já havia passado por aquilo antes, mas nao estava preparada para a possibilidade de não haver brasileiros ou quem falasse portugues. A barreira da lingua me parecia intransponível. Devo ter ficado ali, literalmente chorando na sarjeta, cerca de meia hora, já pensando em pegar minhas coisas e ir pra casa ou pra um hotel qualquer, quando me veio a cabeça minha resolução de ano novo.

 

Ora, eu nem havia tentado falar com quem quer que fosse - no maximo, um timido "Hi" ali, um "Hola" envergonhado acolá e só. Eu nem sabia se realmente nao haviam brasileiros ali, ou mesmo estrangeiros que falassem portugues. Eu nao havia tentado e já queria desistir. Isso sem falar no fato de estar chorando sentada numa calçada só porque nao sabia o que fazer... ora bolas, e desde quando o mundo é acolhedor o tempo todo?

 

Comecei a rir da situaçao ! (eu sei, isso é patetico kkk) Acendi outro cigarro, me levantei e voltei pro hostel. E parecia mesmo que eu havia deixado a chorona lá na calçada, porque a primeira pessoa que trombei no corredor foi um argentino me pedindo o isqueiro emprestado. E nao bastou emprestar o isqueiro, ele desembestou a falar e eu olhando pra cara dele com a cara de paisagem, até que ele se tocou e falou mais devagar. E ai eu entendi! Aos tropeços fomos conversando até que apareceu o Darlan, um alagoano, e nos deu uma ajuda na comunicação. Acabei encontrando tambem duas paulistas (Carol e Karina, a "dupla sertaneja") que tambem nao falavam nada de ingles ou espanhol - e sua forma de auto-protecao foi se "isolarem no proprio mundinho" rs. Por conta da conversa com o Darlan, as duas meninas e o argentino (que nao lembro o nome kkk) entrou na conversa o Fernando, outro paulista com inglês fluente, e o Chris (que salvo engano é Londrino... nao lembro mais). Junto com eles, um bando de ingleses, incluindo as meninas que estavam no meu quarto, um espanhol e um americano.

 

Quando me dei conta, estava entrando num ônibus, indo para a Lapa (nao me pergunte onde fica a Lapa ou como faz pra chegar lá kkk) acompanhada deste bando de gringos, do Fernando e de parte do staff do hostel. Claro que ali, ouvindo ingles o tempo todo, a coisa comecou a desenferrujar e eu comecei a entender por cima do que eles estavam falando. Uma das meninas que estavam no mesmo quarto me encheu de perguntas, e como eu entendi o que ela estava perguntando, o Fernando se recusava a me servir de interprete, mandou eu me virar pra destravar... entao fui obrigada a por meu pavoroso ingles em uso... e a vergonha? kkkk Deve ter sido meio traumatico pra eles , mas o importante é que todos se entendiam de um jeito ou de outro e quando não nos entendiamos ai sim o Fernando dava uma ajuda. É claro, quanto mais bebados mais fácil era entender e ser entendido rs

 

Metade dos ingleses e o espanhol entraram numa casa de samba chamada Carioca da Gema (enquanto uma das inglesas, chamada Gemma, tentava entender o que essa expressão significava, e quando entendeu, saiu rindo que se alguem era Carioca da Gema entao na verdade era dela rs), enquanto eu e Fernando e o Chris ficamos na duvida se iamos ou nao. Na porta dessa balada conhecemos uma gaucha chamada Roberta com cara de perdida. Era sua ultima noite no Rio e ela tambem não estava a fim de samba - segundo o Fernando, o grupo de ingleses o arrastou para sambas a semana inteira e ele já nao aguentava mais rs O Chris acabou usando a mesma desculpa para nao entrar, mas acho que ele foi convencido a outra alternativa quando viu a bela gaucha que estava papeando conosco, do lado de fora rs

 

Acabamos nós quatro sentados num barzinho ao lado da balada, batendo papo sobre filmes até as 6h30 da manha. E a conversa era toda em inglês, já que a Roberta tambem falava razoavelmente bem (acreditem, eu ja entendia quase toda a conversa e participava, mesmo falando tudo errado rs). Só saimos de lá quando fechou o boteco, voltando de taxi para o Hostel.

 

No dia seguinte, a ressaca era grande e o calor maior ainda. Só tive coragem de sair da cama por volta das 11h - alias, a coragem ficou na cama, Tomei um banho, fui comer alguma coisa e acabei reencontrando o argentino na cozinha, conversamos um pouco (sera que ele aprendeu a falar mais devagar ou eu que conseguia entender mais fácil rs), reencontrei o Fernando e resolvemos ir para praia de Ipanema.

 

Me encantei com a cor da agua naquela praia, mas nitidamente era um péssimo negocio ter vindo naquela hora: o sol era forte demais!!! Entao apos torrar cerca de 1h sobre um sol causticante resolvemos abandonar a praia por um prato de comida e um chopp bem gelado. Entramos no metrô com destino a Cinelandia. Foi alí que encontrei o que eu realmente estava procurando, mesmo sem saber. Não, nao me refiro ao chopp, e sim ao conjunto arquitetonico formado pelo prédio da Camara Municipal, Teatro Municipal, Biblioteca Nacional e Museu de Belas Artes. Por mais que eu adore praia, arquitetura e historia me interessam tanto quanto. Fomos comer no restaurante Vermelhinho, sentados na praça e curtindo a paisagem.

 

O Fernando tinha ido até o museu no dia anterior para apreciar o quadro Café , de Portinari durante todas as horas possiveis, entao planejamos encerrar a tarde no museu... foi ai que tivemos certeza que ter ido a praia por volta das 13h foi uma pessima ideia: demos com a cara na porta, tanto o museu como a Biblioteca Nacional fecham as 16h aos sábados, e já eram quase 17h.. No Museu de Belas Artes , mesmo fechado, conseguimos um mapa das artes do Rio, e vimos que ainda dava tempo de espiar o Museu Historico Nacional, proximo a Praça XV. Fomos a pé até lá e conseguimos ver cerca de metade do acervo antes que o museu fechasse, um passeio muito legal. (fica a dica: vá de metro fazer os passeios culturais de manha, almoce e deixe a praia pra curtir a tarde, tambem de metrõ)

 

Voltamos a Cinelandia e ficamos ´por lá, degustando os chopps do famoso Amarelinho. Essa tambem era a primeira vez que o Fernando viajava totalmente sozinho se descobriu ao se dar conta que dessa vez tinha a liberdade fazer o que e como ele quisesse, de apreciar um quadro pelo tempo que quisesse, de escolher o que queria fazer ou não, se queria companhia ou nao... O fato de falar ingles fluentemente o ajudou a se enturmar com facilidade, mas ele tambem me falou sobre o estranhamento inicial e como tudo muda depois que a gente dá o primeiro passo pra quebrar o gelo.

 

De lá, todos se agitavam para sair para algum canto curtir a noite de sabado, mas após a conversa da tarde com o Fernando, tirei a noite para descansar e pensar sobre as sensações da noite anterior e o que eu ainda esperava desta viagem, o que eu queria esperar nesse ano. Ele foi a minha fiel companhia o dia todo, mas eu tinha que lembrar que tanto eu como ele estavamos viajando sozinhos, ou seja: cada um é livre e deve fazer o programa que quiser, independente do outro querer ir ou nao. E o mais importante: quando quiser, a temos toda a liberdade em ficarmos sozinhos. Voltei a conversar entre trancos e barrancos com os argentinos - tava mais fácil entender os que falavam ingles do que os que falavam espanhol, mas era divertido porque eles tambem nao me entendiam direito, e quando nada mais funcionava, apelavamos pra um ingles que devia doer nos ouvidos dos que eram fluentes rs.

 

Acordei por volta das 10h dia seguinte, mas estava cheia de preguiça. Sai para tomar café, mas como era domingo muitos lugares estavam fechados. Aproveitei pra dar uma volta pelo bairro mas me vi obrigada a voltar correndo para o Hostel, passando mal: o sol carioca nao deu mole a uma paulista desavisada rs . Enrolei pelo hostel trocando ideias com dois chilenos de Arica que já estavam há um mes rodando o Brasil, enquanto Louise e Tina (as duas dinamarquesas) tinham enfiado a cara no guia Lonely Planet, já que viriam para Sao Paulo por volta do dia 15. Eu comentei com o Fernando sobre o Guia, que ele nao conhecia, enquanto elas pediam para que o Fernando marcasse lugares imperdiveis em Sampa.

 

Não sei de onde surgiu alguem comentando que naquele domingo rolaria a abertura nao-oficial do carnaval com um encontrão de vários blocos carnavalescos prometendo agitar a tarde no centro da cidade. Foi o estopim para que eu, Fernando, Louise, Tina e Jeff (um americano que havia acabado de chegar) nos mandassemos para a região da Praça XV, por volta das 14h.

 

Lá, as duas dinamarquesas e o americano ficaram abismados ao serem apresentados ao "sacolé de caipirinha" rs e o calor era tanto que era impossivel nao tomar uma cerveja atrás da outra. Deu tempo, enquanto os blocos nao começavam, de dar uma espiada nas ruazinhas estreitas e o casario que compõe aquela regiao (rua do Ouvidor, Travessa do Comercio, Rua do Mercado). Foi muito divertida aquela tarde, mais ainda por causa do trio gringo que nos acompanhavam tentando entender o que era aquela bagunça de marchinhas, suor , gente pulando e muita cerveja. Desconfio que as meninas nunca haviam tomado tanta cerveja na vida (a maioria deles não conseguia compreender a ideia de ficar sentado numa mesa de bar , tomando umas brejas e batendo papo a tarde toda). Eles, ja devidamente embebedados, resolveram que era melhor voltar para o Hostel, enquanto eu e o Fernando resolvemos continuar na bagunça ate por volta das 21h.

 

Voltei para o Hostel para arrumar as coisas, meu voo saia na manha seguinte, com destino a Porto Alegre. Claro que deu tudo errado: errei de aeroporto (fui parar no Santos Dumont ao invés do Galeão), perdi o voo, me obrigando a remarcar os compromissos em Porto Alegre (além de passar um dia a mais que o previsto lá) percebi que esqueci lá meu oculos escuro e uma blusa no Hostel, quebrou a alça da minha mala ( queria ter ido de mochila, mas estava com varios equipos frágeis e documentos da empresa)... Mas a cabeça me parecia outra.

 

E num é que o ano parece mesmo que vai ser bem diferente? rs (e eu preciso aprender espanhol kkk os sulamericanos ali eram mais divertidos!)

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  • Membros de Honra

Ahh!! Cris, muito bom relato! eu já tive esta sensação, de estar sozinha, deslocada...affff mas bastou dar o primeiro passo pra quebrar o gelo. Além de ter descoberto que viajar sozinha te dá mais liberdade com relação a tudo! o que e onde comer, os passeios a fazer, enfim, tudooooooo!

E que bom ter sido tudo tranquilo, sua mãe deve ter ficado mais sossegada!!!

 

Hoje em dia até penso duas vezes quando é viagem com a turma!

 

Abraços!!!

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  • Membros de Honra

hahaha Frida...

O difícil é quebrar o gelo e dar o primeiro passo mesmo. Eu sou assim, fico meio deslocada quando chego num lugar sem conhecer ninguem, mas acabo as vezes saindo de lá com "novos amigos de infancia" kkk É so deixar a porta aberta para que as coisas possam ir acontecendo.

 

Quanto a "barreira do idioma"... so me aprendi que nada é impossivel rs. Obvio, no meu caso, que parte da diversao toda estava justamente no fato de se comunicar a trancos e barrancos rs... mas me deu uma ideia por cima do que deve ser viajar pro exteriror sem falar ingles. O pouco que eu sabia me salvou.

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  • Membros de Honra
Nossa muito legal sua viagem viu!!!!

Ohh foi dificil encontrar o hostel quando vc chegou lah?

 

Valeu!

Quanto ao hostel, ele está numa "viela" na Praia de Botafogo, entre a Rua Sao Clemente e a Voluntarios da Patria, como a ruazinha sai bem do meio da quadra, o numero (462, se nao me engano) está fixado na arvore perto da esquina, entao dá pra ver assim que voce chega na calcada. Tem mais dois hostels ali na mesma ruazinha, entao mesmo que nao localize de primeira nao tem como errar...

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