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Torres del Paine - Março de 2016.


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O caminho até o Parque.

 

Torres del Paine estava nos planos há alguns anos. Abriu-se uma possibilidade para esse início de ano e pensei "é agora".

Primeiramente pensei em ir em fevereiro, mas não deu certo. Ficou então para março. Acompanhei a previsão do tempo pelo accuweather e vi uma janela de tempo bom entre 10 e 25 de março. Com pouca previsão de chuva. Comprei as passagens, ajeitei o material de trekking e fiquei esperando o dia.

 

A princípio a idéia era fazer o circuito completo, começando pela Laguna Amarga, Serón, Dickson, etc. Deixando as Torres para o último dia. Mas como tinha lido que se chegasse lá e o tempo estivesse aberto era melhor já subir até as Torres no primeiro dia, porque talvez no último dia não encontrasse o tempo aberto, decidi deixar essa opção em aberto.

 

Sairia de Maringá, no dia 10-03 às 06:25h para São Paulo. às 19:00h de São Paulo para Santiago e às 02:00h de Santiago para Punta Arenas.

Já começou errado. Acordei às 04 horas da manhã e ainda consegui perder o avião. Não por culpa minha e sim de quem iria me dar carona até o aeroporto que perdeu a hora. Tentei de tudo para embarcar e não consegui. Voltei para casa, entrei em contato com a turma do Smiles e consegui remarcar para o meio dia. Só que iria para Congonhas e não para Guarulhos. Tive que encaixar um transfer até Guarulhos, mas no final foi tudo bem. Nessa viagem aprendi uma coisa, não adianta muito ficar se preocupando porque no final tudo vai dar certo.

 

Cheguei em Punta Arenas às 05:30h do dia 11-03 e peguei um táxi do aeroporto até a sede da Bus Sur e de lá saí às 07:00h, com destino a Puerto Natales. Cheguei em Natales por volta de 10:00 e saí para comprar algumas coisas que faltavam. Comida para os dias no Parque e gás de cozinha. Tive a oportunidade de conhecer um casal de irmãos chilenos que fariam o "W" e começariam pelas Torres. Decidimos que subiríamos até o campamento Base Torres juntos e na sexta feira, 12-03, madrugaríamos para subir até as Torres para o nascer do sol. Comprei o que precisava e fiquei moscando pela cidade até a hora de pegar o busão para o parque, que sairia de Natales às 14:30h (buses Gomes). Deu tempo de dar uma boa pernada pela cidade.

 

Chegamos no Parque próximo das 17:00h, ainda com sol alto. O planejado corria bem até que na sede da Laguna Amarga nos disseram que o campamento base Torres estava lotado e não seria possível dormir lá nessa noite. Ainda pensei em dar um migué e subir, mas uma guarda parque me disse que me fariam voltar. O grupo que eu tinha com os chilenos acabou aí. Eles rumaram para iniciar o W pelo outro extremo e eu decidi ir para o campamento Las Torres, pernoitar lá e no dia seguinte subir até às Torres. O nascer do sol nas Torres já era.

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A primeira noite no parque, acampamento Las Torres, foi muito fria. Tomei um bom banho quente, fiz um miojão e fui dormir. Duas blusas, calça comprida, meias e ainda assim passei um pouco de frio. Parecia que o frio brotava do chão.

 

 

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Primeiro dia em Torres del paine.

12-03-2016.Sábado.

 

O dia começou cedo, acordei, tomei um café mais ou menos, preparei a mochila de ataque e às 08:00h saí rumo as Torres del Paine. Estava desde agosto passado meio que de molho. A última aventura tinha sido o Pico Paraná, Itapiroca e Caratuva, em dois dias. Mas depois disso nem as corridas (meu esporte atual) eu estava fazendo, tentado sarar uma tendinite brava no calcanhar. Então estava com um pouco de receio. DSC02696.JPG.d8807a453eb40a6905f870d54612153f.JPG

A paisagem muito bonita, mais até do que eu imaginava, tornou o caminho tranquilo. Passei pelo campamento Chileno, que estava "fechado" (mais ou menos, só estava aberto para quem tinha reserva prévia e para o Refúgio) parei um pouco para conhecê-lo, depois passei direto pelo campamento Base Torres. Nessa subida passei por muita gente que descia, indicando que o base Torres estava realmente lotado. Também encontrei o primeiro brasileiro, um cara de Londrina, mas que morava em São Paulo e só ficaria no Parque esse dia, fazendo a subida às Torres e retornando porque no dia seguinte iria para El Calafate. Infelizmente ele abriu o bico e não terminou a subida.

Às 11:45 eu estava em frente às Torres del Paine. Que maravilha, que sensação boa. Quando você tem a oportunidade de estar em um lugar que você sonhava, com um dia lindo como estava, é demais. Tudo que eu fazia era admirar toda aquela beleza e agradecer à vida por ter me dado essa oportunidade.DSC02751.JPG.4ca842673edb920c0ceb2b88306a1503.JPG

Depois de uns 45 minutos lá em cima, resolvi descer. Parei um pouco no campamento Base Torres para conhecer e ali encontrei o primeiro membro da fauna do parque, uma raposa curiosa, que parecia não ter medo dos turistas. Ah não, essa não foi a primeira, na noite anterior tinha visto uma outra raposa no campamento Las Torres, só que aquela era mais medrosa. Depois de muitos Holas, Buen dias, etc, cheguei de volta ao campamento Las Torres. Eram quase 3 da tarde e vi que dava tempo de seguir até o Serón. Desmontei acampamento, arrumei a mochila e parti rumo ao Serón às 15:30. Nesse meio de caminho, que segue margeando o Rio paine, eu resolvi pegar um "cajadinho" que nada mais era que um galho de "lenga" caído na beira do caminho ele foi de muita utilidade nesse final de dia, já que eu não costumo usar bastões de trekking. De manhã eu estava só com a mochila de ataque e agora levava a a mochila pesada. A diferença é grande.

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Às 19:45 eu estava chegando ao campamento Serón, lugar do segundo pernoite. Ventava bastante. Ainda havia um bom período de luz e tive tempo de armar a barraca, trocar uma idéia com o responsável pelo campamento para depois tomar um banho quente e preparar o rango.

Eu tinha percorrido 37 Km nesse dia e achei que merecia um presente. Comprei uma coca lata para acompanhar o rango que teve miojo e atum. Nessa noite conheci o Sebastian e mais duas moças também chilenas.

 

 

 

Segundo dia em Torres del Paine.

13-03-2016. Domingo.

 

Tinha ventado prá caramba durante a noite. Apesar disso não tinha feito tanto frio e eu que tinha começado a noite com duas blusas terminei dormindo só de cueca e camisa e não passei frio. Acordei meio tarde, fui preparar o café da manhá e lá encontrei de novo o Sebastian e conheci um americano, Johnatan, cara bem maluco. Legal, mas maluco.

Depois de desmontar acampamento, saí às 11:40 rumo ao campamento Dickson, que seria local do segundo pernoite. Eu tinha levado uma garrafinha plástica de 500 ml para água e mais um Gatorade de 750ml. Não é que esqueci a garrafinha no Serón. Só eu mesmo. Dali prá frente ia ser só a garrafinha de Gatorade, mas ela seria suficiente.DSC02824.JPG.c9bc9a0c0832d738e4affbea5ea20259.JPG

A trilha foi bem tranquila, bem mais leve que a do dia anterior. Exceção feita ao trecho conhecido por "Paso de los Vientos", que faz juz ao nome. Chegamos nesse trecho eu e mais 4 pessoas que tinha conhecido na trilha, todos texanos. O John e mais 3 amigas dele. Tinham se formado e estavam de férias comemorativas em TDP. Eles iam na frente e quando vi caíram os 4 de uma vez. Não deu nem tempo de rir porque eu fui o próximo. Nunca vi um vento tão forte. A gente ficou um tempo sentado esperando parar e não parava. Vieram dois chilenos e caíram, mas levantaram e foram em frente. Também fiz o mesmo. Penei prá superar esse trecho de vento, mas a visão que me esperava depois da curva era linda, o lago Paine. Fiquei um bom tempo sentado adimirando aquele lago de uma cor tão diferente e linda.DSC02841.JPG.ab551dafc9bf39a78ee2f7d3e40c2ea3.JPG

Depois disso levantei para seguir em frente e percebi que tinha perdido meu óculos de sol. O vento tinha levado ele e eu nem percebera. Voltei para procurá-lo e não encontrei. Também não iria me fazer falta. Nunca fui de usar óculos de sol e não seria agora que me fariam falta. Só fiquei sentido porque os mesmos seriam um corpo estranho, sujando um lugar lindo daqueles. Fazer o quê?

Toquei em frente. Passei pelo Posto de controle Coirón, onde me pediram um papel que eu devia ter pego na Laguna amarga e não tinha, que era tipo uma "autorização" para fazer o circuito completo. O guarda-parques me pediu para assinar o livro e colocar um Xis na frente, indicando que eu não tinha aquele papel que deveria ser deixado nesse posto de controle.

Segui em frente e às 18:00 horas estava chegando no campamento Dickson. O visual que se tem do alto do morrote que precede o campamento Dickson também é qualquer coisa. Aqueles enormes blocos de gelo, de diferentes formas e tamanhos flutuando no lago e no rio que o sucede são simplesmente demais.

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Depois de conversar com um guarda-parques por um bom tempo, fui montar o acampamento e depois passear na beira do lago Dickson por outro bom tempo. O clima começou a ficar mais frio e voltei para o camping para tomar banho e preparar a janta, que nesse camping é feita ao ar livre, em mesas de madeira, na companhia do vento e dos pernilongos, que felizmente não eram muitos.

Nessa tarde-noite conheci dois americanos, o Wess, de 80 anos, que estava fazendo o circuito completo, carregando mochila e tudo mais e dormindo numa barraca Marmot bem mais estreita que a minha. Depois fiquei sabendo que o Sebastian era quem carregava, montava e desmontava sua barraca, além de preparar o rango. Mas isso não tira o mérito de um senhor de 80 anos, sozinho numa aventura dessa. Além dele conheci o Max, que não carregava barraca. Ele utilizava uma Tarp que ele montava utilizando os dois bastões de trekking. Segundo ele, o vento não tinha sido problema. Ele dormia num saco de dormir colocado dentro de um mosquiteiro.

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À noite eu fiquei, como nas duas noites anteriores, obesrvando o céu dessa parte do Globo terrestre. Parece que aqui tem mais estrelas que em qualquer lugar do mundo. Lembro que no Pico Paraná também tive essa experiência. O céu noturno é um espetáculo a parte.

O chuveiro quente, o rango quente e o cansaço dos 20,6 Km percorridos nesse dia, fizeram com que eu dormisse logo e tivesse uma ótima noite de sono.

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Terceiro dia em Torres del Paine.

14-03-016. Segunda-feira.

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Depois do café da manhã, de desmontar a barraca, arrumar a mochila, trocar uma idéia com o Wess, eu parti às 10 da manhã rumo ao campamento Los Perros, onde depois de 13 Km eu chegaria às 14:45 horas.

Esse foi um dia bem legal. Caminhada em grande parte por dentro de bosques de lengas, que não são bosques muito fechados. Alguns trechos com lama. Grande parte do percurso ouvindo o barulho do Rio Los Perros e sua corredeira. Cruzando esse rio de um lado para outro algumas vezes.

A chegada no Glaciar Los Perros é estonteante. Apesar de ser muito pequeno se comparado ao que viria no dia seguinte, a visão do Glaciar e do lago formado por ele me fez ficar ali por um bom tempo apesar do vento forte que deixava o clima bem mais frio do que já realmente era.DSC03031.JPG.a343e9ae052c77770b6b467d7980f8f7.JPG

Depois de deixar o Glaciar segui rumo ao campamento Los Perros.

Para completar o dia, o acampamento Los Perros, do qual muitas reclamações tinha lido na internet,mas que para mim foi a melhor noite de todas. Noite bem dormida, tranquila. E a área de cozinha, a melhor de todas.

A janta com todo mundo se reunindo na área de cozinha que é fechada e aquecida por um fogãozão a lenha. As conversas em uma mistura de idiomas. Os vários temperos e incrementos que cada um usava no seu miojo.

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Essa noite, na área de cozinha, com toda aquela gente de vários cantos do mundo, por si só teria valido a viagem. Oportunidade de conversar bastante com o Wess, que se mostrou um cara muito divertido e "jovem" do alto de seus 80 anos. Longa conversa também com o Hanz, um alemão que trabalha na universidade de Punta Arenas, com pesquisa nos Glaciares, utilizando fotogrametria. Também conheci o Tomaz, um chileno que tinha morado nos EUA e que parecia mais alemão do que chileno. Também deu para conversar mais com o Sebastian e as duas chilenas. Essa seria a última noite que iria vê-los só que eu não sabia até então. O Wess me disse algo que me emocionou bastante. Ele disse que queria aproveitar ao máximo esse trekking, porque talvez fosse o último grande trekking que faria, já que estava com 80 anos. Ele que tinha começado nessa vida de trekkeiro depois que se aposentara, aos 75 anos, já tinha feito trekkings no Himalaia e no Apalachian Trail, além do Pacific Trail Crest. Cara, que figura sensacional.

Além deles, um acontecimento à parte foi o Jonathan, que chegou para fazer o rango depois que todo mundo tinha terminado e estava conversando. O cara usou tipo uns 20 temperos no miojo dele. Primeiro o cheiro da cebola impregnou o ar, depois ele foi colocando outros temperos e não parava mais. Por fim pegou uma caixa de uma bebida tipo Ades e ofereceu para todo mundo. Só que não tinha Ades na caixa, tinha Uísque. Aí virou festa.

Só não deu coragem de tomar banho na ducha gelada. Aliás, acho que ninguém teve coragem.

 

 

 

 

Quarto dia em Torres del Paine.

15-03-016. Terça-feira.

 

Esse quarto dia foi um dia bem longo. 33 Km percorridos e muita diferença de altitude. Resumindo, muita subida e muita descida. Muitos dividem esse trecho em dois dias. Quase todos os que tínham saído do acampamento Los Perros ficaram no acampamento Paso, que fica cerca de uma hora depois do Paso John Gardner. Eu decidi alongar o dia até o acampamento Grey.

Comecei esse trecho por volta de 9:20 e depois de muita subida e paisagens lindas cheguei ao Paso Jhon Gardner por volta do meio dia. A chegada ao Paso é muito marcante. O visual deslumbrante do Glaciar Grey. O contato com a neve perene nas montanhas. A paisagem, o vento, simplesmente demais.

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Depois de mais ou menos uma hora, fazendo um lanchinho, descansando e admirando aquilo tudo, desci em direção ao campamento Grey, sempre tendo como companhia o Glaciar Grey. DSC03238.JPG.d8af6829d36887ec97fc97bb6f266ce4.JPG

Muitos visuais de tirar o fôlego. O Glaciar, o lago, gargantas enormes por onde desce a água de degelo até encontrar o lago. Pontes suspensas que são uma emoção a parte.DSC03248.JPG.858a9af50eb08e5fffc30e8a4221ce4d.JPG

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Já próximo ao acampamento uma ida ao Mirante do Glaciar Grey, onde a gente fica de frente para ele. Muito legal.

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Nesse trecho eu consegui perder a minha sacola de comida. Só eu mesmo. Só dei conta quando cheguei no acampamento e fui montar a barraca.Já voltava procurar a bendita, quase escurecendo, quando encontrei um polonês, santo Jan, que havia encontrado a preciosa. O universo de vez em quando dá uma mãozinha prá gente.

O campamento Grey estava lotado de barracas. Essa parte do circuito é bem mais movimentada e aparecem muitos "turistas" com suas roupas de aventura de grife, quase que engomadas. É um tanto quanto diferente do que vira até então

A noite desse dia também foi bem legal. Área de cozinha fechada. Só que eu estava bem mais cansado. Voltei a encontrar o Hanz e o Max, que também tinham seguido até aqui, só que não nos falamos muito. Porém deu para trocar uma ideia com um grupo de chilenos até umas horas. Eles me convenceram a desistir de uma idéia que eu estava matutando, que era fazer um bate-volta rápido até El Calafate.

Saímos de lá as luzes da cozinha já estavam apagadas. Já eram mais de 23:00 horas e ainda tinha gente cozinhando e conversando. Só que aí só na base das lanternas. Rolou até uma cervejinha para terminar o dia.

Dormi que nem uma pedra.

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Quinto dia em Torres del Paine.

16-03-2016. Quarta-feira.

 

A intenção inicial era seguir até o campamento Italiano, pernoitar lá e no dia seguinte subir o Vale Francês. Só que ao chegar ao Italiano veio a surpresa. Estavam com problemas nos "banheiros" e não seria possível acampar por lá. Teríamos que seguir até o campamento Francês.

Quando você já andou por mais de 7 ou 8 horas, com uma mochila nada leve nas costas e se vê forçado a caminhar por mais 30 minutos, você fica meio desapontado, mesmo que essa caminhada tenha sido por paisagens lindas.DSC03360.JPG.75ab530f0991bf6a682b6e4071f34170.JPG

Muita coisa boa tinha acontecido. Tinha rompido a marca de 100 Km de trekking. Tinha passado pelo campamento Paine Grande, com aquele lago azul lindo em frente. O visual lindo e imponente de montanhas como o maciço Paine Grande e os Cuernos del Paine. Os lagos Grey, Laguna Los Patos, Lago Pehoe, Lago Skottsberg e Lago Nordenskjold.

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Um dia tão bom assim não podia terminar de maneira ruim e não terminou. O campamneto Francês apresentou-me uma novidade. Teria que montar minha barraca, que não é auto-portante, sobre um tablado. Achei que seria difícil, mas não foi. Com a ajuda de um punhado de cordinhas a bichinha ficou bem esticadinha e a noite foi uma beleza.

A grande surpresa desse fim de dia foi o banheiro desse camping. Parecia coisa de hotel. Várias pias, vários sanitários e várias duchas. Tudo novo e muito limpo. E a água quente foi perfeita para tirar o cansaço do percurso.

Nessa noite tive a oportunidade de conversar um pouco com dois chineses. Muito educados e com um pouco de medo dos outros estrangeiros.

Mais um miojão com atum e sopa Vono para esquentar o corpo antes de pegar no sono.

 

 

 

 

Sexto dia em Torres del paine.

17-03-2016. Qunita-feira.

 

 

Esse foi um dia inesquecível, também. Mais uma vez resolvi fazer dois dias em um. Mais 33 Km de caminhada.

Tinha chovido a noite e o dia tinha amanhecido com garoa, frio e encoberto. Comecei o dia com um caldinho de feijão para esquentar e parti de volta, só de mochila de ataque, rumo ao Vale Francês.

Pouco tempo depois de começar a caminhada, o tempo começou a abrir, fez sol, calor, frio de novo e para completar nevou por uns 15 minutos, já próximo ao mirante britânico. Uma neve fina, com flocos pequenos, mas era minha primeira neve e estava valendo. Prá mim era tipo uma 'nevasca", fiquei feliz prá caramba.

A chegada ao mirante foi qualquer coisa. O caminho até aqui já tinha sido muito bacana, mas a sensação de estar naquele lugar, cercado por aquela cadeia de montanhas majestosas, é única.

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Durante a pausa para lanche e fotos no mirante, mais uma oportunidade de conhecer gente do mundo todo. Austrália, Inglaterra, Holanda, Suiça. Daí a pouco chega o Hanz. Nos todos tremendo de frio e ele lá, de camisa de manga curta e bermuda de ciclista. Tinha subido carregando sua mochila enorme, de sei lá quantos litros. Todos os seus equipamentos fotográficos estavam ali e ele tinha um certo receio de deixar aquilo tudo longe dele. Conversamos mais um pouco, ele tirou umas fotos para mim e desceu de novo. Eu ainda fiquei mais um tempo lá e tive a oportunidade de conhecer um britânico, que falava português muito bem e que morava na Alemanha. Ele tinha morado dois anos em São Paulo.

Essa foi uma manhã onde tudo que podia dar certo deu certo.

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Depois de retornar ao campamento francês, desmontei a barraca e parti rumo ao campamento Las Torres, que tinha sido onde eu começara minha jornada e isso significava que a aventura estava acabando. Um misto de satisfação, de alegria por ter dado tudo certo e de tristeza por saber que tudo estava para terminar.

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Cheguei no campamento las Torres por volta de 19 horas. Barraca montada, banho quente, comida, cervejinha. Mas pegar no sono não foi fácil. Pensar que no dia seguinte aquilo tudo seria passado trouxe um sentimento esquisito. Uma nostalgia antecipada, que deixava o sono longe. Sem falar que o frio do primiro dia também se fez presente. Aqui ele parece brotar do chão.

 

 

 

 

Sétimo dia em Torres del paine.

18-03-2016. Sexta-feira.

 

Acordei mais tarde, meio que não querendo que aquilo tudo terminasse.

Café da manhã reforçado por uma caixa de leite com banana que alguém tinha deixado sobre a mesa.

Tudo desmontado e arrumado dentro da mochila. Era só juntar coragem para ir embora.

Antes um breve papo com uma americano, que acabara de chegar de bike. Estava fazendo um "tour" pela América latina, com sua bike. Já havia mais uma família, casal e um filho, de americanos, que também estavam ali fazendo sua viagem de cicloturismo pela patagônia.

O ônibus só sairia à tarde e eu tinha tempo para voltar a pé até a Laguna Amarga. Fiz isso e foi muito legal. Os últimos olhares para toda aquela beleza. A companhia de uma raposinha que ficou por perto por uns minutos. Os guanacos que pastavam por perto. A estrada longa e solitária. Os pensamentos...

 

Tudo acaba. Seja bom ou ruim, tudo acaba. E esses dias maravilhosos tinham chegado ao fim. Subi no ônibus que me levaria de volta a Natales.

A vida continua e quem sabe um dia a gente volta.

 

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Depois disso fiquei uns dias em Natales e Punta Arenas, incluindo uma ida à Ilha dos Pinguins.

 

As lembranças de Torres del Paine ainda estão muito presentes. Mesmo depois de 6 meses.

 

Fica uma lição de que não é preciso se preocupar demais, planejar demais. É claro que é necessário um planejamento, mas se alguma coisa sair do planejado não precisa esquentar demais. No fim das contas as forças boas do universo conspiram para que tudo dê certo. É só não querer demais da vida, olhar o lado bom das coisas e acreditar. No final tudo dá certo.

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