Membros Marquito Postado Julho 5, 2013 Membros Postado Julho 5, 2013 (editado) Depois de um bom tempo após o retorno, finalmente resolvi escrever o relato da viagem. Eu (Marcos) e um amigo (Wagner) viajamos pela Bolívia e Peru durante aproximadamente 40 dias, em outubro e novembro de 2012. Gastamos quase 5 mil cada um, incluindo tudo, passagens, passeios (vários), alimentação, presentes, etc. Não comemos nem nos hospedamos no que há de melhor, mas também não fomos “miseráveis”. Vou tentar ser sucinto (duvido). Primeiramente gostaria de agradecer a todos que ajudaram, deram dicas, etc, inclusive durante o trajeto. Escrever o relato aqui é uma maneira de agradecer e ajudar outros mochileiros. O roteiro original pode ser conferido aqui: bolivia-peru-roteiro-praticamente-completo-out-nov-2012-t73986.html Engraçado que por mais que a gente seja detalhista no roteiro, a gente sempre se perde com o planejamento. Deixamos de visitar algumas coisas por falta de tempo. No entanto, descobrimos coisas que não estavam previstas e, em alguns lugares, ficamos mais tempo do que esperávamos, simplesmente porque gostamos do lugar. Perrengues também fazem parte, rsrsrs. No geral, os preços de hospedagem e passeios foram mais baratos que o previsto no roteiro. Mas gastamos mais com alimentação e, sobretudo, água. Não imaginava que ia precisar beber tanta água, rsrsrs. O mochilão foi ótimo. Inesquecível. Antes de ir, pesquisamos sobre os lugares, cultura e história locais, o que enriqueceu a viagem. Este trajeto é acessível financeiramente e muito rico em termos de paisagens e cultura. Já penso em voltar. Antes de viajar tomamos cuidado em fazer um seguro saúde, que não foi necessário. Também compramos algumas passagens (avião de ida e o ônibus da volta). As hospedagens e demais passagens foram todas compradas na hora. Tomamos a vacina pra febre amarela com o certificado internacional, com no mínimo dez dias antes. O RG tem que ter menos de dez anos de expedição. Fomos numa época de baixa temporada, fim da época das secas e início da temporada de chuvas (mas, ainda bem, quase não pegamos chuva). Uma coisa importante também foi que ambos estávamos imbuídos do espírito aventureiro (rsrsr): se tivéssemos que dormir em lugares ruins nós faríamos isso, se tivesse que pegar ônibus ruim, comida estranha, passar por perrengues, enfim... estávamos prontos! Eu já fiz alguns poucos mochilões e para o Wagner era o primeiro. Este não é o tipo de roteiro para pessoas com muitas... errr... digamos... frescuras. Rsrsrs. Quanto aos gastos, a estimativa tá no roteiro. Na prática é muuuuuito difícil anotar tudo direitinho pra depois postar aqui pro pessoal. Sinto muito, até queria fazer isso pra informar as pessoas mas ou vc anota tudo o tempo todo, ou vc curte a viagem. Mas vamos ao que interessa. No dia 10/10/12 saímos do trabalho direto para o aeroporto de Guarulhos, onde pegaríamos o vôo para Campo Grande – MS às 22h00. Já logo de cara uma zica: o vôo atrasou. O vôo é de duas horas, mas chegaríamos em Campo Grande 23h00 devido ao fuso. Às 24h00 tínhamos que pegar o ultimo bus para Corumbá. Do aeroporto até a rodoviária demoraria mais ou menos meia hora de táxi. Mas com o atraso em Guarulhos nós chegamos em Campo Grande às 23h40. Resultado: já começamos o roteiro errado, com atraso. Ainda tentamos, debaixo de uma garoa irritante, pegar o ônibus na estrada (que por sinal passa em frente ao aeroporto). Sem chance. Os ônibus estavam lotados e não paravam. Voltamos para o aeroporto e o jeito foi tomar umas cervejas, comer algo e tentar dormir no saguão. NO dia seguinte, acordamos bem cedo, pra pegar o primeiro bus da rodoviária, que saía as 06h00. A parte legal é que, de dia, pudemos ver um pouco (bem pouco mesmo) do Pantanal durante o trajeto. Às 13h00 chegamos em Corumbá. Já é bem visível a mudança nos rostos: as pessoas tem os traços indígenas bem fortes. Uns taxistas quiseram enrolar a gente mas no fim das contas acertamos com uns moto-táxis até a fronteira (cena bizarra: os dois moto-táxis com a gente carregando aquelas mochilas gigantescas). Ao chegar na fronteira, por volta das 13h45, decepção total: era dia 11/10/12, e o Mato Grosso do Sul comemorava 30 anos de emancipação do Mato Grosso!!! O posto da fronteira havia fechado às 13h00, por causa do feriado. Por mais que tenha planejado a viagem em detalhes, nunca imaginei que isso ia acontecer. Pois é: ACONTECE!! Tivemos que pernoitar nessa região sem ter planejado. Mais um atraso. Já que estávamos lá mesmo, resolvemos pernoitar em Puerto Quijarro. Atravessamos a fronteira (ilegalmente) e fomos conhecer aquele pouquinho de Bolívia que surgia pra gente. Puerto Quijarro é uma cidade bem pequena e pobre. É muito difícil ver turistas pernoitando por lá. Por ser a estação de partida do trem da morte, as pessoas apenas passam pela cidade. Não podíamos fazer isso pois o risco de ter problemas mais pra frente devido a entrada ilegal é muito alto. Andamos pela cidade e aproveitamos pra começar a nos familiarizar com a Bolívia. Andamos em alguns bairros da cidade, provamos de salgados típicos, refrigerantes, Maltín (algo com gosto de cerveja preta mas sem alcoól), escutar as músicas que o povo ouve (toca-se muito nas rádios algo que mais ou menos nos lembra o nosso brega, a maior parte das vezes cantado por mulheres numa voz bem fina e estridente, bateria eletrônica sempre no mesmo ritmo não importa se já é outra música, tecladinho – procura no youtube, Las Misteriositas). Fomos no centro, numa feirinha bem pequena, precária, ruas esburacadas. Jantamos: a partir daí conhecemos um tipo de comida que tem em toda a Bolívia e é alimento base, papas e pollo (batatas e frango). Também conhecemos a chincha, uma bebida feita de fermentado de milho (maiz) com temperos, especiarias, podendo ser canela, cravo, limão, etc. A princípio não parece ser muito saudável nem muito limpo, mas como disse anteriormente, não pode ter frescura, senão passa fome em alguns lugares, rsrsrs. Também fomos nos adequando ao idioma. Não falamos mui bien o espanhol, mas dá pro gasto. Pra quem não conhece nada, basta ver um livro de espanhol rápido com uma semana de antecedência, só para conhecer as palavras mais comuns, é simples. Esta cidade não tem muita infra-estrutura, então os hostels são ruins. Já q era pra ser num hostel ruim mesmo, nos hospedamos talvez no pior deles rsrsr. A diária custou o equivalente a R$ 7,00!!! Mas tivemos que tomar banho frio, sem TV, sem ar condicionado, só um ventilador, sem café da manhã, sem internet, quarto escuro, sofá faltando pedaço, rsrsrs. Era só pra dormir mesmo! Dia seguinte voltamos à fronteira, fila grande. Se não me engano o posto brasileiro abriu ás 09h00. Chegamos antes e fomos atendidos rapidamente. Cuidado pois tem sempre gente querendo furar fila. Furaram a nossa vez, mas, enfim... Conhecemos na fila alguns mochileiros brasileiros e estrangeiros indo e vindo. Alguns que voltavam já contavam, emocionados, sobre a experiência de viajar a América Latina. Daí fomos para o posto boliviano pra carimbar a entrada, tranquilo. Mas estava quase na hora de pegar o trem! Pegamos um táxi e chegamos em cima da hora! No trem pegamos a classe Pullman. Também tinha a primeira classe, que é pior. NO trem da morte tem 4 classes, mas depende do trem que vc vai. Tem um trem somente com a melhor classe (q esqueci o nome) e é mais caro. Ele viaja uma ou duas vezes por semana. A segunda melhor classe é a Super Pullman, que também é de outro trem, que viaja em dias específicos (para maiores informações procure no site de buscas “Ferrovia Oriental Bolívia”). NO trem em que estávamos tinha a classe Pullman e a pior de todas, a Primeira Classe (não sei o porquê deste nome). Na Pullman tinham bancos reclináveis (ou pelo menos deveriam ser reclináveis, alguns não funcionavam) e elas eram acolchoadas. Na Primeira classe os bancos eram duros e não inclinavam, além de serem apertados: não recomendo esta classe para ninguém, mesmo se estiver duro. A diferença de preços é pequena. Meu amigo queria ir na primeira classe só por experiência antropológica, rsrsrs. Apesar de ser sociólogo, tô fora. Saímos de Puerto Quijarro às 11h00. O trem estava praticamente vazio. O senhor Roberto, funcionário do trem, logo veio conversar conosco. Quando descobriu que ambos éramos corinthianos abriu um sorrisão e disse: “na Bolívia todos somos corinthianos ”. Pronto! Nos ganhou! Fizemos amizade com o senhor Roberto, que logo nos levou para passear e conhecer o trem da morte. Andamos por outros vagões, casa de máquinas, etc... O senhor Roberto veio nos mostrar uma toalha e um coobertor com o símbolo do Timão!! Show de bola. Tiramos foto com ele, conversamos, contamos piada. Hoje fico pensando: que presepada o zé ruela que jogou o foguete na torcida boliviana matando o garoto Kevin em Oruro no jogo do Corinthians! Em toda a viagem percebi o quanto os bolivianos gostam dos brasileiros, torcem pela gente, pelo futebol, fomos muito bem recebidos. Quando lembro o descaso e preconceito com que são tratados aqui em São Paulo... aff! Voltando ao assunto: o trem percorre um trajeto plano, durante 20 longas horas! O trem balança bastante, não tem ar condicionado e nem luz. Qdo viajamos não estava tão quente. Imagino que no alto verão deve ser insuportável. NO trajeto passamos por vários vilarejos. Nenhuma grande cidade. Trata-se da região do Pantanal boliviano, plano. Mas devido ao fim do longo período das secas, ainda estava muuuito seco. A noite, foram entrando muitos passageiros nas várias paradas. As crianças entravam e saíam anunciando agua, bolachas simples, sucos vendidos em plásticos, tipo geladinho (sacolé, juju). A comida era bem simples. O ideal é comprar algo antes de entrar no trem. A noite, o trem estava cheio, algumas pessoas dormindo no meio do corredor. Uma mulher passou mal, reclamava de fortes dores. O senhor Roberto apareceu com um médico (não sei se era funcionário do trem ou se também era passageiro). Sem luz, fui incumbido de segurar a lanterna enquanto o médico aplicava uma injeção na passageira, enquanto o trem balançava o tempo todo. Depois de uns dez minutos a mulher já estava calma, sem dores. Olhei para o lado de fora do trem, coloquei a cabeça pra fora, e vi um céu maravilhoso. O tempo seco, sem nuvens, e o fato de estarmos no meio de uma região sem grandes ou médias cidades, na verdade, numa área mista entre rural e floresta, proporcionou aquele céu forrado de estrelas. De dia, passávamos por vilarejos onde as crianças corriam junto com o trem e saudavam os viajantes: esperavam um simples aceno em troca. Naquele lugar, tão longe de tudo, a simples passagem do trem por ali era um acontecimento. Chegamos no ponto final, Santa Cruz de la Sierra pela manhã. A paisagem muda completamente. Santa Cruz, capital do estado (departamiento) de mesmo nome, é uma das maiores e mais ricas cidades da Bolívia. NO entanto, conforme pesquisei,não possui grandes atrativos turísticos, portanto ficamos pouco. Quando saímos da estação, que fica junto com a rodoviária, o primeiro choque: uma avenida grande, movimentadíssima, cheia de gente, carros e pedestres não se entendendo no trânsito caótico. Pessoas na calçada gritando, mulheres com voz estridente vendendo cuñapé (pão de queijo) Cunãpeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeé, gente trocando dólares, reais, etc... o caos lembrava o Brás (bairro de SP)! Rsrsrs. Eu havia levado todo o dinheiro no bolso em dólares, e iríamos trocar conforme o caminho. Confesso que nessa hora tive certo medo de andar por lá e ser assaltado. Resolvemos pegar um táxi até a praça central. Lá, tudo é bem limpinho e cuidado, bem diferente da outra área da cidade, onde estávamos. Como não conhecemos mais, não posso dizer se aquela região é uma exceção ou se a maioria da cidade é daquele jeito. Almoçamos e conhecemos a igreja central, onde pudemos subir nas torres e ter uma visão de boa parte da cidade. Estava muito calor e fomos num parque muito bem cuidado onde tinha uma fonte e um lago que amenizava o calor. Começamos aí a fazer a degustação das cervejas bolivianas: Paceña, Potosina, etc... Muito boas!! Recomendo! Uma dica para o almoço: a boa é pedir o almuerzo. Trata-se de um prato de entrada, geralmente uma sopa bem rala, mas que no tempo seco é uma boa para ajudar a reidratar; depois o prato principal, onde tem arroz, papas e a carne, que pode ser pollo, res (boi), cerdo (porco), etc. Percebemos que o forte lá é o pollo (frango). As outras carnes, talvez por serem caras, são cortadas numa tira bem fininha, quase não mata a fome. Depois, vem a sobremesa (postre) gelatina, doces, etc. As vezes vem também uma bebida, normalmente limonada ou chicha. Tudo isso por Bs 12 a 15,00. Divide por quatro e terá o preço em reais, aproximadamente. Ou seja, barato demais! Voltamos para a rodoviária de Santa Cruz (a pé. Percebemos que não havia motivos pra ter medo de ser roubado. Basta ter o cuidado habitual que a gente já tem aqui em SP, é só não dar mole), observando algumas pichações e cartazes políticos, indicando a aceitação e/ou a rejeição ao governo de Evo Morales. Santa Cruz é conhecida por ser um dos maiores pólos opositores a Evo. Aqui a população indígena (que normalmente apóia Evo) é menor. Em Santa Cruz há um aeroporto com vôos regulares partindo de SP. É uma opção pra quem não quer enfrentar o trem da morte. Na rodoviária compramos passagem para Sucre, com saída as 16h00. Quase todos os onibus pra Sucre saem esta hora. Na Bolívia existe a livre concorrência entre as empresas. A vantagem é que há uma briga pelos preços e qualidade dos ônibus. O ruim é que dentro da rodoviárias as vezes parece o caos, com várias empresas oferecendo seus serviços e tentando ganhar o cliente no grito. Os banheiros, em toda a Bolívia, e inclusive nas rodoviárias, são pagos, geralmente Bs 1,00. Mas são sujos. Eu tinha certa frescura com banheiro. Perdi ela na viagem. É o jeito. Ou me borrava todo. O busão já dava a idéia do que vinha pela frente. Tinha uma grade mata-burro na frente e a suspensão era altíssima. Nas fotos que aparecem na bilheteria vc tem a sensação que o busão é uma maravilha, mas a realidade é outra. E na verdade não tem muito o que escolher, são todos ruins. Vc escolhe entre o ruim e o pior. Eu já tinha lido no guia “O Viajante Independente na América do Sul”: esse seria um dos piores trechos de estrada. Estava ansioso. Nos esperavam buracos, precipícios, estradas de terra, etc, tudo isso à noite. 14 horas de viagem até Sucre! O primeiro busão na Bolívia! Andando pelas ruas eu já tinha percebido que eram sujos, barulhentos. Dentro dele, percebi que era fedido, não tinha ar condicionado nem banheiro. Ahhh, ia me esquecendo: nas rodoviárias deve-se pagar à parte, a taxa de uso, uma espécie de taxa de embarque. Ela não é cobrada junto com a passagem como aqui no Brasil. Deve-se pagar no guichê próprio. As vezes vc só se da conta qdo vai pegar o busão e te barram. As malas geralmente recebem uma identificação para depois serem colocadas nos bagageiros. E é possível deixar as malas na companhia onde vc comprou as passagens e sair de rolê de boa, sem aquele peso. Fizemos isso várias vezes tanto na Bolívia qto no Peru e não tivemos problemas. Santa Cruz é uma cidade baixa, em termos de altitude. O trajeto até Sucre é uma subida. Saímos de 500 para 2800m. Por ter sido à noite, não consegui ver muita coisa durante o trajeto. Mas tava bem seco e empoeirado, e tivemos que manter as janelas fechadas naquele calor. Muito buraco, difícil de dormir. Uma parada num lugar no meio do nada, pra usar banheiro e comer. Este foi de longe o pior banheiro e uma das piores comidas q vi durante a viagem. Não me aventurei. Estávamos no último banco do bus e fizemos amizade com um casal de SP. Mais tarde, em Yuni, voltamos a nos encontrar. Chegada em Sucre logo pela manhã, por volta das 08h00. Era domingo, e devido ao nosso atraso inicial por causa da fronteira, perdemos um passeio que queríamos fazer: a feira de Tarabuco. Esta feira é um mercado indígena, que fica a algumas poucas dezenas de kilometros de Sucre, mas é só aos domingos e tem q sair as sete da manhã. Uma pena. Quem sabe da próxima vez. Aqui cometemos outro erro, típico de quem fez pouco ou nenhum mochilão: na vontade de gastar pouco, ficamos andando de um lado para outro com aquelas mochilonas pesadas procurando um hostel mais em conta, e as vezes a diferença era mínima. Nisso, com o tempo super seco, e a altitude um pouco elevada, ficamos super cansados. Gastamos mais com água. O tempo seco me fez gastar muuito com água. E isso também fez com que ficássemos com a garganta ruim, e em uma viagem longa e no ritmo que planejamos, não era nada bom ficar doente. Nos hostels não se tem água pra beber de graça, como há nos hostels em outros lugares. Sucre é uma cidade bem bonita, estilo colonial. Antiga capital da Bolívia, hoje é sede apenas do poder judiciário. Os micro ônibus e vans são bem baratos. Não economize com eles e não ande a pé de bobeira pra se cansar. Conhecemos o mercado central, um prédio antigo, um pouco bagunçado, mas vale a pena ser visto e fotografado. As vendedoras e cholas não curtem muito serem fotografadas. Rsrsr. As vezes elas pedem dinheiro. Em todo mercado central na Bolívia existe o comedor, um lugar onde tem alguns restaurantes bem simples e onde se come muuuito barato. Mas aqui a comida é um pouco mais trash, digamos assim. O atraso inicial por causa da fronteira nos @#?!* pois vários museus e atrações estavam fechados (domingo/segunda). Resolvemos ir visitar as Siete Cascadas. NO guia dizia ser um conjunto de sete cachoeiras. Na minha edição antiga, não tem muita informação sobre como chegar lá. Pois é... Outro perrengue. Primeiro fomos pegar o bus, linha Q (não é por número de linha em Sucre, e sim, por letra). Pedimos informação na rua e a menina disse que eu tinha que pegar o “cú”. Como não sou um profundo conhecedor de espanhol, imaginei que o “cú” deveria ser o Q ou o K. Para ter certeza que era o “Q”, desenhei a letra “Q” no ar pra ela confirmar. O Wagner (meu amigo) quase se mijou no meio da rua de tanto rir pois eu estava desenhando exatamente um “cú” redondo no ar... Desculpem a expressão, eu não tinha como ilustrar melhor. Depois de entrarmos no Q (cú) fomos até as Siete Cascadas. Tava um calor do infernos!! Tem que ir no Q até o ponto final. Chega lá anda mais um pouco (é o q diz o guia). Mas não é pouco. È uma eternidade!!! Debaixo de sol forte, num bairro bem periférico de Sucre. Calor, clima seco. Chegamos num lugar que era o fim da cidade e início de uma área rural, seca. Tinham porcos, cabras, burrinhos. Filmei até uma feroz briga de bodes disputando a fêmea do pedaço. O barulho dos chifres se chocando, o terror entre os outros membros do grupo, a violência dos ataques! Cenas dignas de National Geographic! Só sei q andamos, andamos, andamos, naquele meio do nada. Não queríamos voltar de mãos abanando. Fomos até o fim! E o fim era.... era.... era .... um precipício de onde não se conseguia chegar ao outro lado, e no fundo do precipício havia o curso de um rio, seco. O tempo estava tão seco que havia secado as sete cascatas!! Voltamos de mãos abanando, fizemos todo o mesmo trajeto de volta, morrendo de sede (a água já tinha acabado há muito tempo) e estávamos de bode (há! Não literalmente). .... é... eu sei que essa foi podre... Pra compensar, no dia seguinte fomos ao parque cretássico. Muito legal! Uma pedreira que se instalou na região descobriu fósseis e pegadas de dinossauro. Abriu um parque temático onde tem réplicas de dinossauros e fósseis verdadeiros. De longe, é possível avistar as pegadas incrustadas na rocha. Aquela região foi um lago há milhões de anos atrás e as pegadas ficaram marcadas e petrificaram. Em frente a este parque havia umas barraquinhas vendendo refrigerantes, doces, água, etc. Neste lugar ouvimos pela primeira vez o pessoal falando uma língua muito comum nessa região, o quíchua. No dia seguinte, terça, saímos cedo para Potosí, a 4000 m de altitude! São poucas horas de estrada até Potosí, mas o visual é belíssimo. A paisagem montanhosa se faz cada vez mais presente. Só deu dó de ver tantos rios secos. No trajeto até Potosí vimos também uma montanha com uma estranha formação. A subida é forte! De 2880 a 4000m! A paisagem começa a se parecer com os Andes que a gente conhece dos livros, revistas. Ao chegar em Potosí, ficamos surpresos com o tamanho da rodoviária: enorme. Mais estranho ainda quando percebemos que apenas um décimo dela é aproveitado. O resto está vazio! Parece uma típica obra que chamamos de “elefante branco”. A cidade no geral é bem pobre e aquela rodoviária é algo fora do contexto, deslocada daquela realidade. Pegamos uma van até o centro da cidade, um pouco afastado da rodoviária. Ficamos no Hostel Koalla, o melhor café da manhã de toda a viagem! (e por um preço justo) . Tiramos aquela tarde para conhecer um pouco do centro, fazer algumas comprinhas (Potosí tem bons preços). Aproveitei para comprar blusa e touca para enfrentar o frio que passaríamos em Uyuni. Andando por suas calles e ladeiras, sentimos um pouco de cansaço devido à altitude. Mas nada muito sério, pois já havíamos passado por um período de adaptação em Sucre. É engraçado perceber como ficamos cansados andando apenas dois quarteirões. Imagino que alguém que não fez a adaptação sofreria muito. A secura do ar naquela região estava fazendo mal para nossas gargantas. A secura, combinada com a variação de altitude, o frio intenso à noite, além de um certo cansaço devido ao ritmo alucinante da viagem, nos deixaram meio debilitados. Achamos melhor dar um descanso naquela noite, pois não queríamos ter que recorrer a algum médico. Compramos alguns remédios na farmácia e fizemos passeios leves: o mercado da cidade, algumas ruas próximas, fui numa lan house, etc. Potosí já foi uma das cidades mais ricas do mundo, no século XVII devido à extração da prata do Cerro Rico. NO centro da cidade podemos ver construções bem antigas, que lembram aquele período de bonança, mas que hoje estão, em sua maioria, mal conservados. Há muitas igrejas antigas na cidade. Isso me fez lembrar Ouro Preto, em MG: onde houve riqueza (metais preciosos) lá esteve também a Igreja. O Cerro Rico é a principal atração de Potosí. NO passado pela extração de prata. Hoje, pelo turismo e a extração de metais muito menos preciosos. Cerca de 80 % da cidade vive, direta ou indiretamente, às custas deste monte que se vê ao longe, e de todo lugar de Potosí. Dizem que hoje o Cerro Rico é um verdadeiro queijo suíço, de tantos buracos e túneis cavados há séculos. No livro “As veias abertas da América Latina”, clássico da história latino americana, Eduardo Galeano dedica praticamente um capítulo inteiro para falar de Potosí (valeu muito a pena ler este livro antes de viajar). Uma cidade que foi muito próspera no passado, e que hoje poucos conhecem seu nome. A prata retirada deste lugar foi, em sua grande maioria, levada para a Europa. Uma lenda diz que com toda a prata retirada poderia-se fazer uma ponte até a Espanha. Exageros à parte, cabe aqui uma reflexão: como um lugar pode ser tão ferozmente explorado, esgotando sua principal fonte de riqueza e não gerar bem estar para seu povo. No dia seguinte, fomos visitar as minas de Cerro Rico. Havíamos fechado o “tour” com o pessoal de outro hostel (La Vicuna) pois estava mais barato. E foi uma grande surpresa! O guia, Antonio, é o cara!!! Apesar de seu diminuto tamanho, cerca de 1,50m, ele foi O guia! Ele é um ex-mineiro, conhece bem os túneis e as pessoas que lá trabalham. Conhece da história e das lendas, além de seu ótimo bom humor. Indicadíssimo! Tivemos sorte também porque naquele dia não tinha mais ninguém no tour, no nosso grupo. Era apenas eu, o Wagner e o Antonio. Isso foi bom porque dentro dos apertados túneis, se houvessem muitas pessoas, os últimos da fila não ouviriam as explicações do guia. Apesar de saber que o “passeio” não seria dos mais agradáveis, eu estava ansioso por conhecer o lugar que havia lido nos livros e acabei por ignorar o perigo rsrsrsr. Não estava me dando conta do que vinha pela frente. O Wagner já sabia desde o início que esse seria um dos piores trechos pra ele, pois ele tem um pouco de claustrofobia. Antes de chegar na montanha, passamos no mercado mineiro, o único lugar do mundo onde se vende dinamite sem autorização das forças armadas. Mercadinhos bem simples vendem, além do explosivo, mantimentos, cigarros, água. O guia nos mostrou que, por uma questão de educação, é de bom grado levar um “kit mineiro” para os trabalhadores das minas, pois enquanto eles estão a centenas de metros abaixo da terra, num trabalho pesado, nós estamos lá fazendo “turismo” vendo o sofrimento deles. Achamos mais (ou menos??) do que justo levar o kit, que incluía água, refrigerantes e folha de coca. Aqui também foi a primeira vez que tive contato com a folha. O guia Antonio nos mostrou com se faz para mascar a folha, nos deu algumas e experimentamos. Nos mostrou três maneiras de experimentar: a do pobre, da classe média e do rico , muito bom... os trejeitos na hora de mascar a folha!!! Tbm nos mostrou algo que não tinha a menor idéia: para acompanhar a folha, vc a masca com uma pedrinha feita das cinzas de uma planta que eu não vou lembrar o nome, mas que libera e reage melhor com os componentes da folha, catalisando o efeito. O gosto da folha é amargo, meio ruim, parece q se está ruminando, rsrs, e o catalisador parece q vc está mastigando pedra, uma pedra doce. Mas o efeito é bacana, te deixa desperto, com energia, alivia o efeito da altitude . O canto da boca fica adormecido. Depois nos mostrou como se monta a dinamite pra explodir. Como ele brincou: um curso de iniciação pra homem bomba! . Tbm mostrou um litro de alcool 96º, que os mineiros ingerem. Pois é, bebem este alcool! O tranco do trabalho é tão forte que os caras se anestesiam de alcool e folhas de coca. Segundo Antonio um mineiro ingere cerca de 500 folhas de coca por dia! (se bem que a gente facilmente consumia umas 50 folhas em um curto espaço de tempo. Elas – as folhas - são pequenas e qdo mastigadas diminuem muito de tamanho dentro da boca. Fomos às minas. Vimos de longe o acampamento mineiro. Ônibus/vans levando os trabalhadores e também as crianças das escolas visitando as minas. Uma observação: na Bolívia é engraçado como as vans são de origem asiática. Várias ainda estão com letras orientais, como se tivessem sido usadas em seus países de origem e qdo velhas, vendidas a países mais pobres como a Bolívia. Voltando ao Cerro Rico, vimos o buraco no chão por onde deveríamos entrar. Aí começou a dar um gelo na barriga. O lugar parecia super precário. O Antonio nos contou que não havia elevadores pra pessoas nem saídas de emergência. Íamos descer 200 metros abaixo do solo, em seis níveis e em túneis estreitos! Entramos. Logo no início tinham um gringos voltando com cara de assustados. Eu estava a apenas 10m abaixo da terra e já tava com medo daquela terra toda cair em cima da gente. Logo após, paramos pra ver o TIO: uma divindade cultuada desde que os indígenas eram forçados a trabalhar nas minas. Ele protege as pessoas que trabalham naquele lugar. O guia fez algumas preces e fez uma oferenda para o TIO, como todos fazem, com alcool, cigarro e folhas de coca. Após, nos contou histórias sobre o Cerro Rico. Na época da colônia, os espanhóis proibiram os índios de usar a folha de coca pois ela fazia parte de rituais indígenas desde muito tempo. Os espanhóis queriam impor o Cristianismo. Mas qdo perceberam que a produção havia caído porque os índios não aguentavam o trabalho pesado sem folha de coca, voltaram atrás e inclusive estimularam o uso da folha. Ali morreram milhares e milhares de índios nos trabalhos forçados. Ainda hoje as pessoas que ali trabalham morrem muito cedo, devido à silicose, doença que destrói os pulmões devido à poeira do lugar. O alcoolismo também é muito comum. As pessoas começam a trabalhar nas minas com 15 anos em média, e não passam dos 40. Caminhando entre os túneis, vimos trabalhadores que aparentavam ser mais velhos que a idade. As mãos inchadas, o suor escorrendo devido ao intenso calor que fazia ali embaixo, todos cobertos de poeira, trabalhando ali, sem grandes máquinas ou infra-estrutura, durante oito horas por dia, cinco, seis dias por semana, até a 300 m abaixo da terra, em 14 níveis. Eu estava lá fazia uma hora e estava agoniado. Imagine esses caras?! É incrível como essa visita foi marcante, pois a gente repensa muita coisa sobre nós mesmos e a situação em que vivemos. Eu estava ali a “turismo”, conhecendo o mundo, mas ao mesmo tempo vendo gente numa vida muito dura, que mal teve oportunidade de sair daquele lugar onde vive, gente que vai morrer cedo, e que recebeu aquele “turista” de braços abertos. A situação é incômoda. Não haveria como ser diferente. É incômodo pensar também que fazemos parte disso... enfim.. vou deixar as reflexões pra um outro momento, senão eu perco o foco do relato. Apesar de parecer (e ser) perigoso, essa visita vale a pena. Alguns túneis são bem estreitos: vc passa agachado. Em determinado momento, escutamos um barulho forte. Um calafrio me percorreu a espinha. O guia nos disse que eram explosivos sendo detonados numa rede de túneis da cooperativa ao lado. O cheiro da dinamite invadiu os túneis. Ele disse q se fosse muito forte e permanecesse durante um bom tempo poderíamos desmaiar. Nesse momento eu pensei que se alguém desmaiasse ali ia ser muito foda. Voltar tudo, pelo mesmo caminho, passando por túneis estreitos, carregando uma pessoa não seria fácil. O Wagner, com sua claustrofobia estava suando pra caramba, e seus olhos estavam mais vermelhos do que nunca. A todo momento eu perguntava se ele estava bem. Enfim, voltamos todo o trajeto, agradecemos ao TIO pela proteção e saímos. Cara, como eu fiquei contente em ver a luz do Sol de novo! Foram apenas três horas, mas muito intensas. Á tarde, fomos ao museu Casa de la Moneda. Nos tempos áureos de Potosí, a moeda era cunhada lá mesmo. Hoje, não há mais prata, e a Casa da moeda virou museu. Na saída do hostel, conhecemos Antonia, uma alemã que também estava indo para Uyuni. Fomos juntos. Antonia estava viajando sozinha pelo mundo fazia seis meses. Já havia conhecido a Africa. Estava agora na América do Sul e depois ficaria mais seis meses no sudeste asiático, sozinha! Conversando com ela, percebemos que é um tanto comum os europeus saírem de mochilão pelo mundo, as vezes sozinhos. Em toda a nossa viagem, vimos muitos europeus. Também vimos muitos brasileiros, mas é pouco se pensarmos que a Europa está um tanto longe, e que o Brasil está pertinho, além da proximidade de idioma. Sei que normalmente os brasileiros tbm tem menos grana que os europeus, mas a Bolívia é baratíssima. Conversando com o Wagner, lembramos que brasileiro qdo quer viajar pra fora pensa em Disney, EUA, e grandes cidades da Europa. Nada contra, mas temos países vizinhos belíssimos, baratos, que nos recebem de braços abertos. Talvez eu esteja sendo um pouco piegas, mas eu não trocaria Uyuni pela Disney mas nem fod....... Falando em Uyuni, a estrada até aquela cidade também era bem bonita. A estiagem era forte. Nos vales, alguns fios de água serviam para matar a sede de inúmeros animais: ovelhas, jumentos, lhamas, alpacas. Pela primeira vez a gente via Lhamas e alpacas! O zoom da minha câmera é fraco (Aliás, aconselho levar câmera com um bom zoom). Tentava conseguir boas fotos das lhamas mesmo à distância. Mal sabia que depois ia acabar vendo inúmeras delas, inclusive bem perto, durante toda a viagem. O trajeto até aquela cidade passava por estradas quase desertas, vilarejos empoeirados, pareciam pequenas cidades típicas de filmes do velho oeste. Uyuni é uma cidade pequena, meio feinha. Aqui tem que tomar cuidado se o hostel tem agua caliente. Boa parte deles não tem. Estamos perto do deserto de sal. Logo que se chega à cidade o assédio é grande. Fechamos o passeio para o deserto de sal numa agência de um cara todo vestido de verde e amarelo, com várias bandeiras do Brasil (Thiago Tours). Como estávamos fora de temporada, foi baratinho: 105 dólares, incluindo tudo, todos os almoços, jantares, café da manhã, estadia de duas noites em hotel, guia, etc. Na temporada pode chegar a 200 dólares. Existe o tour de um dia, que não dá pra visitar nada. O de três dias, que a gente escolheu, e que acho q é o ideal. E de 4 dias, que inclui subir numa montanha (sem me lembro bem), mas acho q seria muito cansativo. A noite fomos jantar numa pizzaria e encontramos com um grupo de brasileiros, inclusive o casal do ônibus de Sucre. Todos os seis brasileiros, todos de São Paulo, todos corinthianos , farreando na pizzaria!!! . A Antonia não entendia nada. Qto ao tour no deserto de sal, não vou me alongar. As paisagens são exuberantes. Talvez o melhor rolê de toda a viagem. Cemitério de trens, deserto de sal, ilha incahuasi (ilha dos cactus - essa tem q pagar a entrada a parte, por se tratar de um parque, mas é baratinho), deserto salvador dali, as lagunas (hedionda, colorada, verde), arvore de pedra, geiseres, termas, formações rochosas, etc. Tudo é espetacular! São três dias de tour. As noites dorme-se em hotéis feitos de sal! É essencial levar óculos de sol. A brancura do lugar é muito forte para nossos olhos. É bom levar protetor labial e protetor solar. Pra quem come bastante como eu, seria melhor se as porções fossem um pouco maiores nas refeições. No terceiro dia a comida poderia ter sido melhor tbm. A noite faz muito frio, é bom estar bem agasalhado. Na segunda noite “pegamos” a menor temperatura de toda a viagem: - 4ºC. Nesta mesma noite, estávamos longe de tudo, de qualquer cidade. O céu estava lindo. Nunca havia visto tantas estrelas! Eu chuto umas mil! De horizonte a horizonte. Em meia hora do lado de fora do hostel, naquele frio de matar, vimos umas três ou quatro estrelas cadentes. Nesta noite também fizemos amizade com bastante gente no hostel. Começou de uma maneira bem engraçada. No nosso carro, um 4 x 4, estávamos eu, o Wagner, a Antonia, o guia, e mais uma alemã, uma senhora inglesa e um peruano, que também era guia, mas estava prestando serviços de turismo para a senhora inglesa. No hostel, estávamos todos à mesma mesa, jantando, qdo ouvimos da mesa ao lado, uma frase em português brasileiro com sotaque americano dizendo: No Brasil vc seria chamado muleque-piranha! Kkkkkkkkkkkkkkk Fomos ver quem era o autor da frase. Tinham dois brasileiros na mesa ao lado. No carro deles haviam um argentino (o moleque-piranha), um francês, e outros que já não lembro. Quatro brasileiros no mesmo lugar! Pronto, não precisa dizer que virou zona né? Começamos a jogar baralho e tomar uma bebida que lembrava conhaque. Só que as oito horas da noite as luzes seriam apagadas pois ali a energia vinha de um gerador. Estávamos muito longe da civilização. Não contentes, ligamos nossas lanternas e ficamos batendo papo. A Antonia, o francês e o argentino também ficaram conosco. A bebida acabou e tivemos que apelar para os funcionários do hostel para continuar vendendo bebida pra gente. A maior parte dos turistas já estava dormindo, pois as quatro da manhã todos deveríamos estar acordados pra continuar o rolê. Bêbados, fomos dormir só às duas! O povo reclamou do barulho que fizemos rsrsrs, mas eu nem tinha notado que era tão tarde. O Wagner acordou ruim no dia seguinte, ãã2::'> quase atrasou nosso grupo e levou uma bronca do guia, pois ele estava dormindo quase todo o trajeto do terceiro dia. Detalhe: ele estava no banco do passageiro, ao lado do motorista! E perdeu muitas belas paisagens. O deserto de sal é imenso, mas a parte onde o solo é coberto de sal propriamente dito é apenas na tarde do primeiro dia. Como estávamos na estiagem, o solo estava seco e não produzia aquele efeito de espelho como vemos em algumas fotos. O deserto de sal é a maior mina de lítio do mundo. O lítio é usado nas baterias. Certa vez, vi numa reportagem que a Bolívia viva um dilema com isso: ou explora agora o lítio, gerando riqueza e progresso e corre o risco de ver aquela bela paisagem se degradando, ou preserva-a, mas abdicando da exploração do lítio. A situação se torna mais dramática quando levamos em conta que a Bolívia é um país pobre, que precisa gerar empregos, ainda mais nessa região. E a decisão não pode demorar muito, pois como a tecnologia caminha a passos largos, eu não me surpreenderia se descobrissem uma bateria mais eficaz sem o uso do lítio. Na ilha Incahuari, podemos ver em seu mirante o tamanho da região. Ali também vemos cactus gigantes. A paisagem parece ser de outro planeta. Incrível! Ao pé da ilha as pessoas fazem aquelas famosas fotos de realidade distorcida, brincando com a distância e perspectiva. Na lagunas, paisagens de tirar o fôlego. Na minha opinião a Colorada é de longe a mais bela. Aquilo é surreal. Também podemos observar centenas de flamingos. Em uma das lagunas, vimos um bando de vicuñas. No meio do deserto Salvador Dali (chama-se assim pois parece um de seus quadros) dezenas de lhamas cruzam nosso caminho. Paramos o carro para tirar fotos, bem pertinho. Logo no início do terceiro dia, naquele frio de rachar, o povo cai nas águas termais. Eu não tenho coragem. Durante o trajeto também vimos outros da fauna local: suri, uma espécie de ema, e a vizcaya, um tipo de lebre. Chegamos até a fronteira com o Chile. Dali muitas pessoas seguem para o Deserto do Atacama, inclusive a Antonia. Não estava nos nossos planos fazer isso pois no Chile é um pouco mais caro e íamos desviar um pouco da rota. Não tínhamos tempo. Vai ficar pra próxima, qdo eu fizer um rolê tipo Chile de ponta a ponta! O retorno da fronteira até Uyuni é por um caminho diferente daquele que fizemos até então. Quem vai pro Chile acaba não conhecendo essa parte, que apesar de não ser tão incrível ainda assim é belíssima. Passamos por umas formações rochosas bem interessantes, vilarejos bucólicos, etc. Ao retornar eu estava exausto e o Wagner ainda ruim por causa da bebedeira. Fomos jantar e eu experimentei um pique a lo macho: comida pra caramba, tem que ser macho mesmo! No plano inicial, íamos pegar um trem à noite até Oruro, ficaríamos lá meio dia e pegaríamos a estrada para La Paz. Mas devido àquele atraso inicial na viagem, estávamos um dia atrasados. Naquele dia não havia trem. Então resolvemos pegar um ônibus direto para La Paz. Eu sabia q o trecho até Oruro era ruim, por isso queria ir de trem, mas não teve jeito. O ônibus estava repleto de turistas europeus, na maioria garotas, todos exaustos após o tour do deserto. Mas a estrada era tão ruim q era difícil dormir. O ônibus balançava o tempo todo. Por duas ou três vezes o busão pulou tão alto que a galera gritou assustada. Tinha gente q acordava berrando pensando que era um acidente! Finalmente, depois de uma longa viagem de umas 12 horas, chegamos a La Paz! CONTINUA (caramba, como dá trabalho fazer isso... rsrs) Editado Agosto 15, 2013 por Visitante Citar
Membros de Honra MariaEmilia Postado Julho 5, 2013 Membros de Honra Postado Julho 5, 2013 Legal até aqui :'> :'> :'> Aguardando os próximos capítulos. :'> :'> Maria Emília Citar
Colaboradores Edu Alves Postado Julho 6, 2013 Colaboradores Postado Julho 6, 2013 Continue tá muito bom! Citar
Membros barbara.zippert Postado Julho 11, 2013 Membros Postado Julho 11, 2013 Marcos!!! Adorei o relato, estou com muita vontade de fazer uma viagem dessas e aguardo os próximos capítulos. Mande um abraço a todos por aí e espero que vc saiba quem está escrevendo... Citar
Membros wclwilker Postado Julho 11, 2013 Membros Postado Julho 11, 2013 Estou Procurando companhia para viajar para a Bolívia. em novembro https://www.facebook.com/wilker.loucoporaventura Citar
Membros Rutinhabh Postado Julho 17, 2013 Membros Postado Julho 17, 2013 olá, estou adorando seu relato e dicas. Gostaria de uma informação: onde exatamente vc tirou essa última foto? a do trilho de trem. abçs. Rute Citar
Colaboradores rkoerich Postado Julho 17, 2013 Colaboradores Postado Julho 17, 2013 parabéns, otimo relato. continue com as fotos e as informações! Citar
Membros luke med Postado Julho 17, 2013 Membros Postado Julho 17, 2013 Olaaaa! Estou com certa dificuldade em encontrar detalhes sobre o itinerário UYUNI X LA PAZ, entao saberi dizer qual foi a viacao que pegou, o horario e o valor? E por acaso lembra dessas informações em relacao ao trem? Que puder me ajuda esta ótimo pois esse pedaco ta dificil. BJin Citar
Colaboradores Edu Alves Postado Julho 18, 2013 Colaboradores Postado Julho 18, 2013 "viajamos pela Bolívia e Peru durante aproximadamente 40 dias, em outubro e novembro de 2013." amigo acho que você quis dizer no começo do relato "2012" não é mesmo?! Valeu pelas informações até aqui, continue... Citar
Membros ellentsq Postado Julho 18, 2013 Membros Postado Julho 18, 2013 Marcos, to adorando o relato. Pretendo fazer essa viagem, incluindo São Pedro de Atacama, no Chile, em janeiro de 2014. Ansiosa pelo resto do teu relato. Caaara, sério, ri horrores com a última parte sobre as pessoas gritando no busão. E fiquei com medo também. ahahhah Abs! Citar
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