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Mochilão 452 km, Marau - RS a Capanema - PR, Carona + Trekking


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Mochilão 452 km, Marau - RS a Capanema - PR, Carona + Trekking

 

 ''Esta vida é uma viajem, pena eu estar só de passagem'' (Paulo Leminski).

 

A ideia já estava gravada na minha cabeça a dias, mas o empurrão surgiu após uma viajem para Marau no Rio Grande do Sul. Pois bem, começou assim...

Quarta-feira, 30 de janeiro de 2019.

Estava a 15 dias viajando na casa de um amigo no município de Marau no estado do Rio Grande do Sul, um município que foi colonizado pelos italianos, e que apresenta algumas belezas próximas como a Cascata do Maringá (FIGURA 1) no município vizinho Vila Maria e o Perau de janeiro em Arvorezinha, ambos próximos a Marau.

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Figura 1. Parque da Cascata do Maringá - Vila Maria - Rio Grande do Sul    

Uma viajem para esquecer certos problemas e conflitos surgidos, mas também para adquirir novos conhecimentos. Após dias de reflexão decidi voltar para meu município de destino, Capanema no sudoeste do estado do Paraná. Em pesquisas e conversas decidi arriscar o meu primeiro mochilão até chegar em casa. Seriam 452 km de Marau - RS até Capanema - PR (FIGURA 2).

Quinta-feira, 31 de janeiro de 2019.

A noite foi pensativa, acordei 08h00 da manhã e o sono se foi, talvez o pensamento já estava acelerado naquele momento. Sai de Marau as 09h00 da manhã, meu amigo me levou até um posto de caminhoneiro e de lá consegui a minha carona. Essa carona por vez foi já pré-estabelecida no dia anterior. De Marau a Francisco Beltrão no Paraná era o destino do caminhoneiro! Saindo de Marau e chegando por volta das 10h00 em Passo Fundo - RS o caminhoneiro teria que carregar para seguir viajem, como todo bom mochileiro a espera determina uma boa estratégia. Aguardei até as 14h00, até finalizar o carregamento da carga. Pois bem, tudo finalizado! Seguimos viajem.

Conhecendo um pouco das paisagens e do famoso Rio Uruguai, que divide o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi algo maravilhoso, mas não foi apenas paisagens que me enchi os olhos! Uma das cidades mais limpas por onde passei, com ruas sem nem um resíduo! Formosa do Sul - SC, a cidade sem sujeira (apelidado por mim naquele instante) e um dos lugares onde a arborização urbana com certeza é uma das melhores. 

Na saída da cidade se deparamos com um grupo de ciclistas, que decidiram nos acompanhar! Parecíamos caminhão de escolta, e olha que os ciclistas pedalaram para valer. Nossa viajem seguiu após despedidas aos ciclistas, nesse meio tempo surgiram diversas conversas entre eu e o motorista do caminhão, e o assunto principal foi o desastre acontecido em Brumadinho, uma tragédia que ocorreu por falta de fiscalização e principalmente por negligencia, mas não vem ao caso no relato de agora. 

Pedi ao motorista sobre quais postos de combustíveis eram próximos ao seu destino final, ele me informou que havia um próximo ao destino, e que ali seria um bom lugar para pedir mais uma carona, paramos então no posto e eu com um sorriso, mas um medo interno fui a procura de encontrar uma carona! Alguns evitaram, outros não podiam me levar, mas não me frustrei pois como primeiro mochilão estava ciente dos obstáculos que iria enfrentar pelo caminho, então seguimos até o destino final do motorista, Francisco Beltrão no estado do Paraná.

Chegamos por volta das 21h30 e pedi ao motorista para me deixar em frente ao posto da Policia Militar Rodoviária, que por sinal me ajudou muito. Chegando ao local me despedi do motorista que horas antes até me ofereceu água comida e fez questão de comprar um salgado de strogonoff que segundo ele a vendedora lhe enganou, afirmando que era strogonoff, mas não, pois não continha batata palha segundo o motorista.

Cheguei no meu primeiro destino, o Posto da Policia Militar Rodoviária de Francisco Beltrão - PR.

E agora o que fazer?

Me aproximei da guarita e por sorte lá está um policial de plantão, perguntei a ele com base no que já tinha pesquisado antes da viajem se o mesmo teria um papelão e um canetão, ele me olhou meio '' o que será que ele vai fazer'', mas expliquei tudo e por sorte ele me forneceu o material. Na mesa do posto da polícia comecei a escrever meu próximo destino no papelão, REALEZA, com uma caligrafia não muito legível perguntei ao policial se o mesmo entendia o que estava escrito e que se estava grande o suficiente para os motoristas verem, ele disse que si! E logo me perguntou o que eu estava fazendo. Disse para ele que se tratava de um mochilão! Logo em seguida ele me disse que não faria isso nem que lhe pagassem pois na sua profissão só lhes chamavam quando ocorria algo de ruim. Pensei que talvez seja por isso que esse policial não faria algo assim! Mas achou corajosa a minha atitude.

Durante a escrita no papelão conversamos, mas uns 5 minutos, disse de onde sou e o que faço da vida, no final agradeci o policial que me desejou boa sorte.

Na frente da Policia com receio e um pouco de vergonha, mas pensando e deixando tudo de lado ergui o papelão escrito o nome do meu destino e comecei a pedir carona. Passou um caminhão, cinco carros e eis que surgi um salvador. Ele leu o que testava escrito no papelão, pois próximo ao posto da polícia os condutores são obrigados a diminuir a velocidade e isso facilitou a visualização da minha péssima caligrafia. O motorista parou cerca de 100 metros à frente e lá fui eu, com um sorriso no rosto por ter conseguido, mas ao mesmo tempo ciente que as vezes pode demorar mais ou menos essa busca. O meu demorou 5 minutos!

Cumprimentei o motorista e o mesmo disse que iria para Lindoeste um município do estado do Paraná que sua família residia.

- Eu conheço a cidade pois já tinha passado várias e várias vezes por lá, disse ao motorista. E sabia que a mesma era após o meu destino escrito no papelão, mas como ele iria para um lado e eu para o outro fiquei pelo trevo de Realeza mesmo.

Com esse motorista conversamos apenas sobre a vida, vida essa minha que iria mudar na próxima carona.

Após chegar em Realeza, cerca de 35 km do meu destino final naquele pouco iluminado, pensei que não conseguiria mais carona pois já se passava das 22h30 da noite e dificilmente alguém circularia por aquele local nesse horário, então decidi seguir a pé, sabendo que a distância era grande, mas seria aquele momento a melhor forma, visto que estava destinado a chegar no meu destino. Caminhei e caminhei por aquela estrada escura com a ajuda da minha lanterna que por sinal ilumina até bem. 

Após ter caminhado 1 km e feito inúmeras tentativas de conseguir carona com os poucos veículos que passavam pelo local (que sabendo que não era o melhor dos locais e nem a melhor hora) consegui uma carona, essa carona mudaria a minha ideia de mochilão e principalmente a ideia de pedir carona em locais escuros ou pouco iluminados. Após acenar um carro parou e ele mesmo me ofereceu carona, achei estranho mas arrisquei. Havia 3 ocupantes que por sinal não estavam em condições de dirigir e estavam de uso de substancias ilícitas, bem alterados, ali o medo começou a bater, o medo de algum acidente ou algo do tipo, mas isso não seria o pior dos problemas já que um dos ocupantes disse a seguinte frase ''Vamo rouba ele e joga do carro'', aquele momento já entrei em estado de pânico internamente, mas mantive a calma.  Em seguida o ocupante da frente que estava fazendo uso que para mim era Crack disse a seguinte frase para seu companheiro que estava no banco de trás junto comigo '' fica quieto, para de ser besta'' e logo em seguida disse para mim que não iriam fazer nada. Eu ainda em alerta fiquei apenas rindo e tentando de alguma maneira entrar na ''Vibe'' deles. Eles até me ofereceram as substancias, mas me recusei. Mas a viajem seguiu tudo ótimo, a carona que eles me deram foi de cerca de 13 km me deixando em um posto de combustível e seguindo para outra cidade, fora da minha rota de destino.

Suspirei aliviado!

E pensei, nunca mais pegarei carona na escuridão da noite. Mas os mochilões ainda virão!

Parei então no posto de combustível, estava sem água já e o mesmo se encontrava fechado, também naquele horário! e por ser posto pequeno dificilmente estaria aberto. Mas no local havida dois funcionários que faziam a vigilância do posto, me aproximei e pedi por água, eles me indicaram o local que por sinal tinha água gelada, mais um alivio!

Se aproximei novamente a eles e contei sobre a carona que tinha acabado de pegar, me acharam louco, apenas louco, eu agradeci e segui viagem.

Após ter saído do posto de combustível cerca de 500 metros surge um caminhão carregado com tijolos, fiz o famoso sinal do dedão novamente e ele parou, disse meu destino, mas o mesmo iria apenas ir 6 km para frente, pois morava naquela localidade que já pertencia ao município de Planalto - PR, cidade vizinha do meu destino. Então aceitei a carona, a primeiro momento ele me disse que deu carona para mim achando que era um conhecido dele, mas no desenrolar das conversas, falando sobre mim e sobre meus pais o motorista disse que conhecia os mesmos, ali tudo começou a correr bem. O condutor me deixou então a 6 km longe do trevo onde pedi a carona e a cerca de 15 km do meu destino final.

Sexta-feira, 01 de fevereiro de 2019.

Ainda na estrada com a escuridão total por volta das 00h00 segui a pé esses 15 km. Cansado e com a água que abasteci no posto anterior quase se acabando segui as subidas e decidas do trajeto na escuridão total e com apenas a lanterna que por sinal estava nos seus últimos minutos de bateria. Nesse percurso parei 2 vezes, para descansar, e a dor nas costas estava quase insuportável, talvez não tenha ajustado de maneira correta a mochila cargueira, mas descansei alguns minutos e continuei. Cheguei então a um posto da Policia Rodoviária Federal do Município de Planalto no Paraná a metade do caminho. Já estava disposto a seguir de a pé esses quilômetros restantes, mas no fundo surgiu um carro, tentei pela última vez fazer um sinal, sabendo que não iria parar por se tratar desse horário, mas ele parou, e me ofereceu carona. O condutor disse que estava indo trabalhar, que começava as 02h15 em uma cooperativa e era 02h00 da madrugada quando ele me deu a carona. A cooperativa por sinal era próxima ao meu destino final, cerca de 500 metros. Me senti aliviado naquele momento! Ele me deixou cerca de 10 metros do meu destino final, agradeci ele imensamente e por fim cheguei!

Cansado, dolorido, mas com um sorriso e uma experiência muito grande dentro de mim!

Posso dizer que fiz um mochilão! Sofrido mas fiz.

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Figura 2. Mapa do trecho percorrido, Marau - RS a Capanema - PR

Dicas importantes adquiridas nesse mochilão

- Melhor lugar de pedir carona ou é em postos de combustíveis ou em guaritas de polícia militar ou rodoviária;

- Tenha em mãos um canetão e papelão para sinalizar seu destino;

- Peça carona em locais aonde o motorista tenha local para estacionar;

- Esteja sempre com a mochila nas costas, pois isso facilita dizer que você é uma pessoa de bem;

- E tente ficar em pontos estratégicos para pedir carona, locais bem iluminados é o ideal.

Obs.: Algumas dicas dos próprios motoristas.

Tudo certo? Partiu mochilão.

Editado por Patrick Luiz B. Gonsales
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