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Uma viagem de 6 meses: Relato da Grécia


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Pessoal, iniciei uma viagem que deve durar uns 6 meses pela Grécia.

 

Vou começar a postar os relatos que estou colocando no meu blog aqui. Para quem quiser ver todas as fotos, etc, entrem no blog que está abaixo da minha assinatura. As fotos não vêm "coladas" pelo blog, não sei como fazer. E postar uma a uma aqui tá osso, pois estou tentando fazer isso durante a viagem. As legendas vêm, tenho que tirá-las uma a uma. Se virem alguma frase fora de contexto pode ser um esquecimento meu.

 

Abraços a todos.

 

 

 

Dia 01 - Chegada em Atenas

 

Como não existem vôos diretos do Brasil para a Grécia, fiz uma escala em Paris, no aeroporto Charles de Gaulle. Quando estive em Paris eu fui via Londres e não conhecia esse aeroporto, monstro em tamanho! Passei um tempinho dentro dele... Uma das comissárias havia me falado que não seria necessário passar pela imigração para fazer a conexão, mas não foi isso que aconteceu. A passagem para os terminais 2E e 2F estava fechada, e eu precisei sair da área de embarque e embarcar novamente, atravessando um longo caminho. Apareceu no meio do caminho até um shuttle train, um tipo de metrô que funciona dentro do aeroporto… Ao menos a imigração foi rápida e o funcionário só pediu meu passaporte. Mesmo assim o tempo entre a parada do avião que desembarquei e a chegada no portão de embarque do vôo seguinte levou bem uns 45 minutos. Para quem fará conexão aqui, se o tempo de intervalo for muito curto, ou se os terminais de chegada e saída forem diferentes, ficar esperto é uma boa pedida. O crescimento do número de viagens demanda uma crescente complexidade das estruturas, e para podermos por em prática nossos projetos, precisamos adaptar-nos a elas…

 

Cheguei em Atenas num Airbus A318 mal-tratado e velho (lembrei-me até que havia uma época onde existiam cinzeiros nos braços das poltronas), assim como o Boeing 747 do primeiro vôo. Até um banhinho antes da decolagem, com todos a bordo, o A318 recebeu. Porém, não sei dizer se era relacionado à sujeira ou a algum tipo de segurança. O estado dos aviões da Air France, porém, foi compensado pelo excelente atendimento e refeições (para os padrões aéreos) servidas. Lembrei-me vagamente da antiga Varig, já nos seus anos de decadência. Sobre a temperatura: saí de Campinas a 33ºC, cheguei em Paris a 0ºC (ajoelhou, tem de rezar – fui de shuttle bus para o embarque e senti o frio na pele) e cheguei em Atenas a 14ºC. E no momento que vos escrevo estou a -2ºC em Kastraki. Esse relato fica para depois… Darwin já dizia que a adaptação é necessária para a evolução…

 

Do aeroporto de Atenas, onde os fumantes podem fumar, mas só em caixinhas, é muito fácil pegar o metrô para a cidade (8 euros), simplesmente atravessando a avenida e pegando uma esteira rolante, tudo muito bem sinalizado (“trains”). Antes de sair do aeroporto, um mapa da cidade e das linhas de metrô podem ser pegos no balcão de informações. O início da linha azul do metrô (existem três linhas na capital grega) é a própria estação do aeroporto e parecia totalmente fantasma quando cheguei: ninguém nas plataformas. Porém, no caminho ao centro, ele começa a aparentar com os metrôs de cidade grande, com muitos usuários. O sistema funciona muito bem e é bem mapeado visualmente e através de informações sonoras, ambas na língua grega e inglesa. Precisei fazer uma conexão de linhas para chegar ao hotel e não tive nenhuma dificuldade.

 

Como ia viajar novamente no dia seguinte, porém agora de trem, escolhi um hotel próximo à estação: Neos Olympus. É um hotel gerido por mãe e filho – conheci ambos, e parece que deseja virar um hostel. Porém, precisa de divulgação, pois estava bem vazio. É um hotel honesto com um custo-benefício muito atraente, apesar da apatia da atendente.

 

O ponto curioso foi comprar produtos no supermercado com letras que só significam algo para você nas disciplinas de matemática: você se sente um analfabeto total no dia a dia.

 

Post seguinte: Meteora - Kalampaka e Kastraki!

 

Dia 02 e 03: Meteora

 

O trem para Kalampaka, última estação da linha, sai às 08:27hs da Estação Central Larissa e o bilhete custa 18,30 euros. Existe também um que sai às 16:15hs para quem quiser chegar mais tarde. Ele sai da plataforma 1, em frente a entrada da área de embarque, e o viajante deve ficar atento para entrar no vagão correto, pois há uma troca de composição no meio do caminho. Havia uma certa nostalgia, pois há um bom tempo que eu não andava de trem, desde a época européia de dez anos atrás. O andar do trem (que não tem nada de “bala”) é macio, sem solavancos. A viagem, lenta, durou 5 horas e transcorreu sem problemas. Logo quando o trem sai da proximidade de Atenas, foi notável a mudança de relevo. A planície se acidenta rapidamente tornando o terreno montanhoso. Isso mostra que de fato, os antigos atenienses tiveram um grande estímulo para se aventurarem pelos mares e para o comércio, pois a cidade em que viviam não oferecia condições adequadas para uma agricultura capaz de sustentar a crescente população. É fantástico estabelecer paralelos históricos estando presente no local! O ponto alto da viagem, entretanto, ocorre na sua parte média, após à cidade de Lamia, quando a composição atravessa alguns desfiladeiros, muitos túneis e picos nevados. Esses, aparecem até o fim

da viagem, cercando um extenso planalto já próximo de Kalampaka. O ponto negativo foi o ambiente inadequado para as fotos. O sol contra a luz e a iluminação na cabine gerando reflexos impediram boas imagens. Durante o percurso são avistadas muitas obras de uma nova estrada totalmente inacabadas e abandonadas. Reflexos da falência do Estado grego?…

 

Kalampaka é a porta de entrada da região de Meteora, local que abriga um complexo de monastérios erguidos no alto de grandes rochas na Idade Média, por monges eremitas que fugiam da ocupação dos otomanos. Foram construídos 20 no total, mas hoje existem apenas 6 em operação.

 

Chegando em Kalampaka, apesar de ter acabado com os snacks do supermercado no trem, fui procurar algo rápido para comer, pois tinha a intenção de visitar um mosteiro no mesmo dia. Fui apresentado para o Pitta Gyros, que me pareceu a versão grega do famoso donner Kebap. Dois alimentam muito bem e custam apenas 4 euros. Logo em seguida, fui a Kastraki.

 

Kastraki é um vilarejo a 2km da cidade, e encontra-se no meio do caminho para os monastérios. É claro que fui a pé, pois havia lido que a estrada é muito agradável de se caminhar. Na verdade, visualmente não é tanto assim, mas ainda vale a pena para sentir a atmosfera da região.

 

Primeiramente, fui procurar um local para passar a noite, pois não tinha feito nenhum contato, seguro que estava das vagas disponíveis por ser baixa temporada. E não me enganei: no primeiro local que visitei, a dona, após uma pequena pechincha, me cedeu um quarto com cama de casal e uma de solteiro (apoio de mochila) e banheiro privativo por 15 euros. Esse mesmo quarto, no mesmo dia, se reservado pelo booking.com, deduziria 32 euros da minha conta. Menos da metade! Após deixar o mochilão no quarto, saí para a estrada dos monastérios. O primeiro ficava a pouco mais de um quilômetro.

 

A cidade no meio da tarde estava totalmente deserta. Frio em torno de 5ºC. Depois que voltei ao hotel, já ao anoitecer, vi na internet que marcava -1ºC. Isso afugenta qualquer turista. Apenas os cães davam o ar da graça me seguindo em tudo que era lugar. Assim que cheguei ao primeiro monastério, decepção: tinha fechado às 15:00hs e já passava meia hora desse horário. Um australiano que eu havia encontrado pela estrada informou-se que o próximo mosteiro fecharia às 16hs e não daria tempo para chegarmos lá. Resolvemos voltar à cidade e fazer a visita no dia seguinte, pela manhã. Olhando algumas referências, decidi visitar o mais velho dentre os monastérios (St. Nicholaos) e o maior deles (Great Meteoro ou Metamorphosis). Pretendia posteriormente pegar um ônibus de Kalampaka à Trikalla e decidir o próximo roteiro – Delfos ou Peloponeso via Patra.

 

No dia seguinte, segui para o primeiro mosteiro, uma primeira caminhada fácil, apesar da tempertaura de 3ºC. Já havia percorrido o caminho no dia anterior, mas a mudança da posição do sol deu uma outra tonalidade e iluminação das rochas, e o ar da manhã é sempre mais agradável. Como havia comentado, o monastério de St. Nicholaos é o mais velho do conjunto, datando do século 11 segundo o guia local. A subida é fácil e o caminho agradável, o que nos faz até desconfiar do que nos diz a história sobre a proteção que tinham dos otomanos. Mas o relevo pode ter sido, de fato, bem modificado por ações humanas. O preço de entrada é convidativo - apenas 2 euros, e permite apreciar além do monastério em si e suas duas salas com belos afrescos nas paredes e teto, uma linda visão da região vista do alto. O seu tamanho, porém, não permite que gastemos mais do que meia hora em sua visita caso não haja algum interesse específico no local. O melhor da manhã estava, entretanto, ainda por vir.

 

Caminhando mais 1 km ao longo da vazia estrada, encontro um aviso com um mapa, escritos em alemão, na entrada de uma trilha à esquerda. Essa placa, na verdade uma carta parecida com as cartas feitas para mapear regiões de escalada nas rochas, mostrava um atalho pela trilha pela vegetação, que alcançava os monastérios de Varlaam e o Great Meteoro, meu alvo, uma vez que o monastério de Varlaam estaria fechado na quinta-feira. Cada um deles fecham em um dia específico na semana, e o viajante deve buscar essas informações, largamente distribuídas em folders ao longo das hospedagens. Bem, como ainda era de manhá e daria tempo para se perder e encontrar o caminho de volta, entrei sem hesitação.

 

E recomendo o mesmo a qualquer pessoa que já fez um simples trekking. A trilha é fácil, vegetação pouco cerrada, e proporciona momentos difíceis de serem revividos, ao menos para essa caminhada no final de outono. A época e a brisa faziam com que as folhas das árvores caíssem aos montes simultaneamente, em uma verdadeira chuva de folhas secas. Eram pequenos sustos a cada momento, com possíveis confusões com algum animal aproximando-se, misturados aos sons da neve craqueando sob seus pés e de pequenos cursos de água que desciam pela montanha. Ao final, a trilha torna-se um pouco mais íngreme, e a visão do alto fica cada vez mais fantástica e estimula ainda mais a subida. Depois e uns 30 ou 40 minutos, alcancei a estrada exclusiva do monastério de Varlaam para quem o alcança por essa via, ainda com neve. Mais adiante após uma pequena caminhada e uma escadaria, chega-se à entrada principal de Varlaam, que estava fechado, como citei anteriormente.

 

Conheci nessa entrada dois curiosos franceses, que ajudam a alimentar ideias mochileiras. Um deles, David, estava fazendo a viagem com uma moto pequenininha, de 125cc. Mas parecia que tinha 50cc. Já Claudio, viajava com um trailer puxado por um trator. Encontraram-se em algum ponto e nesse dia, David tinha dado uma carona para Claudio na moto. Quando pensamos que podemos ser realmente aventureiros sempre aparece uma história mais maluca no nosso caminho rs … O caminho para o monastério Grand Meteoro era pela estrada e curto, cerca de 500m, porém uma boa subida. David pediu que eu esperasse onde estávamos, levou Claudio até lá e voltou para me buscar. E lá estava eu, de carona em uma moto que parecia de brinquedo, em uma estrada cheia de gelo a muitos metros de altura. E claro, sem capacete. Acho que lá não é obrigatório, pois vi alguns motociclistas zanzando pelo centro de Kalampaka de cabeça vazia. Perigo? Nem tanto. O maior perigo que passei foi descer as escadarias do monastério com o gelo formando aquelas placas escorregadias. Quase caí várias vezes. Lembrou-me muito o inverno alemão.

 

O Great Meteoro foi um show à parte. Deixou o St. Nicholaus comendo poeira. O ingresso, no mesmo valor, vale cada centavo do investimento. Pela comparação de ambos, St. Nicholaus acabou sendo caro… O monastério é o maior do conjunto e assemelha-se a uma mini-cidadela. Até pontos de observação com canhão possui. Os mirantes são belíssimos (ele também é o mais alto), cômodos muito bem preservados com instrumentos da época, ao menos 5 salas que são verdadeiros museus, com exposição de livros e evangelhos escritos a mão desde o século XI, pergaminhos, quadros, objetos litúrgicos, exposição militar, e lindos afrescos nas paredes e tetos em algumas das salas. As fotos revelam por si próprias, a beleza do local. Pena que em alguns lugares as mesmas não são permitidas.

 

Decidi fazer o retorno pela estrada, e não pela trilha. Apesar de mais longa, imaginei a possibilidade de observar o vale e as montanhas por outros ângulos. Na estrada, ainda totalmente vazia e ainda gelada, apenas eu e Stephano, um italiano que conheci no mosteiro. Estava em férias de apenas 7 dias e visitava Atenas, Meteora e Tessalônica. Mesmo sem possuir tempo, as viagens solo atraem muitas pessoas. Não, não estamos sozinhos no mundo… Nos separamos rapidamente em uma bifurcação da estrada, pois ele ainda veria um outro monastério no dia. Sobrou para mim a caminhada de volta à Kastraki, interrompida depois de cerca de um quilômetro com o oferecimento de uma carona por um casal que descia a estrada. Voltei à Guesthouse, peguei minha mochila principal e outra mamata: a filha da Dona Marina, proprietária do local, e uma amiga estavam indo de Pajero para Kalampaka e me ofereceram uma carona. Eu podia ir andando, pois caminhar nesses locais não tem nada de ruim mesmo, mas fica chato recusar… Acabaram me deixando na porta da única atração que havia pesquisado na cidade de Kalampaka, a velha Igreja Bizantina.

 

A igreja estava em reforma e basicamente oferecia afrescos bizantinos para serem apreciados, além de um altar no meio de seu átrio. Fica no alto de um morro com uma bela vista da cidade, e sua entrada custa 1,5 euro. Porém, na pressa, caso o viajante não se interesse pela pintura bizantina, não precisa fazer questão de visitá-la.

 

Na estação rodoviária de Kalampaka, só existe um destino – Trikalla (2,30 euros). Você pode, porém, comprar no mesmo balcão, ônibus de Trikalla a outras cidades. Eu estava em dúvida se ia ao Peloponeso ou Delfos. Comprei uma passagem de Trikalla para Lamia (11,80 euros), que era uma cidade onde podia comprar esses outros tickets diretamente. Decidiria no momento. Como verão no próximo post, decidi ir a Delfos.

 

Próximo post: Delfos.

 

Dia 04 - Delfos

 

Cheguei no Terminal de Ônibus de Lamia já por volta das 17:30hs, e verifiquei no balcão da companhia sobre as opções para Patra e Delfos. O ônibus para Patra sairia apenas às 20:00hs e demoraria cerca de 4 horas e meia. Inviável, pois não havia feito reserva de hospedagem. O de Delfos também não seria perfeito, pois saía às 19:00hs e sua viagem duraria 2 horas e meia. Pensei em passar a noite em Lamia mesmo, mas achei que seria muito mais fácil arranjar uma hospedagem em Delfos, pois é uma cidade tipicamente turística. E paguei o ticket de 9,20 euros. A viagem foi tranquila, acompanhada pelo GPS apenas para certificar se tinha pego o ônibus correto. Adoro essa invenção!

 

O ônibus pára bem ao final da rua principal de Delfos (ou no começo, para quem vem de Atenas), com muitos hotéis relativamente simples. De qualquer forma, são hotéis, não hostels (confirmei no booking.com: eles não existem em Delfos) ou guestrooms. Pechichando, não caiu dos 20 euros. E em cash apenas. Como eu estava cansado e sem condições de procurar algo melhor em virtude do horário, fechei com o atendente do Hotel Sibylla. O quarto é bom e possui uma varanda com uma bela vista, percebida pela manhã, para o desfiladeiro, que parece penetrar na cidade de tão íngreme, e para o Golfo de Corinto ao fundo. O dia nublado, infelizmente não ajudou a separar nitidamente os tons da água e do céu. Dormi mais essa noite, pois o sítio arqueológico fica a menos de 500m desse ponto da cidade e me permiti acordar mais tarde, calculando que terminaria de ver tudo a tempo de voltar ainda cedo para Atenas.

 

Mas não foi bem isso que aconteceu… Tomei o café da manhã tranquilo e andei um pouco na rua principal de Delfos – que não é a mesma cidade da antiguidade, antes de ir ao sítio. Uma cidade minúscula, bem cuidada e encravada entre a o Monte Parnassos e o profundo vale. Um aperto só: não tem nem 400m no seu ponto mais largo (vejam no google maps, é curioso). Na caminhada para o sítio, a companhia lado a lado do enorme desfiladeiro que permeia o Monte Parnassos, assusta e ao mesmo tempo maravilha qualquer pessoa que gosta de história e que incorpora as sensações do lugar. Percebemos como aquele local era sagrado para os habitantes da época, em virtude do assombro e imponência que causa.

 

O sítio arqueológico fica em uma área visualmente estratégica do monte e é muito bem documentado, com informações sobre cada ponto das ruínas, incluindo a reconstituição visual das construções em sua época de ouro. Ler sobre a história, apreciar os desenhos, ver o que restou e deixar o cérebro reconstituir todas as partes que faltam é fascinante. Quando fui à Itália, comprei um guia ilustrado que mostrava em um folha as fotos das ruínas de Roma e em papel transparente em sobreposição, o desenho da reconstituição do local, exceto as ruínas atuais. Isso é, o desenho “cola” na foto e mostra qual a função de cada pedrinha das ruínas. Sempre volto a folhear o livro quando o vejo descansando no armário. Em Delfos, as construções mais preservadas são o Tesouro de Atenas, O Templo de Apolo, onde ficava a pitonisa – a voz do oráculo, o Teatro e o Estádio. O ticket custa 9 euros e dá o direito de entrar também no Museu, que comento a seguir.

 

Após a sáida do sítio, caminhando um pouco além na estrada, o viajante encontra a fonte Castalian, canal onde escoa a água filtrada pelo monte e que possui a mesma idade dos sítios (cerca de 2500 anos). Logo acompanhando a estrada à direita, além de 300m encontra-se a entrada para o Santuário da Athena Pronaia, um outro sítio arqueológico que possui uma construção circular – o Tholos, com três de seus pilares ainda de pé. Sâo mais visões de séculos e séculos de história. E para quem gosta de felinos, também pode ser estimulante. É inacreditável a quantidade de gatos no local.

 

Vindo da cidade, o museu fica imediatamente antes do sítio principal. Haviam-me sugerido visitá-lo posteriormente ao sítio. Se eu fosse de novo, faria o inverso. O museu, totalmente reformado em 1999, é um primor na organização das peças e coleções, com extensas explicações de cada peça, totalmente referenciadas. Se for ater-se em tudo, é fácil gastar mais de 4 horas apenas no Museu. E essas informações são importantes para entender um pouco das construções que estão no sítio. Na saída do museu, inclusive, existe uma maquete sobre toda a área do sítio arqueológico, muito útil para a reconstituição mental posteriormente.

 

Bom, acabei gastando quase 6 horas nas visitações. Voltei à cidade, comprei a passagem para Atenas (15,10 euros) ainda com um tempo de poder experimentar uma moussaka, prato típico da Grécia. Gostei muito, mas com a fome que eu estava eu era suspeito. No caminho de volta, passamos por dentro de algumas cidades e uma me chamou a atenção: Arachova. Pareceu-me uma cidade muito agradável, com casas bem conservadas, no estilo mais europeu do norte. Pesquisando na net, descobri que abriga uma estação de ski e é produtora de azeitonas. Cheguei em Atenas já de noite, mas já havia reservado o mesmo hotel do dia da chegada e estava tranquilo quanto a hospedagem.

 

Próximo post: Atenas.

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Dias 5 e 6: Atenas

 

Vamos à capital! Dediquei dois dias a Atenas. Provavelmente, teria dedicado mais caso minha saída da Grécia não tivesse sido previamente agendada em virtude das considerações que coloquei em Roteiro Grécia e Turquia. Veremos até o final de semana como será, pois estou repassando alguns pontos; um japonês que conheci aqui no hotel disse que o sítio de Olímpia pouco restou do desenho original e que não gostou da visita que fez por lá. Bem, em Atenas, decidi visitar no primeiro dia a cidade em si, com exceção das atrações da região da Acrópole, que ficaria para o dia seguinte. Fiz todos os passeios a pé. Afinal, como melhor conhecer a cidade e incorporar seu espírito? Andei pela região de Omonia, progredindo em arco até o monte Licabettus, Estádio Paratenaico e a região do Parlamento.

 

A região de Omonia não é uma localidade turística, e expressa bem a Atenas da rotina diária de seus habitantes. Essa caminhada ocorreu no sábado, que mostrou um trânsito razoável como nas grandes cidades do país, às quais se assemelha bastante. Ela está longe de ser uma cidade tipicamente norte-europeia da forma como costumamos imaginar: possui calçadas mal cuidadas, considerável quantidade de lixo nas ruas e um incrível adensamento de muros pichados de forma irresponsável (não, nada de arte de rua). Não sei dizer se é relacionado aos protestos e inconformismo da população com a crise (a última estatística que vi mostrava mais de 25% de desempregados entre toda a

 

A cidade das pombas

população, com números ainda maiores para os jovens). Mas o fato é que a cidade em si não está bem cuidada. Há sim, belíssimas construções, mas são alguns oásis bem guardados no rebuliço da cidade. Mas contra o impressionante número de pombas e suas consequentes sujeiras nem mesmo os oásis escapam. Pareceu-me a cidade de Roma pela grande quantidades de veículos de duas rodas, grupo dominado pelos scooters, que andam até nas calçadas e em ruas apenas destinadas aos pedestres. E sim, aqui o capacete não é obrigatório. Ao menos metade dos motociclistas não o usam.

O Monte Licabettus, apesar de ser um local belíssimo, não apaga essas impressões, em função da má conservação de algumas estruturas. Mas é um passeio que vale a pena pela vista que proporciona do alto e pela simpática igrejinha branca no seu topo, cuja beleza é ofuscada pelos penduricalhos à volta (foto), mostrando uma total falta de cuidado no local. O caminho por algumas das trilhas é muito agradável e proporciona, apesar de exigir alguma condição física, agradáveis momentos de paz. Mas existe a opção de subir de carro por uma rua asfaltada. Mas, claro, a curtição não é a mesma…

 

Algo que chamou muito a atenção na cidade foi a quantidade de policiais da tropa de choque, em um vai e vem frenético de sirenes e caminhões-camburões. Isso tanto no sábado quanto no domingo e segunda-feira. Embora eu não tenha visto nada de anormal, a tensão parece grande. Sobre os atenienses, esses dois dias mostraram também que são muito amáveis para ajudar o viajante nas direções e informações, com a ressalva apenas dos funcionários públicos, tais como de transporte de trens e ônibus. Não tive uma boa impressão deles nos últimos dias. Possivelmente, redução de “direitos” conquistados na virtual bonança econômica seja um fator de redução de humor e amabilidade. E parece que essa expressão é maior caso a pessoa esteja exercendo sua profissão, pois a ligação emocional é direta.

 

Após almoço, segui para o Estádio Paratenaico. Magnífica construção de mármore branco. O ingresso custa 3 euros e eu deixei de economizar 1,50 pois não trouxe a carteira de estudante. Mas o local vale o investimento! Está incluso no preço um áudio que explica a história e o significado de pontos do estádio. Vale reservar ao menos uma hora para a contemplação do local.

 

Posteriormente visitei a área em torno do Parlamento, que conta com o Jardim Botânico, que foi fechado pela polícia antes de seu horário habitual para controle da população, o que impediu minha visita. Impressiona no meio das ruas arborizadas próximas ao local o Zappeion, linda construção que já foi palco de encontros europeus. Em sua frente fora montado um parque de diversões com a temática do Natal, que trouxe muitas famílias e suas crianças para apreciar um dia agradável antes do inverno. Outro destaque em Atenas são as mexeriqueiras, do fruto de casca fina, ao largo das calçadas. Claro que peguei uma para experimentar, mas a experiência não foi boa: amarga demais, o que explica porque as árvores estavam carregadas de frutos. Já na praça Sintagma, ponto final do dia, muitas pessoas se aglomeravam em frente ao Parlamento em um protesto contra os ‘nazistas’ e a favor dos ‘direitos humanos’, que parecia ser pacífico e tinha mais conotação social do que política. Fiquei um pouco na praça, acompanhando a manifestação e quando começou a anoitecer voltei ao hotel.

 

No dia seguinte o objetivo foi conhecer os pontos turísticos “padrões” de Atenas. O ingresso para as principais atrações, que inclui a Acrópole, Teatro de Dionísio, Ágora antiga e seu museu, Ágora romana, Biblioteca de Adriano, Olympeion e Kerameikos e seu museu custa 12 euros e vale por 4 dias. O tempo de permanência em cada uma das atrações depende muito do interesse particular. Elas estão próximas, mas há pouca informação visual, e as pequenas ruelas podem confundir a direção correta entre uma e outra. As atrações permitem a mesma transposição de épocas que comentei no post de Delfos e a sensação é indescritível para quem não vê apenas um monte de pedras em seu entorno. O Parthenon e o portal Propylae impressionam pelo tamanho e pela localização: imponentes no alto da acrópole. O templo mais bem conservado da antiguidade, entretanto, é o templo de Hephaestos, localizado na Ágora antiga e foi construído no mesmo século do Parthenon (séc. 5 a.C). Impressionante pelo tamanho é o templo do Zeus Olímpio, no Olympeion, com mais de 100m de altura. Esse templo é mais contemporâneo, já com colunas conrítias (séc 2 a.C.). Ambos museus, da Ágora Antiga e Kerameikos, são pequenos mas muito bem cuidados, com peças desde o Neolítico. Visita obrigatória.

 

Em todos os sítios arqueológicos, é impressionante a quantidade de material antigo das construções, apesar dos saques de diversos invasores através dos séculos. Esses materiais não foram ‘montados’ na sua forma e local original e formam um grande quebra-cabeça de blocos de mármore de fortificações, bases de colunas e capitéis que desafiam a humanidade a remontá-lo. Alguns momentos de reconstruções e restaurações foram bem documentados e fotografados e estão expostos nos locais. Alguns locais ainda deixam em dúvida se existirão em alguns anos. Muitos são suportados por escoras. Se o valor do ingresso para visitação for realmente destinado ao trabalho de preservação, ele seria muito bem pago. O problema é que quando a instituição ‘governo’ controla esses fundos, a ineficiência na aplicação dos recursos sempre impera.

 

A região circunvizinha da Acrópole (Rua Dionísio Aeropagitou e Rua Apostolou Paulou – mantenho o nome original para facilidade de localização no Google) e o bairro de Plaka são as regiões centrais mais belas que visitei em Atenas, com muitos bares, cafés e, aparentemente, frequentada pela classe média-alta da cidade. Mesmo agora no inverno, o bairro estava bem cheio, e deve atingir seu apogeu de movimentação nos meses de verão. Alguns pontos da região torna visível a descoberta de ruínas após as construções atuais. Sempre abaixo do nível da rua, constantemente deparamo-nos com antigas colunas, escadas e calçamentos de séculos atrás. A paisagem urbana revela seu passado e suas histórias, onde muits cabeças brilhantes sempre permanecerão anônimas.

 

Encerrando a visita nas áreas históricas, escolhi ir à Sounio no dia seguinte, pois a previsão do tempo indicava chuva para os demais dias da semana.

 

Próximo post: Sounio.

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Obrigado Marcos!

 

Próximo post de Sounio:

 

Dia 07: Sounio Cape

 

Essa segunda-feira, após as extensas caminhadas em Atenas, foi um pouco mais tranquila, com vários momentos de parada e contemplação.

 

Sounio fica no extremo sul da Ática, a 67 km de Atenas. Os ônibus para chegar ao local saem da esquina da Avenida Alexandras com a Avenida 28 de outubro, em frente à entrada do Parque Areos, e a passagem custa 6,30 euros, caro pela distância percorrida. Procure os ônibus de cor laranja. Existem duas rotas e a mais bela vista é feita pela rota costeira, cujo ponto final é na colina do Templo de Poisedon. A outra rota segue outro caminho e termina na cidade de Lavrio. Cada uma delas parte de duas em duas horas. Após o café da manhã, acelerei o passo para embarcar no horário do ônibus das 08:30hs.

 

O percurso do ônibus é um show à parte, com a estrada cortando as encostas dos montes à nossa esquerda e margeando o lindo litoral de águas azuis do Mar Egeu. A estratégia é ficar logo na primeira fila à direita (assentos marcados na Grécia só existem nas passagens), para aproveitar melhor a viagem visual. No lado oposto, ainda próximo a Atenas, sua atenção é voltada aos belos apartamentos em frente ao mar, revelando o estilo veraneio do local. A única parte desagradável da viagem foi o humor e algumas atitudes do motorista com as pessoas. Chegou ao ponto de gritar de forma expressiva com uma moça que ameaçou embarcar com uma mala um pouco maior e, levantando-se de seu assento, fez ela voltar e colocar no bagageiro, apesar de o ônibus estar vazio. O interessante é que ele se benzia a cada igreja que passava, o que deixa claro como a devoção a alguma religião não expressa e influencia o caráter e a ética das pessoas.

 

O ponto final do ônibus é o cabo de Sounio, uma pequena faixa de terra que avança para o mar e onde está localizado o Templo de Poisedon. Uma espanhola que conheci disse que foi lá que foi filmada a cena onde Brad Pitt ensinava a arte da luta ao seu irmão no filme ‘Troia”, mas não encontrei referências para afirmar isso. O fato é que o templo, para quem já viu maiores e mais bem conservados, impressiona muito mais pela sua localização, no alto da maior elevação do cabo. Tanto a vista de quem, do templo, observa o mar é fantástica como a vista oposta também deve ser fenomenal. A adoração a Poseidon ocorria tanto da terra quanto do mar.

 

Uma exploração da área fazia necessidade. Dependendo de seu ânimo, você pode gastar algumas horas nisso. Cuidado é fundamental, pois sem avisos e sem nenhuma proteção, altas escarpas aparecem em sua frente. De frente para o mar, caminhando à esquerda pela vegetação baixa (não há trilhas), a cerca de 500m existe um local com possibilidade de descida e quase acessabilidade para chegar perto da água. Mas o trecho final parecia perigoso para se aventurar, sozinho e com todos os penduricalhos. Mas deu vontade. Contornando o cabo pelo leste, entretanto, encontrei um local com uma prainha para poder molhar os pés no mar Egeu, apesar da água e brisa gelada e dos 15ºC de temperatura.

 

A ideia original de alugar uma bike e explorar a região não funcionou para esse roteiro, pois o local do templo não se situa em uma cidade. É um local isolado. Se eu fosse novamente, e fica de sugestão para alguém que se aventurar, pare na cidade imediatamente anterior (Anavissos – uns 10km do local) e tente alugar uma e ir pedalando. Existem vilas mais próximas, mas duvido que exista esse serviço. Se pegar o ônibus que faz a outra rota, a não costeira, ele pára na cidade posterior, Lavrio, onde o aluguel também pode ser feito. Só que, nesse caso, perderia a vista da estrada. Quem se aventurar nessa, me conte depois :-).

 

Voltei no fim da tarde a Atenas e fui no dia seguinte a Nafplio.

 

Próximo post: Nafplio

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Dias 08 e 09: Nafplio e Epidavrus

 

Se na viagem à Sounio a chuva já ameaçava, na manhã de terça-feira não deu outra: primeiro dia chuvoso que presenciei na Grécia. Restavam-me ainda 3 dias completos no continente grego, antes de embarcar no ferry para Rodes. Eu teria que escolher entre algumas alternativas. Poderia escolher fazer uma viagem alucinada para Corinto, Nafplio, Epidavros e Olimpia e não apreciar de fato, os momentos. Escolhi primeiro ir a Nafplio, pois sua história como domínio dos venezianos me interessou. Iria posteriormente a Epidauros conhecer as ruínas e o famoso teatro. Olimpia eu descartei, pois embora exista um grande apelo por ter sido o local onde foram realizadas as olimpíadas da antiguidade, fui informado por viajantes que no sítio arqueológico pouco restou de sua configuração original. E não existiam outras atrações na região além de sua distância, o que me deduziria um bom tempo da viagem. Mas claro, se eu não tivesse marcado a passagem antes… (Roteiro Grécia e Turquia).

 

No dia anterior, chequei no terminal ferroviário as possibilidades de viagens ao Peloponeso. Não existiam ramais em funcionamento para Nafplio. Eu deveria ir até Corinto e de lá buscar alternativas. Inviável. Resolvi ir de ônibus. Em Atenas existem dois terminais de ônibus distintos: o terminal da Tessalônica, onde cheguei da viagem de Delfos e o terminal do Peloponeso (A), de onde sairia o ônibus para Nafplio. Esse terminal é acessado pelas linhas de ônibus 051 e X93. Tanto os ônibus urbanos quanto o metrô custam 1,40 euros no ingresso simples. Não existem cobradores nos ônibus e o viajante deve comprar um ticket em locais de venda próximos aos pontos. Quando cheguei, esse local estava fechado, talvez prenúncio da greve cujo comentário estava em alta. Falei com o motorista e mostrei o dinheiro, mas pelo que entendi ele não podia aceitar e disse para eu não me importar com isso. Andei de ônibus de graça… Exemplos e mais exemplos vividos que mostram que o Estado não serve para ser dono de nada. Ineficiência pura, simples, além de descaso com o recurso público.

 

No terminal comprei o ticket para Nafplio (13,10 euros). Como havia dito no post de Sounio, não há marcação de lugares de fato nos assentos. E a cada viagem de ônibus que faço, observo como os gregos adoram sentar nos bancos da frente, mesmo que estejam parcialmente ocupados e a parte de trás totalmente livre. Aqui, o padrão de calibragem dos pneus deve ser diferente para manutenção da estabilidade… A viagem, de 140km, durou cerca de duas horas e meia, pois o ônibus percorre um longo e lento caminho na cidade de Argos, além de paradas ocasionais para subida e descida de passageiros. A passagem no canal de Corinto, embora muito rápida, foi suficiente para checar a imponência da obra realizada ainda no século XIX e que transformou o Peloponeso, de fato, em uma ilha.

 

Nafplio é uma cidade de pouco mais de 30mil habitantes e foi a primeira capital do Estado grego moderno, na terceira década do século XIX. Possui uma história de domínio veneziano e ocupações otomanas dentro da história grega. Comenta-se que a principal atração da cidade, o castelo e fortaleza de Palamidi, é o maior legado que ainda resta da dominação de Veneza no mediterrâneo. Cheguei na cidade no meio do dia e a chuva havia passado. Alívio para quem não tinha hospedagem reservada ainda. A cidade, por si só, foi uma surpresa muito agradável. As fotos no Picasa revelam uma cidade bem cuidada, limpa, fontes nas praças que funcionam, sem excesso de pombas e pichações que existem em Atenas, além de muito bem servida pela natureza, principalmente na área mais antiga e acolhedora. O ônibus pára na praça principal e ao redor existem vários hotéis e pousadas confortáveis. Na primeira que tentei, não houve negociação, pois o mínimo cobrado era de 30 euros. Na segunda, após uma breve negociação, a dona cobrou-me 20 euros pela noite (Pension Omorfi Poli). No booking.com, o mesmo quarto que fiquei estava a 45 euros… Vantagens de uma viagem fora da temporada...

 

Em Nafplio a história muda totalmente de era, da antiguidade para os tempos mais modernos. Ocupei a tarde na visita da Fortaleza e Castelo de Palamidi, construído no início do século XVIII pelos venezianos, mas tomados pelos otomanos posteriormente. O ingresso custa 4 euros, mas para estudantes, metade do preço. Havia esquecido meu cartão estudantil, mas lembrei que tinha um certificado de matrícula impresso comigo. Mostrei ao funcionário que não entendeu nada do português, desconfiou, expliquei, e acabou cedendo. Paguei 2 euros. A entrada pode ser feita via automóvel ou a pé, pela famosa escada de 999 degraus. Não podia perder essa. Os caminhos também são importantes (Dança Lenta). No retorno, porém, eu contei cada degrau através de um método científico provado como correto :-P e cheguei a 874. Talvez alguns degraus perderam-se no caminho… A construção está dividida em 8 bastiões, áreas independentes entre si com provisões próprias, mas conectadas através de passagens dentro dos muros principais. Uma verdadeira cidadela. A distância de um extremo a outro chega a quase 400m se fosse possível caminhar em linha reta. As construções de alguns bastiões estão bem preservadas, mas os bastiões extremos, que inclui o Bastião de Aquiles, o mais vulnerável e o que primeiro caiu nas mãos dos otomanos, estão com manutenção precária, inclusive com muito mato alto pelo caminho. Gasta-se fácil umas 4 horas, contando o tempo de subir e descer a escada.

 

A cidade pequena e fria, estava bem vazia de noite, mas a disposição de vários bares e restaurantes com poltronas e sofás ao longo do calçadão da costa denotam que em finais de semana e no verão o local deve ser muito movimentado. No dia seguinte, percorri de manhã toda a cidade velha e um caminho ao longo do monte Palamidi para apreciar melhor a cidade, ainda bem fria. Notam-me pessoas correndo, passeando com cachorros e alguns pescadores. Crianças em aula em pleno 19 de dezembro. Em seguida parti no ônibus das 10:15hs para Epidavros, um sítio arqueológico (ingresso 6 euros, mas 3 euros para estudantes – de novo, o certificado de matrícula funcionou) cuja principal atração é seu teatro, famoso por ser um dos maiores teatros da Grécia antiga, um dos mais preservados e principalmente, por ter a melhor qualidade acústica. Conheci uma viajante taiwanesa-canadense no local e nós, trocando de lugares no centro e na arquibancada, fizemos o teste. Funciona muito bem até hoje, similar ao efeito proporcionado pela catedral de Brasília. Antes já havia visitado o sítio arqueológico e o Museu, e voltamos para pegar o ônibus e retornar a Nafplio. Para ir e voltar é rápido, cerca de 40min e uma passagem custa 2,90 euros.

 

O local do sítio é no meio da estrada, isolado ao menos em 5km da próxima cidade. E uma ‘aventura’ surgiu inesperadamente para mim, para Sandy (a taiwanesa-canadense) e para uma americana que conhecemos esperando o ônibus, que também viajava sozinha. Sim, muitos curtem uma Viagem solo. E a Kitty, a americana, já tinha uma certa idade (não tive coragem de perguntar) e começou suas viagens pelo mundo apenas há 10 anos atrás. Nunca é tarde para se aventurar! Bem, o ônibus das 13:00hs simplesmente não passou. E eu pretendia ir ainda a Corinto para depois, no dia seguinte, voltar a Atenas. Esperamos quase 1 hora e meia em meio às graças dos cachorros e gatos no local, e nada de ônibus, nem mesmo carros. Aquele acesso que estávamos servia apenas para o sítio arqueológico, e havia pouquíssimo movimento. Colhendo uma informação com um funcionário local, chegaríamos à uma estrada andando pouco mais de um quilômetro e poderíamos pegar um ônibus para Nafplio em frente a um posto de gasolina. Fizemos isso, mas o ônibus passou apenas no final da tarde. Decidi ficar em Nafplio mais uma noite.

 

No dia seguinte, após checagem na internet em site recomendado por uma leitora do blog, vi que os transportes ferroviários e metroviários estavam em greve. Perguntei para a recepcionista do hotel sobre os ônibus e ela disse que seria provável que entrassem também. Resolvi abortar a viagem para Corinto e ir logo para Atenas. Afinal, no dia seguinte eu já tinha reservado e pago a viagem de navio para Rodes. Melhor garantir. Voltei para Atenas e descansei o resto do dia.

 

Próximo post: Piraeus e a viagem no Mar Egeu.

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Dia 10 e 11- Piraeus e a viagem de navio

 

O décimo dia na verdade foi o dia que voltei de Nafplio, onde fiquei uma noite a mais em virtude do problema do ônibus. Cheguei novamente em Atenas após o almoço, no meio da greve dos transportes com a cidade em caos. Por sorte, no retorno o ônibus fez um circuito diferente em relação à ida e desci antes do terminal, perto do hotel, para onde fui direto e me permiti descansar e colocar as rotinas que ainda mantenho em dia. Sim, por mais que nos desliguemos, nossos compromissos e preocupações não permitem um desligamento geral. E isso pode ser um elemento de equilíbrio durante uma longa viagem, o que

necessariamente, não significa que seja bom. Escrevi um pouco sobre isso no navio: o elemento esquecido nas viagens.

 

No dia seguinte saí na hora do almoço para ir a Piraeus, uma cidade portuária vizinha de Atenas e de onde sairia meu navio para Rodes. O navio só sairia às 19hs, mas como eu teria de sair do hotel ao meio-dia, aproveitei a tarde para conhecer a cidade. Cheguei pelo metrô, fui direto aos escritórios da BlueStar (após sair da bonita estação, atravesse a escada rolante acima da rua, caminhe para a esquerda e vire a direita no terceiro quarteirão) para emitir os tickets e depois fui andar pela cidade. Piraeus é uma cidade trânsito caótico, motoristas que não respeitam o mínimo da lei, e possui poucos pontos de interesse, embora conte com um bonito teatro e algumas igrejas, além da própria estaçãovde metrô, construída no século XIX. Se tiver tempo, vale ir à marina e subir o monte Kastella para ter uma visão (mais ou menos) panorâmica da cidade. Algumas escavações do passado também emergem nas ruas, como Atenas. No mais a cidade possui posição estratégica no país, abrigando o maior porto da Grécia. Abriga também um posto de gasolina sob um prédio, algo que nunca soube que podia existir. Com uma boa oferta, você compraria um apartamento acima dele?

 

Após essa tensa caminhada na cidade, outra estava me aguardando. O porto é enorme e o portão de embarque do meu navio era o E1, o primeiro ou o último, para minha referência, já que a estação do metrô fica no portão E6. E acreditem, são mais de meia hora de caminhada. Existe um ônibus gratuito que faz essa rota pelo porto, mas eu quis ir a pé para sentir seus ares, ver os navios. A última vez que fui em um porto foi para checar armazéns para recebimento de malte para cerveja (ou a chegada do próprio malte, não me lembro qual situação foi a última). Nostalgia…

 

No mapa que o escritório da companhia havia me dado dizia que cada terminal tem suas salas de embarque exclusivas, com temperatura controlada, wi-fi grátis e snacks e bebidas. Cheguei no terminal umas 17hs e a situação era de um vazio total. Apenas 3 pessoas no salão enorme e frio. Nada de aquecimento. A wi-fi não funcionou e os snacks e bebidas (que estava contando para alimentação) eram vending-machines… Nenhum funcionário da companhia, nem do porto, nem mesmo um balcão. Foi muito estranho.

 

Até que comecei a sentir uma movimentação do lado de fora da estação, faltando ainda mais de uma hora da saída. E já existiam muitas pessoas entrando no navio. Na verdade, a maioria não usa o espaço disponibilizado. Após a entrada do navio em escadas rolantes, apesar de enorme, não chega perto dos transatlânticos gigantes que hospedam os cruzeiros mais famosos do mundo. Possui 9 andares, sendo apenas os 3 superiores dedicados aos passageiros. Os demais, cargas e carros. Contei 3 restaurantes com espaços bem confortáveis, dois cafés e um restaurante do tipo “fast-food”. Oferece ainda sala de brincadeiras para crianças, sala de jogos eletrônicos e muitos ambientes com mesas e cadeiras que permitem uma integração maior entre os passageiros.

 

Dentro do navio a sensação de velocidade é tênue. Parece que estamos parados, como no avião, embora haja uma vibração um pouco incômoda. Porém, a sensação no deck é bem diferente, com o vento gelado aprofundando a sensação de velocidade. Verifiquei em uma grande tela de GPS que existe dentro do navio e estávamos a 25 nós, cerca de quase 50km/h. Sim, também uma viagem lenta. Que bom!

 

Passamos pelas ilhas de Siros, Paros e Kos até chegarmos na manhã seguinte à Rodes. O conforto das assentos, aparentemente, é melhor que no avião, com poltronas mais largas e mais reclináveis. Corredores largos permitem a colocação das malas ao lado das poltronas. Será que o espaço não é otimizado pela limitação dos passageiros no navio? Há muitos espaços vazios em seu interior. Porém, esses espaços salvaram minha noite. As poltronas, apesar de confortáveis, não permitem que se remova o braço, largo, no seu meio. E para quem não consegue dormir sentado, complica demais. Com o barco relativamente vazio, fui andar um pouco por volta da meia-noite e vi um monte de pessoas dormindo no chão, no carpete de vários ambientes. Não deu outra. Achei um canto, peguei meu saco de dormir e meu travesseiro inflável e curti o carpete do navio. Foi mais do que suficiente para dormir boas horas de sono.

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Dias 12 e 13 – Rodes

 

Depois de uma noite num saco no ferry, cheguei a Rodes no sábado antes do almoço. Após encontrar um hotel, planejava visitar a cidade, focando na cidade medieval. Eu havia anotado uns endereços anteriormente e foi fácil encontrá-los pelo gps. Não precisei andar muito: no primeiro já fechei negócio. O Star Hotel me forneceu a percepção inicial mais negativa dos hotéis que fiquei até agora, superada posteriormente pela amabilidade do dono, que conheci a noite. O quarto do hotel é espaçoso, possui uma boa varanda e limpo mas, possui uma mobília old-fashion mal-cuidada, e durante a noite, tive problemas no ar-condicionado para aquecimento e depois de 15 min a luz apagou de forma definitiva. Foi nesse interim que conheci o dono, ausente na minha chegada. E ele se dispôs imediatamente a trocar o meu quarto e assegurar que estivesse tudo certo para minha noite. Essa boa disposição, aliada a uma ótima wi-fi, tornou minha avaliação do hotel no dia seguinte positiva, valendo o custo de 17 euros.

 

Durante a tarde, com o tempo nebuloso e alguns momentos de sol, aproveitei para passar pela faixa de litoral que une o hotel ao centro e fui conhecer a maior atração que me informei sobre Rodes: a cidade medieval. E foi algo inédito para mim. A cidade medieval fica dentro de uma rede de muralhas que datam do século XI e grande parte das construções ainda estão preservadas. Sua entrada é feita através de seis bem preservados portões ao redor, e o viajante pode observar o antigo poço de segurança da cidade ao seu redor bem como as fortificações em suas entradas. Ocupa uma área central e relativamente extensa da cidade, mas não é simplesmente uma atração turística: ela é usada como área residencial e comercial de Rodes e cumpre uma função produtiva na cidade. Assim, uma caminhada pelas suas ruas transfigura-se num retorno ao passado de uma forma muito mais intensa do que a visitação de um sítio arqueológico, pois lá existe vida. Pelas vielas, observam-se pessoas dentro de suas casas, mercados, restaurantes e bancos, em construções típicas medievais. Seus meios de transporte, claro, mudam com o tempo: muitas motos circulam pelas ruelas e carros são usados nas ruas um pouco mais largas. Mas o charme de época das construções toca o passado. Uma pena que no dia seguinte, após chuvas intensas, uma parte de um dos muros desabou, quando eu estava no meu caminho para a região portuária. Uma parte da história que vai sumindo a olhos vistos. Existe também o castelo principal, atração paga para visitação e onde cheguei atrasado: no sábado fecha às 15h. Iria ficar para uma próxima vez. Em, Rodes presenciei os primeiros fortes sinais da influência turca nos seus períodos de dominação. Afinal, a Turquia está a poucos quilômetros daqui. Pela primeira vez vi minaretes e construções com a típica abóbada otomana.

 

No final da tarde, quando estava voltando ao hotel, esfriou e começou a cair uma chuva fraca, que não parou durante toda a noite. Estava na região central e consegui jantar e voltar rapidamente, não me importando com a situação, pois a cidade estava totalmente vazia em pleno sábado. Aliás, em Rodes foi o único local até agora da viagem em que não vi nenhum turista. Nenhum. Porém, fiz meus votos para que a chuva não continuasse no dia seguinte, quando pretendia ir à uma praia mais ao sul antes de embarcar novamente para o mar.

 

Meus votos não serviram para a nada. No Domingo acordei sob chuva forte e a previsão do tempo ao longo do dia não animava. Aproveitei para sair do hotel quando a chuva deu um pequeno intervalo e inicialmente fui comprar um guarda-chuva, pois queria andar e não ir a um lugar específico direto, usando ônibus e táxi. Comprei um guarda-chuva em um mercado chinês, e pedi proteção aos deuses. Nada de proteção: após passar pelo cemitério e uma bonita igreja no meio do cemitério, começou a ventar e chover copiosamente quando cheguei na praia, e a qualidade chinesa do guarda-chuva denunciou o pequeno preço de 3 euros. Para pegar minha mochila no hotel passaria no mercado de novo e troquei o guarda-chuva. Quase pedi o dinheiro de volta, mas achei que, mesmo péssimo, ele poderia ser útil, ao menos sem vento. Segui para a região central passando novamente pela cidade medieval e ia até o centro moderno da cidade, para almoçar e ir ao porto. Foi aí que uma tempestade caiu e não teve guarda-chuva que aguentasse novamente. Estava numa regiao da cidade medieval que não passava táxi. Aliás, não passava carro nenhum. E a chuva, plena e contínua. Esperei quase uma hora embaixo de uma proteção, mas o vento fazia seu papel de me encharcar todo.

 

E conforme o tempo foi passando, tinha de tomar uma decisão, pois precisava embarcar no ferry à tarde. E decidi sair da proteção até atingir uma avenida e, de abrigo a abrigo, caminhei para uma praça central indicada no mapa e onde podia ter um ponto de táxi. Mas até esse momento eu já estava todo ensopado. Além da chuva e vento em si, a drenagem das ruas de Rodes são péssimas, acumula-se muita água e enfiei o tênis na água muitas vezes. Procurei presença de espírito para tirar ainda mais fotos dessa parte da cidade nessas condições (no Picasa). Estou eu agora no ferry, sem tênis, sem meias, com a calça molhada escrevendo esse post. Mas como comentou um amigo pelo face ontem quando protestei da chuva: “Olha a história que você pode contar: tomando chuva em uma ilha grega!”. Sim, chuva é bom, mas sem roupa, sem frio e sem mochilão… :-)

 

Próximo post: Kos

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Dia 14 – Kos

 

Cheguei já à noite na ilha de Kos, motivo pelo qual reservei um hotel antecipadamente. O Veroniki hotel (15 euros) é um lugar razoável, simples mas limpo, com ar condicionado (quente), mas com um sinal bem fraco de wi-fi nos quartos. Funcionava bem apenas nas áreas comuns do hotel. Se fosse ficar mais dias em Kos eu trocaria de hotel, mas como fiquei por apenas uma noite, não esquentei a cabeça.

 

A cidade de Kos acordou molhada, mas sem chuva. É uma cidade pequena e que se assemelha com aquelas pequenas e brancas vilas gregas nas ilhas mais badaladas (embora seja mais presente no interior da ilha), o que é chamada de arquitetura de cíclades, nome dado a um conjunto de ilhas no Mar Egeu. Junto com Nafplio, ela fica como a ‘top city’ entre as cidades que visitei na Grécia, considerando um lugar agradável para passar uns dias ou ficar em permanência definitiva. Cidade limpa, bem cuidada, com mais respeito aos pedestres e ciclistas. Há uma ciclovia que atravessa a cidade ao longo de toda a costa, mas não haviam lugares para alugar uma bike. Praticamente todas as lojas estavam fechadas nesse 24 de dezembro, e tive que conhecer a cidade a pé mesmo, porém, com limitação de tempo: minha saída para Turquia estava marcada para 15:30hs.

 

A cidade é conhecida aqui por ser o berço de Hipócrates, considerado o pai da Medicina. Se não me engano, um dia comentaram comigo que o juramento dos formandos de medicina baseia-se nos ensinamentos de Hipócrates. Corrijam-se se eu estiver errado… Sua história mistura antiguidade, medievalidade e contemporaneidade. Convivendo com poucos metros de distância, existem ruínas romanas e minaretes otomanos. Além disso, a cidade não possui muitos lugares turísticos em si, além do lindo castelo-fortaleza ao lado do porto, algumas ruínas romanas e outro castelo veneziano. Todos fechados. Pelo que pesquisei porém, a vocação da cidade é ser um balneário muito frequentado no verão, onde o pessoal com grana vêm em peso desfilar pelo Egeu com seus iates. E, como Rodes, não vi nenhum turista na cidade. É impressionante como essa viagem fora de temporada está sendo levada a sério :-). A véspera de Natal, apesar de quase todo comércio fechado (um supermercado consegui encontrar) a cidade estava relativamente movimentada; havia um pequeno parque de diversões e um ringue de patinação no gelo na praça principal.

 

Almocei e fui andar mais um pouco em uma área do outro lado do porto antes de procurar o balcão para fazer o check-in. Após passagem sem problemas pela controle de imigração da Grécia, que cobra 3 euros para a saída do país (?), parti no bote até Bodrum, já no território turco.

 

Próximo post: Bodrum.

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