Ir para conteúdo

Posts Recomendados

  • Silnei featured this tópico
  • Colaboradores
Postado (editado)

06-08/08: Rolezinho em Águas da Prata

          Após alguns dias em Poços, era hora de levantar acampamento e seguir para a base do ramal principal do Caminho da fé, Águas da Prata. Mas, chegar da maneira tradicional não teria graça, e só iria começar a jornada no dia 09/08, então, o que fazer?

          Nas minhas pesquisas prévias, tomei conhecimento de uma rota de ferrohiking entre o pequeno bairro de Cascata, na divisa do estado, até Águas, de aproximadamente 17km. Seria um bom exercício para as pernas, e um verdadeiro off the beaten path da região. Peguei os horários de ônibus, e saí pela parte da madrugada, de Poços para a divisa dos estados.

cfex.jpg.bf023184fbc64ffe8edaf077ceb0680b.jpg

cf21.jpg.1c6b2c251f5cdfa39fc6ed0a4e20d02a.jpg

Essa viatura circulou e parou bem pertinho enquanto eu fazia os registros, pensei que iria rolar um puta interrogatório suspeito e zikar meu passeio ::lol4::

          O bairro de cascata pertence a Águas da Prata, é bem isolado e meio largadinho, com aquele ar de periferia/bairro rural. Bateu receio de cruzar com nóia, mas graças a Deus, apesar de tudo fechado naquela hora da manhã, era somente eu cruzando as ruas. Eis que encontro a estação (aparentemente abandonada) de Cascata. Avisos de proibição de pedestres Ignorados #thuglife, mais umas olhadas para ver se estava sendo observado, horário de início memorizado, e começava a andar nos trilhos.

cf22.jpg.9ae74619d836eedc19ffbe77b09ecdf8.jpg

          Num primeiro momento a trilha é fechada, sem muito a observar a não ser a próxima curva. Pela quantidade de cascalho característico das vias ferroviárias, só poderia andar pelos dormentes do trilho, tornando o ritmo lento. Li que era comum encontrarem animais atropelados nesse trecho, entretanto não foi o caso na minha passagem.

cfex5.jpg.9d80b0428726281ad31fedcb65210d64.jpg

          Após quase uma hora do cooper matinal, a paisagem começa a mudar, e a vegetação se dispersa do lado direito (sentido Águas), oferecendo as primeiras visões daquele sobe-desce característico da região. Avistava algumas fazendas, a SP-342, e um belo horizonte sendo acordado, aos poucos, pelo sol da manhã.

cfexy.jpg.40a23041330fe58e588663a31eef0eb4.jpg

          Neste ponto, não demora muito e o mirante da Prata e a Ponte do Tajá são avistados, uma das partes "emocionantes" desta trilha. Isso porque a pequena ponte é "vazada", tem aproximadamente uns 150m de extensão, e 25m de altura. Comparado com um viaduto mula preta da vida (ferrovia do trigo), esta é uma brincadeira de criança, porém, com a possibilidade de se ouvir o apito do trem de carga chegando no momento da travessia (pois este não tem um horário definido), a pequena brincadeira ganha um belo tempero. Parei, contemplei o horizonte, tirei umas fotos e comecei a atravessar a ponte, atento a quaisquer sons atípicos. Sem problemas. Para quem tem problemas com pontes ou alturas, há uma trilha lateral segura. Ainda atravessei a ponte uma segunda vez.

cf24.jpg.104ebeeec5fd3a20223c796db127948b.jpg

          Após a travessia, notei que chegava no início da ponte um pequeno grupo feminino. Ótimo, alguma companhia para o caso de incidentes é sempre útil, mas não esperaria elas atravessarem a ponte, pois o sol estava começando a tomar conta de tudo, e o calor de um dia ensolarado logo iria incomodar, então tratei de seguir caminho.

          Passada mais uma hora, entro em um pequeno túnel de aprox. 60m. Acreditem ou não, escutei vozes lá dentro. Não sei se estava perto de uma fazenda, se haviam pessoas em cima da passagem, se algum efeito do eco levava vozes distantes para dentro da estrutura, ou se havia algo sobrenatural em curso. Não nego, deu um pequeno nervosismo, e logo tratei de deixá-lo para trás ::mmm:

cf25.jpg.92eaadd2857088ca1d8c0dc84c41cb21.jpg

          Após mais uma hora e meia aproximada, começo a escutar sons de água. Sabia que dos trilhos podia entrar na Trilha das Sete Quedas, ponto quase que obrigatório para quem está na região. Stan em dia ensolarado estava pedindo por um banho gelado, porém, não sabia a extensão da trilha, e quanto tempo gastaria aqui, então neste primeiro momento, decorei o local da entrada e segui meu caminho. 

cf26.jpg.d37e77f17aac2cefc35433ae5e8fce11.jpg

É interessante memorizar esta curva após uma grande elevação, a trilha das sete quedas começa aqui.

          Era em torno de 11 da manhã quando cruzei com os primeiros transeuntes que vinham em sentido contrário, estes indo para as sete quedas. Um rapaz trazia um cachorro aparentemente feliz, e uma moça carregava um gato enjoado numa daquelas mochilas para pet. Senti pena do gato, trilha em dia ensolarado não é lugar para esses bichanos.

          Finalmente às 13 horas, alcançava meu destino, a estação de Águas da Prata (apesar de ter andado pela rua nos metros finais por medo de ser multado por sei lá, algum guardinha de passagem :lol:)

cf27.jpg.626a45695fd4f7e992bbff9931e4bf2f.jpg

cf40.jpg

          Comemorações feitas, restava agora procurar um almoço, a hospedagem, e informações sobre a peregrinação. Por ser sábado, a AACF - Associação dos Amigos do Caminho da Fé estava fechada, porém, havia feito a reserva prévia pelo booking na Casa do Fábio, que coincidentemente era parceira do caminho. Consegui as informações desejadas com o anfitrião (muito gente boa, diga-se de passagem) e a credencial do peregrino, obrigatório para a emissão do certificado mariano na basílica de Aparecida. Como as coisas acontecem, não?

          Com isso, só restava fazer as compras para as refeições dos próximos dias, e curtir o tempo disponível. Nesse período, conversei bastante com o Sr. Fábio sobre todo tipo de assunto, ouvi a história de vida dele, e pude compartilhar curiosidades sobre meu estado, Amazonas, que raramente chegam ao conhecimento do sulista. 

          No domingo, esperava encontrar algum movimento no pequeno centro turístico de Águas da Prata que basicamente é um amontoado de quiosques próximos da Fonte Vilela, famosa por derramar a "água mais radioativa das américas". Nas dependências, os macacos-prego, mal-acostumados com os restos de comida dados pelos turistas, chegam pesado quando veem que o movimento está bom no local :lol: Aqui é um bom ponto para devorar os derivados de milho vendidos.

cf28.jpg

Mais uma fonte de água de qualidade, fazia questão de andar meia hora da pousada até aqui para recarregar a garrafinha

cf41.jpg.02f9cb7ac1ecf84927dfc37889f4fef4.jpg

Já é da rotina das moças dos quiosques a pequena gangue exigindo "pedágio". Os peludos até possuem nomes.

cf30.jpg

A água dança e anuncia a renovação da vida

          Em Águas da Prata tem e ao mesmo tempo não tem muita coisa para se fazer. Além dos quiosques, da fonte, e um mirante na cidade, há algumas cachoeiras no entorno, boa parte delas afastadas. Como ainda era de manhã, e o dia prometia sol forte, resolvi voltar aos trilhos de trem e fazer a trilha das sete quedas. No caminho, pude ver alguns carros antigos retornando do evento de Poços de Caldas para seus lares, oferecendo ao expectador um túnel do tempo. Foi lindo de ver =D

           A trilha das sete quedas tem uma dificuldade de fácil para intermediário. Sinalizada com tinta nas árvores, um pequeno esforço para subir em pedras e raízes de árvores se faz necessário, enquanto o visitante vai subindo o curso d'água. Apesar da região estar passando por um período de seca e as quedas estarem fraquinhas na ocasião, haviam pontos legais e bonitos para aquele banho gelado (do tipo entrar na água e sair com o corpo dormente ou dolorido de frio ::Cold::).

cf33.jpg

Não sei se é a segunda ou a terceira queda, só quem conhece saberia dizer com exatidão

          Após uma hora e meia, mais ou menos, consigo chegar na sétima queda. O esforço valeu a pena, pois a paisagem cativa

cf34.jpg

          A volta seria cansativa, porém, há o pulo do gato: da sétima queda há um ramal de acesso que termina quase que nas dependências da cidade. É possível chegar de carro na sétima queda, inclusive, porém há uma porteira onde é feita a cobrança dos visitantes no caminho. Era um "semi-alívio", pois meus joelhos reclamaram um pouco nessa trilha. Na volta, quase me perco na floresta de eucaliptos, vi umas trilhas de MTB super da hora, e tive que fazer uma bela descida de desnível acentuado no meio de plantações de café. Uma aventura e tanto.

          No terceiro dia, o clima estava dando sinais de uma mudança drástica: chuva fraca e tempo fechado na região. Por um lado era um alívio para a vida local, uma vez que havia meses que não chovia, e por outro eu precisaria me preparar para a possibilidade de começar a grande caminhada embaixo d'água. Isso não seria exatamente um problema, pois tinha capa de mochila e uma jaqueta impermeável. 

          Nesse dia, em virtude da chuva, não pude fazer muita coisa, a não ser desejar boa viagem para os bicigrinos de saída, observar a tranquilidade da cidade em uma tarde de segunda, e refletir bastante sobre a jornada que começaria no dia seguinte.

cfex6.jpg.bcb96cb1d7c2265f56b3ef92d41125fb.jpg

Editado por StanlleySantos
edição
  • Gostei! 1
  • Amei! 3
  • 3 anos depois...
  • Membros de Honra
Postado

@StanlleySantos

Meu caro, você escreve muito bem. Delícia de leitura, reli n vezes.

Meus parabéns e sobretudo meu muito obrigado por compartilhar.

(E, por sua influência, fiz a trilha nos trilhos do trem para chegar em Águas da Prata -- o que vale mais um muito obrigado).

  • Gostei! 1
  • 3 semanas depois...
  • Membros
Postado

Sou ateu marxista, NÃO ACREDITO EM RELIGIÃO MEEESMO,como dizia meu avô, e jamais faria esse caminho religioso, mas gostei da história por gostar de viajar. 

  • Colaboradores
Postado
Em 02/11/2025 em 07:03, mcm disse:

@StanlleySantos

Meu caro, você escreve muito bem. Delícia de leitura, reli n vezes.

Meus parabéns e sobretudo meu muito obrigado por compartilhar.

(E, por sua influência, fiz a trilha nos trilhos do trem para chegar em Águas da Prata -- o que vale mais um muito obrigado).

Ah, disponha! É sempre agradável saber que os registros de minhas andanças serviram de referência para alguém. Tmj 👊

  • Colaboradores
Postado (editado)
Em 23/11/2025 em 23:18, D FABIANO disse:

Sou ateu marxista, NÃO ACREDITO EM RELIGIÃO MEEESMO,como dizia meu avô, e jamais faria esse caminho religioso, mas gostei da história por gostar de viajar. 

Pior que muita gente nem faz esse caminho pela questão religiosa. Existem desafios de ciclismo e afins (cruzei com alguns), e alguns estão ali só pela aventura.

Penso que a pessoa precisa saber a motivação que a agrada para isso. Não sou católico, mas essa jornada não deixou de ser uma experiência única na minha vida, e a recomendo a qualquer um que esteja disposto a encarar =D

Inclusive, o Santiago de Compostela está na minha bucket list, sem dúvidas.

Editado por StanlleySantos
  • Membros
Postado

Esse de Santiago são dias e mais dias. Eu conheço a cidade e o Santuário da Barca aonde diz a lenda que chegou com o corpo do apóstolo,que sabe-se lá como,dizem estar sepultado na igreja. Tem muitos anos que fui lá,2017,então nem lembro direito,apenas não vou esquecer nunca que peguei um tempo horroroso, chovia e fazia frio de menos de 10 graus em maio.Eu gosto da vida boa,cheia de luxo, funcionários e "puxa sacos",é a vida que sempre tive e pretendo ter para sempre.

Participe da conversa

Você pode postar agora e se cadastrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça o login para postar com sua conta.

Visitante
Responder

×   Você colou conteúdo com formatação.   Remover formatação

  Apenas 75 emojis são permitidos.

×   Seu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar como link

×   Seu conteúdo anterior foi restaurado.   Limpar o editor

×   Não é possível colar imagens diretamente. Carregar ou inserir imagens do URL.

×
×
  • Criar Novo...