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  1. ATENÇÃO: Esse relato é apenas parte de uma grande travessia que ainda está em estudos para ser implementada no Parque Nacional e como ainda não é aberta ao público, os 2 primeiros dias foram retirados e só será incluído quando for oficial, mas fica aí a dica para quem deseja percorrer esse trecho, porque é perfeitamente possível conseguir as devidas autorizações no site do Parque. A gente mal começou a montar nossas barracas e uma chuvinha traiçoeira achou de nos pregar uma peça, mas não durou nem 15 minutos e o sol voltou a nos fazer companhia nesse finalzinho de tarde, deixando à mostra uma parte do espigão que nos levaria no outro dia até o cume do Pico Serra Negra. Enquanto cozinhávamos, presenciei os meninos conversando sobre acordarem umas 4 horas da manhã para subir o pico, coisa que eu sinceramente não estava a fim de fazer. No último dia eu vinha sofrendo com um desconforto abdominal, causado certamente pelo clorin que acabamos botando na água, coisa que eu já sabia que poderia desandar, então eu estava preferindo descansar bem aquela noite para poder seguir firme no outro dia, então havia decidido que se fosse para acordar com os galos, ficaria na barraca. TERCEIRO DIA O dia amanheceu sem chuvas, mas ainda tomado pela neblina. Os meninos abortaram a saída de madrugada, porque acabou sendo uma noite um pouco molhada e quando levantamos, já passava das sete da manhã. Decidimos deixar as barracas montadas e subirmos o pico juntos e é engraçado, que quase 15 anos atrás, quando cruzei pela Travessia da Serra Negra, partindo lá do Vilarejo de Maromba, eu mal sabia onde ficava esse pico e na ocasião não dei muita importância. Jogamos alguns equipamentos básicos e de segurança numas mochilas, pulamos um brejo metros abaixo do acampamento e já interceptamos uma trilha larga, que em 100 metros nos levou até uma bica, junto a um arremedo de porteira e mais uns 10 metros à frente, abandonamos essa trilha para a esquerda em favor de outra, justamente a trilha oficial que vai nos levar ao pico. No início, é uma trilha larga que vai ganhando pouca altitude, indo em direção ao sul, adentrando em florestas espaçadas, mas não demora muito e temos que curvar para leste, numa trilha que pegamos subindo para esquerda que agora sim, vai começar a subir pra valer até tropeçarmos no cocuruto de um cume rochoso de onde é possível avistarmos nossas barracas montadas no gramado. A continuação é para a direita, cruzando por cima do rochoso sem trilhas, mas somente por alguns metros, porque depois disso, temos quase uma avenida pela frente, muito porque, nos pareceu que foi roçado recentemente, onde instalaram umas ripas de madeira para demarcar o caminho, até que atingimos os amontoados de rochas, o estirão final até o cume, nos valendo de escalaminhada e sempre seguindo alguns totens que vieram bem a calhar por causa da neblina que ainda pairava sobre a conquista final. Agora a escalaminhada ganha ares de escalada, uns trepa-pedras de respeito até atingirmos o cume final. Viramos um pouco para a direita e subirmos uma grande rocha que marca o ponto mais alto da SERRA NEGRA ou para alguns o PICO DA PEDRA PRETA com seus 2.572 METROS de altitude, a sexta mais alta do Parque Nacional de Itatiaia. Apesar do tempo ainda um pouco encoberto, com as nuvens se dissipando lentamente, estou extremamente surpreso com a vista que nos foi apresentada lá de cima e fico envergonhado de ter subestimado esse pico, chegando a cogitar nem perder meu tempo para subi-lo, mas me equivoquei e por sorte tomei a decisão certa. É uma vista soberba, um grande rochoso, com um excelente topo para montar uma barraquinha, caso as regras do parque permitisse. Lá de cima, vemos rios que despencam na direção do maciço das Agulhas Negras, dentre eles, o Vale do Rio Aiuruoca, nosso caminho natural dessa travessia. Até o cume da Serra Negra, gastamos pouco mais de 01:40 e levaremos para descer, com uma passada ainda no pico mais abaixo, cerca de 01:30. E foi providencial perdermos um tempinho nesse cocuruto intermediário, para podermos apreciar o fantástico SAPO FLAMENGUINHO, uma espécie endêmica do parque, que mesmo eu tendo estado várias vezes no Itatiaia, não tinha tido a oportunidade de conhece-lo, talvez por visitar sempre no inverno. E foi mesmo uma grande sorte e um prazer poder ver dezenas deles nadando nas poças de topo de cume, com suas barrigas avermelhadas, um privilégio, inclusive, o sapinho é o símbolo do Parque Nacional. Antes do meio dia estávamos de volta às nossas barracas e enquanto nos mantínhamos ocupados na missão de desmontá-las e guardar tudo, fomos fazendo nosso almoço e antes das 13 horas, partimos. É preciso dizer que na Travessia completa do Parque Nacional, no roteiro não constava a subida ao Pico da Serra Negra, então, com um esforço um pouco descomunal, poderíamos simplesmente ao invés de acampar aqui no sopé da Serra Negra, ter seguido nos arrastando no SEGUNDO DIA e nos adiantarmos por mais umas 2 horas, duas horas e meia até as Cabanas do Aiuruoca e acamparmos lá, talvez aí, diminuindo essa travessia para 5 dias os invés dos 6 que prevíamos , mas tínhamos tempo e disposição, então subir a Pedra Preta, foi um premio. Nosso caminho vai seguir novamente pela trilha larga e desimpedida, o mesmo caminho que pegamos pela manhã para ir ao topo da Serra Negra, mas é claro, vamos percorrê-la por 100 metros até a bica e ignorar a saída a esquerda. Daqui para frente não terá mais erros, vamos descer até encostarmos no Vale do Rio Aiuruoca, distante ainda umas 2 horas. O sol nessa tarde do terceiro dia vai queimando tudo e mesmo sendo cedo ainda, nos apressamos na tentativa de poder aproveitar os poços transparentes no próximo acampamento. Em menos de meia hora chegamos à BIFURCAÇÃO DA POSADA SERRA NEGRA, a direita na trilha. Essa é somente uma referência, porque me parece que existem outras hospedagens e provavelmente, será de lá que o montanhista deverá partir caso queira subir o Pico da Serra Negra e talvez fazer parte dessa travessia, que é a parte aberta pelo Parque Nacional, então basta solicitar as devidas autorizações para além de subir esse pico incrível, poder cruzar pelo coração de um dos mais bonitos parques do mundo. Nossa jornada é quase sempre descendo e pouco antes de interceptarmos outro cominho vindo da direita, já na calha do Aiuruoca, uma grande formação rochosa nos chama a atenção, um grande domo de pedra se sobressai na serra a nossa frente, e é engraçado, que dá outra vez que estive cruzando pela Travessia da Serra Negra, não me lembrava dessa formação rochosa que nos pareceu ser, olhando no mapa, a PEDRA GRANDE. Interceptando agora o caminho principal, cruzamos por um riacho mais largo, um afluente do grande rio e tomamos a direção sul, agora acompanhado o próprio rio, mesmo que ainda um pouco distante dessa trilha, que agora quase virou uma estrada. Passamos por um sítio e vamos ziguezagueando, as vezes sob a sombra de eucaliptos gigantes, até que umas duas horas e meia depois de partirmos do acampamento, tropeçamos nas CABANAS DO AIURUOCA. Quase 15 anos atrás, aqui acampei, vindo pela famosa Travessia da Serra Negra, que parte lá do vilarejo de Maromba, mas quando por aqui passei, não haviam cercas ao redor dos 2 ranchos de madeiras, que hoje se resumi a apenas um, porque do outro só sobrou o telhado. O parque nos recomendou que acampássemos aqui, mas com certas ressalvas por ser um abrigo particular, mesmo estando em área do Parque Nacional, talvez por questões ainda mal resolvidas com os antigos donos ou talvez não, talvez haja uma convivência pacifica entre a comunidade e o parque, então aqui foi só uma especulação minha. Mas o certo é que é meio constrangedor ter que pular a cerca para acampar com uma placa indicando não ser permitido a entrada, muito porque, o próprio rancho se encontra totalmente fechado. EDITANDO: depois nos disseram que é possível alugar o espaço entrando no site do Parque Nacional. Montamos as barracas, mesmo ainda estando no meio da tarde e fomos tomar banho no SENSACIONAL RIO AIURUOCA. E é uma satisfação enorme poder rever toda essa paisagem depois que tantos anos se passaram. À nossa frente, uma parede gigante, quase uma fortaleza donde o sol ilumina, não só ela, mas o poço de águas cristalinas e geladas.1 Mais de uma década atrás, quando a travessia da Serra Negra não era legalizada ainda, era comum que montanhistas cruzassem o rio bem no poço e interceptasse uma estradinha do outro lado, que iria subir pra valer e nos deixar na estrada que vai à portaria do Parque Nacional (Posto Marcão), bem ao lado do antigo Hotel Alsene e foi justamente isso que eu fiz, mas agora eu teria a oportunidade de cruzar essa travessia pelo seu trajeto mais deslumbrante, mas isso, só no dia seguinte. Ficamos a tarde toda de bobeira, descansando, comendo e as vezes tirando uma soneca e quando a noite chegou, tratamos logo de fazer um banquete e comermos até não aguentar mais e quando cansamos de comer, cada qual tomou seu rumo e foi dormir profundamente, porque apesar de chegarmos cedo para acampar, esse foi um dia intenso e o próximo dia prometia muito mais. QUARTO DIA Antes das 8:00 da manhã, já estávamos de pé e com tudo já desmontado, só tomamos café e partimos. Primeiro é preciso voltar a pular a porteira principal da entrada da propriedade, atravessar a ruazinha e interceptar a trilha larga e desimpedida, que vai margear o Rio Aiuruoca pela esquerda de quem sobe, até que mais à frente, em cerca de 30 minutos, vamos cruzá-lo para o outro lado e em mais meia hora, tropeçamos no RANCHO DO VALE DA INVERNADA. Mais que coisa linda !!! Que lugar deslumbrante. Por estarmos já quase no verão, a CACHOEIRA DO MANÉ EMÍDIO está sensacional e do abrigo é possível avistá-la em todo seu esplendor, despencando à nossa frente no próprio Rio Aiuruoca, que daqui para frente começa a correr nas escarpas. O Rancho ainda resiste, se mantém de pé. Mesmo que um tanto abandonado, ainda é guardado por uma araucária lindona. Dentro, está preenchido por coisas inúteis, mas ainda serviria muito bem como abrigo depois de uma boa arrumação, mesmo que não fosse para dormir em seu interior, já que é possível montar as barracas ao seu redor. E aqui, eu deixo minha visão, minha opinião e minha sugestão para que um dia o Parque Nacional possa recuperar esse rancho e transformar esse lugar em ponto de apoio para essa nova travessia, ao invés de termos que nos sujeitar a acampar numa área onde poderemos ser enxotados pelos seus donos, caso nos peguem acampando lá sem autorização. E estou falando das Cabanas do Aiuruoca, que mesmo sendo um lugar lindíssimo também, nos constrange ter que ficar lá como clandestinos. E como as normas do Parque Nacional obriga todo mundo a carregar SHIT TUBE, uma espécie de involucro para carregar todos os nossos dejetos, não há nem a preocupação de ter que construir banheiros no local, ou seja, praticamente está pronto, já que água temos em abundancia por estarmos a poucos metros das margens do rio.( OBSERVAÇÃO IMPORTANTE : Depois ficamos sabendo que é possível agendar a hospedagem nas cabanas do airuruoca quando se faz a reserva para a Travessia da Serra Negra, mesmo assim, continuo com a minha opinião de um dia o parque Nacional transformar o RANCHO DA INVERNADA em acampamento OFICIAL.) E acampando no terceiro dia no Vale da Invernada, ainda seria possível gastar toda a tarde para ir conhecer a grande Cachoeira do Mané Emídio, o que seria uma opção incrível. Mas, infelizmente não foi isso que fizemos, então resolvemos tentar ver se achávamos alguma trilha que nos levasse até ela, tentando não comprometer nosso roteiro, que tinha como objetivo chegar até a sede da Parte Alta do Parque (Portaria do Marcão) ou até mesmo no Abrigo Rebouças. Deixamos para trás o Abrigo da Invernada e fomos desfilando pelo vale, tendo a nossa esquerda o Rio Aiuruoca e a nossa frente a grande cachoeira. Alguns minutos e já fomos tentando encontrar uma passagem em meio ao capim alto na intenção de encostarmos no rio, mas acabamos não encontrando nada e retornamos para a trilha principal. Um pouco mais à frete, uma trilha nos levou a adentrarmos novamente em direção ao rio, onde tivemos que passar rastejando, mas ao chegarmos num local onde o caminho se abriu numa clareira com um brejo, parte do grupo não quis seguir. Na verdade, o Vinícius se recusou a enfrentar o brejo e o mato alto que nos levaria aos pés da Cachoeira do Mané Emídio, mas o Flórido parecia disposto a seguir de qualquer jeito, então se instalou um impasse. Bom, eu e o Bruno não demos muitas opiniões, para a gente qualquer posição que fosse tomada, estaria de bom tamanho. Verdade mesmo, que conhecendo tanto o Vinícius, quanto o Flórido e sabendo que tanto um quanto o outro são turrões quando se trata de seguir um roteiro, ficamos assistindo de camarote a queda de braço entre os dois, o que estava fora de cogitação era separar o grupo. Não houve uma discussão, propriamente um embate, mas a retirada rápida do Vinícius acabou por arrastar o Bruno, e eu e o Flórido, acabamos seguindo atrás, mas fui tranquilo, coisa que não aconteceu com o Flórido que acabou não aceitando muito a derrota e subiu bufando o restante da trilha, até que ela saiu da mata e adentrou em campo aberto, nessa hora já havíamos esquecido a tal cachoeira, porque o cenário à nossa frente começou a mudar maravilhosamente. Passados exatamente uns 3 km desde que saímos do acampamento pela manhã, andando quase sempre para leste, a nossa trilha vira bruscamente para o sul e vai começar a ganhar um morrote, então vamos subir quase 100 metros de desnível e nos posicionar novamente diante do VALE DA CACHOEIRA DO AIRUOCA, onde a paisagem se abre em monumentos rochosos e diante de um mirante de tirar o fôlego, fomos obrigados a parar imediatamente, tomar nossos assentos e aplaudir aquela paisagem colossal. Mal passava das onze da manhã. Ainda era cedo e mesmo que não tenhamos calculado bem a distância que ainda nos faltaria para o próximo acampamento, enfiamos o relógio no bolso, como se tivéssemos todo tempo do mundo e nos entregamos ao ócio, hipnotizados pela paisagem que nos arrebatou e não interessa quantas vezes se vai ao Itatiaia, sempre me pareceu ser como da primeira vez e agora, ainda mais fascinante porque eu jamais estivera vendo o parque daquele ângulo, já que o mais longe que havia chegado nessa parte, foi até os pés da grande cachoeira. Quando resolvemos partir, fizemos de modo lento, quase nos arrastando pela trilha quase plana que nos levaria para a própria cachoeira e o Flórido, simplesmente se negou a deixar aquele mirante e por lá ficou e então combinamos de espera-lo na queda d’agua, onde pretendíamos fazer outra parada demorada para um lanche. Uma hora depois, nos aproximamos da CACHOEIRA DO AIRURUOCA, simplesmente a cachoeira localizada numa das maiores altitudes do país, não sei se ela é realmente e oficialmente a queda em maior altitude como alardeiam por aí, mas que está entre as com a água mais fria, isso eu não tenho dúvidas. Bom, enfim, chegamos no topo da cachoeira, largamos as mochilas num degrau mais abaixo e fomos bater uma foto. Ninguém se animou a dar um mergulho, mesmo estando as vésperas do verão, ainda mais porque uma névoa resolveu dar um escondida no sol e eu mesmo já havia tido um trauma na década de 90, quando aqui estive pela primeira vez, ainda um jovem inconsequente, resolvi me ariscar e pulei no poço em pleno inverno rigoroso, quase não saí de lá, ficando paralisado por causa da temperatura. Quando o Flórido chegou, já estávamos lanchando, então ele desceu rapidamente até a cachoeira e subiu , engoliu um lanche e partimos. E nos próximos 2 km é preciso ficar de olhos bem abertos. Não para localizar o caminho, que é bem demarcado e óbvio, mas uns minutos à frente, vamos cruzar com outra trilha, do qual pegaremos levemente para a direita, porque a da esquerda indo para leste e que logo vai passar ao lado dos impressionantes OVOS DE GALINHA, talvez seja simplesmente uma das mais tradicionais trilhas do país, a clássica TRAVESSIA REBOUÇAS X MAUÁ, que por muitos anos ficou fechada pelo Parque Nacional. Quem é das antigas sabe da importância dessa travessia para o montanhismo nacional e é engraçado que hoje se chame essa travessia de Rancho caído, coisa que nunca ouvimos nos tempos antigos, mesmo que tenha existido um rancho no meio do caminho, coisa que não encontrei uma década atrás, quando a travessia voltou a ser autorizada. Pegando, portanto, levemente para a direita, mas ainda na direção sul, vamos começar a ganhar altitude para deixarmos o Vale dos Ecos, como chamávamos no passado. Do nosso lado esquerdo, o maciço das Agulha já vai nos acompanhando, até que depois de percorrermos os referidos 2 km desde a Cachoeira do Aiuruoca, chegamos à BIFURCAÇÃO, onde placas providenciais nos indicam dois caminhos, hora de jogarmos novamente as mochilas ao chão para uma breve reflexão. Nessa nova travessia que o Parque Nacional estuda a implementação, o roteiro pensado por eles e o que deveríamos seguir, era pegando para a direita, conhecida como a TRAVESSIA DOS 5 LAGOS, que em 2 km nos levaria direto para a Portaria da Parte Alta (Posto Marcão) onde deveríamos acampar na nova área de camping e no outro dia deveríamos continuar seguindo pela TRAVESSIA COUTO X PRATELEIRA , mas infelizmente o ACAMPAMENTO ainda não estava pronto, então não fomos autorizados a ficar junto ao Posto Marcão e nos sobraria ter que andar pela estrada do parque por mais uma meia hora até podermos finalizar no Abrigo Rebouças. A outra opção que nos restava era pegar para a esquerda, passar raspando na Pedra do Altar e adentrar no vale que corre nos pés do maciço das Agulhas. E foi essa a nossa decisão, já que alguns ali não conheciam essa parte do Parque Nacional. E foi realmente uma decisão acertadíssima, uma caminhada recheada de deslumbramentos. Eu já havia citado o quanto eu estava satisfeito em caminhar pelo parque em plena primavera, mas esse pedaço, com a trilha florida e os campos verdes foi simplesmente sensacional. Não me lembrava o quanto aquelas pedras, montanhas, formações rochosas eram espetaculares. Quando cheguei ao parque pela primeira vez na década de 90, levei um susto, perdi todas as referências. Era um dia extremamente frio de inverno, eu ainda jovem, pilotando uma SAARA 350, acampei com um amigo nas cercanias do parque e na madrugada, quase sucumbimos de tanto frio. Os campos cobertos de geada e a nossa frente, um amontoado de pedras que fez a gente parecer que estávamos visitando a LUA. Na ocasião, ainda sem muita experiência em montanhismo, nem sei como, sem usar nem um metro de corda, subimos ao cume falso do Agulhas Negras, nos guiando pelo rumo, escalando pedras na unha e agora, nessa nova travessia, mesmo que eu já tenha estado outras vezes no Itatiaia, minha alegria e satisfação acabara de me devolver a década de 90. Agora caminhamos rumo ao sudeste, justamente parecendo que vamos nos dirigir para à fantástica ASA DE HERMES ( 2641 m ), uma formação rochosa que por incrível que pareça, recebe menos gente do que deveria, porque a grande maioria que aqui chega, busca subir o Agulhas Negras em detrimento a dezenas de outas montanhas tão incríveis quando o cume do Parque Nacional. Passamos pela bifurcação que poderia nos levar ao cume da PEDRA DO ALTAR ( 2.665 m) e logo vamos curvando como se fossemos em direção ao sul e esse é o momento que encostamos e andaremos paralelos as Agulhas, até que estacionamos em um mirante onde à nossa frente desponta outro ícone do Itatiaia, num dos mais belos cenários do parque. Ficamos ali, sentados, boquiabertos, admirando o conjunto da PEDRA DAS PRATELEIRAS ( 2551 m )e toda a extensão. A sequência é uma descida íngreme e em ziguezague, até que cruzamos com a própria trilha principal que a esquerda poderia nos levar ao cume de um dos maiores ícones do montanhismo nacional. Essa travessia em si, não comporta a subida ao cume do PICO DAS AGULHAS NEGRAS( 2.791 m), mas é claro, com mais tempo não impediria que se reservasse mais um dia para ir ao cume, mas como existem tantos picos incríveis, o certo seria ir ao parque apenas para essas escaladas clássicas. Como não vamos ao cume do Agulhas e nem tempo daria, já que a tarde já vai pela metade, viramos à direita e logo à frente atravessamos a PONTE PENSIL sob o Córrego das Agulhas Negras. Atravessando a ponte pênsil, mais uns 15 minutos de pernadas nos leva até um reservatório de água, onde passamos por uma pontinha e ganhamos a área do LENDÁRIO ABRIGO REBOUÇAS. Hoje o abrigo e o camping foram entregues a iniciativa privada e as instalações estão muito boas, com banheiros limpos e cozinha, mas a área de camping em si, deixa muito a desejar. Até tentaram fazer um aterro e elevar os locais onde se pode botar as barracas, evitando assim que em tempos chuvosos, a agua entre nas barracas, mas o local é ainda bem sofrível, talvez o plantio de grama possa melhorar muito, mas mesmo assim, pra gente que está acostumado em acampar até em pé, é sempre melhor que nada. O certo é que não havia ninguém no Abrigo Rebouças e muito menos no Camping. Era um domingo, dia da ELEIÇÃO DO SEGUNDO TURNO e nem guarda parques encontramos, nada, nenhuma viva alma e como já chegamos muito cansados e sairíamos cedo, resolvemos apenas bivacar numa área nos fundos do abrigo, onde estenderíamos nossos sacos de dormir e por lá ficaríamos, abrigados da chuvinha que não parava de cair. Por sorte, mesmo o Rebouças fechado, o wi-fi estava ligado e funcionando muito bem e como era aberto e sem senha, aproveitamos para sabermos das notícias do mundo, já que há 4 dias estávamos isolados da civilização. As notícias que vinham do mundo dos homens nos davam contas de que a extrema direita acabara de ser derrota e seus apoiadores, não acetando o resultado, ameaçavam tocar fogo no pais, mais um motivo para a gente prolongar nossa estadia no Parque Nacional e ficarmos de fora dessa balburdia toda que vinha tomando conta do Brasil nesses últimos meses. QUINTO DIA DA TRAVESSIA O dia amanheceu nevoeirento, mal enxergávamos o Pico dos Agulhas Negras, sinal de que poderíamos ter chuvas a tarde. Jogamos as mochilas às costas e partirmos às oito da manhã e assim que ganhamos a estrada do parque, aliás, essa é simplesmente a BR mais alta de todo país, chegando a impressionantes 2.400 metros, interceptamos a trilha que sobe o espigão que liga o PICO DO COUTO ( 2.680 m ) à PEDRA DAS PRATELEIRAS, justamente a travessia que deveríamos ter pego, se caso tivéssemos acampados no Posto do Marcão. Eu já conhecia o Pico do Couto numa investida com minha filha uns 10 anos atrás, quando pegamos uma temperatura de nove negativos, mas a travessia para as Prateleiras nunca tinha feito, então retomar esse plano novamente, era algo que eu ainda tinha em mente e havia chegado a hora. No início é uma subida bem íngreme, mas como estamos no início, as energias ainda estão transbordando. Existem placas e totens que vão nos guiando, mas por causa do nevoeiro a navegação fica um pouco conturbada e é preciso ficar atento o tempo todo, até que interceptamos de vez a trilha que vem do Pico do Couto, viramos para a esquerda e caminharemos agora mais em nível, porque o grande desnível já foi vencido. A névoa e o vento varreram tudo e enxergar alguma coisa já não era mais possível. Quarenta minutos desde que partimos do Abrigo Rebouças, esbarramos na TOCA DO ÍNDIO, uma gruta sensacional, formada por grandes matacões e que serviria muito bem para um abrigo de emergência. Atravessamos por dentro dela, para reencontrar a continuação da trilha. Ignoramos logo à frente uma placa indicando uma saída para um MIRANTE, que em dias abertos deveria nos dar uma visão gigantesca do maciço das Agulhas e 20minutos depois passamos por uma PEDRA EQUILIBRADA, onde eu fiz questão de escalar e tirar uma foto lá encima. Outros vinte minutos nos leva até outra formação rochosa com uma cavidade excelente para um breve descanso, podendo ser possível nos deitarmos de maneira confortável, que chamei de PEDRA DO SOFÁ, mas que parece mais com uma grande mão. Essa trilha é mesmo bem bonita e em mais dez minutos já vamos nos dirigindo para a surpreendente PEDRA DAS PRATELEIRAS, ainda um pouco escondidas atrás da serração e logo desembocamos na GRANDE BIFURCAÇÃO, onde escondemos nossas mochilas atrás de uma rocha, porque ao invés de viramos à esquerda, como quem vai em direção ao maciço das Agulhas, vamos virar à direita em direção à Pedra da Maça e Pedra Assentada, mas como teremos que retornar, resolvemos deixar as mochilas e seguirmos leves. Poderíamos a partir daqui, seguirmos para a Pedra das Prateleiras e subirmos até o seu cume. É perfeitamente possível escalar sem equipamentos, mas há uma passagem bem exposta e por isso mesmo, nas regras do Parque Nacional, você é obrigado a portar alguns equipos básicos para sua segurança. Eu já havia subido lá uma década atrás, mas dessa vez não vamos ao cume, mesmo porque seria uma subida inútil já que não conseguiríamos enxergar nada mesmo. Então pegamos a trilha e logo mais à frente, uma nova saída para a esquerda, até que ela desemboca no lago de altitude de onde já podemos avistar a Pedra da Tartaruga e a Pedra da Maça, 2 monólitos que dão um charme todo especial para o lugar, que agora, por causa das chuvas de primavera, estão rodeadas de pequenos laguinhos onde os sapos flamenguinhos fazem a festa, se acasalando por toda parte. O Cenário composto pelo LAGO DE ALTITUDE, juntamente com a Pedra da Maça e a Pedra da Tartaruga, é daquelas paisagens que a gente poderia ficar olhando pra sempre, ainda mais quanto as juntamos com as Prateleiras ao fundo. O nevoeiro vai e vem, numa dança de esconde –esconde, mas surpreendentemente não chega a fazer frio e logo a gente abandona tudo e segue a passos largos em direção à Pedra Assentada, que até então nenhum de nós sabe exatamente do que se trata, pensando ser somente mais uma pedra equilibrada à beira do caminho. A trilha vai cruzando alguns brejos, se enfiando em meio a uma vegetação de altitude, cruzando por algumas formações rochosas, até que percebemos que teremos que escalar um amontoado de grandes rochas para alcançar o cume onde provavelmente estaria a tal pedra. Quando a trilha acaba, alguns totens parece nos indicar o caminho, mas logo, sem nenhuma sinalização, somos obrigados a usar nossa intuição para ganhar altitude e logo o que nos pareceu ser uma brincadeira de trepa pedras, acaba por nos levar quase a termos que usar técnicas de escalada para continuar seguindo em frente. Claro que deve haver uma rota onde se possa chegar ao cume sem muita exposição, mas ao perdermos a rota original, não tínhamos mais como voltar e a cada passo, a escalada ficava mais técnica e exigia da gente uma concentração para não escorregarmos e sermos lançados no vazio. Foi nessa hora que o Flórido e o Bruno nos avisou que pra eles já não dava mais para continuar seguindo e mesmo que eu tenha insistido, eles recuaram. E fizeram muito bem, porque dali pra frente só fez foi piorar e eu e o Vinicius passamos um perrengue, tendo que ficarmos bem atentos até batemos no cume ou no pé de uma grande PEDRA EQUILIBRADA ou PEDRA ASSENTADA ( 2.453 m) É possível chegar onde está assentada a grande rocha, inclusive tem algumas chapeletas instaladas, mas com muito cuidado, conseguiríamos subir até sem cordas, mas seria um risco desnecessário, então apenas batemos uma foto e voltamos desescalando com o mesmo cuidado que ali chegamos, reencontramos os meninos e em menos de uma hora estávamos de volta às nossas mochilas, junto à bifurcação. Nossa sequencia volta para o norte e vamos seguindo como se fossemos subir o Pico das Agulhas Negras, mas 700 metros depois, alcançamos o final da estradinha do Parque Nacional, que agora não passa de uma trilha. Nosso rumo nessa nova bifurcação agora é para a direita, perdendo pouca altitude e já mirando um morrote a nossa direita, onde a trilha volta a virar para a direita e toma novamente o sentido sul/sudeste. Iremos cruzar algumas pontinhas de madeira sobre pequenos riachos e algumas bifurcações a direita são ignoradas e pouco mais de três quilômetros e meio depois, desde que saímos do final da estrada do parque, pouco mais de uma hora de caminhada, desembocamos finalmente no sensacional ABRIGO MASSENAS, um ícone sobrevivente desse incrível parque, hora de fazer uma longa parada, preparar um lanche/almoço e dar uma esticada nas pernas. Passados quase uma década, eis me aqui novamente nesse abrigo lendário, que apesar do descaso do poder público, teima em se manter em pé, mesmo que só a sala da lareira tenha resistido ao tempo. O telhado agora se encontra todo furado, mas a estrutura de pedra ainda resiste. A construção é da década de 50 e já foi chamado de Abrigo dos Excursionistas, um bom nome para expressar a grandeza e a importância dessa construção para o montanhismo nacional. Acampar nesse lugar é o encontro do homem com o isolamento, com o silêncio absoluto no coração das montanhas e eu espero que essa nova gestão do parque possa achar forças para manter esse patrimônio em pé e transformá-lo novamente num lugar habitável, porque o parque e os montanhistas do Brasil merecem. A tarde chegou e o tempo continua mais que embaçado e a chuva ameaça cair a qualquer momento. Partimos pouco depois da uma da tarde na direção leste, mas logo em seguida, uma plaquinha nos fez desviar para a esquerde e acabei ficando perdido, não me lembrava daquele caminho, mas logo notei que esse era um novo caminho para fugir do grande brejo e pouco mais de 800 metros de desvio, a trilha voltou para o seu caminho original e pouco mais de 1 km depois, já seguindo na direção sul, passamos por uma bica d’água. O Vinícius e o Bruno aceleraram o passo e eu e o Flórido ficamos um pouco para trás, e a chuva que ameaçava cair, despencou em uma tempestade de raios, ventos e granizo. O Temporal varreu tudo que tinha pela frente e não deu tempo nem da gente se organizar para botar as capas de chuva. O frio era tanto que a gente quase que se arrastava pela trilha enlameada e quanto o relógio bateu umas 3 da tarde, demos de cara com o ABRIGO MACIEIRA. Construído em 1926, dizem que esse é o mais antigo abrigo do Parque Nacional e se o Abrigo Massenas está em estado lastimável, o Macieiras está muito pior e está interditado porque corre o risco de desabar. Em 2009, quando o parque reabriu a TRAVESSIA RUI BRAGA, que é como é chamada essa trilha que liga a parte alta com a parte baixa do parque, eu fui um dos primeiros montanhista a percorrê-la, inclusive a trilha estava toda interditada pela vegetação e era preciso se rastejar e abrir mato no peito. Acampei sozinho no Macieira, era uma época da minha vida que eu havia decidido me aventurar solo e nessa noite, na escuridão total ,eu desafiei meus demônios interiores e de lá pra cá, nunca mais nada tirou minha paz nas florestas e montanhas do Brasil. A visita ao abrigo durou alguns minutos, já que não estávamos autorizados nem a acampar fora dele. Então tínhamos 2 caminhos a tomar : Ou seguíamos descendo até a sede do Parque ou alguns metros à frente, virávamos à direita numa estradinha e íamos acampar em outro abrigo. Ouvimos falar que o ABRIGO AGUA BRANCA era um abrigo totalmente preservado e em condições de dormir lá confortavelmente, então decidimos que seria melhor enfrentar mais 2,5 km de caminhada e podermos ter uma noite tranquila, ao invés de caminharmos noite à dentro até a sede do parque e não termos como voltar para a civilização, além do mais, seria um grande prazer conhecer esse outro abrigo. A estradinha segue sempre em nível, muito porque é perfeitamente transitável e deve receber os carros oficiais do parque. A chuva diminuiu, mas não cessou por completo e a gente ainda sofria com o frio porque a temperatura despencou. O Flórido e o Vinícius seguiram à frente e quase uma hora depois, quando eu próprio cheguei no Água Branca, encontrei o Flórido totalmente desolado por ter encontrado nosso hotel de montanha trancado com 2 cadeados gigantes com senha. Nossa, foi um balde de água fria em todo mundo, eu mal conseguia falar de tanto frio, mas sinceramente imaginava que era um abrigo aberto como todos os outros. Ao lado do Abrigo AGUA BRANCA existe um pequeno galpão onde possivelmente se guardam ferramentas e acessórios para manutenção e logo atrás dele, um pequeno quartinho de 2 x 2 e felizmente estava aberto e vazio. Eu ainda estava paralisado pelo frio, mas os meninos ainda estavam desolados por causa do abrigo fechado e como a chuva não parava, o gramado onde daria para montar as barracas, estava completamente alagado. Foi aí que o Flórido resolveu tentar um contato com o gestor do Parque Nacional, já que conseguimos pegar um sinal de internet. Eu não estava muito de acordo com essa ligação, imaginei que se ele não nos disse que o abrigo estaria fechado, já estava claro que não era para a gente usar, mas já aproveitamos pelo menos para angariar uma autorização para dormir no quartinho vazio, melhor do que montar barraca no brejo. Claro, o gestor não passou as senhas do cadeado, como era de se esperar, mas nos deu autorização para acamparmos no quartinho, que ele nem sabia que existia. Eu e o Flórido nos mudamos para lá e o Vinícius e o Bruno, acamparam numa área abrigada na porta do abrigo. Agora com roupas secas e aproveitando que no finalzinho da tarde as chuvas cessaram, aproveitamos para subir na laje e acompanhar um espetacular pôr do sol sobre a extensão da Mantiqueira que abriga a Serra Fina, talvez o único motivo para se sair do caminho tradicional e vir até aqui, lindo de mais. SEXTO DIA – FINALIZANDO O último dia dessa travessia incrível, amanheceu com pequenos chuviscos e por causa disso, aproveitamos para descansar até mais tarde e só partimos depois das nove da manhã. Os 2,5 km voltando até a trilha principal, perto do Abrigo Macieiras, foram feitos de forma vagarosa, mas ainda assim nos pareceu muito mais rápido do que na ida. Reencontrando a trilha, que na verdade passou a ser uma estrada, o jeito foi meter o pé e deixar o tempo ir passando, já que nesse trecho final não há muita coisa para se ver, além da paisagem de sempre, sem muito visual. Somente uma hora depois talvez um pouco mais, é que nosso ritmo foi quebrado pela aparição de uma vara de QUEIXADAS atravessando nosso caminho. O Flórido ficou para trás e a minha frente se posicionou o Bruno e o Vinícius, que ao avistarem os porcos selvagens, trataram de meter marcha e sair dali rapidamente. Eu tentei entrar na mata na expectativa de conseguir uma boa foto, mas os bichinhos sumiram na mesma velocidade em que apareceram. Ao chegarmos na única bifurcação desse final de caminhada, viramos à esquerda e antes das 13:00, desembocamos em definitivo na GUARITA DO POÇO DO MAROMBA, bem a tempo de descobrir que não alcançaríamos mais o ônibus para Itatiaia, então, sem ter muito o que fazer, descemos ao poço de águas esverdeadas para uma ultima foto. A caminhada final até o centro de visitantes do Parque Nacional, vai nos tomar outra hora de andanças. Fomos muito bem recebidos lá, inclusive, aproveitamos para nos lavarmos e colocarmos uma roupa descente, enquanto aguardávamos o uber para nos levar até Itatiaia ( a cidade), mas acabamos pedindo para que o motorista nos deixasse direto na Rodoviária de Resende, onde descobrimos que, por causa da derrota de um dos candidatos na eleição de domingo, seus apoiadores resolveram não aceitar o resultado e desencadearam manifestações por todo o país, fechando rodovias e paralisando o Brasil. Em Resende, tivemos que encontrar uma hospedagem para ficarmos, na expectativa de que no outro dia a coisa pudesse se resolver, mas não foi isso que aconteceu. Mesmo assim, conseguimos embarcar num ônibus que tentaria chegar à capital e aos trancos e barrancos, entre bloqueios que abriam e fechavam, finalmente conseguimos voltar para casa. Só para constar, os manifestantes , já que esse movimento acabou por fazer parte da história, passaram mais de 2 meses ocupando ruas e quarteis de todo o país e no dia 8 de janeiro de 2023, tentaram um GOLPE DE ESTADO , que acabou fracassando e milhares acabaram presos, depois de quase destruírem as sedes dos três poderes e hoje, quase 3 meses depois, centenas ainda se encontram presos , sendo processados pelos atos antidemocráticos. Essa NOVA TRAVESSIA, que vem sendo planejada pelo Parque Nacional de Itatiaia, vem justamente em boa hora, num tempo em que outras travessias na Serra da Mantiqueira, acabaram por ganhar donos, que a enxergaram apenas como uma mina para se ganhar dinheiro e estou falando da Travessia Serra Fina, claro, onde o montanhismo raiz, acabou por ser renegado a segundo plano e priorizou-se o lucro. É dever do Estado fomentar o encontro do homem com a natureza, devolvê-los as suas origens, porque nós precisamos disso e é da natureza humana poder e querer se desafiar, poder ir ao encontro do desconhecido, pelo menos para ele, é do seu instinto querer vagar pelo mundo selvagem e vencer, mas vencer a sí mesmo e no final, se arrastar para casa, às vezes com o corpo estraçalhado, mas com a alma mais viva do que nunca e se sentir feliz, realizado por saber que sua vida está sendo bem aproveitada. Divanei Goes de Paula
  2. (Alerta de relato gigante! (rss) Se vc não tiver saco pra ler o textão, pode me fazer perguntas específicas sobre a expedição e vou tentar responder ) Ainda em 2015 decidi que tentaria chegar ao cume do Aconcágua, e que seria em dezembro de 2016. Queria fazê-lo da forma mais independente possível, sem contratar porteadores, guias e expedições pagas. O primeiro desafio foi encontrar companhia, porque a maioria dos meus amigos nem considera a possibilidade de entrar num projeto desses. Mas quando um amigo me surpreendeu dizendo que animava, o plano começou a tomar rumo. Ainda queríamos encontrar mais uma ou duas pessoas pra formar um grupo, e encontramos aqui no mochileiros! Estava formada a equipe: eu, meu amigo Carlo, o Zaney e o Greison. O Aconcágua, com 6.962 m de altitude, é a montanha mais alta do mundo fora da Ásia. É também a segunda montanha mais proeminente do mundo, atrás apenas do Everest. Mesmo assim, por não exigir escalada técnica, alguns se referem à sua ascensão como um "trekking de altitude". Desde que seu cume foi alcançado pela primeira vez em 1897, mais de 130 pessoas morreram tentando chegar lá em cima. A temperatura no cume é geralmente por volta de -25° a -30° C, mas a sensação térmica cai facilmente abaixo de -50° C em dias de clima ruim, principalmente entre abril e novembro . Por isso, a ascensão é permitida nos meses próximos ao verão argentino, de meados de novembro até o começo de março, sendo a alta temporada centrada em janeiro. Nas últimas temporadas a taxa de cume tem sido entre 20% e 40% das tentativas. Mas com ou sem cume, é um lugar incrível. Em média, são necessários de 12 a 15 dias para alcançar o cume e descer (se vc tiver mais sorte que eu rs). As principais dificuldades desta montanha são o clima muito instável, com frio e vento extremos (principalmente no começo e fim de temporada) e, é claro, a altitude. Com a redução da pressão parcial de oxigênio no ar, podemos sentir não só fadiga e dificuldade pra respirar, mas também dores de cabeça, dor no estômago, tonturas, dificuldade pra comer e dormir, hemorragia nasal, inchaço nas extremidades e no rosto e diarreia. O metabolismo acelera muito, assim como os batimentos cardíacos. A desidratação é facilitada pela maior taxa de vapor de água perdida dos pulmões. Dependendo da pessoa, do ganho de altitude e da aclimatação, os sintomas podem evoluir para um edema pulmonar ou cerebral de alta altitude (HAPE ou HACE), situações mais graves que devem percebidas e tratadas logo. Planejei começar o treinamento no primeiro dia de 2016. Porém, um dia antes, lesionei meu joelho esquerdo em uma trilha. Precisava recuperar o joelho e também os tendões de aquiles dos dois pés, outro problema que já vinha de um tempo antes. O treinamento pro Aconcágua teve que esperar... e quando começou foi em ritmo lento. Comecei a fazer academia, mas pegando leve, quase uma fisioterapia... Os pés melhoraram com alguns meses, o joelho não. Fiz um raio-x e o médico pediu uma ressonância pra ver se precisava fazer cirurgia ou apenas repouso. Ignorei (digo, posterguei a ressonância e o repouso pra depois do Aconcágua). Tentei fortalecer os músculos das pernas pra poder começar o treinamento aeróbico sem piorar muito a lesão. Só faltando quatro meses pra viagem que deu pra começar a correr, 5 km, uma ou duas vezes na semana, quando conseguia. Sabia que deveria ter treinado com peso nas costas e com inclinação... mas tinha que poupar o joelho. E a inclinação forçava os tendões dos pés, que ainda não estavam 100%. Então continuei fazendo o que dava. Não pensei em desistir, mas tinha consciência de que com esses probleminhas a mais estaria assumindo riscos e dificuldades maiores. Somaram-se a isso os inúmeros desincentivos do tipo: “você deveria fazer várias montanhas acima de 6 mil antes de querer tentar o Aconcágua”; “sem guia?; “você devia pensar melhor antes de ir, gastar dinheiro e ter que desistir”; “Sem querer te desanimar, mas isso de ir sem guia me parece uma utopia”; “uma pessoa deveria tentar o Aconcágua depois de fazer, pelo menos, o Kilimanjaro e o Denali, necessariamente nesta ordem, pra ter chance de sucesso”; etc. Claro que esses "conselhos" nem sempre são pra desanimar, às vezes são pra te alertar, mas... às vezes o melhor é fingir que não ouviu/leu. E continuei adquirindo equipamento, planejando a alimentação, estudando a montanha e montando o cronograma.
  3. Travessia Poços de Caldas - Águas da Prata Ferro trekking, montanhismo e cachoeiras A proposta surgiu pelo grupo Arcanjos, altamente especializado em Serra do Mar, sem descuidar-se de viabilizar grandes e complexas expedições em outros biomas. A intenção era acrescer à tradicional travessia Poços de Caldas - Águas da Prata pela linha férrea a oportunidade de contemplar os horizontes distantes trilhando também pela crista da serra. Pela logística, a saída foi marcada para as 23:30, com duas paradas, mais para “comer hora” que necessidade de repouso do bravo motorista que nos levaria. Já fui pro trampo com a mochila pronta e após a labuta aproveitei o vestuários da empresa para alternar de “engenheiro responsável” para “trilheiro doido” … na ida, assim mesmo, sem acento… na volta… após ser surrado pela encosta da caldeira de um vulcão… acresça o acento e grafe em letras capitais… kkk. Subi, aproveitando para dar carona pra Amandinha, logo no começo da Anchieta. Cargueiras no carro, tocamos para o Tatuapé, para deixar a Lady no estacionamento de confiança. Na ansiedade pra chegar logo, esqueci os bastões de caminhada no carro, tendo que voltar pra buscar… umas 22h já estávamos na padoca, discutindo pernadas e esperando o resto do pessoal. Aos poucos os demais 18 insensatos se apresentaram: meu xará, o Homem-Pássaro, o Douglas Garcia, a Silmara, Carina, Dayane, a Sandy, o Eliseu, a Fernanda (vamos Pelotão), o Josenilson, o Caio Banks, a Cheryl, a Natasha, o Reinhold alguns eu já conhecia, outros travava contato ali, pela primeira vez …. *NOMES* No horário previsto a van encostou para que embarcássemos e o primeiro desafio do rolê se apresentou: colocar 20 trilheiros e respectivas cargueiras na van… minha mochila é pequena, então foi tranquilo arrochar ela na prateleira superior. Para muitas mochilas, a única alternativa foi dispô-las no corredor ou sob os pés do dono. Em poucos minutos, o Tetris estava finalizado e partimos para Poços de Caldas. A playlist montada pela Dani começou a entoar as primeiras músicas, conforme os pedidos prévios e, após discutir algumas ideias de trilhas futuras, caí nos braços de Morpheus. Fizemos a primeira parada próximo de 02:00, ainda meio que bom onero da viagem… o processo de retirar as cargueiras para desembarque foi testado a primeira vez, com alguma morosidade. Nossa equipe aprimoraria o método, ao longo das paradas subsequentes. Um posto de combustível simples, sem nenhuma similaridade com os famosos (e abusivos) Graals nos entregou lanches e refris, com um banheiro asseado e que ainda ofertava, sem custo, banho. A co-pilota e o navegador perceberam, não se sabe como, que as informações de navegação estavam direcionando para o ponto final da travessia, na estação de Águas da Prata. Corrigido o engano e disponibilizada a correção à equipe de navegação e operação do rádio, partimos para lanchar. Serviço honesto, ainda que simples, nos atenderam muito bem. Aliviados e alimentados, nos encaixamos nos bancos e retornamos a viagem. Tentei cochilar, mas a viagem foi curta e logo estávamos chegando no ponto de início da trilha, pouco antes das 05:00. Como queríamos iniciar a trilha com o dia claro, o pessoal optou por dormir um pouco mais na van. O Douglas estendeu o isolante na calçada ao lado da van e logo roncava. Eu aproveitei para revisar alguns arranjos, colocar as lentes de contato e dar umas voltas no quarteirão da estação, enquanto espera o dia clarear. Fiz algumas fotos, pedindo inutilmente aos doguinhos, que não fizessem o escarcéu que inevitavelmente (pensei eu) acordaria toda a vizinhança. Preocupação vã, pq não me entenderam, não se dobrando aos meus pedidos… também nenhuma luz se acedeu ou palavrão foi desferido… menos mal. 😳 Ao lado da estação, um lindo banco de madeira, amplo e convidativo, me tentou nas duas vezes em que passei ao lado, cogitei levá-lo comigo, para esticar os ossos na quase uma hora que faltava para o nascer do sol. Como a alvorada já estava se apresentando, preferi terminar por acordar o grupo que dormitava na van, já eram tardios 5:40, e o clarear do dia vinha acelerado. Foi a medida, em pouco mais de 20 minutos, meus companheiros de caminhada despertam e arrumaram as mochilas. Ansiosos pelo aquecer do corpo e inebriados ante o desconhecido da trilha, tomamos coragem e, “pontualmente” às 6:00 nos colocamos em movimento. Ainda antes que o grupo dispersasse e, com a lembrança de perdidos anteriores, fizemos alguns registros fotográficos com a Estação de Cascata ao fundo. Nada mais funcional para saber, em caso de necessidade como cada um estava vestido. Registros feitos, acessamos os trilhos e começamos a caminhar, tentando acertar os dormentes ou sentido o massagear da brita na planta dos pés, através das somas, mais ou menos grossas, de nossos calçados. Para quem anda a primeira vez numa linha férrea é uma sensação bem esquisita, enquanto os tornozelos e músculos trabalham em formas e ângulos incomuns. Já vi gente sair enjoada de um caminhar de poucas horas, outros saírem da caminhada “institucionalizados” com os passos na medida dos dormentes, kkkk. Eu me divertia em explicar o conceito de propriocepção, maneira “erudita/pedante/precisa” de se referir à “manha “ do pisar, meio que à maneira de gato. Todos temos, em graus variados, uma espécie de memória muscular na pisada que, à semelhança de quase tudo, é tanto mais desenvolvida quanto mais estimulada na infância. Conversava com o Douglas sobre alguns planos ainda menos sensatos que a proposta do dia, quando decidimos apertar o passo e passar a trilhar à frente do grupo. Em uma corrida sem motivo, nem pretenção de vitória nenhuma, fomos apertando o passo e contornando os colegas até que não houvesse mais quem contornar. Reduzimos a passada, acompanhando o grupo por alguns minutos, enquanto eu estudava os pontos de água que escorriam da encostas mais elevadas, à esquerda. Tinha em mente captar um litro de água antes de abandonar os trilhos, uma vez que saíra sem água nenhuma de SP. Tanto o Douglas quanto an Amanda haviam sido mais precavidos e se prontificaram a dividir o que traziam, mas eu *adoro* testar minhas suposições em campo, de forma que recusei todas as ofertas. Notamos então que uma ponte/viaduto se aproximava e sugeri ao Douglas para ficarmos ao final do grupo, com a intenção de fazer fotos dos colegas na passagem. Alguns registros depois, voltamos a caminhar, e assim que entrei na ponte, percebi que não tomara a melhor das estratégias. A trilheira da minha frente andava temorosa e compenetrada na passada, numa velocidade menor que que eu desenvolvia… testei ultrapassa-lá pela esquerda, apenas para perceber que o grau de exposição superava em muito o caminhar pela parte central dos trilhos. Aos gritos de “volte, sua besta” da minha consciência, retornei com o c@ na mão ao espaço entre os trilhos, onde um escorregão seria bem menos grave. Apreensivo com um possível apito / ruído de trem no trajeto (não vimos nenhum), dado que a face polida e brilhante dos trilhos evidenciava que era uma linha ativa, chegamos ao outro lado do viaduto. Não nego que foi um alívio. Pontilhão vencido, uma natural pausa para fotos e congratulações mútuas se impôs. Os que haviam passado primeiro logo retornaram a caminhada, enquanto os retardatários curtiam o refluxo da adrenalina e a bela paisagem que dali se descortinava. Para quem tem dificuldade com altura, apreciar o abismo superado tem sempre o gosto de uma vitória contra as próprias limitações. Mais prático, meu interesse era buscar avaliar a qualidade da água que caia da cascata à esquerda, que me parecia adequada, já que a carta topográfica não apontava nenhuma habitação ou área de pasto nas proximidades. Dessa forma, me meti no mato por uma discreta passagem (clássica) até a encosta onde tratei de coletar um bom litro de água cristalina e gelada. Tomei alguns goles fartos, completei a garrafa e me uni aos colegas, para retomarmos a caminhada. Seguimos pelos trilhos perdendo altura lentamente até que, pouco depois de uma queda de água à esquerda, que em dia de chuvas intensas deve se projetar quase que nos trilhos, uma curva abruta dos trilhos indicava outro veio d’água, agora de maior porte e que receberá um bueiro em cantaria para direcionar as águas. Tive nítida impressão de que parte do grupo descera em direção a esse curso d’água, antes de cruzar a ponte e, supondo que não retornaríamos aos trilhos antes do dia seguinte, decidimos fazer ali mesmo, uma breve parada para fotos. Os modelos haviam sido levantados antes: segurando nos trilhos como se fosse uma escada que surge do precipício/túnel (meu xará, curtiu essa, rsrs) …. amarrada nos trilhos pelo vilão clássico de máscara, capa e chapéu pretos, para o que a Carina tivera o cuidado de escolher corda “de época, não aceitando minha corda dinâmica laranja (talvez destoasse um pouco, mas o bandido pode se modernizar, né? - não, não pode). Rapidamente, o Douglas e o Pássaro a amarraram, ajustaram a capa e máscara e decidiram o enquadramento. Tudo isso sem descuidar de um trem inconveniente que surgisse… vai que né? Terminamos rapidamente as fotos, rearranjamos as cargueiras e tocamos em frente, agora pelo caminho errado: se o pessoal da dianteira descera por ali, constatara o erro e o corrigira. Logo após o curso d’água, a passagem se fechava e não encontramos nenhum rastro que apontasse por onde seguir. Gastamos algum tempo na busca do ponto onde a trilha se perdia, chegando a galgar parte da encosta, até supormos que, se o pessoal por ali não passara, então por dentro do túnel haviam seguido. Como nada se perde quando o olhar é puro de preconceitos, provei marolo, maravilhado em achar um pé de fruta carregada. Serendipidade? Gosto de pensar como harmonia com o Cosmo, na visão Grega dele. Cruzamos o túnel à passo fechado, buscando vencer a escuridão sem dar margem a nenhum acidente com uma máquina que ali trafegasse. Apesar disso, ainda consegui apreciar a engenharia envolvida no enroncamento das paredes de entrada e saída e a crueza da pedra fendida para dar passagem ao progresso. Doutro lado, a alegria do reencontro com o pelotão da frente que já começara a longa subida, anotada como “chora, nenê” no mapa e no tracklog disponibilizado, amargo vaticínio … Essa foi uma subida, que uma vez vencida, rende doces loas ao grupo e merece algumas linhas. A encosta que galgávamos já fora a “caldeira” de um imenso vulcão, com sua estruturas mais íngremes aplainadas por dezenas de milhões de anos do intenso intemperismo que converteu a rocha sólida em cascalho precariamente equilibrado. Cheios de entusiasmo jovial, nos lançamos em sua subida, descuidando um pouco da navegação. Pagaríamos o preço da audácia, sob forma de preciosos litros de perspiração. Me divertindo com a encosta que se desfazia sob nossos passos, exigindo mais técnica que força para ganhar os metros de altimetria, também me descuidei da navegação. Diria, inclusive, que me descuidei ainda mais que a média. Se subiam em curtos lances de zigue-zague, eu ataquei a encosta pela esquerda (bem mais ao nordeste do que deveria). Após um trecho em que a inclinação chegava, talvez a 60°, alcancei um platô de crista coberto por espinhos tão aguerridos que meu intimorato ataque se converteu em honroso e inexorável recuo. Teimoso, azimutei a direção por onde interceptaria a trilha e, tentando perder o mínimo da altitude tão duramente conquistada, varei mato em sua intenção. Nesse trecho de descida encontrei o Caio Banks subindo por uma encosta tão alegre quanto a que eu usara, e ante minha derrota encosta acima, sugeri o retorno, naquele trecho tão ruim de fazer, que ao tomar pé do desconforto esperado encosta acima e tentar descer, o Banks concluiu que mais valia se lanhar umas cotas acima. Estávamos na mistura “perfeita” de alegria e desafio que tanto amamos. Qualquer que fosse a escolha, leve por aquela face da montanha, a subida não seria. Alcancei o “miolo” da tropa que se esfalfava, tentando agarrar-se como podia às moitas de capim para prosseguir e seguindo os passos do pelotão da frente fui escolhendo os pontos onde o apoio da vegetação, ainda que precário, permitia que, com uma boa leitura do terreno e um certo grau de propriocepcão (lembram dela?) subisse a montanha que descia sob nossos pés, sempre que as forças envolvidas no arranque venciam as do atrito que freavam os pedregulhos em sua inexorável derrota ante a gravidade. Aqui, quero registrar alguma medidas na tentativa de registrar tão claramente quanto os números permitem a real real da batalha nessa encosta. Lembrem-se desses números quando assistirem, nos filmes de guerra, os braços e valorosos combatentes se lançando morro acima para conquistar a posição inimiga. A linha férrea está na cota 1060m, o cume do morro da Bandeira apresenta cota de 1400. O desnível total superado até ali fora de 340m. Pouco? Deixe-me traduzir em uma unidade que estamos mais acostumados a lidar no eixo das ordenadas: *andares*. 113 andares. Foi isso que subimos, com o escorregar constantemente “roubando” o passo dado montanha acima. Um maravilhoso edifício de 113 andares, repleto de vistas estonteantes que apreciamos, nos equilibrando em nuas janelas, torcendo que não descessem conosco morro abaixo. Em meu desvio “bravo, itimorato, audaz, etc.” eu “vencera” 30 m de encosta, antes de meter o rabo em meio as pernas e azimutar a direção do grupo, num recuo certamente pouco honroso, mas as montanhas nos ensinam a humildade. Quem aprende antes, sofre menos. Quem é cabeça-dura… bem se diz “mente e corpo fraco em trilha dura, tanto bate quanto cura”. Depois de encontrar o meio da tropa, ainda me arrastei, agora com o consolo de que não me esfalfava sozinho, mais 100 m de ganho de altitude, quando retornamos a trilha batida que sobe a encosta em lances menos íngremes. Nesse ponto fizemos uma pausa para reagrupar toda o grupo, verificar se havia alguém desgarrado/perdido, tomar uns goles de água e mastigar algo para repor as energias. Com o Douglas à frente e a mim fechando o grupo, retornamos a caminhada. Nesse trecho, o Pássaro, o Capitão e o Caio buscaram uma subida alternativa à trilha que descia uns 50 m (!!!) para alcançar a crista e retomar a subida por ela. Assim que retomamos a subir ficou claro pra mim que a Dayane lutava uma segunda batalha. O esforço físico da subida até ali, o sol e a reduzida hidratação lhe haviam trazido a uma condição de exaustão pelo calor/com nuances de insolação e beirando perigosamente a intermação haja vista a reduzida oferta de água naquelas plagas da serra. Reduzi a velocidade, orientando que fizesse as pausas de descanso e retomada de fôlego, sempre que possível à sombra. Como abordagem psicológica dava “instruções/orientações” às duas e pedi à Natacha que ficasse mais atrás, para que a prima não se sentisse tanto pressionada a andar mais rápido do que lhe era viável. Alertei para que reduzisse o tamanho dos goles em 4 vezes e aumentasse a frequência, de forma a poupar água e minimizar o desconforto abdominal, uma vez que estava submetida a duríssimo esforço. Não aceitava, de forma alguma que reduzíssemos a carga de sua mochila, por mais que a Natacha insistisse. Com contatos intermitentes via rádio e focado em avaliar as reais condições da Dayane, procurando distrair as duas do sufoco em que estávamos fomos subindo até que a fraqueza da carne venceu momentaneamente a fortaleza da mente e ela nos avisou que precisava enjeitar o que a embrulhava o estômago há alguns minutos. Saímos da trilha um par de metros, em busca de uma sombra onde a abrigamos. Sentei-me de costas, de forma a dar privacidade para que aliviasse as roupas molhamos um pouco a fronte, a nuca e os pulsos. Passados uns minutos, a Dayane sinalizou um pequena melhora. Nesse ínterim, havíamos aliviado a sua mochila do que havia sido possível. A garrafa d’água, com pouco em mais de 300 ml passou para a minha mochila e alguns itens mais volumosos e pesados foram transferidos para a cargueira da Natacha. Consciente da necessidade de alcançarmos o ponto de água, única forma segura de lidar com a desidratação naquele trecho, aproveitamos a manifestação de melhora da Dayane para retomarmos a caminhada encosta acima, na sucessão de falsos cumes do Bandeira. Algumas centenas de metros adiante (e um bocado acima da parada anterior), a Dayane novamente precisou enjeitar o pouco de água que reterá no estômago naqueles minutos. A situação não era das melhores, dada a distância remanescente até o próximo ponto de água e, sentado de costas para dar privacidade às primas, eu pesava as alternativas. Utilizamos álcool gel, combustível para o jantar para ajudar a baixar a temperatura da pele na região da nuca, pulsos e fronte. Despiram as camisetas, buscando lidar melhor com o calor, improvisando tops com as camisetas. Utilizamos um pouco da água (morna) da minha garrafa para molhar o chapéu da Dayane e retomamos o caminho, crista acima. Nas paradas, tentávamos ventilar a Dayane, abanando-a com os chapéus. Eu sofria com aquela maravilha de look, negro da cabeça aos pés… vou rever isso e providenciar uma camiseta clara para trilhas similares. Depois de alcançar mais um distante falso cume, ante o revelar do subsequente, pedi a Dayane que me cedesse a cargueira… muito relutante, mas certamente tocada pela minha insistência, imposição de autoridade na voz, cavalheirismo a que somos condicionados e consciência da necessidade da medida, ela acabou por ceder, me passando a cargueira. Vesti a cargueira dela (super leve, já havia sido aliviada de boa parte do peso pela Natacha, lembram?). Confesso que a alegria de ver o Douglas descendo a encosta em nossa direção não foi pequena. Nosso trio se fortaleceu muito com a presença dele. Em quarteto, sabendo que os outros 3 estavam poucos metros adiante nos trouxe novas forças e, com a celeridade possível naquele momento, logo nos unimos a eles. No cume do Bandeira estavam a Cheryl, o Chapéu e a respectiva patroa, que não estava muito melhor que a Dayane, aparentemente por questões musculares. A vasta experiência médica da Cheryl trazia uma nova (e muiiiiiiiito melhor) condição de lidar com a situação. Enquanto o Douglas zelava por manter as mutucas distantes, a Natacha descascava e compartilhava uma laranja, suculenta e deliciosa. A Cheryl, após dar um jeito nos ombros da Chapelzinho, pediu 500 ml de água para preparar uma de suas porções mágicas… esses 500 ml, retirados da água transportada na mochila no camelback da Natacha… restou pra ela pouco mais de 150 ml….coloquei uns 100 ml na minha garrafa, também … estávamos raspando nosso inventário, em busca de cada possível gota… basicamente uma solução de reidratação oral, com algum antiespasmódico envolvido. Parece “bobo/simples” mas foi de resultados mágicos, mesmo. Me fez pensar no porquê das mulheres terem ido parar na fogueira. Ah, as questões de disputa de poder, triste sina da humanidade… da imensa, farta e pesada cargueira da Natacha surgiram também maçãs, das quais aceitei um pedaço. Com a trupe dos massacrados formada por eu, Douglas, Natacha, Dayane, Chapéu e Cláudia vestimos as cargueiras e tocamos pela descida do Bandeira em direção ao ponto d’água, distante alguns quilômetros ainda. Nossa estimativa considerava que andando devagar levaríamos pouco mais de uma hora…. infelizmente a exaustão pelo calor continuava a grassar em nossas fileiras, e logo após a descida, foi necessária nova parada para tratar da Cláudia… acredito que o casamento que suporta o trilhar junto, na adversidade, seja aquele determinado a perdurar por anos. Ante a necessidade imperiosa de repormos os líquidos perdidos, o Douglas tocou em frente, adiantado do grupo, com a intenção de buscar água e retornar. Levou consigo um dos rádios, que funcionam, dentro de suas limitações de forma tão eficiente. Antes de ir, conseguiu me conversar a alternar a camiseta preta e grossa que eu vestia por uma camiseta dele. Não gostei da ideia, mas a situação não aceitava luxos, idiossincrasias ou teimosias. Retirei a minha, com perceptível alívio. Antes de vestir a camiseta emprestada, aproveitei para me aliviar de um pouco da água que levava no corpo e percebi um torpor incipiente. A situação estava delicada, e a questão da água se tornava mais premente a cada minuto. Felizmente, descobrimos que o casal Chapéu ainda dispunha de água, da qual eu, Dayane e Natacha tomamos um pequeno gole. Antes de retomarmos a caminhada, o Douglas voltou informando que uma vintena de metros trilha acima, após uma curva, havia uma primeira bifurcação e, em seguida, outra. Ele refletira melhor e concluíra, que na situação em que nos encontrávamos, era mais conveniente caminharmos em grupo único, sem grande distância entre o “pelotão da frente” - tarefa assumida por nos dois e o restante do pessoal. Decisão tomada, logo posta em prática, com a gente uma centena de metros à frente, fazendo a navegação com apuro e atentos à eventual presença de água não registrada. Pouco depois, após identificar que o trajeto seguia pelo ramo da direita da estrada, perdendo altitude forma suave, começamos a ver poças de água. Sinalizei pra ele que seriam de consumo viável, mas que acreditava não ser necessário, já que estávamos a cerca de 1 km do ponto de água registrado. Com o volume de água que o casal levava, eu passara a ter maior tranquilidade, mesmo assim quanto antes alcançássemos a água, mais rápido reverteríamos o desgaste e a desidratação. Após andarmos mais algum tempo, começamos a ouvir o ruído de água, que não tínhamos certeza se era o ponto registrado. Como não havia marcas de acesso ali, supus que ele estaria para frente, mas não vi motivo para perder mais tempo para começar a recuperar nossas forças. Então desci ao ponto de água e, após tomar uns 200 ml, passei a recarregar as garrafas do restante do grupo em rodízio. Fizemos sucos e petiscamos. Perto do que havíamos superado até ali, não restava dúvida de que chegaríamos, e bem, até o trecho das cachoeiras. Superá-lo, por outro lado, seria um novo desafio… como escutava nos tempos da facu: cada novo dia, nova agonia. Durante o lanche, o ruído de motocicletas nos alertou para o fato de estarmos numa curva e possivelmente sem visual para quem vinha em nossa direção. Por precaução, dei uns gritos de “opa” que chegaram a exceder a eficácia pretendida. Não apenas sinalizaram a nossa presença, como fizeram que a dupla de motociclistas se detivesse junto ao nosso grupo. Trocamos algumas informações sobre o que nos aguardava adiante trilha. Depois de uns 10 minutos de parada, reabastecidos de água, descansados e alimentados, retomamos o caminhar. Rapidamente alcançamos o ponto d’água registrado, um pequeno riacho que cruzava a estrada. Como já estávamos bem servidos de água, apenas atravessamos a estrada e seguimos do outro lado pela esquerda, em suave aclive. Pouco depois, uma alternativa à direita foi testada e descartada. Continuamos em frente, contornando áreas de eucalipto até alcançarmos uma porteira azul, onde foi consenso que orientação era pegar a estrada à esquerda. Como não havia prestado atenção nas indicações, não posso afirmar se fora ou não…. seguimos pela direita, um pouco inquietos por não observar nenhum início da passagem do pelotão dianteiro… logo, uma suave curvatura da estrada fugindo do nosso azimute tornou claro que não era por ali que passava o trajeto pretendido. Voltamos à porteira, descendo agora pela lateral direita e pouco depois alcançamos a Árvore do Senhor Anéis, com a algazarra dos nossos amigos na dianteira na audível. Uma curva, com descida mais pronunciada e chegamos na “área de estacionamentos e encontramos o restante da trupe, que seguirá na frente, após nos esperar por algum tempo no Bandeira… tempo suficiente até para Pole Dança pelo que eu saberia depois… rsrs Aliviada por ter a trupe toda reunida, a Amanda avaliou rapidamente a conveniência de prosseguirmos pela trilha das cachoeiras ou de modificarmos nossos planos, nos amoldando às condições presentes, montando acampamento ali, uma vez que a área era ampla, plana e bem servida de água. Ela havia descido, para avaliação por pouco mais de uma hora sem encontrar nenhuma área similar que coubesse nosso grupo. Deixe ressaltar: uma hora de Amanda, descendo trilha de rio, são 3 a 4 horas de grupos normais. Com o horário “avançado” para uma descida segura até a próxima área de acampamento, após breve consulta ao grupo, decidiu sabiamente por acamparmos ali mesmo. Decisão tomada, tratamos de concretiza-la, armando nossos chalés com celeridade. Cada um buscou a área que entendeu mais adequada para a própria barraca. Uma vez que eu não havia tomado o cuidado montar a minha barraca nenhuma vez antes, escolhi um lugar amplo e plano, fora da área de manobra de eventuais veículos, pois não fazia ideia do tamanho que ficaria, kkkk. Não sou exemplo pra muita coisa, e essa mistura de imprevidência e excesso de confiança, torna isso bemmm claro. Apanhei um pouco na montagem? Claro. Me diverti muito, por outro lado, no processo. O receio que tivera até ali de montá-la na chuva e em locam inapropriado, rapidamente e se desfez. Confesso que me assustei com a área que ela ocupa… não é agigantada ao ponto de ser um palácio… um palacete, talvez. Comporta duas pessoas com tranquilidade, com todas as tralhas imagináveis. Casa arrumada, partimos para tomar banho de cachoeira, antes que o cair da noite esfriasse o ar. Rápida seção de fotos na cachoeira, com direito a arco íris dentro da queda, e poses de capa, máscara e chapéu… bem dizia Luís Fernando Veríssimo quanto a liberdade x receio de ridículo. Curtiu a ideia? Faça. Apenas isso. Banho tomado, coloquei a (mal-cheirosa) roupa de trilhar para secar e parti para jantar, que fizemos em roda, com cada qual preparando seu rango e apresentando “novidades” ou soluções. Eu levei uma porção de purê de batata instantâneo com brócolis, outra porção com molho de tomate, legumes, bacon vegano e camarões. Para petiscar, auricularie desidratados, que aproveitei a fartura de água para reidratar. Como guloseimas para o jantar, palha italiana no sabor torta de banana e no sabor churros. De algumas cargueiras surgiram vinhos, que dividimos enquanto conversávamos sobre a trilha, planos futuros, perrengues passados, histórias e causos. Os goles de vinho acalentaram a Amanda, que logo se despediu e caiu pra dentro da sua mansão. Fui bater papo com o Douglas, enquanto não escurecia. Repassamos algumas coisas que estamos planejando, discutidas em detalhes ao ponto de termos, de cabeça as imagens, os mapas e alguns detalhes dos tracklogs, como os pontos de perdido de maior frequência. Com o escurecer, cai pra de tiro da minha barraca, para aproveitar o tempo antes de dormir para xeretar nos aplicativos de navegação e fazer testes de envios de mensagem. Percebi que havia sinal e liguei pra casa, para tranquilizar meus pais. Fui até a barraca da Amanda para co firmar se estava tudo bem, e confirmar que ela havia conseguido contato com casa. Descobrindo que ainda não havia sido possível, por falta de sinal, emprestei meu aparelho para que ela tranquilizasse a mãe. Sabendo que estava bem, voltei pra minha barraca, para me entregar aos braços de Morpheus. A noite passou rápida, sem perturbações ou surpresas… talvez resultado das 2 horas de sono apenas na noite anterior, certamente. Com a alvorada, vesti a roupa de trilha e comecei, meticulosamente a arrumar as tralhas, primeiro posicionando o isolante na região dianteira, e depois compactando camada por camada de equipamentos dentro da minha consciência. Saco e roupas de dormir receberam tripla camada de plástico. Duas camadas de sacos de plástico para peixes envolvendo um saco estanque. A segunda camada, composta pela barraca e pela proteção do piso dela, foi posicionada em seguida. E finalmente a camada com o equipamento de cozinha, bancos de bateria, primeiros socorros, capa de chuva e comunicador satelital. A capa e a máscara de Zorro, foram colocadas próximo da tampa, para caso alguém mais quisesse fazer a foto dos trilhos. No bolso externo, da frente posicionado a segunda pele de emergência de forma a permitir o pronto emprego. Os petiscos para o dia, e os primeiros socorros de acesso rápido já estavam posicionados nos bolsos da barrigueira. Pouco após as 8:00 nos colocamos em marcha, todos próximos. Rapidamente avançamos de cachoeira em cachoeira. A trilha das cachoeiras é bem sinalizada e muito batida, então não havia muito o que apanhar da navegação, que seguia ora de um lado do rio, ora do outro lado. Em 4 horas de poções alcançamos a linha férrea. O Eliseu fez algumas fotos espetaculares do grupo nos trilhos e seguimos em direção ao camping, para deixarmos as mochilas na van. Com o avançado da hora, em relação ao planejado para iniciarmos o retorno, optouse por seguirmos com a van até a cachoeira do Coqueiro Torto. Ali optei por me trocar para a volta, enquanto o pessoal desceu até a base da queda. Uma parada merecida num rodízio, com direito à comer a vontade coroou a conquista daquela trilha… vara mato? É troco, fizemos vara vulcão montanha acima, kkkk!! Na volta a lista de música sofreu algumas melhorias, para alegria da Natacha que não conseguiu esconder a alegria, cantando, a plenos pulmões, “Borbulhas de Amor” do Fagner… descobri que a Amandinha é fã devota do Reginaldo Rossi e amaria acrescer a música Garçon na próxima playlist.
  4. PICO DO ITAMBÉ A poeira comeu naquele final de tarde. O velho gol bola, branco, vinha resistindo bravamente, carregando cinco adultos e um bebê de 2 anos, indo muito além da sua capacidade de carregar coisas e gente, num tempo onde lei de trânsito quase inexistia. Nosso trajeto entre o vilarejo de Milho Verde e Diamantina-MG, teve que ser interrompido assim que avistei uma pequena e sensacional cachoeira à beira do caminho e decidi que ali seria o lugar do nosso acampamento, já que outra coisa que inexistia, era dinheiro para podermos nos hospedar em qualquer lugar e nossa Expedição Brasil Adentro estava sendo no modo “mendigo plus”, acampando em qualquer lugar e fazendo a nossa própria comida. (Viagem de 2003 - 8.000 km rodados pelo Brasil. ) Abrimos uma pequena porteira e estacionamos o carro sobre um gramado verdinho e enquanto as meninas correram para tirar a poeira do corpo, se jogando para debaixo da cachoeirinha, os homens trataram logo de montar nossas barracas. Estava finalizando a montagem da última barraca, quando ao longe avistei um sertanejo. Chapéu de vaqueiro, roupas surradas, um facão que arrastava no chão. Com passos largos e apressados, vinha em nossa direção, cara de poucos amigos, daqueles que atiram primeiro e perguntam depois. Avisei meu primo de que teríamos problemas e nos pomos a ficar em alerta, somente acompanhando com os olhos e com o coração apreensivo, porque estava bem claro que aquele era o dono da terra e possivelmente viria babando para cima da gente e como estávamos dentro da cerca, nos vimos acuados, sem reação, apenas torcendo para que a contenda se resolvesse o mais rápido possível, mesmo porque, estávamos com as meninas. - Boa Tarde senhores! - Boa Tarde! Respondemos em coro. - O que os senhores estão fazendo aqui? Olhei para o meu primo e para o Rogério, que se mantiveram calados, esperando que eu mesmo respondesse, já que eu estava mais próximo. - Olha, o senhor me desculpe, estamos viajando com minha família e estávamos muito cansados para prosseguir viagem, mas já estamos desmontando tudo e iremos sair das suas terras imediatamente. O homem nos fitou de cima embaixo, olhou para as meninas, que já haviam se ligado que a coisa não andava bem e já subiram o barranco da cachoeira e vieram em nossa direção. Botou a mão no facão, depois olhou ao nosso redor e vendo as barracas já montadas e os utensílios de cozinha espalhados pelo gramando, nos disse com voz firme: - Podem desmontar as barracas, vocês não vão dormir aqui não. - Mais uma vez, peço desculpas pelo incomodo, em no máximo uns 15 minutos estamos indo embora. - Quem disse que vocês vão embora, vocês são meus convidados, vou levar vocês para um lugar mais descente, onde poderão se instalar sem o risco de pegarem chuvas. Ficamos surpresos, até um pouco desconsertados, mas a gente estava com os pés na estrada, abertos para todas as experiências, era assim que estava sendo aquela viagem, estávamos viajando ao sabor do vento e resolvemos pagar para ver, onde aquele convite iria nos levar, feito por um estranho, no meio do sertão do Cerrado Mineiro, numa área pontuada por garimpo ilegal. Fomos levados para um rancho humilde, tão humilde como a própria casa do nosso anfitrião e lá nos instalamos em tarimbas, uma espécie de camas de madeira grudadas às paredes, forradas com palha. Um fogão a lenha nos servia de apoio para nossa cozinha e a noite, passamos contando causos junto com o nosso novo amigo, que se juntou a nós, numa janta comunitária. Seu Jesus, era uma figura fascinante, homem simples, herdeiro de um mundaréu de terras ali no sertão, tentava organizar as coisas e evitar que sua propriedade caísse nas mãos de garimpeiros ilegais. Sua vida era um livro de aventuras, pontuada por trabalhos em construtoras no Iraque a serviço do então ditador Sadan Hussen, até pescador e garimpeiro na Amazônia e passagem pela capital Paulista, onde trabalhou de motorista de ônibus. Aquele sertanejo nos conquistou de tal maneira, que foi impossível não aceitar o convite para irmos conhecer suas terras e termos contatos com uns garimpeiros amigos seu, vivendo como homens das cavernas, que nos levou a uma das maiores experiências das nossas vidas. O ano era 2003 e foi justamente nessa caminhada de um dia inteiro que tive a felicidade de botar os olhos nele. Eu já havia ouvido falar naquele PICO, que na época, era considerado o CUME DO CERRADO MINEIRO. Da posição de onde estávamos, ele dominava toda a paisagem e em meio a vegetação pontilhada por cristais e pequenas árvores tortas, embelezada por sempre-vivas, de posse de uma câmera yashica de 36 poses, saquei uma foto da minha filha JULIA, na época com 2 anos de idade e prometi para mim mesmo, que um dia eu botaria meus pés naquela montanha icônica. ( Julia em 2003 e atrás a direita a ponta do Itambé) Quase 20 anos se passaram e a nossa chegada ao Cerrado Mineiro começa por uma breve passagem no Parque Nacional da Serra o Cipó, onde fomos conhecer algumas cachoeiras, que haviam nos passado batido na viagem de 2003. Viajar pelo Cerrado é antes de tudo se jogar numa paisagem onde cachoeiras deslumbrantes já poderia fazer valer qualquer passeio, sem contar as inúmeras cidades e vilarejos históricos que nos vão sequestrando a alma e que nos faz nunca mais querer ir embora. Mas num primeiro momento, temos que nos focar no que nos propusemos a fazer, o objetivo principal, ao menos daquela região, que é o de subir a montanha que no passado nos encantou, pelo menos a mim, já que nessa viagem, além da minha filha Julia, hoje uma mulher, ainda contávamos com a companhia do Dema, amigo de infância e companheiro de tantas outras roubadas. Depois de partirmos de Serro, adentramos no meio da tarde, no pequeno vilarejo de Santo Antônio do Itambé. Atravessamos todo o povoado e fomos seguindo a placa que nos levou direto para estradinha de terra que em 2 ou 3 km, fez com que interceptássemos a entrada do Parque Estadual do Itambé, onde colhemos informações preciosas para que pudéssemos realizar a subida ao famoso pico, no outro dia. Na volta, paramos para um mergulho na Ponte de Pedra, uma atração da cidade, onde os locais vão se refrescar nos dias mais quentes. Ficamos sabendo que o único CAMPING da cidade, ficava junto à sensacional CACHOEIRA DA FUMAÇA, um monstro despencando em um lago enorme. E foi justamente lá que nos instalamos, um ambiente agradabilíssimo, mesmo porque, éramos os únicos turistas que por lá estava, em plena antevéspera de ano novo, um achado para cultivar a paz e o sossego, ter uma noite tranquila, para no dia seguinte, partirmos bem cedo para tentar subir o Pico. O dia mal acabará de nascer e já deixamos o camping em direção ao Parque Estadual, que abre as 6 da manhã, mas tivemos um entrevero para conseguir subir a estradinha íngreme perto do nosso acampamento, culpa das chuvas de verão. Chegamos à portaria somente depois das 7 da manhã, um pouco tarde para as nossas pretensões. No parque nos liberaram rapidamente, mas fomos obrigados a assinar um termo de responsabilidade por sermos liberados com tempo ruim. É possível seguir de carro por mais uns 3 km, mas depois de andarmos pouco mais de 1200 metros, o veículo empacou, simplesmente não conseguiu vencer o terreno extremamente liso e fomos obrigados a abandoná-lo a meio caminho de lugar nenhum, deixar jogado num recuo da estrada e nos pormos a caminhar mais cedo do que imaginávamos. É uma estradinha muito gostosa para caminhar e mesmo com um chuvisco insistente, andamos a passos largos, com uma temperatura muito agradável. Passamos por cima de uma ponte, onde uma placa indica um desvio para uma cachoeirinha e 1500 metros depois , chegamos a entrada da cachoeira do Neném, mas passamos batidos, porque pretendíamos conhecer as quedas d’água na volta e uns 4,5 km desde a portaria, tropeçamos na placa que marca a saída para Cachoeira do Rio Vermelho, que em mais uns 40 minutos de caminhada poderá nos levar até ela, mas ignoramos e continuamos seguindo, passamos por uma porteira de arame e 500 metros à frente, uma trilha a esquerda corta caminho , passa por campos abertos e nos devolve novamente para a estrada, que é o último lugar onde se pode chegar com um 4 x 4 . A estradinha ainda continua por mais uns 10 minutos, até que tropeçamos num casebre abandonado, que não tarda em desabar. É a última construção antes do cume, que pela placa de identificação, ainda está a quase 6 km de distância e ainda teremos que subir um desnível absurdo de mais de 800 metros. Ao lado do casebre há uma bica d’água, onde abastecemos nossos cantis, mas não é a última água disponível. Agora o terreno vai empinar de vez, a vegetação de altitude vai surgindo lentamente, o Cerrado vai se mostrando, se transformando num jardim florido, cheio de cores e plantas deslumbrantes, num cenário incomparável. A paisagem vai se transformando, grandes formações rochosas começam a despontar para todos os lugares, o cenário e as vistas vão se alargando e cerca de uns 2 km após o casebre abandonado, demos de cara com a LAPA DO MORCEGO, uma espécie de gruta, onde uma mesinha e um banquinho nos convidam para sentar e descansar as pernas. A nossa intenção, a priori, era fazer a travessia completa, ligando o Parque do Itambé até o Parque do Rio Preto, mas segundo o pessoas do Itambé, além de não estarem autorizando a passagem por causa do nível alto de alguns rios, que tem que ser cruzados, o acampamento no próprio Pico do Itambé está proibido até que se refaça o telhado do abrigo de montanha , já que não se pode mais acampar com barracas no topo. A trilha abandona a gruta e segue pela direita, entra num corredor de pedras, onde o chão forrado de pedrinhas brancas dão um charme todo especial. São paredes dos dois lados e vamos passando meio que exprimidos até que a paisagem se abre como se tivéssemos adentrado em outro mundo, com formações rochosas de todos os formatos e e uma em especial nos chama atenção por parecer um grande caranguejo e é para lá que corremos, para exercitar a nossa capacidade em escalar grandes rochas e nos deleitarmos com o topo da formação inusitada. No horizonte, do nosso lado esquerdo, uma ilha de pedra nos guia o caminho, enquanto do lado direito, um vale gigante nos faz tomarmos cuidado para não acabar escorregando para dentro dele, já que o terreno está muito encharcado. As 10 horas da manhã, uma placa nos indica uma fonte de água. Eu havia lido que essa seria a última água disponível antes do cume, que ainda não está perto, mas só se for em tempos de muita seca, porque hoje, água não falta em nenhum lugar. Mas não se engane, não é só agua que vamos encontrar nesse córrego e sim um excelente lugar para molhar o corpo, em marmitas charmosas, com um terreno colorido, verdadeiras jacuzzis naturais, dignas de hotéis cinco estrelas. Prometemos nos enfiar nas piscinas naturais na volta do cume e partimos, voltando para a trilha principal. Aos poucos, vamos deixando a ilha de pedra para trás e ao avançarmos, as vegetações de altitude vão se modificando e a temperatura também já começa a cair um pouco. Uma linha de postes ao longe nos indica que a direção seguida é boa, enquanto no chão, plantas carnívoras, as famosas droseras, vão se espalhando para todos os cantos. À nossa frente já é possível ver o espigão mestre que vai nos levar ao cume, mas quando encostamos nele é que nos damos conta de que um abismo gigante o separa do resto do mundo e uma ponte pênsil nos serve de passagem para cruzarmos para a outra dimensão. Antes de cruzarmos a ponte, ficamos ali, parados, admirando os cânions e toda a paisagem ao redor, dando um tempo para um gole de água e imaginando como se cruzava aquela fenda sem essa passagem artificial. Depois que a atravessamos, corremos para escalar uma formação que nos levavam direto para a beira do desfiladeiro e eu fiquei pensando como seria legal descer ao fundo dele e percorrê-lo por um tempo, mas não tínhamos corda para isso e muito menos tempo. Falando em tempo, a Julia quis ganhar um pouco e tomou à frente, mas como o nevoeiro baixou de vez, não conseguimos mais vê-la e comecei a me preocupar muito com ela. Ainda mais porque além do nevoeiro, a temperatura despencou radicalmente e as plaquinhas que marcavam o caminho, mal poderiam ser vistas. Agora é rampa de pedra, que as vezes precisava ser escalaminhada quando definitivamente encostamos no paredão e tocamos para a esquerda, até que ele abrisse para nossa passagem e ganhássemos a GRANDE RAMPA FINAL. Alcançamos a Julia e juntos fomos ganhando terreno, nos valendo das inúmeras plaquinhas, aliás, essas marcações são uma grande tábua de salvação em dias nevoentos e esse é um trabalho do Parque Estadual que tem que ser aplaudido de pé e eu ainda não consigo entender como tem gente que tem raiva de marcação de trilha, sendo que elas podem salvar muita gente em dias de tempo ruim. Há alguns minutos do cume, o tempo fechou completamente e a temperatura despencou de vez e quase não se enxergava um palmo à frente do nariz. Apressamos o passo, aumentamos o ritmo, cada qual tentando conquistar sua própria montanha, vivendo sua própria expectativa de cume, até que meio de supetão, batemos de frente com uma Pequena CRUZ sobre uma rocha mais elevada, marcando talvez o local exato, o ponto mais alto do grande PICO DO ITAMBÉ, 2052 metros no meio do Cerrado Mineiro, um gigante se levarmos em conta as baixas altitudes das terras ao redor. É um cume irregular, com vegetações de altitudes bem características e bem perto do topo, um pequeno lago, que nesses tempos de chuvas intensas, está transbordando. Eu ouvi falar que não haveria água no cume ou que ela é difícil de ser encontrada, mas sinceramente não sei se é porque não se trata de uma água boa para o consumo ou se realmente na estação mais seca ela some de vez, o certo é que nessa data, água tinha em abundância. Se naquela pequena cruz seria geograficamente o cume do Itambé, uns 30 metros à frente é que está instalado o ABRIGO DE MONTANHA e as grandes ANTENAS DE COMUNICAÇÃO. Se ao mesmo tempo é um charme ter um grande abrigo para poder se instalar, por outro lado, não me agrada nem um pouco aqueles trambolhos de antenas, mesmo que isso seja necessário e sirva a toda comunidade local. Aliás, acho que já deu há muito tempo esse negócio de se instalar coisas nos cumes das montanhas, sejam lá antenas ou qualquer símbolo religioso. O Abrigo é extremamente grande e caberia realmente vários grupos nele, mas hoje está em reforma, já que um raio andou destruindo as telhas e contém infiltração por todos os lados, mas para a gente, pouco importa, não iremos ficar mesmo. O dia já ia pela metade, então nos apressamos em almoçar rapidamente e como por incrível que pareça, no cume há sinal de wi-fi potente, talvez o único pico no pais a contar com essa tecnologia, aproveitamos para fazer um live e juntar parte dos amigos, já que era também o último dia do ano de 2021. Alimentados, nos despedimos do cume e partimos com tudo, descendo a rampa de pedra quase correndo. A visão lá do cume deve ser soberba, mas não fomos agraciados com tempo bom, coisa que só aconteceu uns 200 metros abaixo dele, quando paramos para apreciar as largas vistas, mas está aí algo que pouco importa nessa montanha, porque certamente essa é daqueles em que o caminho é tão gratificante quanto ao cume. Antes de voltarmos para a ponte pênsil, encontramos um funcionário do parque que estava indo fazer algum reparo no cume. Trocamos meia dúzia de palavras e seguimos. Antes da subida, questionei a Julia sobre ela subir com uma bota novinha e ela desconversou, disse que estava de boa, mas ao passarmos novamente perto do córrego, onde tecnicamente seria a última água disponível, começou a mancar e a reclamar de bolhas. Ali já vi que teríamos problemas e quando retornamos a gruta, a lapa dos Morcegos, paramos para fazer um curativo e aproveitamos para roubar um gole de café que o guarda parque havia deixado sobre a mesinha. A Julia se arrastou até o casebre em ruínas e quando caímos novamente na estrada, já vi que a nossa intenção de visitar a Cachoeira do Rio Vermelho, havia ido por água abaixo. O carro do Parque passou por nós, a fim de ir buscar o funcionário que já voltava do Itambé e quando passou de volta, não nos furtamos em pedir uma carona, já que a Julia simplesmente sucumbiu às bolhas nos pés. Os caras do parque foram muito gente fina com a gente e ao saberem que pretendíamos visitar algumas cachoeiras, mas que havíamos desistido, ao chegarem na bifurcação da Cachoeira do Neném, rumaram para lá para que a gente pudesse vê-la, porque a estrada se estendia até ela. Pouco depois das 4 da tarde, demos saída do Parque Estadual do Itambé, nossa missão havia sido cumprida. Voltamos para o camping na Cachoeira da Fumaça e quando lá chegamos, o dia já se preparava para dar cabo de 2021 e para comemorar nossa ascensão, jantamos uma comida mineira ali mesmo no restaurante caseiro e fomos dormir e levantamos lá pela meia noite, bem a tempo de ....... voltar a dormir novamente, porque não estávamos a fim de outras comemorações, já nos bastavam as glórias daquele dia. Vinte longos anos se passaram até que eu pudesse riscar essa montanha da minha lista. Aquele bebê de outrora, não mais existe e hoje, eu mesmo, antes um jovem na casa dos 30 anos, não passo de um senhor de meia idade, mas que ainda continua teimando em subir montanhas, talvez na intenção de passar a perna no tempo e pior ainda, é quando olhamos para o horizonte e fazemos novas promessas, de novas travessias, de novas caminhadas, porque enquanto ainda tivermos a capacidade de sonhar, ainda vamos tentando enganar, se não ao tempo, ao menos a nós mesmos. Divanei Goes de Paula
  5. Quase todo mundo precisa de uma pausa de seu estilo de vida super ocupado hoje em dia. Se você quer uma pausa da vida agitada e monótona da sua cidade, você pode escolher as montanhas nesta temporada! É sempre um desafio decidir se escolhe os verdes luxuriantes, as águas calmas e profundas ou os picos altos! Bem, você pode ter suas escolhas pessoais, mas se você está aqui, você deve ter escolhido a última opção! De acordo com pesquisas, alguns dos motivos mais importantes pelos quais os viajantes escolhem as montanhas são o ambiente limpo que elas oferecem e a natureza calorosa dos nativos. Qualquer montanha pode fazer você se sentir como em casa. Se você gosta de escalar montanhas, isso também pode trazer muitos benefícios para a saúde! Na escalada você realiza vários movimentos físicos que ajudam a construir músculos, aumentar a flexibilidade, construir resistência, entre muitos outros benefícios. De acordo com uma pesquisa do British Journal of Sports Medicine, a quantidade de energia consumida durante uma escalada é igual a correr entre 13 a 15 minutos por km. Além disso, é uma atividade extremamente divertida e contemplativa. Nada melhor do que o sentimento de conquista após escalar uma enorme montanha. Aqui estão sete das montanhas mais altas que você pode escolher para conquistar em suas férias! 1. Monte Vinson na Antártica O Monte Vinson é a melhor opção com a qual você pode contar se quiser uma aventura emocionante nesta temporada! De acordo com as fontes, este pico atinge até 4.897 m/16.067 pés. Não é uma subida tecnicamente desafiadora, embora seja bastante fria. O Monte Vinson é famoso por sua beleza pitoresca e seus topos brancos cobertos de neve. As temperaturas costumam cair para -40 ° C em torno do cume. Sob a liderança de guias antárticos experientes, escaladores de experiência moderada podem realizar a expedição com segurança. Se quiser, você pode explorar esta montanha com a ajuda de guias de alpinismo para aproveitar ao máximo sua expedição ao monte Vinson! Continue lendo em: 7 Melhores Montanhas Para Escalar ao Redor do Mundo em 2021
  6. Slovenska Planinska Pot, às vezes também chamada Transverzala, é uma travessia de Maribor até Ankaran. Abrange a maior parte das áreas montanhosas da Eslovênia, incluindo Pohorje, os Alpes Julianos, os Alpes Kamnik-Savinja, os Karawanks e a parte sudoeste da Eslovênia. Distância 617km com nada menos que 37.300 metros de subida acumulada. Umas das mais difíceis trilhas de longa distância que eu já fiz, porém uma das mais belas também. Oficialmente pode ser feita em 37 dias, eu demorei 42. Essa trilha passa pela montanha Triglav, símbolo nacional da Eslovênia (a montanha da bandeira nacional), 2864 metros, ponto mais alto da travessia. A Eslovênia é um país lindissímo, com montanhas por todos os lados. O povo é muito hospitaleiro, o que tornou este trekking uma aventura bastante prazerosa. Eles são simplesmente fanáticos por montanhas, é comum ver famílias inteiras escalando, desde o netinho até o avô. Existe um livro, tipo um passaporte, onde você coleta o carimbo em cada topo de montanha e é bem tradicional. Conversando com um senhor, ele me disse que praticamente todo Esloveno tem esse livro e que é uma tradição coletar todos os carimbos antes dos 50 anos. Ele também me disse que poucos conseguem, eu coletei todos em 42 dias. A maioria das pessoas não consegue não porque é difícil, mas por não ter tempo, o que me lembrou o quanto eu tenho sorte em ter liberdade geográfica e financeira. Eu comparo esse passaporte com a vida, onde cada carimbo é um sonho que você tem. Quantos carimbos você tem coletado? Comenta aí... Eu tinha várias desculpas para não realizar meus sonhos, sempre ocupado com trabalho, estudos ou qualquer outra coisa. Somente com 38 anos eu me dei conta que a vida voa e se você não sair do “automático” e começar a viver ela vai passar e você nem vai perceber. Felizmente nunca é tarde, não importa a sua idade, sua condição financeira, sua experiência, se você quer ter uma vida cheia de momentos incríveis e experiências transformadoras, vá viajar! Nada vai te proporcionar uma vida tão intensa e com propósito. Se você não sabe por onde começar eu escrevi um livro contanto tudo que eu fiz desde que sai do Brasil quase sem grana até me tornar um Nômade Digital. Acredito que vai te trazer bastante clareza de como é possível viver viajando. Vou deixar o link aqui: https://bit.ly/liberdadenomade2021 Muito Obrigado! 20200904_094216.mp4 20200906_073409.mp4 20200906_101058.mp4 20200908_130642.mp4 20200909_074100.mp4
  7. Sua participação e contribuição é muito importante! Segue o link: https://chat.whatsapp.com/Ks6BieKQLhb2hNOoMsfmLu
  8. Este video é uma amostra das nossas caminhadas. Esperamos que gostem. https://youtu.be/KX75XilaOgw Sigam a Tardo Aventura em https://pt.wikiloc.com/wikiloc/user.do?id=4716837
  9. Bom dia pessoal ! Estamos indo para serra fina dia 16 de março de 2020! Se alguém conseguir ajustar as datas pra ir junto seria legal, por enquanto vamos em três pessoas, eu e minha namorada e mais um amigo nosso! Faremos no formato clássico de 4 dias, podemos nos encontrar em Passa Quatro-MG. Se alguém quiser embarcar conosco nessa aventura, será muito bem vindo!! Meu número é 45 99961-3741 Mayki 🙏
  10. Bom dia pessoal ! Estamos indo para serra fina dia 16 de março de 2020! Se alguém conseguir ajustar as datas pra ir junto seria legal, por enquanto vamos em três pessoas, eu e minha namorada e mais um amigo nosso! Faremos no formato clássico de 4 dias, podemos nos encontrar em Passa Quatro-MG. Se alguém quiser embarcar conosco nessa aventura, será muito bem vindo!! Meu número é 45 99961-3741 Mayki 🙏
  11. --> Leia o post original em nosso blog: http://casalnamontanha.com.br/2018/11/10/trekking-santa-cruz/ Após o Trekking de Huayhuash e a tentativa frustada de escalar o Nevado Pisco, tiramos um dia de descanso e já estávamos planejando a nossa próxima aventura nos andes peruanos. Desta vez iriamos totalmente auto-suficientes, somente Renan e eu (Vanessa) com os mochilões em meio as montanhas nevadas sem nenhum apoio no trajeto em um dos circuitos mais clássicos e conhecidos da Cordilheira Branca: O Trekking de Santa Cruz Trata-se de um trekking que leva em média 4 a 6 dias e tem uma distância em torno dos 60km, com um ascenso acumulado de quase 5 mil metros totalmente dentro de um Parque Nacional, chamado HUASCARÁN. As altitudes variam de 3.000m a até 4.700m no passo Punta Union, altitude máxima atingida nessa travessia. O inicio da caminhada se dá pelos povoados de Cashapampa ou Vaqueria. Geralmente a rota mais usada pelas expedições de agencias é Vaqueria –> Cashapampa, mas resolvemos fazer “do contra” , iniciando no “Pueblo” de Cashapampa caminhando pelos vales das montanhas até Vaqueria. Seguindo esta rota teríamos os 3 primeiros dias de subida leve e um passo de montanha mais difícil no último dia. ITENS QUE LEVAMOS NA MOCHILA Mochilas prontas para partir de Huaraz, rumo a Cashapampa e iniciar o trekking! Já com ideia do que nos esperava, montamos as mochilas com os nossos equipamentos de trekking e partimos ao mercado central de Huaraz em busca de adquirir os mantimentos para esta expedição. Gostamos bastante das comidas para acampamentos encontradas em alguns mercados em Huaraz, itens com embalagens pequena e delicias como o queijo fundido, leite em pó em embalagem de 200g, o pão clássico deles, redondo e achatado ( que dura mais de 1 semana e não amassa na mochila) doce de leite, doce de morango… hmmmm e o melhor é que se encontra facilmente e com ótimo preço! Nossa alimentação para 5 dias de trekking Mas você deve estar pensando que carregamos muito peso e na verdade NÃO! Quem é montanhista sabe que é muito importante estar leve na montanha carregando apenas o essencial para poder ir mais longe. Equipamentos bons e leves fazem a diferença, tornando a caminhada mais fácil e prazerosa. Além da barraca, saco de dormir, isolante e comidas, levamos um bom peso com câmeras, baterias extras, drone e alguns outros eletrônicos, o que resultou em 2 mochilas bem cheias! 😮 O lado bom de fazer este trekking de forma autônoma é que estávamos livres naquele ambiente, acampávamos onde queríamos e fazíamos o ritmo da nossa caminhada sem horários ou itinerário a seguir. Liberdade! Camping: Barraca aztec nepal 2p, 2 sacos de dormir deuter orbit -5c conforto, isolante inflável forclaz air quechua e 2 travesseiros infláveis. ( este kit nos proporcionou ótimas noites de sono com conforto, porém os sacos de dormir sintéticos pesam um pouco ) Além disso o kit básico de vestimentas contendo: 2 camisetas dryfit, 1 segunda pele térmica, 1 casaco de pluma, 1 corta vento impermeável, 4 meias, botas da snake andina extreme, bandana, óculos de sol, bastão de caminhada, lanternas de cabeça, gorro, luva, chapéu, bloqueador solar e repelente. Kit higiene compacto Kit primeiro socorros GPS, baterias, drone, câmera fotográfica, celular, pilhas extras. Kit cozinha, com 2 copos, panelas e frigideiras compacta sea to summit, esponja, garrafa térmica pequena, fogareiro e gás. Não é necessário nenhum equipamento especifico para neve nesta travessia, as temperaturas são agradáveis, até quente durante o dia ( sol a pino, sem muitos pontos de sombra ) e frio durante a noite, a temperatura miníma que pegamos durante a madrugada foi de -7c°. O LUGAR Cordilheira Branca, Huaraz, Peru Apachetas com vista para o imponente nevado Artesonranju O Parque Nacional Huascarán é um paraíso de montanhas nevadas, com 60 cumes acima dos 5 mil metros de altitude, 27 com mais de 6 mil metros de altitude, 663 glaciares, 269 lagos de cor esmeralda e 41 rios. Ainda conta com 33 sítios arqueológicos. Um desafio com muitas opções. O tempo todo os nevados estão ao nosso lado! O Nevado Huascarán ( montanha simbolo do parque e da cidade de Huaraz ) é uma montanha da Cordilheira Branca, parte dos Andes peruanos. Com 6.768 m, o mais meridional de seus picos (Huascarán Sur) é o mais alto do Peru e um dos mais altos da América do Sul após o Aconcágua, e o Ojos del Salado. É a montanha mais alta de toda a zona tropical da Terra, além de seu cume ser o segundo ponto da superfície terrestre mais afastado do centro do Planeta (depois do Chimborazo, no Equador) e o ponto terrestre com a menor atração gravitacional. O pico é formado pelos remanescentes erodidos de um estratovulcão ainda mais elevado que a montanha que hoje existe. A montanha recebeu o seu nome de Huáscar, um chefe inca do século XVI que era um líder do Império na época. O Huascarán está tombado dentro de um parque nacional com o mesmo nome. No caminho encontramos diversos picos Nevados e entre eles, o famoso Alpamayo – 5.947m – que foi eleita em um concurso na Alemanha em 1966, a montanha mais bonita do mundo e o Artesonraju – 6.025m que é ícone dos filmes da Paramount Pictures. O nevado Artesonranju é a montanha ícone que vimos nos filmes da Paramount. apesar de não ser a mais alta, é uma das montanhas mais técnicas da Cordilheira Branca. Durante o trajeto fizemos um caminho extra de 8km ( ida e volta) para ir acampar a 4,300m na base do nevado Alpamayo, na sua face NW. Sem dúvidas um dos pontos altos da viajem. Apacheta e o Nevado Artesonranju, se destaca a direita, montanha ícone dos cinemas Junto do Artesonranju,o Alpamayo também é uma montanha muito técnica. Conversamos com uns escaladores que encontramos no campo base, que nos contaram que a parte final antes do cume é uma parede vertical de gelo com 400m para ser escalada. O TREKKING DIA 1 – Subindo o vale montanhoso Segunda feira – 27 de agosto de 2018. Acordamos mais tarde nesse dia e saímos do hostel as 10h, caminhamos até o centro para tomar um colectivo que nos levasse do centro de Huaraz até Caraz, uma pequena cidade ao norte, para lá pegar outra van até Cashapampa, um “pueblo” muito pequeno, onde termina ou inicia a trilha. Lá, o ponto de inicio da caminhada é a quitanda do Seu Aquiles, local onde eles criam Trutas e Cuís (porquinho da índia) e quando chegamos, não havia ninguém em casa. Pensamos em esperar, já era 13hrs e a intenção de inicio era pernoitar por ali mesmo para começar a trilha no outro dia cedo, o sol estava escaldante e não tinha como tirar a camisa de manga longa e a calça devido a grande quantidade de insetos naquele lugar quente e empoeirado. A jornada de transporte saindo de Huaraz até o ponto de inicio da trilha levou em torno de 5 horas e pegamos 2 vans, não foi difícil de se achar, há várias vans saindo durante o dia, é só saber para onde quer ir e perguntar aos motoristas das vans. Marco de inicio do Trekking de Santa Cruz Havia uma placa de um jovem americano que havia desaparecido por aquela região. Isso nos deixou um pouco apreensivos. Segundo o povo local, o rapaz se perdeu durante a tentativa de escalada a um cume nevado. Esse aviso estava espalhado por vários pontos de Huaraz Logo chegou um taxista trazendo a esposa de seu Aquiles, que nos recebeu e confirmou que poderíamos acampar ali. Por volta das 16hrs o clima ficou mais ameno e acabamos por mudar de ideia, ficamos ansiosos para começar a trilha naquela hora mesmo e decidimos nos adiantar para ganhar tempo. Seguir caminhando e acampar no primeiro lugar bom que achássemos antes de escurecer. Bar do sr Aquiles, ( estava fechado) ponto de inicio da nossa caminhada. ao fundo o pequeno povoado de Cashapampa Sua esposa muito atenciosa nos ofereceu lugar para ficar e nos informou que também preparava comida, poderíamos pescar trutas do seu tanque e limpar na hora! Deu vontade, mas recusamos e as 16h colocamos o pé na trilha! As águas geladas que vem das montanhas são ideais para a criação de trutas, peixe que é abundante nesta região. De inicio, subidas mais fortes, sempre seguindo ao lado do leito do rio Santa. Com o final de tarde chegando a temperatura diminuiu e ficou mais agradável de caminhar. Seguimos por 3 horas até onde terminava o primeiro trecho de subida e começava um descampado mais plano. O vale das montanhas nevadas mais altas já estava visível, de longe no horizonte dali em diante. Logo que começou a escurecer encontramos um local perfeito para acampar, um belo gramado plano e bem reservado ao lado do riacho! Era tudo que queríamos naquele final de tarde! O Local é perfeito com um visual de montanhas rochosas, pedras que pareciam ser moldadas para sentar e um rio de águas gélidas e cristalinas. Mesmo com toda transparência da água, lembramos das dicas nos relatos lidos e assim não dispensamos o uso de nosso filtro de água, também sempre ferver a água da comida antes, já que por ali havia muito gado e a água poderia estar contaminada. Caminhamos nesse dia cerca de 7km com as mochilas carregadas e chegamos às 18:30h no ponto onde acampamos. Saímos de 2.980m e chegamos à 3.300m de altitude neste primeiro dia. Noite linda, descobrindo um lugar incrível! Nessa noite comemoramos a véspera do meu aniversário, conectados apenas com a natureza. Um pedaço do paraíso nas inóspitas montanhas do Peru. Para fechar com chave de ouro, a lua cheia se revelou por de trás das montanhas. A janta essa noite foi por conta do Renan, que preparou um delicioso espaguete com creme de cogumelos, acompanhado de um bom vinho. DIA 2 – Aniversário da Vanessa, descobrindo montanhas 28 de agosto de 2018 Acordei e me dei conta que estava completando os meus 24 anos. Confesso que foi um aniversário bem diferente, mas com certeza um dos dias mais incríveis e que jamais esquecerei na minha vida! Renan cantou Parabéns, assim que acordou às 7h. Levantou-se fez um delicioso café reforçado enquanto eu descansava um pouco mais. Depois do café, levantamos acampamento para iniciar o nosso segundo dia de caminhada na travessia de Santa Cruz. Amanheceu friozinho e um dia lindo e seco. aproveitamos o friozinho da manhã para caminhar, pois no meio do dia o sol era muito forte e preferíamos parar para descansar. Aquele café da manha do aniversário na montanha! (Não reparem minha cara, de quem acabou de acordar! rs) Esperamos os primeiros raios de sol tocarem a nossa barraca, e colocamos os equipamentos rapidamente para secar e assim guarda-los na mochila e seguir a pernada. Acordando com 24 anos e desmontando acampamento de manhãzinha! Assim que eu gosto! Pé na trilha, costeando montanhas e o riacho, sempre com uma quase imperceptível subida continua, passamos pelo Acampamento LLamacorral à 3760m por volta das 9:30h. Área de Camping Llamacorral Este lugar geralmente é o primeiro ( ou ultimo) camping. Este seria nosso local de pernoite caso tivéssemos saído mais cedo no dia anterior, mas confesso que o lugar que achamos na sorte foi muito melhor, acampar ao lado de um riacho tranquilo que nos proporcionou uma ótima noite de sono! Conforme íamos subindo a vegetação mudava. Logo abaixo dos 3.000m era muito seco e só havia vegetação onde tinha irrigação, conforme subíamos até os 3.500m a vegetação aumentava, e acima dos 3.700m começava a diminuir novamente. A paisagem não tinha muito verde e sim muita rocha, areia e gelo nos picos mais altos. A altitude e a falta de chuvas na região tornavam a paisagem completamente diferente de tudo que conhecemos no Brasil. O sol começava a ficar forte e a temperatura aumentava, já estávamos apressando o passo em busca de um bom local com sombra ( raro por ali ) para descanso e almoçar. Começou a ventar forte após as 11h, o que amenizou a sensação de calor. Conforme subíamos a temperatura ficava mais agradável. Parada para lanche abrigados do vento e do sol! Encontramos um pinheiro imenso, que nos serviu de sombra e nos protegeu do vento. Ficamos cerca de 1h descansando, fizemos um lanche e seguimos o caminho. A principal dificuldade era o sol forte, muito protetor solar e chapéu grande, após o lanche seguimos a caminhada, pois precisávamos fazer pelo menos 15km neste dia. Depois de cerca de 4 km passamos ao lado da impressionante Laguna Jatuncocha de água azul turqueza, estas lagunas são literalmente uma reserva de água importante para os moradores locais. Em alguns trechos havia uma espécie de barragem pequena, feita para as lagunas não “estourarem” no período de chuvas evitando estragos montanha abaixo. Seguimos caminhando pela sua borda subindo o belo vale de montanhas. Laguna Jatuncocha! Surreal! Durante quase toda travessia havia trilha demarcada, o rio corria ao lado esquerdo e com duas cordilheiras de montanha uma de um lado e outra de outro que formavam um caminho mágico. Conforme subíamos o rio ia ficando mais fraco, até quase sumir, restando apenas os veios de água que em alguns pontos era possível ver eles escorrendo da neve das montanhas. No local não há nascentes de água, toda a água vem direto do degelo das montanhas nevadas escorrendo montanha abaixo. Veios de água que correm da montanha Seguimos subindo o vale e aos poucos as montanhas nevadas iam ficando mais perto de nós e a vista cada vez mais impressionante! Se aproximando das montanhas nevadas Em um trecho já acima da laguna, passamos por um terreno com grandes rachaduras, uma antiga lagoa que secou. Parecia que naquela região não chovia a tempo. Mais um trecho vale acima e chegamos no acampamento Jatunquisuar, com uma bifurcação, de onde se subia para a base do Alpamayo ou para o Passo Punta Union. A travessia de 4 dias não faz esta parte extra que fizemos. Ao ver a topografia das montanhas que estávamos, ficamos fascinados, subir por este vale rodeado quase 360° por montanhas parecia surreal e incrível, não poderíamos deixar de conhecer. Já era quase 6 horas e estávamos cansados, tínhamos que decidir se no próximo dia iriamos somente fazer um ataque, bate-volta no mesmo dia até o campo base do Alpamayo, deixando a barraca e pertences escondidos na mata, ou se iriamos subir com tudo e acampar lá em cima. Resolvemos subir de mochilão e acampar na base do Alpamayo. Mapa topográfico com nosso trajeto, estávamos literalmente rodeados de montanhas para todos os lados! Decidimos ficar 1 dia a mais na travessia e precisávamos racionar a comida para se manter nesse dia extra. ( sorte que levamos 1kg de tapioca do Brasil ) 2° acampamento, à 4.175m – Jatunquisuar – bifurcação entre o Alpamayo e Passo punto Union. Cansada, após um dia inteiro de caminhada, gravei este vídeo no final da tarde: Estávamos bem cansados, pois fizemos mais de 17km neste dia, jantamos e logo capotamos na barraca, ansiosos pelo próximo dia que prometia visuais incríveis, cerca de 10 minutos depois da gente entrar na barraca começou a chover, hora água, hora um granizo fino e passou tão rápido quanto chegou. Segundo acampamento A orientação neste local é cuidar com as vacas, que são curiosas e podem vasculhar sua barraca em busca de comida num momento de distração. DIA 3 – Subindo até base do Nevado Alpamayo, 360° de montanhas 29 de agosto de 2018 Acordamos as 7:30h para preparar o café da manhã e começar a organizar as tralhas, enquanto isso notamos que estávamos sendo observados… Alguns pássaros se aproximavam da gente enquanto comíamos bolachas, ai descobrimos o seu interesse, quando saímos ele atacou as migalhas! Pegamos a trilha à esquerda, e subimos mais 500m de altura para acampar aos pés do Alpamayo, Quitaraju e Puscahirca sur, para no próximo dia retornar ao trajeto da travessia e seguir o caminho rumo ao passo punta Union. No caminho: No caminho encontramos flores lindas típicas da região: Lupínios azuis que exalam um perfume forte e agradável. No trajeto, nos sentíamos bem com a beleza do lugar. Há mais verde, campos largos com grama, flores e florestas que nos presenteavam com adoráveis sombras! Luípios em destaque e ao fundo, Nevado Alpamayo. Alguns mochileiros passavam por nós, que estavam bem equipados para alta montanha e tinham intenção de escalar o Alpamayo. ” Buena suerte!” Avistamos os nevados Jancarurish, Quitaraju, (6040 m.), Pucahirca, Rinrihirca, e aos poucos foi se revelando uma enooorme barreira de montanhas. Conforme nos aproximando dos nevados reparamos que havia pontos pretos na neve, que se moviam de lugar. Zoom máximo na câmera e conseguimos observar alpinistas subindo o nevado Alpamayo, na rota Quitaraju Trek. Comentamos sobre a dificuldade, a coragem e a determinação de fazer uma aventura dessas. Subir estas montanhas nevadas deve ser incrível, porém não são nada fáceis, exigem muita força e técnica. Descobrimos o quão sofrido é fazer alta montanha, pois na tentativa anterior ao nevado pisco e o Cume do Diablo Mudo em Huayhuash, que fizemos não foi nada fácil. Sem dúvidas o Alpamayo e as montanhas nevadas desse local é nível hard. Alpinistas escalando o nevado Alpamayo! Foi um belo registro. Depois da subida havia uma parte plana, onde paramos para contemplar a estonteante paisagem. De um lado se via Artesonraju – e do outro o imponente Alpamayo junto de uma extensa escarpa de montanhas nevadas IMPRESSIONANTES! Este local “secreto” sem dúvidas foi o ponto mais emocionante destes dias em Santa Cruz. Nevado Artesonranju, a montanha piramide. Impressionantes formações rochosas, confesso que ficamos na vontade em tentar subir um destes nevados! Porém só de olhar a inclinação das subidas já nos cansava! Á direita: Quitaraju e à esquerda Alpamayo. Continuamos a caminhada até ponto de acampamento, próximo dali também havia um refúgio, onde geralmente ficam os grupos alpinistas que tentam ascensão a montanha. Fomos conhecer e havia um peruano que estava esperando uma equipe de 3 alpinistas contando com 1 guia que tinham subido ao Alpamayo de madrugada, eram os “pontos” que avistamos na neve durante a manhã ( registrado na foto acima) . Em baixo de uma árvore, um pequena parada para descanso. Montamos a barraca numa área mais reservada e partimos para outra caminhada, desta vez sem o peso das mochilas até uma laguna que ficava aos 4.420m, próximo dali. Nosso acampamento, e o base camp Alpamayo (ao fundo) Encontramos uma enorme pedra, onde havia fotos e homenagens dos escaladores que faleceram tentando escalar esse nevado. Lembranças dos escaladores que perderam a vista nestas montanhas Ficamos imaginando a rica e antiga história de montanhismo deste lugar e a experiência dos tantos aventureiros que passaram por aqui. Nesse dia caminhamos 4 km e tivemos 500m de subida para chegar ao Camping por volta das 12h. Após o lanche, subimos sem mochila a Laguna Arhuaycocha, que levou em torno de 3 horas ida e volta num ritmo bem tranquilo e com bastante tempo para fotos e videos. Esta Laguna é de uma beleza extrema com o glaciar vindo do Pucajirca Sur (6040m) e do Ririjirca(5810m) que seguiam a formar a laguna de degelo, onde o gelo realmente tocava a água. Valeu a pena chegar aqui! Decidimos explorar um pouco mais e antes vimos nos mapas que havia um mirador à direita, seguimos o aclive e contemplamos a melhor vista para as montanhas nevadas e a laguna. Um dos dias mais bonitos da travessia. Laguna arhuaycocha e nevado Taulliraju Visual impressionante,o vento soprava forte final de tarde. No mirador da Laguna Arhuaycocha, locais incríveis! Na chegada fizemos um café para espantar o frio que chegava com o pôr do sol! Logo fizemos o jantar e fomos deitar um pouco com o avanço da barraca aberto para desfrutar da bela noite estrelada. A noite foi extremamente fria, chegamos aos -7 graus, mas nossa barraca, isolante e saco de dormir aguentaram bem e nos mantiveram aquecidos e confortáveis. Nossa sala de jantar! Enquanto jantávamos vimos a lua saindo por trás da montanha, cena mágica que ficou gravada em nossa memória! Dia 4 – Rumo ao passo Punta Union 30 de agosto de 2018 Saímos da barraca de madrugada para ir ao “baño” e vimos que havia com uma camada de gelo no sobreteto. Ficar fora com pouca roupa era impossível, as mãos e pés doíam de frio sem luvas ou proteção extra ( não queria colocar, luvas, jaquetas e bota para sair rapidinho) , o jeito era ficar na barraca quentinha até o sol sair e “desencarangar” para poder começar a o café da manhã e desmontar acampamento. Nossa barraca num amanhecer gelado na cordillera blanca Base camp Alpamayo e o brilho do gelo em nossa barraca.Valeu a pena sair cedo só para ver o sol tocando as montanhas! Nesse dia por conta do frio, voltamos para barraca e ficamos até pouco mais tarde, tomando um café da manhã, admirando a paisagem, e se preparando para o dia que viria. Pucahirca sur, visto de nossa barraca no amanhecer Saímos um pouco tarde, por volta das 9h estávamos prontos com a mochila montada para baixar, e depois subir. Nosso objetivo neste dia foi atravessar o passo Punta Union. Descendo de 4.400m aos. 4.000m e depois subir novamente até os 4.700m. Este dia prometia ser o mais difícil da travessia. Rota de colisão 😮 Devido a altitude da montanha o som dos aviões era bastante perceptível. Seguimos baixando e pegamos um atalho que nos fez evitar uns 100m de subida, e seguimos pelo ultimo grande platô, descampado, antes do grande passo de montanha. Vista para o vale em que viemos subindo nos últimos dias, o passo fica atrás. Durante a primeira baixada uma grande butuca nos seguia. Comemos bolachas e doces durante o caminho. Por causa dos restos que ainda colavam levemente entre os dedos da mãos, a espertinha nos incomodou por um longo trajeto com seu zunidos e seus ataques surpresa em volta de nosso chapéu. A subida que era quase plana, se tornava mais ingrime. Com quase nenhuma fonte de água ou sombra, já estávamos exaustos por conta do calor e sol forte. Baixamos a cabeça e seguimos devagar e sempre, rumo ao passo Punta Union, o gatorade de 750ml que guardamos para este dia foi realmente muito útil! Nessas condições é importante ter muito liquido a disposição para beber, e só água não saciava a sede, precisávamos de açúcar no sangue. No inicio da subida ao Passo Santa Cruz, esta foi a única “sombra” que achamos. Seguimos subindo a montanha e aos poucos a paisagem ia mudando, ficando cada vez mais bonita conforme ganhávamos altitude. Na metade do caminho era possível avistar a laguna Taullicocha, água azul turquesa do degelo das montanhas nevadas ao redor. Parada para descanso admirando a Laguna Taullicocha Subindo o Passo Punta Union: Depois de uma intensa subida, acima dos 4.500m o soroche começou a aparecer mais forte, a mochila parecia que pesava mais, o único jeito era continuar numa passada bem lenta, um passo de cada vez! Subindo… Este foi o dia em que encontramos mais pessoas na trilha, os dias anteriores vimos poucas pessoas, mas no caminho ao punta Union encontramos vários grupos, todos com guias e arrieiros levando suas bagagens. Encontramos apenas outro casal de mochileiros descendo e também uma senhora de 74 anos, que nos surpreendeu pela sua força e resistência! Subindo o passo Punta Union! Também encontramos um “guia” estrangeiro, desesperado, que estava procurando 2 pessoas que desapareceram de seu grupo, esperamos que tenham sido encontradas! Apesar do caminho ser bem marcado, boa visibilidade e até sinalizado, as pessoas que não estão acostumadas a se orientar na montanha podem se perder facilmente aqui. Finalmente! Alcançamos o passo punta Union as 17:04hrs! visual incrível! Não pudemos ficar muito tempo no passo, pois já estava tarde e ainda tínhamos que descer, e encontrar um lugar para acampar, e o gps marcava que o prox. acampamento estava a cerca de 7km dali, então começamos a baixar do outro lado do passo, apenas descidas, muito mais fácil agora! Baixando, já no outro lado do passo! baixar é só alegria Gostaríamos de ter tido mais tempo para explorar este local, seguindo por esta crista até onde começa o glaciar, quem sabe numa próxima… Imagem aérea do caminho que fizemos, viemos da esquerda, subimos e descemos a esquerda Na imagem abaixo a passagem para o outro lado do Passo Punta Union. Chegada ao Passo Punta Union! O caminho ficou cada vez mais longe e já estava ficando noite, descemos o máximo que conseguimos, até o anoitecer. Descemos 5km, até os 4.000 metros onde finalmente encontramos um gramado plano que serviria de acampamento. Decidimos ficar por ali mesmo próximo à um riacho, dormir com o barulhinho da água e tendo água próxima para nosso uso. Quando montamos a barraca começou a aparecer vários mosquitos. Mal deixei a porta da barraca aberta já tinha vários dentro também. Tivemos que fazer um fogo para poder espanta-los e fazer o jantar ali fora. Fomos dormir defumados. À noite, já deitados, vimos uma luz vindo em nossa direção, ficamos um pouco apreensivos, mas ficamos dentro da barraca camuflada com árvores ao lado da trilha. Mais tarde quando estava mais tranquilo, olhamos em volta e havia algumas vaquinhas que pastavam e mais abaixo uma barraca. A luz eram de outros mochileiros que também resolveram acampar próximos dali. Combinamos de acordar cedo no próximo dia, para caminhar até Vaqueria, local onde conseguiríamos o transporte para retornar a civilização! Dia 5 – Passo Punta Union – Vaqueria 31 de agosto de 2018 No outro dia acordamos super cedo e assim que tomamos café e desmontamos rapidamente o acampamento, continuamos na trilha morro abaixo, sempre descendo, apressando o passo. As 9:14h chegamos no ponto de acampamento oficial, onde deveríamos ter chego ontem. Chegando no posto de controle tivemos que apresentar os tickets de acesso, que havíamos comprado préviamente em Huaraz, caso não tivesse poderia ser adquirido na hora, pelo valor de 60 soles p/ pessoa. As 9:30h chegamos ao posto de controle Ai fomos informados que faltavam mais 7km para chegar a Vaqueria, e que teria onibus até as 15Hrs. Os primeiros indícios de civilização começaram a aparecer quando chegamos ao pequeno pueblo de Huaripampa, um local bem simples de casas feitas com tijolos de barro. Chegada ao Pueblo Huaripampa! Algumas crianças que estavam por ali vieram correndo em nossa direção, falando ”galletas, galletas!” Já estavam acostumados a ganhar um lanchinho dos mochileiros que passavam por ali. Logo após um senhor de idade avançada, com o rosto marcado por uma vida sofrida nos pede algo para comer ou beber porque estava com muita” hambre e sede”. A unica coisa que tínhamos na mochila era uma ”marmelada de frutijja” (geleia de morango) e ”ojas de coca”’e pouca água, doamos toda a comida que tinha sobrada da travessia ao senhor. Era um local precário e com muita pobreza. Em muitas regiões do peru as casas são feitas com tijolos artesanais Seguimos até uma quitanda, tomamos uma cerveja quente e comemos bananas. Conversamos com 2 campesinas que nos informou que poderia chamar um taxi para nos levar até Vaqueria por 60 soles. Valor para ”’gringo”. Quitanda, em Huaripampa A proposta foi tentadora mas seguimos caminhando debaixo do sol forte. Eu Vanesssa já estava com dor no pé, pois havia aparecido bolhas que estavam me incomodando, porém isso não podia me afetar pois tinha que continuar, caso contrário, não iriamos conseguir pegar o colectivo a tempo. No caminho ainda fomos surpreendidos com uma forte subida, talvez porque estávamos cansados, ela parecia muito maior! Nossa sorte é que tinha bastante arvores e sombras no caminho! Depois de uma longa subida, finalmente em Vaqueria, esperávamos um pequeno pueblo, mas na verdade era quase como um ponto de ônibus, a beira da estrada com algumas vendas. Pueblo de Yanama – Vaqueria Chegando em Vaqueria, paramos em uma tenda simples e uma campesina estava lavando roupa em uma bacia. Parou para nos atender e perguntei se não havia sopa e ela prontamente disse que sim e que iria fazer para mim por 5 soles, pedimos uma cerveja para comemorar a chegada! Final da caminhada Ótimo, chegamos próximo do meio dia, com muita fome e o primeiro colectivo só chegaria às 14h. Durante o almoço a campesina também se sentou com a gente para almoçar e nos contou sobre a sua pousada que ficava a uns 100 m dali. Conversamos com algumas crianças que estavam ali também esperando o colectivo. Passaram 3 vans lotadas de gente, e não teria condições de irmos junto por falta de espaço para nós e as mochilas, e ficamos por ali matando tempo à espera no ônibus. Quando já estávamos ficando preocupados, finalmente por volta das 16hrs apareceu um ônibus grande, que nos levaria diretamente até Huaraz ( 140km) por meros 50 soles para nós 2, valeu a pena esperar por este busão! E quando achamos que a aventura acabou, o trajeto que fizemos com esse busão foi sensacional e deu até medo! Descendo a montanha Passamos pelas estradas ao lado de penhascos e curvas fechadas, só passava um veiculo por vez. Relaxamos na cadeira tendo as melhores vistas pela janela de todas as montanhas nevadas imponentes na Cordilheira Branca. Subimos um passo de ônibus e descemos do outro lado, passamos em frente ao mesmo local onde entramos para o nevado pisco e laguna 69. Vista da Janela do onibus. Huascarán a esquerda e Huandoy a direita Pense numa estrada insana! Tudo que queríamos naquele momento era uma mountain bike para descer esta serra! <iframe width=”560″ height=”315″ src=”https://www.youtube-nocookie.com/embed/chAmG-bzJt4?rel=0&amp;controls=0&amp;showinfo=0″ frameborder=”0″ allow=”accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture” allowfullscreen></iframe> Do alto do passo, o ônibus fez uma parada, estávamos cara a cara com o nevado Huascarán, o mais alto do Peru e o impressionante macico do Huandoy. Os 2 picos do Nevado Huascarán, Norte e Sul Sensação de desafio completado com sucesso! Saímos estasiados de mais uma espetacular travessia na imersão dos Andes Peruanos. Gratidão a Pachamama! Chegamos a Huaraz por volta das 20hrs, fizemos um lanche no primeiro lugar que encontramos e pegamos um taxi até o hostel para o nosso merecido descanso! Confira o post Original no blog: http://casalnamontanha.com.br/2018/11/10/trekking-santa-cruz/
  12. Fala Mochileirxs, beleza? Podem me ajudar com meu roteiro? Estou planejando uma viagem na América do Sul, entre os dias 04 e 21 de abril (inclusive). Será a minha primeira vez no país. A princípio eu faria Peru-Bolívia (Cusco, Copacabana, Isla del Sol, La Paz e Uyuni), mas pelo tempo disponível eu não poderia nem tentar o Huayna Potosí, então achei melhor conhecer a Bolívia junto com o Atacama num segundo momento. Sou montanhista e sempre busco aventuras nos lugares que viajo, mas também não dispenso o conhecimento histórico e cultural local. Considerando tudo isso, elaborei o roteiro por Cusco, Arequipa, Lima e estou pensando em apertar para conhecer Ica (OBS: não estou pensando em ir a Huaráz dessa vez, pois pretendo fazer circuitos/escaladas demorados em outra ocasião). 04/04 - Chego Cusco 12h/Caminhar pela cidade para aclimatar e fechar tours. 05/04 - Rainbow Mountains 06/04 - Valle Sagrado 07-11/04 - Salkantay Trek 12/04 - City tour/Museus/Feira de Artesanato e Qoricancha 13/04 - Indefinido/Rodoviária 20h (ida a Arequipa) 14/04 - Chegada Arequipa 07h/Citytour 15-16/04 - Valle del Colca Trek/Ida a Ica (tempo suficiente?) 17/04 - Indefinido - Ica ou continuar Arequipa? 18/04 - Indefinido/Ida a Lima 19/04 - Chegada Lima 06h/Centro histórico/Museu Larco 20/04 - San Isidro/Miraflores 21/04 - Museu de Arte de Lima/Barranco (feira após 12h)/Aeroporto 19:00h (vôo de volta 21:40h) Por ora o meu roteiro é esse. Poderiam me ajudar com alguns? - Quantos dias são realmente necessários para conhecer Arequipa/Valle del Colca? - Acham que consigo embargar para Ica no mesmo dia de retorno do Valle del Colca Trek? Se sim, vale passar dois dias por lá? - Sugerem algum local que não foi mencionado acima? Estou aberto a substituições e preciso preencher os lugares "indefinidos". Gratidão a toda ajuda/sugestão. Depois da viagem compartilharei minha planilha de gastos detalhada por aqui. Grande abraço.
  13. Partindo de São Paulo, eu e mais quatro amigos passamos 12 dias nessa viagem, incluindo o trekking do Monte Roraima e os passeios turísticos mais tradicionais de Manaus, entre outros programas mais alternativos que agradam qualquer mochileiro com espírito de aventura. Fizemos tudo da forma mais econômica possível sem comprometer a segurança e o mínimo de conforto, disso saiu um rolê bastante acessível, exótico e simplesmente fantástico. Acompanhe nesse relato dia a dia com todas as informações necessárias pra te ajudar a planejar e aproveitar ao máximo sua viagem e evitar perrengue. Essa foi também a primeira viagem internacional do grupo Trilhando na Faixa, então inscreva-se no canal para ver o vídeo assim que estiver disponível: https://www.youtube.com/channel/UCw7K-Ri4mgpVsG4WIBdIbSg Lembrando que os valores são aproximados e referentes a Julho de 2018, podendo apresentar variações. Os valores discriminados são em despesas essenciais, não esqueça de reservar um pouco do orçamento para uma regalia ou outra que não conste na lista. Bônus para os Veganos: O autor que vos escreve é um também, então acompanhem pra terem informações específicas sobre a alimentação vegana em cada local. Índice de dias (use o Ctrl+F para navegar): Dia 1 – De São Paulo a Manaus a Boa Vista Dia 2 – De Boa Vista a Santa Elena de Uairén Dia 3 – De Santa Elena ao Paratepuy ao Acampamento do Rio Têk Dia 4 – Do Rio Têk ao Acampamento Base Dia 5 – Do Acampamento Base ao Hotel Índio e circuito no topo Dia 6 – Vale dos Cristais Brasileiro, Ponto Tríplice, El Foso e o cume Dia 7 - Do topo ao Rio Têk Dia 8 - Fim do trekking e Gran Sabana Dia 9 - De Santa Elena a Boa Vista, Lethem e Manaus Dia 10 – Manaus, praia da Lua e Mercado Municipal Dia 11 – Rios Negro e Solimões, INPA e bar Dia 12 – Teatro Amazonas e retorno pra São Paulo Antes de mais nada – Preparação O planejamento da viagem foi montado em torno de seu prato principal, o trekking do Monte Roraima, então as outras coisas entraram como um adicional oportuno. Para o trekking em si Juntamos um grupo de 6 pessoas com disponibilidade de duas semanas em Julho para subir o Roraima de forma econômica, nosso plano foi de contratar um guia local e fazer o trekking sem recorrer a porteadores de equipamentos ou serviços de agência. Estando todos habituados a atividades outdoor, não seria problema algum transportar nossas cargueiras ou cozinhar nos acampamentos, então o serviço de que precisaríamos seria o mais básico possível. Procuramos por guias que trabalhassem dessa forma e encontramos algumas boas opções, sempre indo atrás de indicações e comentários sobre cada um. Tendo sido o que prestou melhores esclarecimentos sobre tudo que precisávamos e estando numa faixa de preço bastante razoável, além de ter sido recomendado por uma conhecida, optamos pelo Jesus (WhatsApp: +5804266940599 / +5524992802417 ), contratamos o serviço de guia para uma expedição de 6 dias e um porteador para a estrutura de “banheiro” (mais sobre isso adiante) e transporte de lixo e dejetos, já que o Parque Nacional Canaima exige que se traga de volta isso tudo. Lá não existe levar pazinha e enterrar os dejetos, os porteadores trazem tudo de volta em sacos plásticos grossos com cal. É incluso também o transporte em 4x4 de Santa Elena ao Paratepuy, onde começa a trilha, e a volta. Os guias não cobram por pessoa, mas pelo trekking em si, independentemente do número de participantes. Cada guia pode levar até 6 pessoas. O valor acordado foi de 3000 mil reais, totalizando 500 de cada um de nós. Antes da viagem, uma das pessoas envolvidas precisou desistir da viagem e o custo final foi de 600 por cabeça. Nos oferecemos para pagar parte do valor em equipamentos de camping, já que eles são muito caros e difíceis de conseguir na Venezuela, e Jesus incluiu um passeio em algumas cachoeiras da Gran Sabana no último dia do trekking como uma troca de gentilezas. Todo mundo saiu feliz, rs. Pagamos uma parte do preço antecipadamente para reservar o serviço, o restante seria pago em mãos na véspera da expedição. Mantivemos contato com o guia nos meses antes da viagem para preparamos os equipamentos e afins, partimos da seguinte lista de itens essenciais, que pode ser ajustada de acordo com as necessidades de cada um: É perfeitamente possível reduzir o número de trocas de roupa; uma para o dia e uma para a noite, mais uma de reserva, só é muito importante ter todas as peças para o sistema de aquecimento em camadas e também um bom número meias, se possível utilize as específicas para trilha, são caras mas valem muito a pena para o conforto e saúde dos pés na expedição. Do contrário, improvise um liner colocando uma meia social sob a comum, isso ajuda a reduzir o atrito dos pés com a bota e previne bolhas. Truque simples e funcional. Julho é temporada de chuvas no Roraima, então pra quem vai nessa época é muito importante ter uma barraca resistente a água (o sobreteto sim, mas também o piso, atenção pra isso); roupas impermeáveis; saco estanque para os eletrônicos, saco de dormir e roupas; sacos plásticos para o restante; capa de chuva pra mochila e possivelmente ainda um poncho. IMPORTANTE: Não use barraca que não seja autoportante, no topo do Roraima é bem capaz que ela dê trabalho ou seja simplesmente inútil no chão de pedra e areia dos hotéis (parapeitos rochosos ou pequenas grutas que servem de cobertura natural, provendo locais de acampamento protegidos de chuva e vento). O tempo lá é imprevisível e muda muito rápido por conta dos ventos alísios. Chove com frequência, em geral em baixo volume, mas às vezes a aguaceira pode vir mais forte. Não tem hora pra cair a chuva, as previsões do tempo dão uma ideia do que esperar, mas inevitavelmente vão errar em algum momento. Esteja sempre preparado. Uma boa mochila é essencial para quem vai levar suas próprias coisas, escolha uma que se ajuste bem e fique confortável com o peso, aprenda a regulá-la corretamente de antemão. O uso do bastão de caminhada é opcional, mas é um equipamento extremamente útil para a subida e descida íngreme do Roraima, bem como para a travessia dos rios no caminho e outras possíveis utilidades Leveza é palavra-chave para se equipar, busque dividir barracas e investir em equipamentos leves e compactos, bem como em não levar nada além do que vai ser preciso e suas margens de segurança. Isso vale pra comida também, seja o mais eficiente possível. Dica Vegana: Para as refeições principais, levei 3 pacotes de Carne de soja, arroz integral com lentilha e purê de batatas da LioFoods, cada pacote dá pra duas refeições e apenas o purê não é vegano, basta dá-lo pra algum colega e voilá, dá pra comer até sem água quente, se necessário. Levei também um pacote de sopão de legumes da Kitano, levinho e faz até 8 pratos. Foram 14 refeições potenciais em 1066 gramas, 6 mais encorpadas e 8 mais leves. Para cafés da manhã e lanches, fui de amendoins, paçoca, biscoitos, barrinhas e Rap10 integral. Deram conta muito bem. É importante ter um método de purificar a água. Quando estiver no acampamento é preferível aproveitar a possibilidade de fervê-la, mas no caminho você vai ter de se virar com o cloro (ou um Lifestraw, se você tiver). Eu costumo utilizar o Hidroesteril ao invés do Clorin, é mais barato, fácil de achar e rende mais. É possível também pegar Hidrocloril gratuitamente em postos de saúde. Escolha o que preferir. Não é possível transportar os cartuchos de gás de fogareiro no avião, então reservamos alguns em uma loja em Manaus próxima ao aeroporto, a Apuaú Pesca. Os cartuchos ficaram 20 reais cada. Se sua alimentação não for excessivamente demorada para preparar, só um já dá conta muito bem para uma pessoa. Eu recomendaria levar dois só por garantia, o segundo podendo ser o backup de outro colega também, talvez. O Roraima não é um trekking difícil, mas ir com cargueira é pedreira nos trechos de subida. Não é necessário ser um atleta, mas não é programa pra sedentário, quiçá com porteador pra levar as coisas, mas mesmo assim é melhor adquirir condicionamento e experiência com outras trilhas menos exigentes. É possível para iniciantes, mas é essencial se informar e equipar muito bem, e ter a resiliência pra encarar dificuldades que são de praxe pra quem já tem o costume de travessias e acampamentos. Quanto menos delas forem novidade, mais tranquila será a experiência. Um resgate de helicóptero lá no alto é perfeitamente possível por conta das áreas planas do topo, mas custa uns 6 mil reais, e diferente das agências que já cobram alguns milhares de antemão, ir com guia contratado quer dizer que quem vai arcar com esse custo será você caso precise. Se prepare e se informe antes de ir, a montanha não vai sair de lá se você precisar esperar algum tempo pra conhecê-la. Para o caminho Para fazer o trekking, precisamos ir até Santa Elena do Uairén na Venezuela, cidade fronteiriça com Pacaraima, vizinha da capital roraimense Boa Vista, que conta com um aeroporto, mas para o qual os voos de São Paulo estavam tanto caríssimos quanto muito longos. Acabamos optando por ir por Manaus e pegar um ônibus noturno a Boa Vista, mas na trilha encontramos um casal que conseguiu um preço bom de voo pra lá, então fique de olho pro que for melhor, talvez consiga uma boa promoção. Compramos as passagens de ida e volta antecipadamente pelo Guichê Virtual. De Manaus a Boa Vista o ônibus não lota, dá pra comprar na rodoviária, mas pro caminho de volta é bom comprar com antecedência. Para entrar na Venezuela basta o RG, e o processo é até mais rápido do que com Passaporte, então se não fizer questão do carimbo, pode deixa-lo em casa. Para sair de Santa Elena para o interior da Venezuela, é preciso o Certificado Internacional de Vacinação contra febre amarela. Você vai precisar disso se por acaso for parado num posto de controle na estrada. Não precisamos apresentar o documento em nenhum momento, mas é bom tê-lo em mãos pra evitar problemas, é fácil, rápido e gratuito solicitá-lo, então não tem desculpa. Já deixamos feita nossa reserva para a hospedagem em Santa Elena, na Posada L’Auberge, lugar seguro e confortável com chuveiro quente, camas limpas, ar condicionado e wi-fi, todo o necessário para uma boa noite de descanso. O preço ficou bem em conta e a pousada está localizada no coração da área turística da cidade, próxima a bons restaurantes. O único ponto negativo é a parca iluminação em alguns quartos, que nos fez tirar as lanternas da mochila antes mesmo do trekking, mas só isso. Dito isso, vamos ao dia a dia da viagem. Custos na preparação: R$ 3000 pelo Guia, valor divisível em até 6 pessoas; R$ Variável de alimentação e equipamentos pro trekking; R$ Variável de transporte aéreo; R$ 367 nas passagens de ônibus Manaus-Boa Vista e retorno (compradas via Guichê Virtual); R$ 20 por cada cartucho de gás em Manaus (a quantidade a levar vai da preferência de cada um); R$ 40 de reserva de diária na hospedagem em Santa Elena, valor aproximado, varia de acordo com o quarto. Dia 1 – De São Paulo a Manaus a Boa Vista No primeiro dia pegamos nosso voo de São Paulo a Manaus pela manhã, chegamos a nosso destino na hora do almoço e fomos recebidos pelo contraste do bafo quente do clima manawara com a temperatura amena do ar condicionado do avião. Entramos logo num Uber para irmos comprar os cartuchos de gás que havíamos reservado. O próximo destino foi a rodoviária, onde retiramos nossas passagens para o ônibus a Boa Vista. Deixamos as cargueiras no guarda-volumes da rodoviária e partimos a pé para um Carrefour que fica lá pertinho, para pegar o resto dos mantimentos que faltavam pro trekking e também para beliscar na viagem de ônibus. É bom não deixar pra comprar nada em Boa Vista ou Santa Elena, se possível, já que não há muitas opções no caminho, e definitivamente nenhuma com tanta variedade quanto esse Carrefour. Dentro do supermercado há um caixa Itaú, já retiramos o dinheiro para a Venezuela lá mesmo, mas há caixas eletrônicos 24 Horas tanto na rodoviária de Manaus quanto na de Boa Vista. Fica a gosto do freguês onde fazer o saque. Depois disso, fomos passar o resto da tarde no Amazonas Shopping, boa opção próxima à rodoviária para fazer hora antes do horário do ônibus. Jogamos uma partida de airsoft e comemos na modesta praça de alimentação. Dica vegana: Foi aqui que eu já tive o primeiro indício de que Manaus não é lá muito fácil pra vegano, não tinha nada no cardápio de nenhum dos restaurantes que fosse livre de produtos de origem animal. Pedi pra adaptar um prato no Alemã Gourmet e foram bastante solícitos, aceitaram substituir os ingredientes animais por outros vegetais sem custos a mais nem nada. Foi uma boa opção considerando custo, também. No fim da tarde voltamos pra rodoviária pra esperar o horário do ônibus. Pra quem suar demais sob o sol manawara, lá há a opção de pagar um valor módico para tomar um banho. Próximo a uma das paredes há tomadas para carregar o celular. O ônibus partiu às 20h para chegar em torno de 6h30 no destino. O semi-leito já é confortável por si só, mas ele partiu com tão pouca lotação que foi possível que quase todo mundo tivesse duas poltronas lado a lado para si, permitindo deitar de forma muito mais à vontade do que o normal, o que foi ótimo. A TV do ônibus saiu de Manaus exibindo uma novela da Globo e depois um filme de ação genérico. O veículo contava com wi-fi, mas este só funcionou até sair da cidade, depois disso ficamos sem sinal com o mundo exterior. A estrada a Boa Vista é bem cuidada, é uma viagem bastante tranquila por entre vegetação densa pontilhada por alguns pontos de luz que despertam a curiosidade de o que seriam. Eu não sabia o que esperar da parada, definitivamente não um Graal como os das rodovias de São Paulo, mas fiquei surpreso com o quão modesta era a lanchonete escolhida. Apenas o básico do básico, então é bom estocar o necessário em Manaus mesmo. Foi engraçado reparar que, apesar de estarmos no meio da madrugada numa cidade minúscula na Amazônia, a algumas quadras dali rolava um estrondoso pancadão de funk. Acho que algumas coisas são as mesmas em todos os lugares, rs. Dia 2 – De Boa Vista a Santa Elena de Uairén Chegamos em Boa Vista bem cedo de manhã. A rodoviária de lá é um pouco melhor do que a de Manaus, mas não tem nada em volta dela. Para ir a Santa Elena de Uairén há táxis que vão até a fronteira e voltam, eles ficam numa outra rodoviária lá perto, basta tomar um táxi comum até lá que não deve passar de 10 reais. Nessa outra rodoviária, é possível aguardar até o carro pra Santa Elena encher para dividir o valor entre mais pessoas. Conseguimos ir os 5 em um carro só, de 7 lugares, os espaços restantes ficaram para as cargueiras. 50 reais por pessoa. Há ônibus que vão e voltam da fronteira também, mas não vale tanto a pena pelos horários. A estrada de Boa Vista até Santa Elena, passando pela última cidade brasileira antes da fronteira, Pacaraima, é uma linha reta cortando plantações perfeitamente planas. Não há nada pra ver na estrada, o caminho leva pouco mais de duas horas, é o momento perfeito pra tentar dormir um pouco e encurtar a percepção do percurso. A entrada na Venezuela é bem rápida e tranquila, basta passar pelo posto da polícia federal, responder algumas perguntas de identificação e retirar seu Permiso de entrada. Você vai precisar apresentá-lo na hora de voltar pro Brasil, guarde-o seguramente. Verifique se seu taxista pode te deixar em sua hospedagem em Santa Elena, é uma opção bem conveniente se ele concordar. Se preferir, já aproveite pra agendar a volta também, mais uma vez verificando se é possível partir já da porta do hotel. Muito mais prático do que pegar outro táxi até a fronteira, mesmo se ficar um pouquinho mais caro. Chegamos ao L’auberge no começo da tarde e nos hospedamos, já fazendo agora a reserva para o dia do retorno do trekking. Jesus já se encontrou conosco lá mesmo, onde também havia se hospedado, e deu breves explicações sobre o percurso do trekking e sobre Santa Elena, o briefing de verdade seria à noite. Feito isso, nos convidou para ir almoçar nas redondezas e já aproveitar pra trocar o dinheiro. Comemos em um restaurante bem simples lá perto, com poucas opções. Fiquei só no arroz e macarrão mesmo, e estranhei um pouco este porque os venezuelanos parecem utilizar um molho de tomate muito mais doce do que o nosso. Percebi também que todos os pratos vieram excepcionalmente bem servidos, nenhum de nós conseguiu terminar de comer tudo. Muita comida é uma constante lá na Venezuela, então vá com a barriga preparada para fartas refeições, rs. Experimentamos uma bebida popular de malte, o Maltín, é bem gostoso, vale a pena conhecer. Pagamos em reais, coisa de 15 por pessoa. O câmbio do dinheiro é totalmente informal e complicadíssimo a primeira vista pelos valores estratosféricos em bolívares. Andamos pelas ruas buscando a melhor conversão entre os vários cambistas nas esquinas e em frente às lojas. O melhor que conseguimos foi 1:175k. Troquei 100 reais e foi o suficiente pra tudo que precisei pagar em bolívares, incluindo lembranças pra trazer pra casa, mas as coisas são bastante instáveis por lá no que se refere a dinheiro, o que se paga em duas cervejas comuns em Santa Elena é o valor de um almoço inteiro com bebida numa comunidade indígena na Gran Sabana. Sobre o câmbio, esse foi um bom valor para a conversão na rua, mas para moradores com contas em bancos venezuelanos há a possibilidade de conversão por transferência bancária, em que é possível trocar a 1:800k. A maioria das lojas e restaurantes em Santa Elena aceita pagamento em reais, e geralmente o faz a taxas bem acima de 1:175k, então o recomendável é deixar os bolívares para as comunidades indígenas na Gran Sabana e pagar o que for possível em reais. Mesmo nelas há frequentemente a possibilidade de pagar em reais, e parece até preferível por parte dos moradores, então talvez nem seja necessário trocar o dinheiro, mas é bom ter um pouco de bolívares só pra garantir. Minha impressão foi de que o bolívar está tanto quanto fora de controle, a inflação fez com que ficasse bastante instável a ponto de até mesmo dentro do parque nacional o guarda-parque me informar que só poderia comprar um mapa do Tepuy Roraima pagando em reais. Não deixa de ser uma experiência divertida, porém, ter nas mãos aquelas pilhas enormes de notas para travar uma guerra com os amigos ou fazer chover dinheiro. Não é sempre que a gente pode se sentir tão ryco, afinal, rs. Depois do almoço e de uma volta pra conhecer um pouco de Santa Elena, voltamos à pousada pra deixar tudo arrumado pra partida no dia seguinte. Repousamos até a noite quando saímos novamente com Jesus, seu irmão Randy e o sr. Leotério, que também iriam conosco no trekking, para um jantar no Papa Oso Pub, uma pizzaria bacaníssima a uns 5 minutos de lá. Dica vegana: Em Santa Elena também não encontrei opções veganas nos cardápios, mas foi tranquilo de adaptar, pedi uma pizza sem o queijo e ela veio muito melhor do que qualquer uma que já comi no Brasil desse jeito. A culinária venezuelana é muito rica em variedades vegetais e as usa de forma bem inventiva, então lá é um ótimo lugar pra ser vegano, eu diria. Eu pelo menos consegui comer muito bem. Comemos pizzas artesanais absolutamente deliciosas e tomamos uma cerveja local popular, Zulia, mais suave do que as brasileiras e bem saborosa, gostei bastante. Aparentemente os venezuelanos gostam muito da nossa Itaipava, que é pra eles como uma Stella ou algo do tipo é pra nós, fato interessante. A conta ficou bem alta em bolívares, mas em reais a coisa mudou de figura, foi um preço baixíssimo considerando o naipe da refeição. 138 reais numa refeição espetacular para 8 pessoas. Voltamos pra pousada, deixamos na recepção algumas bolsas com coisas que não usaríamos no trekking e fomos dormir cedo pra partir ao amanhecer para o trekking. Custos no dia 2 R$ 10 de transporte de uma rodoviária a outra em Boa Vista, divisível por 4 pessoas; R$ 50 de transporte de Boa Vista a Santa Elena de Uairén; R$ 40 de reserva de diária na hospedagem em Santa Elena para o dia do retorno, valor aproximado, varia de acordo com o quarto; R$ 15 de almoço; R$ Variável de câmbio de reais a bolívares; R$ 20 reais de jantar; Dia 3 – De Santa Elena ao Paratepuy ao Acampamento do Rio Têk Sair com o nascer do sol não foi bem o que aconteceu, porém. Explico: Abastecer o carro em Santa Elena é uma tarefa demorada. Demorada tipo umas 12 horas numa fila gigante em que as pessoas deixam seus carros à noite e vão pra casa dormir pra abastecerem de manhã quando o posto abre. É uma coisa realmente impressionante, e bem inconveniente quando você tem hora pra sair. Íamos partir com a luz do sol, acabamos saindo umas quatro horas depois, que foi quando nosso motorista conseguiu encher o tanque. Os veículos que fazem esse serviço são, como já nos havia sido dito, rústicos. Um 4x4 antigo com uma gambiarra aqui e outra alí, várias marcas de uso e idade, e música animada tocando a todo volume, várias vezes versões modificadas de músicas populares do funk ou sertanejo brasileiros. É uma experiência veicular divertidíssima. Um dos nossos teve uma situação de saúde que, apesar de não ser grave, seria impeditiva para fazer o trekking. Depois de muita deliberação, conjectura, replanejamento e insistência, Jesus chamou um táxi para deixá-lo seguramente na fronteira, donde voltou a Boa Vista, e nós quatro restantes partimos para o parque, com pesar pelo companheiro. Enfim, embarcamos tardiamente com Jesus, Randy, Leotério e os pais de Jesus, que foram junto porque a mãe, de origem indígena, daria um voto de confiança para nosso grupo frente aos que regulam a subida ao Paratepuy e entrada na trilha do Monte Roraima. Só um método de agilizar o processo. Os pais de Jesus também foram extremamente simpáticos conosco, foi uma reunião familiar bem agradável de participar, rs. No processo de obter as autorizações necessárias, já deixamos reservado e pago nosso almoço na comunidade indígena do Kumarakapuy, por onde passaríamos antes de ir ao passeio da Gran Sabana alguns dias depois. 2 milhões de bolívares com bebida inclusa, pouco mais de 10 reais. 27 km de estrada de terra acidentada depois, estávamos no Paratepuy. Lá foi o momento de assinar a ficha de entrada no parque e ter nossas bagagens revistadas brevemente por itens ilegais. Coisa rápida, só foram bastante enfáticos quanto à proibição de entrada de drones. O mesmo senhor que coleta as assinaturas e faz a vistoria vende mapas do Monte Roraima ao valor de 25 reais cada, é um preço um pouco salgado, mas é um item bem feito e informativo, pra mim valeu a pena como recordação. Por volta de 14h, horário limite de entrada na trilha, começamos o trekking, esse primeiro dia é tranquilo, um pouco de subidas e descidas, mas o perfil altitudinal do percurso é praticamente plano ao longo de seus 14 km. O que dificultou foi a má fortuna de sermos pegos numa chuva relativamente forte, e de ter chovido bastante no dia anterior também. Sacamos roupas impermeáveis e capas, até aí tudo bem, o problema de verdade foram os rios, que sobem bastante com as chuvas. Mais de uma vez tivemos que parar para esperar a água baixar no que seriam travessias triviais sobre pontes ou pedras. O resultado foi que já nesse dia tivemos que meter o pé na água. Adeus a pés secos pelo resto do trekking. Fora isso, esse primeiro dia é muito tranquilo, chegamos a nosso destino em torno de 17h30. O acampamento do Rio Têk conta com casas de pau a pique que os indígenas usam como espaços de comércio para os trilheiros durante a alta temporada. Não é o caso em Julho, mas podemos usar a cobertura para deixar as coisas, cozinhar e comer, garantindo um pouco de conforto. Para montar a barraca, há espaços de grama alta que podem servir como um colchão relativamente macio. Alguns cachorros ficam por lá de olho na comida que podem conseguir dos trilheiros, dê uns pedaços pra eles, rs. No acampamento do Rio Têk é muito importante tomar cuidado com a fauna, há alguns formigueiros no local e, na época de chuvas, é comum avistar cascavéis. Uma delas inclusive deu uma volta por perto de nossa barraca durante a noite. Eu estava dormindo profundamente, mas meu colega ouviu movimento na grama e no dia seguinte uma testemunha ocular confirmou, hahaha, então aplicam-se os cuidados de verificar suas coisas fora da barraca antes de mexer nelas, e evitar de andar sem botas. É lá que você vai ter seu primeiro encontro com os puri-puri também, mosquitos minúsculos e extremamente irritantes que vem em horda e mordem em qualquer lugar desprotegido, deixando marcas cabulosas. Ainda ostento algumas nos braços duas semanas depois do trekking, rs. Provavelmente o seu não será o único grupo acampando lá, então se estiver se sentindo sociável, deve ter uma galera diferente pra conversar. Nesse primeiro dia compartilhamos a mesa com um casal de brasileiros. Ele, fotógrafo, não colocou suas câmeras em sacos estanque e uma delas acabou totalmente encharcada na chuva, um prejuízo de dar dó, então é bom ter muito cuidado com o que não pode molhar. No dia seguinte cedi alguns sacos plásticos pra eles protegerem um pouquinho melhor as coisas. Uma dica que eu dou é a de levar um rolinho de sacos de lixo com a litragem que você achar mais adequada, eu levei de 15L. É sempre bom ter esse recurso em abundância, alguém sempre acaba precisando. Custos no dia 3 R$ 15 de reserva de almoço com bebida inclusa no Kumarakapuy, pago em bolívares, valor aproximado; R$ 25 de mapa do Monte Roraima, opcional. Dia 4 – Do Rio Têk ao Acampamento Base Despertamos com o sol no segundo dia de trekking e tomamos um café da manhã reforçado, a trilha hoje seria um pouco mais dura pelo ganho de altitude. Jesus compartilhou um pouco da culinária local conosco: pão com uma pimenta tradicional indígena; domplins, que são como pasteizinhos; e apenas uma beiçada para cada de um fermentado indígena de batata doce, bebida com sabor bem peculiar mas que não pudemos tomar muito pois ela tem histórico de mexer com o intestino de quem não está acostumado, rs. Acordamos cedo, mas tardamos a sair, aguardando o nível do rio Têk baixar. Não era ele o problema maior, explicou Jesus, mas logo depois teríamos que cruzar também o Kukenán, mais largo e bravo. O Têk serviu como uma espécie de diagnóstico para quando o Kukenán fosse estar transponível, desse modo. Enquanto esperávamos, tivemos vista limpa do Roraima e do tepuy vizinho, chamado Kukenán também, igual ao rio. A vista para ele é melhor do que para o Roraima, provavelmente a maioria das fotos que você já viu do Acampamento do Rio Têk com uma montanha no fundo eram dele. E é lindíssimo. Saímos às 9h e atravessamos o Têk para iniciar a caminhada de 9 km até o acampamento base. Poderíamos ter tirado as botas para atravessar, mas como já estavam molhadas mesmo, não ia fazer muita diferença. Entre o Têk e o Kukenán, há uma colina com uma pequena igreja construída com pedras do rio, e perto dali há rochas com inscrições antigas em relevo, litóglifos, representando animais e pessoas. Duas vistas muito interessantes para os curiosos com o aspecto humano em torno desse território. Atravessar o Kukenán realmente foi um pouco mais pedreira, a travessia é feita onde um afluente se junta a ele, o que resulta numa distância relativamente longa a ser percorrida de uma margem a outra. O bastão de caminhada é item essencial aqui, se você não tiver um seu, provavelmente usará um emprestado do guia. Do outro lado, paramos por uns 20 minutos para entrar na água num ponto em que ela é mais lenta, ótimo lugar para banho. Afastando-se um pouco da margem já se chega ao acampamento Kukenán, também com estruturas de pau a pique. Pareceu tão confortável quanto o acampamento do Rio Têk. A partir daí é só subida, subida e mais subida. É cansativo com a cargueira, sobretudo se o sol forte da savana abrir por entre as nuvens, mas dá pra ir tranquilo. Paramos no meio do caminho, no Acampamento Militar – este apenas uma área aberta no meio da vegetação – para um lanche. Tivemos aqui nosso segundo (e felizmente último) encontro com uma cascavel, que estava camuflada entre as rochas bem perto de onde nos sentamos. Cuidado. Vimos também diversos lagartos, grilos enormes, e os malditos dos puri-puri, rs. Mais uma pernada de subida em subida e chegamos ao Acampamento Base no meio da tarde, uma ampla área para montar barracas, com água bem perto. Nele não há as estruturas que há no Têk e Kukenán, mas os guias costumam estender lonas presas a árvores para permitir que se cozinhe e coma a abrigo da chuva. Há muitos pássaros diferentes e bonitos nessa área, e encontramos uma amoreira com alguns frutos silvestres dando sopa. Ainda não estavam maduros, mas nada que prejudicasse a experiência de poder comer alguma coisa fresca por entre nosso cardápio de industrializados, rs. Quando caiu a noite, tivemos ainda a boa fortuna de ter céu limpo. Tão longe da cidade, é claro que estava completamente estrelado e magnífico, a ponto de avistarmos diversas estrelas cadentes passando. O Acampamento Base é um lugar belíssimo, em suma, e estar tão perto da parede do Roraima, com toda aquela expectativa para o dia seguinte, só fez aumentar a apreciação. Foi uma ótima noite. Dia 5 – Do Acampamento Base ao Hotel Índio e circuito no topo Esse seria um grande dia. Acordamos bem cedo para nos preparar, Leotério mais cedo ainda, já que subiu antes para garantir nosso lugar de acampamento lá em cima. Jesus optou pelo Hotel Índio, mais próximo do acesso ao topo, mas bem pequeno, então seria preciso essa segurança, já que outros grupos iriam subir no mesmo dia. Conforme nos foi dito, os guias e porteadores tem uma organização tácita entre si para levar coisas de volta desde o Acampamento Base até o Paratepuy, e por isso poderíamos, sem precisar desembolsar nada, deixar pra trás algumas coisas que não iríamos utilizar no topo, e as pegaríamos de volta quando retornássemos à comunidade. Essa foi a hora de separar o essencial da tranqueira, a subida até o topo é íngreme e longa, quanto menos peso melhor. Tendo removido tudo que não seria preciso, iniciamos o percurso, que adentra em mata mais fechada e vai se aproximando do paredão. Mesmo com a vegetação mais densa, é uma trilha bem aberta, sem dificuldades. Só exige uso de mãos em alguns poucos trechos de escalaminhada, mas nada complicado. Logo se chega à parede do Roraima e aí se pega o único caminho conhecido para o topo que não exige escalada em Big Wall, a famosa La Rampa. Sem surpresa, é uma subida constante rumo ao topo, sem muito a se dizer aqui. O ponto digno de nota é logo antes da chegada ao topo, trata-se do Paso de Lagrimas, uma pirambeira em pedras soltas sob uma cascata semipermanente, é o trecho mais complicado do percurso, e onde é preciso ter mais atenção para evitar acidentes, sobretudo na época chuvosa, quando a queda de água está mais forte. Ênfase em forte, proteger bem seus equipamentos contra a água é muito importante, pois apesar de ser um trecho curto, molha bastante, e não dá pra se dar ao luxo de atravessar com pressa. Passado o crux do caminho, chega-se em pouco tempo ao topo do Monte Roraima, um momento bastante emocionante. O topo mostra desde cedo suas características únicas e justifica seu apelido frequente de “O Mundo Perdido”, as formações geológicas são impressionantes e a vida expõe toda sua gana de se manter num ambiente tão estéril. A água, a rocha e o vento desenham formatos que não existem em qualquer outro lugar do mundo, e é espetacular não por se parecer com algo fora da Terra, mas justamente pelo quão terreno é, pelo tanto que diz de inacreditável sobre os processos que o planeta e a vida enfrentam há milhões de anos. Imagino que para geógrafos, geólogos, biólogos e afins, aqueles que saibam realmente ler essas marcas, a experiência seja ainda mais fantástica, mas o leigo não perde nada no quão marcante ela é. Enfim, andamos mais alguns minutos do acesso ao topo até o Hotel Índio, montamos nosso acampamento sob a proteção da cobertura rochosa e partimos ávidos para conhecer mais do Tepuy. Partimos sob chuva e vento fortes, mas aliviados por estarmos caminhando leves. Nesse dia faríamos um circuito nas proximidades, começamos pelo Vale dos Cristais do lado venezuelano, um local onde cristais de quartzo cobrem o chão. Quartzos podem não ser lá tão impressionantes por si só, mas a mera quantidade deles torna a vista lindíssima. Seguimos para ver algumas das Ventanas, áreas próximas ao abismo de onde se pode ver o Kukenán e outras faces do Roraima. As nuvens densas do topo não ajudaram muito, mas por entre as curtas aberturas no branco tivemos visões maravilhosas, a mais marcante para mim sendo quatro cachoeiras lado a lado num ponto longínquo do Roraima. Vimos também o Salto Catedral, uma grande cachoeira lá no alto do Roraima, na qual é possível banhar-se dado um clima favorável. Ainda assim, não seria um local tão bom quanto as famosas jacuzzis, pequenas piscinas naturais de água tão cristalina que mal se vê onde ela começa nas margens mais rasas, e com o fundo coberto de quartzos. Não há descrição que faça jus a elas. Depois disso seguimos para a parede sul do Tepuy, onde adentramos na Cueva de los Guácharos, uma caverna que corre por vários quilômetros até acabar num buraco no paredão. Claro que só entramos por algumas dezenas de metros, para ver as formações geológicas. Cavernas são sempre lugares interessantíssimos, quase alienígenas, e essa não foi diferente, é um ponto muito bacana pra se visitar. Pertinho, há um mirante, do qual não conseguimos ver nada, e outro hotel, esse bem maior, ocupado pela turma de uma agência de Boa Vista. Voltamos a nosso acampamento e jantamos muito confortavelmente num patamar superior do hotel Índio, que forma como se fosse uma mesa onde podemos colocar o fogareiro e as panelas, e uma suave curva na parede onde se pode sentar. É como se tivesse sido esculpido. Durante a noite fez bastante frio, tivemos que recorrer a toda gama de roupas para ficarmos aquecidos. Senti que meu isolante térmico – um basicão de EVA e alumínio já surrado pelos anos – não deu conta. Não que eu tenha ficado em risco de hipotermia nem nada, mas perdi muito em conforto nessa noite, um equipamento um pouco melhor (ou ao menos mais novo) talvez seja uma boa pedida. Também tivemos um visitante noturno inesperado. Durante a madrugada ouvimos algumas coisas caindo na “cozinha”. Meu pensamento foi que outra pessoa estivesse lá fazendo algum lanche noturno ou algo do tipo, mas descobrimos depois que foi um quati esguio que foi pra lá tentar abocanhar alguma coisa. Eu sei que tem um hotel chamado Quati lá em cima, mas fiquei surpreso de saber que eles realmente conseguiam viver lá em cima, quatis são impressionantes. Depois disso deixamos as coisas mais fora de alcance. Não posso afirmar com certeza, mas suspeito seriamente que tenha sido isso que aconteceu com um saco de chá instantâneo que eu perdi depois de uma refeição e não encontrei mais, rs, só espero que não tenha feito mal pro bicho. Dia 6 – Vale dos Cristais Brasileiro, Ponto Tríplice, El Foso e o cume Esse seria o dia do circuito longo no topo, o prato principal do trekking por assim dizer. O dia amanheceu frio e chuvoso, características bem pouco promissoras para proporcionar belas vistas de paisagem, mas que dão ao Roraima seu ar misterioso. Calçamos as botas, jogamos as mochilas de ataque às costas e partimos. No caminho, fomos atribuindo formas às rochas encobertas pela neblina enquanto andávamos no que parecia um plano sem fim e indistinto. Percebi como a navegação no Roraima pode ser complicada, sem visibilidade não há pontos de referência claros para orientar a caminhada, alguém andando sozinho e sem conhecimento do terreno poderia facilmente se perder. Depois de margear um rio em um vale entre duas paredes altas de rocha. chegamos ao Vale dos Cristais do lado brasileiro, e se o outro já é impressionante, este é simplesmente fantástico. Os cristais de quartzo cobrem o chão como neve e afloram aglomerados em grandes rochas. Em algumas cortadas, é possível perceber os traços do longo processo de formação dos cristais. Nenhum de nós jamais havia visto algo parecido. Bem perto de lá, num ponto elevado, encontra-se o famoso Ponto Triplo, que marca o encontro de Venezuela, Guiana e Brasil. Não há muito para se ver, mas a sensação de estar lá vale o percurso. É apenas uma pirâmide triangular em que cada face corresponde a um dos países. Nos lados de Brasil e Venezuela há placas identificando o país, datas etc. No lado de Guiana, a placa é arrancada pelos militares venezuelanos sempre que é instalada pelos guianenses, consequência do ainda vivo debate entre os dois países pelo território da Guayana Esequiba. Me pareceu um tanto cômico que os militares dos dois países fiquem nessa disputa por uma placa no alto da montanha, rs. Enfim, o terceiro ponto de interesse desse circuito é não menos magnífico que o primeiro, no que se refere a obras naturais. El Foso, um belo cenote no meio da paisagem. Com tempo bom é possível banhar-se, mas pelo alto nível da água o caminho estava até mesmo intransponível, com as galerias que levam ao poço alagadas. A próxima parada foi um quase-hotel sob o qual nos sentamos para uma refeição, já que a caminhada de volta seria longa e rumo ao Maverick, ponto culminante do tepuy, convenientemente bem próximo do Hotel Índio. Maverick porque teoricamente o formato de alguma rocha por lá se parece com o veículo de mesmo nome, nem reparei, e creio que a associação seja um tanto forçada, já que esse nome deriva do original imaweru (ou algo parecido com isso, a memória não ajuda a lembrar de nomes, rs), relacionado à lenda de Makunaima. A aproximação foi por terreno um pouco mais pantanoso, tivemos de evitar a lama e as poças fundas, mas a subida em si não é comprida e não apresenta dificuldades técnicas. Rápido e fácil. A sensação de chegar ao cume, porém, não é menos fantástica. Creio que não importa quantas montanhas você já tenha subido, nunca perde a magia, e o Roraima parece ter algo que aumenta ainda mais o sentimento. Beijei a rocha e coloquei uma nova pedrinha no totem que marca o ponto mais alto. A montanha não me deu uma vista da Gran Sabana, mas de si própria. Tive vista para os pontos longínquos do tepuy e para seu abismo, e nunca vou me esquecer da imagem. Após desfrutarmos do cume, retornamos ao acampamento, o que tomou pouco tempo. Durante o jantar adiantado, ainda ao fim da tarde, o céu se abriu um tanto e deu vista perfeita para o Kukenán, bem de frente para nós. Refeições com uma vista maravilhosa, quando as nuvens colaboram, mais uma vantagem do Hotel Índio Esse foi o último dia no topo, na manhã seguinte sairíamos ao amanhecer. Durante a noite choveu e ouvimos trovões à distância, no Kukenán. Dia 7 - Do topo ao Rio Têk Saimos cedo, com alguma urgência, pois as nuvens de chuva ainda se acumulavam no paredão do Kukenán, na cabeceira do rio que leva seu nome e que teríamos que atravessar mais tarde. O Paso de Lagrimas foi de novo a parte mais difícil, descer mais ainda. A cascata caía forte e as pedras tornavam as passadas arriscadas, não à toa é nessa descida onde ocorre a maioria dos acidentes. Calma e cuidado. O resto da descida é tranquila, mesmo os trechos mais verticais do caminho até o acampamento base são surpreendentemente simples para descer, em pouco tempo estávamos lá embaixo, onde descansamos brevemente antes de seguir rumo aos rios. Como se diz, pra baixo todo santo ajuda, a descida é uma delícia, seguimos com bastante espaço entre nós, cada um a seu ritmo apreciando um momento de introspecção solitária na savana. Pelo caminho, já desde La Rampa, cruza-se com porteadores descendo pela mesma rota. Eles podem ser contratados para levar as bagagens de quem estiver moído pelos dias na montanha. Uma das nossas contratou um deles para levar sua cargueira nesse dia e no próximo, 35 reais por dia. É uma opção. O sol abriu forte por entre as nuvens depois de um tempo. Queimou-me o braço exposto em questão de minutos, a marca da fita do bastão de caminhada ainda está visível nas costas da minha mão. Não dispense o protetor solar, o sol equatorial é bruto. Chegamos com alguns minutos de intervalo entre cada um ao Rio Kukenán, e atravessamos apressadamente, Jesus estava claramente preocupado, o rio subia rápido e ficava cada vez mais forte. Cruzamos poucos minutos antes de ficar perigoso. O Têk já estava alto também, tivemos que margeá-lo até encontramos um ponto adequado para cruzar, mas o fizemos sem qualquer traço da preocupação que marcou a travessia do Kukenán. Estávamos em casa, de volta ao acampamento do Rio Têk, com seus cães amigáveis e os malditos puri-puri. Compartilhamos o vasto espaço com um pequeno grupo de agência que conhecemos brevemente no topo. Não falamos muito com eles. Desci sozinho ao Rio Têk num momento para lavar nas pedras uma camiseta que eu estava usando como pano. Me vi sozinho na imensidão da savana, com o Kukenán imponente entre as nuvens exercendo uma atração magnética sobre meus olhos, e a sinfonia do rio preenchendo meus ouvidos. Nada além disso. Lavar roupa num rio, um dos momentos mais pacíficos de toda minha vida, seguido pela sensação agridoce de saber o quanto eu sentiria falta desse lugar. Dormimos cedo, na manhã seguinte deveríamos estar caminhando já antes do sol nascer. Dia 8 - Fim do trekking e Gran Sabana Acordamos antes das 5 e tomamos um café da manhã generoso, agora fazia menos sentido racionar. Saimos em silêncio, no escuro, para não acordar o outro grupo. Sair tão cedo teve o objetivo de chegarmos logo ao Paratepuy para termos mais tempo nas cachoeiras da Gran Sabana. Ninguém reclamou. A caminhada foi acelerada, de meus companheiros, eu fui o único que não contratou um porteador para esse dia. Estava me sentindo muito bem e queria terminar o percurso com minhas próprias forças. O Roraima fez me sentir mais forte e disposto do que havia há muito tempo na rotina de São Paulo. Depois de andar com peso pelos últimos dias, a única coisa no meu corpo que não estava a 100% eram os pés que passaram tanto tempo em botas molhadas, mas o incômodo era só no começo da caminhada. E as picadas de puri-puri, não dá pra se acostumar com isso tão rápido. Ajudou, também, que todos os trechos de água que dificultaram muito nosso percurso no primeiro dia estavam agora muito mais baixos. A diferença era simplesmente espantosa, se não soubesse o quanto a água podia subir, não teria nem mesmo registrado esses trechos, de tão insignificantes que pareciam agora. Roraima e Kukenán nos deram uma esplendorosa despedida, pela primeira vez vimos os dois juntos livres de nuvens. Imaginei o quão espetacular estaria a vista do cume em que eu havia estado dois dias atrás. Mas aceitei de bom grado que a montanha não tenha me concedido essa visão, não fez falta nenhuma A chegada ao Paratepuy veio com gosto de sucesso, completamos o trekking, concluímos uma experiência que será para sempre grandiosa em nossas memórias. E ainda era cedo, logo teríamos um almoço de verdade e um dia pelas maravilhas fluviais da Gran Sabana. Eu demorei muito pra ficar impaciente, nas cerca de 4 horas de atraso de nosso transporte. O grupo que deixamos dormindo no acampamento do Rio Têk inclusive acabou descendo antes de nós, apesar do veículo deles também ter atrasado bastante. E quando fiquei impaciente, foi só isso, já falamos sobre as condições do abastecimento lá em Santa Elena, todo mundo foi compreensivo. Eventualmente o 4x4 chegou, trazendo um grande grupo de coreanos que aparentemente não tinham ideia de que estavam ingressando num trekking de vários dias com quantidades cavalares de lama e chuva. Trouxe também um grande isopor cheio de cerveja, para brindarmos o trekking concluído. A descida foi emocionante, pode-se dizer. Perrengues veiculares são algo por que já passei um milhão de vezes, então minha reação ao ouvir o carro inguiçando foi um “bem, acho que isso era inevitável” mental. Quando tivemos que parar pro motorista fazer alguma gambiarra pro carro voltar a andar eu fiquei calculando de quantas horas poderíamos precisar para estarmos de volta em Santa Elena se ele quebrasse ali no meio do nada no caminho do Paratepuy. Seriam muitas, na certa. Mas no fim do tudo certo, chegamos ao Kumarakapuy e o motorista foi embora levar o carro pra consertar, em breve viria uma substituição. Foi o tempo de darmos uma volta pelas poucas lojinhas abertas - já que era sábado e os moradores são de maioria adventista - e almoçar. Fiquei surpreso com o prato vegano que chegou: arroz, feijão vermelho, repolho, mandioca, banana da terra e abacate, todos maravilhosamente temperados. Eu pessoalmente não gosto de abacate e nem de comer bananas fora de seu estado mais natural possível, mas as duas coisas caíram muito bem com um pouquinho da pimenta tradicional dos indígenas. Tudo acompanhado por um belo suco natural de maracujá, o favorito dos venezuelanos, pelo jeito. Nas lojinhas comprei um modesto chaveiro representando o Roraima, um suporte de incenso para minha noiva e um pote da famosa pimenta. Eles tem uma versão dela com o acréscimo de cupins inteiros na receita, o que achei bastante curioso. Tudo muito barato mesmo em bolívares. Isso feito, embarcamos já um pouco tarde para o passeio pela Gran Sabana, concordamos em tirar uma das cachoeiras do roteiro para aproveitarmos bem as demais, e partimos na road trip mais divertida que já fiz. O carro voava pela estrada enquanto dentro soavam de novo as músicas animadas que no Brasil seriam de uma cafonice extrema. A primeira parada foi o Oasis, uma cachoeira que faz jus ao nome, praticamente ao lado da estrada. Queda pequena no meio de uma concavidade formada por um paredão, resultando num poço simplesmente magnífico e perfeito para nadar. A água estava ótima, o dia seguia quente apesar de ameaçar chuva nas próximas horas. Passamos um bom tempo curtindo o local, não há nada melhor do que uma bela piscina natural após uma montanha. Quando subimos de volta ao carro, começou a chover, mas nada que fosse interferir com os planos. Partimos para o próximo ponto enquanto ríamos de nosso colega no banco de carona quando ele, ao tentar fechar a janela, constatou que não havia vidro. O passeio definitivamente não seria tão divertido num carro novo e arrumadinho, de forma alguma. E a chuva não durou o bastante pra aquilo ser realmente um problema, afinal. Seguimos até uma ponte onde paramos para observar o rio Yuruani, um curso de água bastante largo e que corria forte. Ficamos tirando algumas fotos no meio da estrada com a turma toda, correndo de um lado para o outro para procurar os melhores ângulos. Dalí, o carro avançou pela margem direita do Yuruani, nosso próximo ponto de interesse era uma queda um pouco acima no rio, a Cortina do Yuruani. Desembarcamos numa área de picnic aparentemente abandonada há algum tempo, seguimos perto da margem parando nos pontos de visibilidade para a cascata, ficando mais próximos dela a cada um. A Cortina do Yuruani é uma queda não muito alta, mas muito bonita, que vai de uma margem a outra do rio e cai uniformemente. Pelo que disseram, com o rio baixo é possível caminhar por trás dela de uma margem a outra. Definitivamente não era o caso, o rio estava violento, impressionantemente bravio, uma queda ali seria morte certa, mas fiquei curioso de como seria na época de baixa, quando é comum as pessoas praticarem rafting e nadarem perto das margens. Já perto do fim da tarde, subimos no carro para voltar a Santa Elena, agora mais calados conforme a escuridão se assentava. Chegando à cidade, demos entrada na pousada e combinamos de nos encontrarmos em uma hora para jantar lá perto, tempo suficiente de tomar um banho e colocar roupas limpas. Pegamos de volta as bolsas que havíamos deixado na recepção, sem incidentes. A uns cinco minutos da hospedagem, jantamos em uma pizzaria, esta bem mais modesta – e – do que o Papa Oso, mas que também não devia no sabor. Uma deliciosa massa pan. Eu, o vegano, pedi uma pizza individual, a que tinha mais vegetais no cardápio, sem o queijo. Pensei que a pequena seria menos adequada do que a média, afinal, os últimos dias me autorizavam a comer bastante. Acabou que a média tinha 8 pedaços, e dali pra cima entrávamos numa terra de gigantes. Acabei comendo 7 dos pedaços, estava delicioso. Voltamos para a pousada, confirmei nossa partida na manhã seguinte com o taxista, que viria nos pegar às 8 horas. Nos encontraríamos antes com Jesus e Randy para um café da manhã típico e despedidas. Dormir numa cama foi uma mudança bem-vinda. Custos no dia 8 R$ 15 de jantar em Santa Elena, pago em bolívares, valor aproximado. Dia 9 - De Santa Elena a Boa Vista, Lethem e Manaus Depois de uma semana em campo, o relógio biológico já está regulado ao tempo da natureza, despertei pouco antes do amanhecer e não voltei a dormir. No meu típico hábito de estar com tudo pronto antes da hora, já deixei todas as minhas coisas preparadas, quando o táxi chegasse era só pegar tudo e partir. Nos encontramos com Jesus e Randy em frente à pousada e fomos comer o que Jesus disse que seriam as coxinhas de padaria da Venezuela. Arepas e domplins com os mais variados recheios. Nenhum vegano, claro, então pedi um domplin simples, pra comer puro. Bem, o domplin que comemos no Roraima não era frito em óleo, obviamente, então fiquei um pouco surpreso de receber um enorme pastel redondo, do tamanho de uma pizza brotinho. Melhor. Café. Da. Manhã. De. Todos. Era mesmo um pastel, só com a massa um pouco mais grossa. Nada saudável, que seja, mas muito bom. Acompanhou novamente um suco de maracujá. Voltamos à pousada e nos despedimos calorosamente de nossos guias e agora amigos, já pensando em reencontros quando voltássemos à Venezuela ou eles fossem ao Brasil. Vendi os cartuchos de gás que não utilizamos para eles, a menos do que paguei na loja, só para recuperar um pouco do valor. No horário, embarcamos no táxi de volta para Boa Vista. A saída da Venezuela foi muito mais rápida e tranquila do que imaginei que seria, apenas entregamos os permisos e seguimos a longa viagem pro Brasil. O valor ficou em 75 reais por pessoa, agora que estávamos em quatro pessoas. Passaríamos a tarde em Lethem, para ir pra lá é possível pegar um ônibus sentido Bonfim, no valor de cerca de 35 reais, que para na fronteira da Guiana, e de lá ir de táxi para o centro comercial da cidade. Para voltar é a mesma coisa. É possível também pegar um dos mesmos táxis que fazem o percurso a Santa Elena, em torno de 500 reais para o grupo. Questão de ver o mais rentável. O caminho para a Guiana passa pelo Rio Branco, e na época de cheia a visão é bem impressionante, a estrada cortando campos alagados pontilhados por árvores e construções. Depois disso vai plano por entre plantações até chegar a seu destino. A fronteira Brasil-Guiana é completamente diferente da Brasil-Venezuela, se nesta há um monte de gente pra todos os cantos e filas grandes, naquela há muito menos movimento, entra-se rápido no país e a primeira coisa que se nota é a mão inglesa do trânsito. A mudança súbita do lado da estrada por onde se deve trafegar causa certo estranhamento, rs. A cidade de Lethem é minúscula, e evidencia a austeridade do país, as largas ruas sem asfalto acumulam lama, os prédios são baixos, pouco luxuosos, não há nada de particularmente vistoso por lá. O centro comercial é uma área com lojinhas de tranqueiras, é um bom lugar pra comprar presentes pra trazer de volta pro Brasil. Eu havia ouvido falar sobre um refrigerante de banana que só existe lá na Guiana, e fiquei de olho para ver se encontrava, é de uma marca chamada I-Cee. Acabei encontrando num pequeno restaurante, paguei 5 reais por garrafa de 710 ml, e valeu a pena, é bom. Há algumas opções de almoço por lá, desde comida brasileira até umas opções mais locais, que não são muito diferentes da comida chinesa mais simples que encontramos por aqui, o que se explica pelo grande influxo de imigrantes orientais que a Guiana recebeu historicamente. Com 20 reais se paga um bom almoço com bebida. Percebam que estou dando os valores em reais, lá não é preciso trocar dinheiro, as lojas aceitam reais. A língua da Guiana é o inglês, mas presumo que os lojistas estejam acostumados a se comunicarem com brasileiros de uma forma ou de outra, se for necessário. Não imagino que não-falantes do inglês tenham dificuldades para se virar por lá. Enfim, não é um passeio espetacular, mas é uma experiência definitivamente muito interessante, até porque não é muita gente que pode dizer que visitou a Guiana, não é mesmo? De volta para Boa Vista, fizemos hora na rodoviária - já que não há nada de interessante pra se ver por perto dela - até a partida do nosso ônibus. Dessa vez ele saiu cheio, todas as poltronas ocupadas, muitas delas por passageiros venezuelanos. Fui sentado ao lado de uma moça bem falante que me deu várias dicas sobre Manaus. Num momento o ônibus parou e adentraram dois militares ordenando que todos mostrassem os documentos. Os estrangeiros foram tirados do ônibus para uma verificação ou algo do tipo. Fiquei um pouco espantado, mas aparentemente, é de rotina. Só mais um sintoma da situação fronteiriça. O ônibus logo partiu, adentrando a escuridão por entre as árvores. E eu dormi até o amanhecer. Custos no dia 9 R$ 75 de táxi de volta a Boa Vista; R$ 100 de transporte para ir e voltar de Lethem, valor aproximado; R$ 20 de refeição em Lethem; R$ 15 de refeição simples e petiscos para o ônibus na rodoviária em Boa Vista. Dia 10 – Manaus, praia da Lua e Mercado Municipal Acordei novamente com os primeiros raios de sol, quase chegando a Manaus. Nosso camarada que não fez o trekking já estava lá, em um hostel perto do centro histórico da cidade. Da rodoviária pedimos um Uber para lá. O Hostel Manaus, onde ficamos, é uma hospedagem a preço bastante razoável, limpa e com excelente atendimento, fica a recomendação. Dividi um quarto privativo com um colega ao valor de 45 reais a diária para cada um, há diárias mais baratas nos quartos coletivos. O hostel pede um caução de 20 reais, que pode ser usado em consumo de cervejas e refrigerantes vendidos por lá, ou recuperado no check-out. Depois do check-in deixamos as coisas nos quartos e partimos logo para conhecer a cidade. Nesse dia, quente e abafado, optamos por visitar uma das praias do Rio Negro, e o atendimento do hostel foi muito solícito em nos dar informações e sugestões. Optamos pela Praia da Lua, para chegar lá pegamos um Uber para a Marina do Davi e, de lá, um barco até a praia. O lugar é fantástico, uma faixa de solo corta o Rio Negro entre a floresta inundada. A água é boa e ver sua própria pele parecer vermelha sob a água escura do rio é bem interessante. Lá há quiosques para comer e beber, bem como aluguel de pranchas de Stand Up Paddle. A água calma e as copas das árvores despontando formam um lugar excelente para marinheiros de primeira viagem, como eu, terem uma experiência bastante divertida, rs Passamos um bom tempo lá, quando cansamos apenas voltamos ao pequeno píer para esperar o próximo barco voltando para a Marina. Embarcamos e chegando lá já pedimos um Uber para mais um rolê, agora no Mercado Municipal. O lugar é enorme e tem muitas opções de presentes e lembranças para levar pra casa, acabei trazendo uma garrafa de cachaça de jambu, uma fruta do Norte que provoca efeito anestésico na boca, não é pra todos os gostos mas é muito interessante e gerou muitas reações engraçadas com o pessoal aqui, hahaha. Experimentei algumas marcas e a que mais gostei foi a Meu Garoto, que foi a que comprei. Meus colegas foram comer um almoço tardio no Mercado, pratos tradicionais de peixe. Eu como não encontrei nada de vegano, comprei um açaí. Eu sabia que era diferente do que conhecemos aqui em São Paulo, e honestamente achei o nosso muito melhor. Questão de hábito, talvez. Não que tenha achado ruim, mas realmente é um pouco amargo. Enfim, se não me agradou no sabor, na sustância não deixou a desejar. Feito isso, fomos dar uma volta na avenida em frente ao Mercado para analisar as opções para nosso passeio do dia seguinte. Havíamos pegado contato com a companhia que nos levou e trouxe da Praia da Lua e negociamos um barco privativo no valor de 600 reais para fazer o passeio turístico tradicional pelos Rios Negro e Solimões. O melhor valor que conseguimos nos operadores de rua, para ir num barco lotado com mais 30 pessoas, foi de 100 reais por cabeça. Pagando 120 cada um, preferimos ter o conforto do barco privativo, até pra podermos ver tudo rapidamente e termos tempo de emendar algum outro passeio depois desse. A quem possa interessar, seguem os contatos do barqueiro, chamado Grande: (92)99981-8463/99157-8495/99227-3999 (WhatsApp). A pé, fomos para um Carrefour nas redondezas comprar comida pra fazermos no hostel e seguimos para ele na sequência. Não saímos à noite nesse dia, aproveitamos para organizar nossas coisas, descansar e jogar umas cartas entre nós. O Hostel Manaus é populado principalmente por mochileiros estrangeiros, pelo que pude perceber, então as interações por lá foram consideravelmente internacionais, o que é sempre muito interessante. É fantástico ter três línguas diferentes sendo faladas ao seu redor num mesmo lugar. Fomos dormir não muito tarde, o passei no dia seguinte seria nas primeiras horas da manhã. Custos no dia 10 R$ 20 de Uber ao hostel, divisível por 4; R$ 90 de duas diárias de hospedagem em quarto privativo pra duas pessoas; R$ 20 de caução no hostel, podendo ser recuperado no check-out ou usado em consumo; R$ 15 de Uber à Marina do Davi, divisível por 4; R$ 10 de barco para a Praia da Lua, já contando ida e volta; R$ 15 de Uber ao Mercado Municipal, divisível por 4; R$ 8 de açaí no Mercado Municipal; R$ 30 de comidas e bebidas no supermercado, para dois dias. Dia 11 – Rios Negro e Solimões, INPA e bar O café da manhã incluso na diária do hostel era simples, mas suficiente e saboroso, o suco natural de cupuaçu ou graviola na certa era a melhor parte. Comemos bem e partimos para a Marina do Davi novamente. Encontramos nosso barqueiro, Grande, e embarcamos na Apuaú III, uma lancha grande e confortável que tínhamos só para nós. Navegamos pelas águas escuras do Rio Negro até chegar ao primeiro ponto de interesse do passeio, uma aldeia indígena bem pequena, claramente apenas um espaço de recepção de turistas. Lá há artesanato para comprar, algumas coisas interessantes para fotografar e, pra quem é dessas, a opção de degustar as saúvas defumadas consumidas pelos indígenas. Para quem quiser pagar, há a opção de assistir a uma apresentação e realizar pintura de pele, mas como não era de nosso interesse, logo seguimos viagem. A próxima parada foi num braço do rio, e é ponto polêmico considerando meus colegas veganos: É o rolê de nadar com os botos. Acessa-se o local por uma plataforma flutuante onde os operadores solicitam que se remova todo o protetor solar da pele e dão instruções para os visitantes sobre como interagir com os animais sem incomodá-los. Os bichos vêm soltos do rio, atraídos pelos peixes que um funcionário dá no bico deles. Esse tipo de interação meio domesticada com animais selvagens é sempre questionável, sobretudo considerando que depois do nosso barco chegaram dois daqueles que carregam 30 pessoas cada. Enfim, questão de consciência, esse passeio é cobrado separado de qualquer forma, 10 reais por pessoa. Daí, seguimos por um igarapé do Rio Solimões, um curso de água por entre as árvores que, nessa época do ano, estavam inundadas. A passagem é simplesmente magnífica, a vista da flora e da fauna é linda, tiramos muitas fotos belíssimas no caminho até o restaurante flutuante de onde sai o caminho elevado para se ver as vitórias-régias. Eu quando criança, depois de uma aula na escola sobre essas plantas, sonhava com viajar à Amazônia para conhecê-las enquanto ainda era leve o bastante para que suportassem meu peso. Eu não teria podido subir nelas, de qualquer modo, então o atraso de alguns anos não mudou nada para a realização do sonho, eu acho. A vista das vitórias-régias é linda, mas por entre tantas coisas maravilhosas acaba não se destacando tanto assim, acho que dentre meus colegas eu fui o que mais se deslumbrou, considerando meu velho desejo infantil. Fora as plantas, há a exuberante fauna amazônica para pontilhar a paisagem: macacos, sapos, aves, insetos etc. O restaurante flutuante é um ponto de parada para almoço nos passeios tradicionais. Também há artesanatos indígenas para serem adquiridos, a preços mais altos do que na aldeia. Como Já havíamos decidido não parar para almoçar ali, seguimos logo para o próximo ponto de interesse. No caminho pelo rio, passamos pelas ferragens de várias grandes embarcações abandonadas e vimos botos despontarem hora ou outra na superfície, passamos por baixo da grandiosa Ponte Jornalista Phelippe Daou e enfim chegamos ao gran finale, o Encontro das Águas, o local onde os rios Negro e Solimões se encontram para formar o Amazonas. As águas de diferente densidade, velocidade e temperatura não se misturam, empurram uma à outra como se competindo pelo espaço. A vista é um espetáculo, e botando a mão na água pode-se perceber a diferença da temperatura. Alguns dizem que não vale a pena ir até tão longe no rio para ver esse fenômeno, mas discordo. Esse foi o último ponto do tour, na volta contornamos a cidade e vimos o grande porto, a Zona Franca, os vários postos de gasolina para barcos (o que é curioso para nós que não vivemos às margens de um rio como esse, rs). Grande nos deixou no píer em frente ao Mercado Municipal, onde comemos uma coisinha rápida (eu fui de açaí de novo) e logo pedimos um Uber para nos levar ao Bosque da Ciência do INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia), uma pequena área de preservação com animais silvestres soltos e recintos de animais resgatados sendo cuidados pelo instituto, além de um museu com exibições biológicas e históricas. O bosque é um local bem agradável, e é fácil avistar diversos animais por entre as árvores. Vimos macacos, preguiças e uma paca jovem. Junto com os animais em cativeiro: peixes-boi, jacarés, tartarugas e uma ariranha, o instituto oferece uma amostra bem diversificada da fauna amazônica. E bem, se Manaus é difícil para veganos, pelo menos tem tapioca pra todo canto, e mesmo a simples – lembrando de pedir sem a manteiga - já é uma refeição relativamente saborosa e de sustância. O melhor de tudo é que é extremamente barata, normalmente 2 reais. Aproveitei e comi uma numa lanchonete lá dentro pra complementar, e ela e o açaí de antes já foram o bastante até chegarmos de volta ao hostel. Voltamos já eram umas 17h e fomos arrumar as coisas para partirmos sem problemas no dia seguinte. Com tudo pronto, começamos a falar sobre sair à noite para ir a um bar, decidi jantar antes para não ter problema de não encontrar comida pra mim. Pouco depois partimos de Uber para a praça do Teatro Amazonas, que não fica longe, mas todo mundo nos alertou pra não andarmos por aí de noite. O seguro morreu de velho e a tarifa mínima do Uber não ia quebrar a banca de ninguém. Nosso destino foi a Casa do Pensador, um bar legal com preços bons e um cardápio diversificado. Entornamos algumas cervejas, mandamos umas porções de batata pra dentro e experimentamos uma caipifruta de Graviola que, apesar de um pouco fraca no álcool, estava deliciosa. Enquanto estávamos lá, um grupo de mochileiros profissionais artistas de rua parou lá perto pra fazer uma apresentação de música e acroyoga, foi bem interessante. Voltamos pro hostel quando o bar começou a fechar. Eu já estava um pouco tonto pela bebida, então quando deitei não demorei a adormecer. Custos no dia 11 R$ 15 de Uber à Marina do Davi, divisível por 4; R$ 120 de passeio Rios Negro e Solimões; R$ 8 de açaí no Mercado Municipal; R$ 15 de Uber ao INPA, divisível por 4; R$ 5 de ingresso no Bosque da Ciência do INPA; R$ 2 de tapioca no Bosque da Ciência do INPA; R$ 15 de Uber ao hostel, divisível por 4; R$ 10 de Uber à praça do Teatro, divisível por 4; R$ 20 de comes e bebes no bar; R$ 10 de Uber ao hostel, divisível por 4. Dia 12 – Teatro Amazonas e retorno pra São Paulo Dormi como uma pedra e fiquei surpreso quando, no café da manhã, estava todo mundo admirado com a chuva cabulosa que caiu durante a noite e sobre a qual fiquei sabendo apenas naquele momento. Os benefícios de um sono suavemente etílico, hehehe. Acordei cedo querendo aproveitar a manhã para fazer o tour do Teatro Amazonas e ir ao Palacete Provincial, que abriga cinco museus. Ninguém mais quis ir comigo e, desdenhoso da falta de espírito de exploração de meus colegas, parti sozinho pelas ruas manawaras sob o sol que já desde cedo escaldava a pele. Cheguei no Teatro antes dele abrir e entrei com a primeira turma, o tour custa 20 reais a inteira e passa pelo interior do prédio com uma guia explicando detalhes da História, Arte, Arquitetura e curiosidades do local. É um passeio bastante interessante, apesar do tamanho do prédio não impressionar o paulistano frequentador do nosso enorme Theatro Municipal. Mais do que compensando por isso, o Teatro Amazonas é magnífico e os detalhes de sua construção e decoração são tantos e de tal esmero que impressionam qualquer um. Como um apreciador da ópera, devo dizer que acrescentei na minha lista de coisas a fazer antes de morrer uma visita ao Teatro quando estiver ocorrendo seu famoso Festival Amazonas de Ópera, evento anual com diversos artistas internacionais e apresentações que me pareceram fantásticas. O tour, infelizmente, demorou bem mais do que eu esperava, o que me deixou sem tempo hábil para a visita ao Palacete, então retornei ao hostel para encontrar meus camaradas. Antes de fazer o check-out, fomos fazer uma refeição numa lanchonetezinha simples mas gostosa lá perto, a Skina dos Sucos, onde comi uma tapioca com recheio de uma raiz da região, o tucumã, que se parece um pouco com cenoura, e tomei um suco de uma fruta cítrica também local, o taperebá. Tudo muito bom. Voltamos para o hostel, fizemos o check-out e usamos a grana do caução para tomar uma saideira da geladeira de lá. Seguimos para o aeroporto e logo embarcamos no voo de volta pra São Paulo. O último presente que Manaus me deu foi a vista aérea do Encontro das Águas, magnífica. Chegamos em casa no começo da noite, findando assim essa viagem fantástica e exótica que agora compartilho com vocês. Custos no dia 12 R$ 20 de tour do Teatro Municipal (ou 10 a meia); R$ 15 de suco e tapioca na lanchonete; R$ 20 de Uber ao aeroporto, divisível por 4. Acaba aqui o relato, agradeço a você que chegou até aqui e fico alegremente disponível para auxiliar na medida do possível com qualquer dúvida que os leitores possam ter. Não hesitem em mandar mensagens, rs, e boa viagem!
  14. Travessia da Serra Fina Full em 3 dias. Subimos, de ataque, aos cumes das montanhas próximas. Relato com fotos e tempos gastos, para ajudar quem quiser a fazer a pernada! Abraço! Travessia da Serra Fina Full - 3 dias.pdf
  15. O Pico da Meia Lua é um contraforte da Mantiqueira no município de Piquete. 1720 metros
  16. Fala, pessoal. Fiz no começo dessa semana mais um review no canal. Desta vez foi da faca Petzl Spatha, uma faca dedicada aos escaladores, montanhistas e profissionais de verticalidade. Espero que gostem, os interessados!
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