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Caminho do Itupava e Pico do Marumbi - Fim de semana na Serra do Mar paranaense


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Resumo da viagem, dias 9 e 10 de abril de 2016

Sábado: Descida do Caminho do Itupava e acampamento no Parque Estadual Pico do Marumbi

Domingo: subida do Olimpo (trilha branca/frontal); retorno para Curitiba de trem.

 

Planejamento

Moro em Curitiba desde que nasci, mas nunca tinha feito essa aventura na Serra do Mar. Hora de criar vergonha na cara e explorar as maravilhas no quintal de casa.

Meu objetivo inicial era subir algum cume no Marumbi e voltar no mesmo dia, mas descobri que é muito difícil fazer um “bate-volta” por conta dos horários do trem: o que sai de Curitiba chega na base da montanha às 10h35, enquanto o único que volta passa às 16h na mesma estação. Existe ainda a opção de ir de carro até Porto de Cima, que fica a 4km da base do Marumbi. Por isso, o mais comum é dormir pelo menos uma noite no Parque Estadual, antes ou depois de subir a montanha. Mesmo com pouca experiência de trakking ou montanhismo, resolvi então aproveitar para descer a Serra do Mar pelo Caminho do Itupava. Convidei vários amigos, mas só o parceiro Pedro Pannuti topou. Foi o suficiente.

O primeiro ponto para resolver era como chegar até o bairro Borda do Campo na cidade de Quatro Barras, onde começa o Itupava (a 30km do centro de Curitiba). Existem algumas vans que fazem o trajeto, mas normalmente são lotadas com pessoas que vão descer o Caminho até Porto de Cima (vila próxima a Morretes) e voltar no mesmo dia. Se não quiser pagar uma pequena fortuna num táxi, dá pra tomar um ônibus no Terminal do Guadalupe, próximo à Rodoferroviária de Curitiba. Agora, se você mora por aqui e tem pais dispostos a dar uma carona, melhor.

A segunda questão era onde acampar. O Parque Estadual do Marumbi conta com um camping gratuito que esteve interditado para reforma por anos até 2015. Consta no site do IAP (Instituo Ambiental do Paraná) que é necessário reservar lugar, pois há um limite de 30 barracas. Ocorre que os telefones do Marumbi (41-3462-3598) e de Prainhas (41-3462-4352) estavam quebrados. Liguei para vários telefones do IAP, mandei e-mails, mas ninguém soube me dizer como reservar. Porém, depois de dias consegui a confirmação de que o camping estava funcionando normalmente. Resolvemos então arriscar a ida até lá mesmo sem comunicação.

Precisávamos garantir ainda a passagem de trem para a volta. Em contato telefônico com a Serra Verde Express, fui informado que é mais barato comprar dentro do próprio trem e que não há risco de ficar sem lugar (apenas o trem de ida é mais concorrido).

 

Caminho do Itupava

Chegamos no posto do IAP na Borda do Campo 8h30 de um sábado ensolarado. Fizemos um cadastro rápido e fomos imediatamente liberados para começar a trilha. Não nos ofereceram maiores informações e nós também não perguntamos nada. Eu levava um mapa precário impresso em casa que não seria o suficiente.

Nos últimos anos houve alguns assaltos no Caminho do Itupava. É recomendado fazer a trilha em grupos maiores pelo menos até a Casa do Ipiranga, que ainda está relativamente próxima de áreas urbanas. Naquele dia havia muitos grupos descendo, então ficamos tranquilos.

O começo da trilha tem algumas subidas até chegar ao morro do Pão de Ló. Depois é praticamente só descida até a Casa do Ipiranga (ruínas de um casarão colonial). Logo na sequência o Caminho chega no trilho do trem. Subindo 100m à direita pelos trilhos há uma roda d’água e uma cachoeira onde vale a pena parar para um mergulho.

Após retornar da roda d’água, vimos um grupo grande de pessoas descendo pelos trilhos do trem. Perguntamos para a guia daquele grupo e ela nos confirmou que deveríamos prosseguir pelos trilhos. Depois de andar meia hora desconfiados, alcançamos dois socorristas e um bombeiro aposentados que também desciam o Itupava por ali. Os três afirmaram que estávamos no caminho certo, porque a outra trilha estava fechada e era muito mais difícil. Então seguimos em frente sem medo... Mais tarde descobriríamos que fomos induzidos a erro.

Na verdade, a trilha do Itupava segue pelo morro a partir de uma entrada na mata que fica do outro lado dos trilhos, logo após a Casa do Ipiranga. Acontece que essa passagem não é bem demarcada e o trecho dali até o Santuário Nossa Sra do Cadeado é mais difícil. Por isso, muitas pessoas preferem fazer um trajeto mais longo pelos trilhos do trem ao invés da mata fechada e escorregadia. Porém, é uma opção perigosa que tem motivos para ser proibida. Até chegar no Cadeado são quase 3 horas de caminhada passando por túneis escuros (lanterna é indispensável) e pontes sem estrutura de segurança para pedestres - o único jeito de atravessá-las é pisar dormente por dormente, com cuidado para não cair no vão entre eles. Dentre essas pontes está o Viaduto Sinimbu, com 62m de comprimento sobre um grande penhasco. Se alguém tiver medo de altura, provavelmente vai empacar em alguma ponte e travar o grupo. Além disso, o tráfego de trens é relativamente constante. Logo, se um trem aparecer enquanto você estiver no meio da ponte, a única solução será correr. Portanto, não recomendo seguir pelos trilhos do trem, pois o risco de acidente grave é real, principalmente se estiver chovendo, nublado ou se for noite. Por outro lado, não posso negar que as paisagens desse trecho foram as mais incríveis da viagem.

 

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Quando chegamos ao Santuário do Cadeado, nos deparamos com várias pessoas saindo de dentro da mata. Conversamos com elas e só então entendemos que havíamos tomado o caminho errado.

A partir do Cadeado é possível continuar pelos trilhos do trem até a Estação Marumbi e enfrentar, dentre outras, a Ponte São João com seus 118m de comprimento e 58m de altura. Mas resolvemos não abusar da sorte e seguimos o Itupava através da Trilha do Sabão, que continua logo atrás do Cadeado. O nome é bem propício, porque o caminho é uma descida acentuada construído com grandes pedras lisas. Escorregões são quase inevitáveis.

Depois de aproximadamente uma hora e meia pela Trilha do Sabão, o Caminho do Itupava termina numa estrada de chão. A maioria das pessoas desce à esquerda rumo Porto de Cima, onde tomam uma van ou ônibus até Curitiba ou Morretes. Nós subimos à direita, passamos pela Estação Egenheiro Lange e finalmente chegamos na Estação Marumbi. Era 16h20, de modo que nossa caminhada completa durou 7 horas e meia - tempo razoável, já que cada um levava mais de 20kg nos mochilões. Pouco depois começou uma chuva que duraria quase a noite inteira.

 

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Camping no Parque Estadual Pico do Marumbi

De frente para a estação, do outro lado do trilho, há algumas casas do IAP. Em uma delas está o telefone (quebrado à época) e é onde fica um funcionário de plantão de quarta a domingo e nos feriados. Ele é o responsável por fazer o cadastro de entrada/saída no Parque Estadual do Marumbi e no camping. Devido à falta de comunicação, ele não nos cobrou reserva. Havia apenas 5 barracas armadas por lá e não foi difícil achar um bom lugar para a nossa. Porém, o camping fica mais concorrido em feriados e na alta temporada de escalada (de maio a setembro).

A estrutura do camping inclui banheiro masculino e feminino com dois chuveiros elétricos em cada, além de uma área coberta com quatro mesas longas e pias - nada mal para um camping público e gratuito. Uma tempestade havia queimado a fiação de luz da área coberta, de modo que usamos muito nossas lanternas. Havia apenas uma tomada funcionando na porta do banheiro feminino (leve pilhas/baterias extras para os equipamentos eletrônicos). É proibido fazer fogueira, então você vai precisar de um fogareiro se quiser cozinhar. Também não é permitido consumir bebida alcoólica, mas essa regra foi ignorada por um grupo naquela noite, que acabou exagerando no barulho (lembre-se que quase todos no acampamento subiram a montanha ou pretendem subi-la no dia seguinte bem cedo - logo, querem uma boa noite de sono).

Não havia sinal de celular para ligar ou enviar SMS, mas surpreendentemente consegui mandar notícias para a família pelo WhatsApp.

 

Pico do Marumbi (Olimpo)

Como nós iríamos voltar de trem às 16h, precisávamos começar a subida cedo. Acordamos às 5h para tomar um café da manhã reforçado. Deixamos os mochilões na casa do IAP, mas o plantonista não se responsabiliza pela bagagem (não há guarda-volumes). É obrigatório avisar o funcionário antes de começar a subida e também na volta, pois ele será o responsável por chamar equipes de resgate em caso de imprevisto na montanha.

Atualmente, existem duas trilhas que levam ao Olimpo. A vermelha (noroeste), segundo alguns relatos que li, é um pouco mais difícil e dá acesso a vários picos do Conjunto Marumbi (Abrolhos, Esfinge, Ponta do Tigre e Gigante antes de chegar ao Olimpo - o mais alto). A branca (ou frontal) leva diretamente ao Olimpo. Nós havíamos conversado com um grupo que subiu pela vermelha e desceu pela branca no dia anterior. Eles nos relataram que a vermelha estava ainda pior por causa da lama. Devido à nossa inexperiência, resolvemos subir e descer pela branca.

 

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Iniciamos a trilha às 6h35. O caminho é bem demarcado por sinais brancos frequentes no chão, paredes e árvores. Quando há uma bifurcação duvidosa, geralmente existe uma corda fina atravessada para vetar o caminho errado (não confunda com as cordas instaladas para ajudar na subida/descida). Se você andar mais de 50m sem ver uma marca, provavelmente está no rumo errado ou não prestou atenção suficiente - volte até a última marca e procure ao redor. Mesmo com toda a chuva do dia anterior, a trilha não estava muito escorregadia (especialmente se comparada à Trilha do Sabão). Mas em caso de tempestades extremas, ela pode ser interditada.

A partir da metade da trilha tornam-se frequentes os grampos, cordas e correntes que permitem chegar ao topo sem o auxílio de equipamentos de escalada. Você vai subir pelo menos 3 paredões de pedra altos para chegar ao cume - eles podem ser um obstáculo difícil para alguém com medo de altura, principalmente se a visibilidade for boa.

 

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Com exceção do rio que fica no começo da trilha branca, o primeiro ponto para conseguir água está no terço final do percurso. Então recomendo começar a subida com pelo menos 1,5 litro de água. Eu carregava na mochila de ataque também alimentos diversos, jaqueta impermeável, lanterna, canivete, repelente, kit básico de primeiros socorros e celular (há sinal telefônico na parte alta da montanha). Vestia botas, calça e camiseta leves. Além disso, usei luvas por recomendação de outros montanhistas, já que a trilha exige muito o uso das mãos.

Chegamos ao cume às 10h45. Infelizmente, a visibilidade era mínima. A montanha estava imersa em uma grande nuvem. Por conta do calor e altíssima umidade, parecia que estávamos em uma grande sauna natural - tanto que eu estava encharcado antes mesmo de pegar 20 minutos de chuva (o que tornou inútil a jaqueta impermeável). Essa falta de visibilidade é muito comum em razão do clima regional, sobretudo nos meses mais quentes e chuvosos. Baixe suas expectativas e esteja preparado para não ter uma boa vista no cume.

Parece que a maioria dos acidentes acontece na descida, quando as pessoas estão mais cansadas e dispersas. Então não descuide e desça num ritmo tranquilo, evitando sobrecarregar os joelhos. Nós conseguimos fazer sem pressa a subida e descida da trilha branca em 7 horas e meia, retornando antes das 14h.

Depois de dar baixa no cadastro do IAP do Parque Estadual, ainda tivemos tempo de desarmar a barraca, tomar banho e almoçar antes de entrar no trem para Curitiba.

 

Trem de volta

O trem chegou pontualmente às 16h. Compramos a passagem econômica dentro do vagão por R$30. O trem retorna pelo trilho que corta o Caminho do Itupava, o que nos permitiu apreciar as pontes e túneis que evitamos ao tomar a Trilha do Sabão, bem como as que atravessamos entre o Santuário do Cadeado e a Casa do Ipiranga. O trajeto é belíssimo!

Nossa viagem terminou na Rodoferroviária de Curitiba às 18h30.

Editado por Visitante
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  • Membros de Honra

Parabéns pela conquista e pelo relato, muito bom!!! ::otemo::

A Itupava continua exatamente em frente a Casa do Ipiranga, é só cruzar o trilho. As pessoas preferem ir pelo trilho por acharem mais fácil, mas a trilha está revitalizada igual ao resto. Mas neste trecho tem mais lama e árvores caídas.

Sobre comprar a passagem no trem, estes dias ele não parou no Marumbi, dizem que era porque estava lotado ou porque o maquinista não viu ninguém na plataforma. Precisaram levar as pessoas até Morretes e a ALL deu um jeito de levá-las até Curitiba. Ou seja, não confie na ALL. ::vapapu::

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  • 6 meses depois...
  • Membros de Honra

A Trilha do Itupava é bem cansativa e longa, e subida do Marumbi é uma trilha técnica, com várias escadas e correntes bem expostas.

Pra começar começar é melhor a Itupava, mas esteja com o preparo físico em dia. Marumbi é melhor deixar pra depois de fazer o Morro do Canal e Anhangava, trilhas parecidas mas mais curtas e menos desafiadoras.

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  • 1 ano depois...
  • 1 ano depois...

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