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Capítulo 3: 2 noites  Bósnia e uma semana na Sérvia (Irig + 2 primeiros dias em Belgrado).

Cheguei em Saravejo e o senhor que me deu carona me deixou exatamente no prédio onde iria dormir. Paguei, agradeci e entrei: era um daqueles prédios antigos que te fazem recordar de uma Europa mais sombria. Subi as escadas e o AirBnB ficava logo no primeiro andar: um colega brasileiro havia feito uma reserva para nós dois e no outro dia, iriamos ter que conseguir um lugar para dormir de forma 0800 - mas eu estava confiante. 

Deixei minhas coisas e fomos encontrar uma amiga dele da cidade. Fazia muito frio, e com as minhas roupas inadequadas para aquele clima, evitava falar quando estávamos ao ar livre, para poupar energia. Fomos para um bar e os dois beberam cerveja, também ganharam Rakia como cortesia da casa. Não bebi, pois sentia que era uma forma de me preservar: a sobriedade era uma das minhas maiores formas de proteção. 

Depois dali, seguimos para outro bar, o Caffe Tito: Uma cafeteria/pub/museu toda tematizada em homenagem à Tito, o marcante líder comunista da Iugoslávia. Não senti muito isso na Croácia, mas na Bosnia e na Sérvia, é notório o saudosismo à era de Tito. Para eles, foi aquele líder carismático que fazer a Iugoslávia ser como era. Depois de sua morte, o desmantelo do país foi inevitável. Ou já era inevitável...

Teve karaoke e foi muito divertido! Cantei Bohemian Rhapsody e o meu colega brasileiro, cantou No Woman No Cry. Voltamos para o AirBnB, capotamos e no outro dia quando estávamos de saída, uma chinesa super fofinha se juntou à nós. Primeiro fomos em uma cafeteria, e depois, em um Hookar Bar (um bar onde em cada mesa, há um narguilé). Passamos por uma feira de artesanato local, e o lugar exalava cultura - foi a primeira vez que vi uma mulher de burca! 

No bar, liguei o Hangouts do Couchsurfing e me encarreguei de arrumar um lugar para o brasileiro e eu passarmos a noite. Depois de um tempinho, consegui! Além de companhia para sair, o teto já estava garantido! A chinesa se despediu e fomos até o apartamento onde o cara morava. Era um lugar confortável, e o bósnio e seu colega de apartamento eram super simpáticos! Jogamos um pouco, ensinei o host a dançar frevo e daí os bósnios e o brasileiro dividiram um baseado (a essa altura do campeonato já deu pra notar que sou careta né? 😅

Os bósnios iam para uma festa de aniversário e nos chamaram para irmos juntos. Aceitei o convite, o meu colega brasileiro não. Quando estávamos de saída, o brasileiro falou em português para que os bósnios não entendessem:

- Ei Camila. Lembre que eu não sou responsável por você. 

Fiquei um pouco surpresa com o tom dele, que até agora somente tinha sido amigável.

- Eu sei disso ué, vim para a Europa sozinha.

Ficou um clima meio chato, mas resolvi deixar pra lá depois de ir para a rua. A festa de aniversário foi ótima! Todos que estavam lá eram super simpáticos, rolou uns salgadinhos, suco de maçã pra mim e álcool pra galera, e pra fechar com chave de ouro teve karaokê! Me senti contente por estar ali. 

Depois, o meu host e o flatmate dele ainda queriam festar, eu ainda estava bem animada e com a mesma vontade. Fomos para uma boate e foi bom, mas eu sou o tipo de pessoa que se cansa rápido de ambientes muito lotados e com música alta demais. Um tempinho depois, disse para o meu host que gostaria de ir embora e fomos, mas o flatmate dele ficou. Fomos rindo e conversando bastante até chegar em seu apartamento, e comi um pouco enquanto fazíamos palhaçadas na cozinha. Ele me chamou para ver um filme no quarto dele, e como estava sem sono, topei porquê estava gostando da companhia dele. Mas a partir daí, foi quando notei que dei a entender errado. Vimos talvez meia hora de filme e ele encostou a cabeça no meu ombro. Disse que ia dormir, e ele falou que eu poderia dormir lá se quisesse. Recusei. Ele desceu as escadas comigo e quando dissemos boa noite, ele soltou um "posso te beijar?" e me beijou. Não tive tempo nem de dizer não, nem de ir para trás, só congelei. Me senti desconfortável mas não consegui dizer nada para ele na hora. No outro dia de manhã, disse que não queria ter sido beijada e ele pediu mil desculpas sinceras, e disse para que eu não deixasse ninguém me beijar se eu não quisesse. 

Bem, nos despedimos e fomos, o brasileiro e eu, encontrar o Blablacar que nos levaria para Irig, um pequeno vilarejo na Sérvia. A senhora da nossa carona falava inglês bem, e o percusso foi muito tranquilo. Quando chegamos em Irig, havia um homem lá nos esperando. O brasileiro, havia conhecido um viajante sérvio no Chile, e este disse que caso um dia o brasileiro fosse para a Sérvia, ele faria uma ponte com uns amigos. Dito e feito! Fantástico como encontros "aleatórios" mostram como no fim das contas, tá todo mundo conectado né? 

Os amigos do sérvio eram um casal muito gente boa, a Iva e o Djukic. Eles tinham dois filhinhos de 4 e 6 anos, e me senti muito feliz e segura com aquela família. Eles foram muito gentis e aprendi muito da cultura da Sérvia com eles. 

A Iva me ensinou a fazer sarma, um rolinho de repolho bem típico da região dos Balkans e a ensinei a fazer bolo de cenoura. Lá também provei Ajvar, uma pastinha de pimentão vermelho deliciosa! Demos caminhadas, um amigo do casal nos levou à uma reserva florestal para que observássemos pássaros. Esse amigo deles nos ofereceu Rakia e aceitei. Esta tinha gosto de cereja e era tão forte quanto as outras variações de Rakia!

Ao longo da semana, estar naquele vilarejo renovou minha mente, embora eu tenha ficado doente. O brasileiro foi embora antes de mim, e na verdade fiquei aliviada por isso. Desde o que ele tinha me dito em Saravejo, o santo tinha parado de bater. Quando chegamos em Irig, conversamos sobre o que ele tinha me dito, e ele disse que tinha dito aquilo porquê se alguém me estuprasse, ia sobrar para ele, porquê ele seria o último brasileiro a ter tido contato comigo 🤷‍♀️ ele também não ia pegar carona comigo pelo mesmo motivo. Se alguém fizesse algo, ele não queria ter que dar testemunho nem nada e etc. Até consegui entender o grande senso de autopreservação dele, pois ele estava na estrada sozinho já havia um bom tempo, mas isso não evitou que eu o achasse um babaca né. Ele também disse que eu não confiasse em brasileiros, pois brasileiros não estão nem aí para outros de sua terra quando estão no exterior. A ironia disso, é que todos os brasileiros que encontrei depois dele, foram muito solícitos. 

Umas duas noites antes de ir para Belgrado, o Djukic tentou me convencer a não pegar carona. Ele disse que ficava com o coração na mão, porquê também conseguia imaginar a filha de 4 anos dele fazendo isso quando fosse ter a minha idade. Fiquei grata com a preocupação dele, assim como havia ficado grata à todos que tentaram me convencer a não pegar carona. Porém, eu queria ter aquela experiência. Depois de ler tantos relatos, queria ver com os meus próprios olhos que as pessoas em sua maioria, são boas. 

Me despedi das crianças e do Djukic, que me desejou sorte, e parti para Belgrado de ônibus com a Iva. Dormimos duas noites na casa de sua irmã, que morava em uma casinha de madeira que me fez imaginar muito à respeito da história daquele lugar. Elas me contaram um pouco de como foi a infância ali, e me senti sortuda por poder ouvir aquelas histórias. 

Saímos na primeira noite, e estava acontecendo um protesto contra a censura da mídia por parte do Governo sérvio. O plano era só olhar, mas acabamos indo junto! 

No outro dia, fomos no parque Kalemegdan, onde se encontra o Forte de Belgrado. Se você for na capital Sérvia, este lugar é parada obrigatória! Fica de frente ao rio Danúbio e você com certeza sairá de lá sabendo muito mais de história (e se tiver dinheiro, com uns souvenirs!). Dali, encontramos um amigo da Iva e ele nos chamou para dar um passeio de barco pelo Danúbio. Foi incrível, e ainda "pilotei" um pouquinho!

No dia seguinte, me despedi da Iva e de sua irmã e fui para casa da Lena, a couchsurfer que iria me hospedar pelos próximos dois dias.

Aniversário em Saravejo. xD 

 

 

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After Party.

 

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Belgrade Fortress (Forte de Belgrado).

 

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 Forte de Belgrado no parque Kalemegdan com a Iva.

 

Passeio no Danúbio.

                                                                                                                                                                                                                                           

 

 

 Protesto em Belgrado.

 

 

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Em 09/04/2021 em 15:58, D FABIANO disse:

@camilandarilhaMoça de coragem,voce!O que vale nessa vida é a recordação do que fizemos,sinto-me jovem de novo quando te leio,lembro dos meus momentos pela América do Sul,apenas com uma diferença:Tinha condições financeiras.Parabens!

Obrigada meu caro, concordo com você! A recordação de que fizemos o que queríamos é o que importa. E fico feliz, imagino que deva ter sido incrível (e que você tenha evitado muitos perrengues por ter dinheiro hahaha xD) um abraço! 

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Em 14/04/2021 em 22:06, Letícia Carmassi disse:

Gosto muito de ler seus relatos. Real perspectiva de uma mulher brasileira  experienciando outros territórios, mais do que isso, com consciência de que tudo pode!❤️ 
 

Fico muito feliz que você esteja acompanhando!! ❤️ 

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